quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Notre Dieu S'est fait homme



Nosso Deus Se fez homem!
 
Neste Novo Ano 2019, caminhemos com Alegria e na Paz que brota do Menino Jesus!
O Nosso Deus se fez homem!
 
Blog Catequese Missionária  

domingo, 18 de novembro de 2018

chanson des graines d'amitié

COMER DO MESMO PRATO


Uma comunidade que se reúne para escutar a Palavra de Deus, para comer juntos do mesmo pão e beber todos do mesmo “cálice” de Jesus são sinais que têm uma força extraordinária de comunhão.
Perguntaram a um senhor que é o animador de algumas comunidades cristãs na Amazónia brasileira como estão a correr as coisas, e ele respondeu: «Temos dificuldades grandes porque já não sabemos comer do mesmo prato!»
Há uns anos - continuou a explicar o senhor José Valdeci (Fides, 27/6/18) - quando alguém tinha boa sorte na pesca, ou conseguia capturar uma boa peça de caça, havia abundância para todos na aldeia, e o prato grande onde comíamos todos juntos era um lugar especial para nos encontrarmos todos. Hoje, o nosso grande rio continua a ser generoso, e na nossa floresta não falta caça, mas chegou o dinheiro, e quem volta a casa carregado já não cozinha para o grande prato comum. Vende, arrecada o dinheiro, e se amanhã voltar a casa com o saco vazio, pode sempre comprar a quem teve mais sorte na pesca. E o grande prato comum fica quase sempre vazio.
Enquanto se vai preparando o Sínodo especial dos Bispos sobre a Amazónia (Outubro de 2019), esta experiência de um catequista e animador leigo de várias comunidades cristãs ao longo do grande rio Amazonas pode ajudar-nos a pensar sobre um aspecto da vida das nossas comunidades que me parece importantíssimo, mas que pode estar a ficar esquecido: comer do mesmo prato.
Quando celebramos a Eucaristia, são absolutamente centrais os dois gestos de “comer do mesmo pão”, e “beber do mesmo cálice”. Algumas controvérsias teológicas do passado sobre a presença real de Jesus na Eucaristia, e talvez também a falta de cuidado de nós sacerdotes na maneira como conduzimos a celebração, levam muitas comunidades a prestar pouca atenção a estes dois gestos fundamentais da Missa.
É curioso notar que nas quatro narrações que temos no Novo Testamento sobre estes dois gestos de Jesus (Mateus, Marcos, Lucas e 1 Coríntios) os textos colocam ao centro da atenção o comer juntos do mesmo pão que foi partido e repartido por todos, e o beber todos do mesmo cálice (melhor traduzindo como «malga» ou «tijela»?). Os estudiosos destes textos chamam à atenção para um pormenor interessante: quando chega o momento de beber, a ênfase é toda sobre o «beber do mesmo recipiente»; o conteúdo que se bebe parece ficar em segundo plano. E, no texto de S.Paulo (1 Cor 11,25…), nem sequer fala do vinho.
Uma comunidade de pessoas de todas as idades e condições de vida que se reúnem para escutar a Palavra de Deus e comer juntos do mesmo pão repartido e beber todos do mesmo “cálice” de Jesus são sinais que, se bem feitos, têm uma força extraordinária de comunhão! Seria preciso talvez adaptar alguma coisa na nossa maneira tradicional de celebrar a Eucaristia, para dar força a estes gestos de “comer todos do mesmo pão” e “ beber todos do mesmo cálice”. Se há gestos que criam aquilo que significam, estes são certamente desses! Como o grande prato comum das comunidades do animador José Valdeci, ao longo do rio Amazonas. Sentar-se todos à volta daquele prato era muito mais do que encher a barriga de carne assada ou peixe fresco. Conseguiremos nós fazer com que o “comer todos do mesmo pão” e “beber todos do mesmo cálice” volte a ter a força que Jesus lhes quis dar?
Pe Fernando Domingues-Missionário Comboniano
Artigo retirado da Revista “além-mar” de Setembro de 2018, na rúbrica “APONTAMENTOS”.

sábado, 6 de outubro de 2018

Vida en abundancia




Vida em abundância


Os lírios do campo e as aves do céu

Não se preocupam, porque estão nas Minhas mãos.

Tende confiança em mim,

Eu estou aqui junto a vós.


Ama o que és e as tuas circunstâncias,

Estou contigo, com a tua cruz às Minhas costas,

Tudo acabará bem,

Eu faço novas todas as coisas.


Eu venho trazer-te vida

Vida em abundância, em abundância.

Eu Sou o caminho

A verdade e a vida,

Vida em abundância, em abundância.


Não fiz o Homem para que esteja só;

Caminhai juntos como irmãos:

Suportai-vos mutuamente

Amai-vos uns aos outros.


A felicidade da Vida Eterna

Começa Comigo na Terra,

Sente-te vivo, a festa do Reino começa aqui!


Eu venho trazer-te vida

Vida em abundância, em abundância.

Eu sou o caminho

A verdade e a vida,

Vida em abundância, em abundância.


Encorajo os teus sonhos e os teus projetos,

Todas as tuas buscas e teus anseios.

Já ouvi a tua oração

entrega-te à esperança.  


Sobe à Minha barca a navegar mar adentro,

No profundo está o que é verdadeiro.

Anima-te a voar

na aventura do confiar.


Eu venho trazer-te vida

Vida em abundância, em abundância.

Eu sou o caminho

A verdade e a vida,

Vida em abundância, em abundância


Tradução livre de: Gracinda Leão

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2018


«Juntamente com os jovens, levemos o Evangelho a todos»

Queridos jovens, juntamente convosco desejo refletir sobre a missão que Jesus nos confiou. Apesar de me dirigir a vós, pretendo incluir todos os cristãos, que vivem na Igreja a aventura da sua existência como filhos de Deus. O que me impele a falar a todos, dialogando convosco, é a certeza de que a fé cristã permanece sempre jovem, quando se abre à missão que Cristo nos confia. «A missão revigora a fé» (Carta enc. Redemptoris missio, 2): escrevia São João Paulo II, um Papa que tanto amava os jovens e, a eles, muito se dedicou.

O Sínodo que celebraremos em Roma no próximo mês de outubro, mês missionário, dá-nos oportunidade de entender melhor, à luz da fé, aquilo que o Senhor Jesus vos quer dizer a vós, jovens, e, através de vós, às comunidades cristãs.

A vida é uma missão

Todo o homem e mulher é uma missão, e esta é a razão pela qual se encontra a viver na terra. Ser atraídos e ser enviados são os dois movimentos que o nosso coração, sobretudo quando é jovem em idade, sente como forças interiores do amor que prometem futuro e impelem a nossa existência para a frente. Ninguém, como os jovens, sente quanto irrompe a vida e atrai. Viver com alegria a própria responsabilidade pelo mundo é um grande desafio. Conheço bem as luzes e as sombras de ser jovem e, se penso na minha juventude e na minha família, recordo a intensidade da esperança por um futuro melhor. O facto de nos encontrarmos neste mundo sem ser por nossa decisão faz-nos intuir que há uma iniciativa que nos antecede e faz existir. Cada um de nós é chamado a refletir sobre esta realidade: «Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo» (Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 273).

Anunciamo-vos Jesus Cristo 

A Igreja, ao anunciar aquilo que gratuitamente recebeu (cf. Mt 10, 8; At 3, 6), pode partilhar convosco, queridos jovens, o caminho e a verdade que conduzem ao sentido do viver nesta terra. Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, oferece-Se à nossa liberdade e desafia-a a procurar, descobrir e anunciar este sentido verdadeiro e pleno. Queridos jovens, não tenhais medo de Cristo e da sua Igreja! Neles, está o tesouro que enche a vida de alegria. Digo-vos isto por experiência: graças à fé, encontrei o fundamento dos meus sonhos e a força para os realizar. Vi muitos sofrimentos, muita pobreza desfigurar o rosto de tantos irmãos e irmãs. E todavia, para quem está com Jesus, o mal é um desafio a amar cada vez mais. Muitos homens e mulheres, muitos jovens entregaram-se generosamente, às vezes até ao martírio, por amor do Evangelho ao serviço dos irmãos. A partir da cruz de Jesus, aprendemos a lógica divina da oferta de nós mesmos (cf. 1 Cor 1, 17-25) como anúncio do Evangelho para a vida do mundo (cf. Jo 3, 16). Ser inflamados pelo amor de Cristo consome quem arde e faz crescer, ilumina e aquece a quem se ama (cf. 2 Cor 5, 14). Na escola dos santos, que nos abrem para os vastos horizontes de Deus, convido-vos a perguntar a vós mesmos em cada circunstância: «Que faria Cristo no meu lugar?»

Transmitir a fé até aos últimos confins da terra 

Pelo Batismo, também vós, jovens, sois membros vivos da Igreja e, juntos, temos a missão de levar o Evangelho a todos. Estais a desabrochar para a vida. Crescer na graça da fé, que nos foi transmitida pelos sacramentos da Igreja, integra-nos num fluxo de gerações de testemunhas, onde a sabedoria daqueles que têm experiência se torna testemunho e encorajamento para quem se abre ao futuro. E, por sua vez, a novidade dos jovens torna-se apoio e esperança para aqueles que estão próximo da meta do seu caminho. Na convivência das várias idades da vida, a missão da Igreja constrói pontes intergeracionais, nas quais a fé em Deus e o amor ao próximo constituem fatores de profunda união.

Por isso, esta transmissão da fé, coração da missão da Igreja, verifica-se através do «contágio» do amor, onde a alegria e o entusiasmo expressam o sentido reencontrado e a plenitude da vida. A propagação da fé por atração requer corações abertos, dilatados pelo amor. Ao amor, não se pode colocar limites: forte como a morte é o amor (cf. Ct 8, 6). E tal expansão gera o encontro, o testemunho, o anúncio; gera a partilha na caridade com todos aqueles que, longe da fé, se mostram indiferentes e, às vezes, impugnadores e contrários à mesma. Ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e à presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os «últimos confins da terra», aos quais, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na certeza de terem sempre com eles o seu Senhor (cf. Mt 28, 20; At 1, 8). Nisto consiste o que designamos por missio ad gentes. A periferia mais desolada da humanidade carente de Cristo é a indiferença à fé ou mesmo o ódio contra a plenitude divina da vida. Toda a pobreza material e espiritual, toda a discriminação de irmãos e irmãs é sempre consequência da recusa de Deus e do seu amor.

Hoje para vós, queridos jovens, os últimos confins da terra são muito relativos e sempre facilmente «navegáveis». O mundo digital, as redes sociais, que nos envolvem e entrecruzam, diluem fronteiras, cancelam margens e distâncias, reduzem as diferenças. Tudo parece estar ao alcance da mão: tudo tão próximo e imediato... E todavia, sem o dom que inclua as nossas vidas, poderemos ter miríades de contactos, mas nunca estaremos imersos numa verdadeira comunhão de vida. A missão até aos últimos confins da terra requer o dom de nós próprios na vocação que nos foi dada por Aquele que nos colocou nesta terra (cf. Lc 9, 23-25). Atrevo-me a dizer que, para um jovem que quer seguir Cristo, o essencial é a busca e a adesão à sua vocação.

Testemunhar o amor

Agradeço a todas as realidades eclesiais que vos permitem encontrar, pessoalmente, Cristo vivo na sua Igreja: as paróquias, as associações, os movimentos, as comunidades religiosas, as mais variadas expressões de serviço missionário. Muitos jovens encontram, no voluntariado missionário, uma forma para servir os «mais pequenos» (cf. Mt 25, 40), promovendo a dignidade humana e testemunhando a alegria de amar e ser cristão. Estas experiências eclesiais fazem com que a formação de cada um não seja apenas preparação para o seu bom-êxito profissional, mas desenvolva e cuide um dom do Senhor para melhor servir aos outros. Estas louváveis formas de serviço missionário temporâneo são um começo fecundo e, no discernimento vocacional, podem ajudar-vos a decidir pelo dom total de vós mesmos como missionários.

De corações jovens, nasceram as Pontifícias Obras Missionárias, para apoiar o anúncio do Evangelho a todos os povos, contribuindo para o crescimento humano e cultural de muitas populações sedentas de Verdade. As orações e as ajudas materiais, que generosamente são dadas e distribuídas através das POMs, ajudam a Santa Sé a garantir que, quantos recebem ajuda para as suas necessidades, possam, por sua vez, ser capazes de dar testemunho no próprio ambiente. Ninguém é tão pobre que não possa dar o que tem e, ainda antes, o que é. Apraz-me repetir a exortação que dirigi aos jovens chilenos: «Nunca penses que não tens nada para dar, ou que não precisas de ninguém. Muita gente precisa de ti. Pensa nisso! Cada um de vós pense nisto no seu coração: muita gente precisa de mim» (Encontro com os jovens, Santiago – Santuário de Maipú, 17/I/2018).

Queridos jovens, o próximo mês missionário de outubro, em que terá lugar o Sínodo a vós dedicado, será mais uma oportunidade para vos tornardes discípulos missionários cada vez mais apaixonados por Jesus e pela sua missão até aos últimos confins da terra. A Maria, Rainha dos Apóstolos, ao Santos Francisco Xavier e Teresa do Menino Jesus, ao Beato Paulo Manna, peço que intercedam por todos nós e sempre nos acompanhem.

Vaticano, 20 de maio – Solenidade de Pentecostes – de 2018.

FRANCISCO

"Artigo retirado do site do Vaticano em 04.10.2018"

"Imagem-retirada do google imagens"

terça-feira, 18 de setembro de 2018

«Jovem, Eu te ordeno: levanta-te»


'Evangelho segundo S. Lucas 7,11-17. 


Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão.
Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade.
Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores».
Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te».
O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.
Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo».
E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.


Tradução litúrgica da Bíblia


Comentário de Santo Ambrósio (c. 340-397)
bispo de Milão, doutor da Igreja
Tratado sobre o Evangelho de São Lucas, 5, 89, 91-92

«Jovem, Eu te ordeno: levanta-te»
Ainda que os sintomas da morte tenham roubado por completo a esperança de vida, ainda que os corpos dos defuntos se encontrem já perto do sepulcro, à voz de Deus, os cadáveres que começavam a decompor-se recuperam a fala; o filho é devolvido a sua mãe, é chamado do túmulo, é arrancado ao túmulo. Que túmulo é o teu? São os teus maus hábitos, é a tua falta de fé. É deste túmulo que Cristo te salva, será deste túmulo que ressuscitarás, se ouvires a Palavra de Deus. Ainda que os teus pecados sejam tão graves que não possas lavar-te a ti próprio com as lágrimas do arrependimento, a Igreja, tua Mãe, chorará por ti, pois intercede por cada um dos seus filhos como mãe viúva com um filho único. Com efeito, a Igreja tem compaixão, por uma espécie de sofrimento espiritual, dos seus filhos que vê dirigirem-se para a morte em consequência de vícios funestos. […]

Que ela chore, pois, esta mãe piedosa; que a multidão a acompanhe; que não seja uma simples multidão, mas uma multidão considerável a ter compaixão desta mãe terna. Então, ressuscitarás do teu túmulo, serás dele libertado; os carregadores deter-se-ão, começarás a dizer palavras de vivo e todos ficarão estupefactos. E o exemplo de um só permitirá corrigir muitos, que louvarão a Deus por nos ter dado tais remédios para evitarmos a morte.'
Retirado do site Evangelho Quotidiano : https://www.evangelhoquotidiano.org  de 18.09.2018

imagem retirada do "google imagens"

domingo, 26 de agosto de 2018

Amar autenticamente exige libertar-se de todos os ídolos

Catequese sobre os Mandamentos – 4

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Ouvimos o primeiro mandamento do Decálogo: «Não terás outros deuses diante da minha face» (Êx 20, 3). É bom refletir sobre o tema da idolatria, que é de grande alcance e atualidade. A ordem proíbe que se façam ídolos[1] ou imagens[2] de qualquer tipo de realidade: [3] com efeito, tudo pode ser usado como ídolo. Referimo-nos a uma tendência humana, que não poupa nem crentes nem ateus. Por exemplo, nós cristãos podemos interrogar-nos: qual é verdadeiramente o meu Deus? É o Amor Uno e Trino ou então a minha imagem, o meu sucesso pessoal, talvez dentro da Igreja? «A idolatria não diz respeito apenas aos falsos cultos do paganismo. Continua a ser uma tentação constante para a fé. Ela consiste em divinizar o que não é Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2113).

O que é um “deus” no plano existencial? É aquilo que está no cerne da própria vida e do qual depende o que fazemos e pensamos.[4] Podemos crescer numa família cristã de nome, mas na realidade centrada em pontos de referência alheios ao Evangelho.[5] O ser humano não vive sem se centrar em algo. Eis, então, que o mundo oferece o “supermarket” dos ídolos, que podem ser objetos, imagens, ideias, papéis.
Por exemplo, inclusive a oração. Devemos rezar a Deus, nosso Pai. Recordo que certa vez fui a uma paróquia na diocese de Buenos Aires para celebrar uma Missa e depois devia fazer as crismas noutra paróquia, a 1 km de distância. Fui a pé e atravessei um bonito parque. Mas naquele parque havia mais de 50 mesinhas, cada uma com duas cadeiras e as pessoas sentadas uma em frente da outra. O que faziam? Jogo de cartas. Iam ali “para rezar” ao ídolo. Em vez de rezar a Deus, que é providência do futuro, iam ali porque liam as cartas para ler o futuro. Esta é uma idolatria dos nossos tempos. Pergunto-vos: quantos de vós fostes, para que vos lessem as cartas a fim de ver o futuro? Quantos de vós, por exemplo, fostes para que vos lessem as mãos a fim de ler o futuro, em vez de rezar ao Senhor? Esta é a diferença: o Senhor está vivo; os outros são ídolos, idolatrias que não servem.
Como se desenvolve uma idolatria? O mandamento descreve algumas fases: «Não farás para ti escultura, nem figura alguma [...] / Não te prostrarás diante delas / e não lhes prestarás culto» (Êx 20, 4-5). A palavra “ídolo” em grego deriva do verbo “ver”.[6] O ídolo é uma “visão” que tende a tornar-se uma fixação, uma obsessão. Na realidade, o ídolo é uma projeção de nós mesmos nos objetos ou nos projetos. Por exemplo, é desta dinâmica que se serve a publicidade: não vejo o objeto em si, mas concebo aquele automóvel, aquele smartphone, aquele papel — ou outras coisas — como um meio para me realizar e responder às minhas necessidades essenciais. E procuro isto, falo disso, penso naquilo; a ideia de possuir tal objeto ou de realizar aquele projeto, alcançar essa posição, parece uma via maravilhosa para a felicidade, uma torre para chegar ao céu (cf. Gn 11, 1-9), e tudo se torna funcional para esta meta.

Então, entramos na segunda da fase: «Não te prostrarás diante delas». Os ídolos exigem um culto, rituais; a eles as pessoas prostram-se e sacrificam tudo. Faziam-se sacrifícios humanos aos ídolos na antiguidade, mas também hoje: pela carreira sacrificam-se os filhos, descuidando-os ou simplesmente deixando de os gerar; a beleza exige sacrifícios humanos. Quantas horas diante do espelho! Certas pessoas, determinadas mulheres, quanto gastam para se pintar! Também esta é uma idolatria. Não é negativo pintar-se, mas de modo normal, não para se tornar uma deusa. A beleza exige sacrifícios humanos. A fama requer a imolação de si mesmo, da própria inocência e autenticidade. Os ídolos pedem sangue. O dinheiro rouba a vida e o prazer leva à solidão. As estruturas económicas sacrificam vidas humanas para obter maiores lucros. Pensemos em tantas pessoas desempregadas. Porquê? Porque às vezes acontece que os empresários daquela empresa, dessa firma, decidiram despedir as pessoas, para ganhar mais dinheiro. O ídolo do dinheiro. Vive-se na hipocrisia, fazendo e dizendo o que os outros esperam, porque é o deus da própria afirmação que o impõe. E arruínam-se vidas, destroem-se famílias e abandonam-se jovens nas mãos de modelos arrasadores, contanto que aumente o lucro. Também a droga é um ídolo. Quantos jovens estragam a saúde, até a vida, adorando este ídolo da droga.

Aqui chegamos à terceira e mais trágica fase: «...e não lhes prestarás culto», diz. Os ídolos escravizam. Prometem a felicidade, mas não a dão; e passamos a viver por aquela coisa, por essa visão, arrebatados num vórtice autodestruidor, à espera de um resultado que nunca chega.
Caros irmãos e irmãs, os ídolos prometem a vida, mas na realidade tiram-na. O Deus verdadeiro não pede a vida, mas doa-a, concede-a. O Deus verdadeiro não oferece uma projeção do nosso sucesso, mas ensina a amar. O Deus verdadeiro não pede filhos, mas dá o seu Filho por nós. Os ídolos projetam hipóteses futuras e fazem desprezar o presente; o Deus verdadeiro ensina a viver na realidade de cada dia, no concreto, não com ilusões sobre o porvir: hoje, amanhã e depois de amanhã, a caminho do futuro. A concretude do Deus verdadeiro contra a liquidez dos ídolos. Hoje convido-vos a pensar: quantos ídolos tenho, ou qual é o meu ídolo preferido? Pois reconhecer as próprias idolatrias é um início da graça, e põe no caminho do amor. Com efeito, o amor é incompatível com a idolatria: se algo se torna absoluto e intocável, então é mais importante que um cônjuge, um filho ou uma amizade. O apego a um objeto ou a uma ideia torna-nos cegos ao amor. E assim, para ir atrás dos ídolos, de um ídolo, podemos chegar a renegar o pai, a mãe, os filhos, a esposa, o esposo, a família... as coisas mais queridas. O apego a um objeto ou a uma ideia torna-nos cegos ao amor. Levai isto no coração: os ídolos roubam-nos o amor, os ídolos tornam-nos cegos ao amor, e para amar autenticamente é preciso libertar-se de todos os ídolos. Qual é o meu ídolo? Elimina-o e lança-o da janela!
Papa Francisco
Catequese na audiência geral 1.08.2018

[1] O termo Pesel indica «uma imagem divina originariamente esculpida na madeira ou na pedra, e sobretudo no metal» (L. Koehler — W. Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, vol. 3, p. 949).

[2] O vocábulo Temunah tem um significado muito vasto, reconduzível a “semelhança, forma”; portanto, a proibição é muito ampla e estas imagens podem ser de todos os tipos (cf. L. Koehler — W. Baumgartner, Op. cit., vol. 1, p. 504).

[3] O comando não proíbe as imagens em si mesmas — o próprio Deus ordenará a Moisés que realize os querubins de ouro para a tampa da arca (cf. Êx 25, 18) e uma serpente de bronze (cf. Nm 21, 8) — mas proíbe adorá-las e prestar-lhes culto, ou seja, todo o processo de deificação de algo, não só a reprodução.

[4] A Bíblia judaica refere-se às idolatrias cananeias com o termo Ba’al, que significa “senhorio, relação íntima, realidade da qual se depende”. O ídolo é o que domina, arrebata o coração e se torna eixo da vida (cf. Theological Lexicon of the Old Testament, vol. 1, pp. 247-251).

[5] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2114: «A idolatria é uma perversão do sentido religioso inato no homem. Idólatra é aquele que “refere a sua indestrutível noção de Deus seja ao que for, que não a Deus” (Orígenes, Contra Celsum, 2, 40)».

[6] A etimologia do grego eidolon, derivada de eidos, é da raiz weid, que significa ver (cf. Grande Lessico dell’Antico Testamento, Bréscia 1967, vol. III, p. 127)..

Retirado do Site "Catequese do Brasil",  http://www.catequesedobrasil.org.br em 2018.08.27 

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Ser cristão é um caminho de libertação



Catequese do Papa Francisco sobre os Mandamentos- 3 

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, esta audiência terá lugar como na quarta-feira passada. Na Sala Paulo VI há muitos doentes, e para os proteger do calor, a fim de que estivessem mais confortáveis, estão ali. Mas acompanharão a audiência através do grande ecrã, e também nós com eles, ou seja, não há duas audiências. Há uma só. Saudemos os enfermos na Sala Paulo VI. E continuemos a falar dos mandamentos que, como dissemos, mais do que mandamentos, são as palavras de Deus ao seu povo, para que caminhe bem; palavras amorosas de um Pai. As dez Palavras começam assim: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão» (Êx 20, 2). Este início pareceria não estar relacionado com verdadeiras leis que seguem. Mas não é assim!

Qual o motivo desta proclamação que Deus faz de si mesmo e da libertação? Porque só se chega ao Monte Sinai depois de ter atravessado o Mar Vermelho: primeiro, o Deus de Israel salva, e depois pede confiança.[1] Ou seja: o Decálogo começa pela generosidade de Deus. Deus nunca pede sem dar primeiro. Jamais! primeiro salva, primeiro doa e depois pede. Assim é o nosso Pai, o bom Deus.

E compreendemos a importância da primeira declaração: «Eu sou o Senhor teu Deus». Há um possessivo, existe uma relação, uma pertença. Deus não é um estranho: é o teu Deus.[2] Isto ilumina o Decálogo inteiro e revela também o segredo do agir cristão, porque é a própria atitude de Jesus que diz: «Assim como o Pai me ama, também Eu vos amo» (Jo 15, 9). Cristo é o Amado do Pai e ama-nos com este amor. Ele não começa por si mesmo, mas pelo Pai. Muitas vezes as nossas obras falham, porque começamos por nós mesmos, e não pela gratidão. E onde chega quem começa por si mesmo? Chega a si próprio! É incapaz de progredir, volta para si mesmo. É exatamente aquela atitude egoísta que, brincando, as pessoas dizem: “Essa pessoa é um eu, eu comigo mesmo e para mim”. Sai de si e volta para si.

A vida cristã é antes de tudo a resposta grata a um Pai generoso. Os cristãos que seguem apenas “deveres” denunciam que não têm uma experiência pessoal daquele Deus que é “nosso”. Devo fazer isto, isso, aquilo... Somente deveres. Mas falta-te algo! Qual é o fundamento deste dever? O fundamento deste dever é o amor de Deus Pai, que primeiro dá, depois manda. Colocar a lei antes da relação não ajuda o caminho de fé. Como pode um jovem desejar ser cristão, se nós começamos pelas obrigações, compromissos, coerências, e não pela libertação? Mas ser cristão é um caminho de libertação! Os mandamentos libertam-te do teu egoísmo, e libertam-te porque há o amor de Deus que te faz ir em frente. A formação cristã não está baseada na força de vontade, mas no acolhimento da salvação, no deixar-se amar: primeiro o Mar Vermelho, depois o Monte Sinai. Primeiro a salvação: Deus salva o seu povo no Mar Vermelho; depois, no Sinai diz-lhe que deve fazer. Mas aquele povo sabe que Ele faz tais gestos porque foi salvo por um Pai que o ama.

A gratidão é um traço caraterístico do coração visitado pelo Espírito Santo; para obedecer a Deus é preciso, antes de tudo, recordar os seus benefícios. São Basílio diz: «Quem não deixa que tais benefícios caiam no esquecimento, orienta-se para a boa virtude e para todas as obras de justiça» (Regras breves, 56). Onde nos leva tudo isto? A fazer exercício de memória:[3] quantas maravilhas fez Deus por cada um de nós! Como é generoso o nosso Pai celestial! Agora gostaria de vos propor um pequeno exercício, em silêncio, cada qual responda no seu coração. Quantas maravilhas fez Deus por mim? Esta é a pergunta. Cada um de nós responda em silêncio. Quantas maravilhas fez Deus por mim? E esta é a libertação de Deus. Deus faz muitas maravilhas e liberta-nos.

E no entanto, alguém pode sentir que ainda não viveu uma verdadeira experiência da libertação feita por Deus. Isto pode acontecer. Pode ser que alguém olhe para dentro de si e só encontre sentido de dever, uma espiritualidade de servo, e não de filho. Que fazer em tal caso? Como faz o povo eleito. O livro do Êxodo diz: «Os israelitas, que ainda gemiam sob o peso da servidão, clamaram e, do fundo da própria escravidão, subiu o seu clamor até Deus. Deus ouviu os seus gemidos, lembrando-se da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. Deus olhou para os israelitas e reconheceu-os» (Êx 2, 23-25). Deus pensa em mim!

A ação libertadora de Deus, inserida no início do Decálogo — ou seja, dos mandamentos — é a resposta a esta lamentação. Nós não nos salvamos sozinhos, mas de nós pode brotar um grito de ajuda: “Senhor, salvai-me; Senhor, ensinai-me o caminho; Senhor, acariciai-me; Senhor, concedei-me um pouco de júbilo”. Trata-se de um clamor que pede ajuda. Compete-nos isto: pedir para ser libertados do egoísmo, do pecado, das correntes da escravidão. Este brado é importante, é oração, é consciência daquilo que ainda existe de oprimido e não libertado em nós. Existem muitas coisas não libertadas na nossa alma. “Salvai-me, ajudai-me, libertai-me!”. Esta é uma bonita prece ao Senhor. Deus espera este grito, porque pode e quer quebrar as nossas correntes; Deus não nos chamou à vida para que permanecêssemos oprimidos, mas para ser livres, e para vivermos na gratidão, obedecendo com alegria Àquele que nos ofereceu tanto, infinitamente mais do que poderíamos dar-lhe. Isto é bonito! Que Deus seja sempre bendito por tudo o que fez, faz e há de fazer em nós!

Papa Francisco

Catequese na audiência Geral 

27 de junho de 2018

Notas
[1] Na tradição rabínica encontra-se um texto iluminador a este propósito: «Por que as dez palavras não foram proclamadas no início da Torá? [...] Com o que se pode comparar? A um tal que, assumindo o governo de uma cidade, perguntou aos habitantes: “Posso reinar sobre vós?”. Mas eles replicaram: “Que nos fizeste de bem, para que pretendas reinar sobre nós?”. Então, que fez? Construiu-lhes muros de defesa e uma canalização para abastecer a cidade de água; depois, combateu guerras a favor deles. E quando voltou a perguntar: “Posso reinar sobre vós?”, eles retorquiram-lhe: “Sim, sim!”. Assim também o Lugar fez Israel sair do Egito, dividiu o mar para eles, fez com que lhes descesse o maná e subisse a água do poço, levou até eles codornizes em voo e finalmente combateu para eles a guerra contra Amalec. E quando os interrogou: “Posso reinar sobre vós?”, eles responderam-lhe: “Sim, sim!”» (Il dono della Torah. Commento al decalogo di Es 20 nella Mekilta di R. Ishamael, Roma 1982, p. 49).

[2] Cf. Bento XVI, Carta Enc. Deus caritas est, 17: «A história do amor entre Deus e o homem consiste precisamente no facto de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de Deus deixa de ser para mim uma vontade estranha que me impõem de fora os mandamentos, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência de que realmente Deus é mais íntimo para mim mesmo de quanto o seja eu próprio. Cresce então o abandono em Deus, e Deus torna-se a nossa alegria».

[3] Cf. Homilia da Missa em Santa Marta, 7 de outubro de 2014: «[Que significa rezar?]. É fazer memória diante de Deus da nossa história. Porque a nossa história [é] a história do seu amor por nós». Cf. Detti e fatti dei padri del deserto, Milão 1975, p. 71: «O esquecimento é a raiz de todos os males»


Retirado do Site "Catequese do Brasil",  http://www.catequesedobrasil.org.br em 2018.08.08

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Conhece-se o(a) seguidor(a) de Jesus pelos pés



“E Ele percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6,6)
“Adeptos(as) do Caminho”: assim eram conhecidos os(as) primeiros seguidores(as) de Jesus (At 9,2). Assim também quer Jesus que sejamos seguidores seus, sempre em caminho, em todos os lugares, em todas as casas de passagem, dispostos a parar e conversar, prontos ao encontro e à solidariedade com todos os que vão e vem pela vida.
Deveríamos voltar a recuperar o sentido desta expressão (“adeptos do Caminho”), pois ela nos convida a continuar percorrendo o caminho cotidiano da existência de uma maneira cristificada; e isto é algo fundamental para o encontro profundo com o outro, com as alegrias e os sofrimentos daqueles que se encontram às margens, com a novidade e a surpresa da senda da vida, com o desafio de prosseguir confiando na Boa Notícia de Jesus, que se manteve sempre em caminho pelas estradas da Palestina, para levantar os feridos, oprimidos e excluídos do sistema social e religioso. 
Hoje como ontem, sair, caminhar, deslocar-se, ser itinerante... tem sentido, porque significa ir ao encontro do novo e do diferente. “Sair” é também uma experiência constitutiva da natureza humana porque tem um ar transformador. Cada um, ao longo do caminho, experimenta “novos modos” de habitar a existência, de olhar-se, pensar e relacionar-se.  A itinerância permite ir mais além de si mesmo para encontrar outras maneiras de viver, para entrar em outras terras prometidas, para aproximar-se de outras pessoas, povos, culturas, onde encontrar o sentido de vida; sobretudo, possibilita ir ao encontro d’Aquele que nos transcende e sempre se revelou Peregrino. 
A vida humana, neste sentido, é caminho, com um ponto de partida, uma meta, um trajeto e um horizonte. Caminho, palavra familiar e também humilde que evoca a existência de uma origem e um destino e, entre ambos, de uma aventura: a aventura de nosso caminhar, feita de desafios e extravios, e também de encontros e de momentos inesquecíveis que nos confortam ao longo do percurso. 
Todos somos “peregrinos” neste “êxodo de nós mesmos para Deus”, no qual nos “adentramos em terra estranha, despojados dos suportes usuais da existência, desprovidos de todo amparo que não seja o da caridade...” (Tellechea Idógoras). 
Quem caminha calcula seu trajeto, suas próprias forças, fadigas, planeja suas paradas. Por outra parte, decide correr o risco de sair de sua zona de conforto, para abrir-se à paisagem de novas relações, ao inesperado e inexplorado, a novos encontros e sensações, a confiar e percorrer a própria existência. O caminho é um processo de mudança pessoal, um lugar pedagógico de cura, de aprendizagens, abertas ao assombro, a um olhar dinamizador, à liberdade de pensamento e de ação. Ele nos move a dilatar o coração e interessar-nos pela situação das demais pessoas, a aproximarmos dos(as) samaritanos(as) que encontramos nas idas e vindas. Porque o caminho é a ocasião, o Kairós, o tempo pedagógico de um movimento que vivifica, deixa pegada e sabor de um outro sentir. 
Podemos dizer que na Igreja são imprescindíveis os itinerantes, os peregrinos do Reino de Deus, como o próprio Jesus, que enviou discípulos e discípulas pelos caminhos e povos, sem nenhuma estrutura de apoio a não ser um coração disposto a não querer outra riqueza a não ser o fermento de nova humanidade. Com os itinerantes Jesus iniciou um movimento a serviço do Reino e Ele mesmo foi um itinerante. Não permaneceu numa casa, não se fechou em um lugar, não fundou uma instituição vinculada a um tipo de templo, sinagoga ou santuário, mas foi percorrendo, com um grupo de discípulos(as)/amigos(as), também itinerantes, os povoados e aldeias da Galileia, anunciando e tornando presente o Reino. Jesus os tirou de seus lugares estáveis, de suas simples redes da margem do mar, e os fez itinerantes através de outros e amplos caminhos e mares, para assim encontrar-se com os caminhantes, os perdidos e expulsos, e iniciar com eles a grande Marcha da Vida. 
Jesus, o Homem dos Caminhos, chama para uma Vida nova. Chama na vida e para a vida e põe as pessoas em movimento, a caminho. A “pegada” que Ele deixa ao passar é sua própria Vida partilhada. Ele é o inspirador de toda itinerância; com sua peregrinação Ele abre possibilidade de outros caminhos.
Jesus, o homem que se definiu, tem um sonho, um projeto (Reino). E surge diante dos outros com força pessoal capaz de sacudi-los e colocá-los em movimento.  Ele “passa” e sua presença os atrai arrancando-os da acomodação. Faz-se do chamado um caminho, quando se partilha a vida com quem chamou. Responder ao chamado feito por Jesus significa tornar esse chamado um caminho de entrega e de serviço.                                                    
Jesus nos apresenta uma causa muito nobre e, com seu chamado, rompe nosso estreito mundo e desperta em nós ricas possibilidades, reacende o que de mais nobre há em cada um e amplia nosso horizonte de vida. Para isso é preciso sair dos templos que pretendem fechar e aprisionar o Espírito, para dirigir-nos aos caminhos do mundo, para entrar em sintonia com o Coração e o Manancial da Vida, “em espírito e verdade”, tocando a carne concreta da Humanidade e da Mãe Terra. 
“Chamado-resposta” implica, pois, um encontro comprometedor. O modo de ser de Jesus, transparente e livre, ativa nossa vida atrofiada e estreita e nos capacita a olhar amplos horizontes: seu povo, seu mundo dividido e excluído... A ressonância de seu chamado nos predispõe a encontrar motivações saudáveis e maduras que nos permitam peregrinar e viver no contexto atual com amor, entusiasmo e criatividade. Jesus envia seus discípulos com o necessário para caminhar: cajado, sandálias e uma túnica. Não precisam de mais nada para serem testemunhas do essencial. Jesus quer vê-los livres e sem ataduras, sempre disponíveis, sem instalar-se no bem-estar, confiando na força do Evangelho. 
“O discípulo-missionário é um des-centrado: o centro é Jesus Cristo que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais. A posição do discípulo-missionário não é a de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias” (Papa Francisco) 
Quê significa “fronteiras geográficas e existenciais”? É preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo… 
É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências... Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode nos enriquecer... A vida está cheia de possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens, motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples… 
A periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida. 
Texto bíblico:  Mc. 6,7-13  
Na oração:
- Nas nossas vidas acontece algo de verdadeiro e belo quando nos dispomos a buscar dentro de nós mesmos a razão da nossa existência.
- No “mapa espiritual” de nosso interior ainda existe uma “terra desconhecida”, que proporciona interesse à vida, suscita curiosidade, nos põe a caminho...  Grandes surpresas interiores estão à nossa espera, e a capacidade de continuar procurando é que dá sentido ao esforço e vigor à vida.
- A quê você se sente chamado(a)? A quem se sente enviado(a)?
Pe. Adroaldo Palaoro sj

"Retirado do site - CATEQUESE Hoje-"  www.catequesehoje.org.br  "- Um site com brasileiro com muita qualidade!"

sábado, 30 de junho de 2018

Espère en moi - Chant de l'Emmanuel

Parábolas sobre a misericórdia


‘Parábolas sobre a misericórdia - 1Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 
3Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: 
A ovelha perdida (Mt 18,10-14) - 4«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ 
7Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.» 
A dracma perdida - 8«Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ 
10Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.» 
Os dois filhos - 11Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. 12O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. 13Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. 
15Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. 16Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 
17E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ 20E, levantando-se, foi ter com o pai. 
Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. 21O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ 
22Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. 23Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. 
25Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. 26Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. 27Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ 
28Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; 30e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ 31O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»’



"Retirado em 10.06.2018 do Site do Capuchinhos  “ http://www.capuchinhos.org "
Imagem-Turismo de Portugal

«Este acolhe os pecadores e come com eles»

Para muitos um pecador é um condenado, alguém injusto que merece ser separado eternamente dos ‘bons’. Este seria o pensamento dominante nos fariseus e doutores da Lei, face aos pecadores, face aos incumpridores da Lei. Jesus, porém, acolhe e partilha a vida com os pecadores, os ditos “indesejados”.
É neste contexto, que Jesus nos ensina que Deus é Amor, que é Pai de Misericórdia infinita. Que todo pecador precisa de ser encontrado pelo Pai, de deixar-se encontrar pelo Pai.

Face a estas maravilhosas parábolas sobre a Misericórdia, deixo aqui uma humilde reflexão:

1. Caminhar ou ficar em casa? 

1.1 -O filho mais novo

O filho mais novo parte, quebra com frieza a sua relação com a família, quer separar-se, quer escolher sozinho os caminhos a seguir. Ao partir desta forma, deixa o seu Pai mais pobre, mais triste, despojado dos seus bens e da sua presença. É desta forma que o pai perde o filho, é desta forma que o pastor perde a sua ovelha muito querida.

Este filho parte com bens materiais, com um coração vazio, sem alegria, mas procurando encontrar a sua própria felicidade, talvez nos divertimentos e distrações. Imagino a ovelha, que pastando no deserto com as outras, e que vendo uma e outra pastagem mais verdejante, mais atraente, se afasta, e vai deixando as outras ovelhas e o seu pastor.

Este filho gasta os seus bens numa vida desregrada e perde a sua última “segurança”, o dinheiro, ficando deste modo na miséria. De cidadão livre e senhor, quase se torna escravo.

Na nossa vida, não são poucas as vezes que nos separamos dos outros, que queremos fazer caminho sozinhos, à nossa maneira. Por vezes ferimos os nossos amigos mais próximos, e partimos sem dar satisfações, para realizar as nossas vontades. São alguns exemplos disso, os esposos que desistem da família; são filhos que abandonam os pais nos lares, nos hospitais; é a luxuria que por vezes toma conta das nossas vidas; é o querer ter prestígio;  são as riquezas, é o poder  que se sobrepõe à caridade; são as distrações e ilusões que nos agarram;  são tentações às quais vamos cedendo de passo em passo, e que  nos levam para caminhos longínquos e perigosos, etc. As consequências podem ser devastadoras, corremos o risco de nos sentirmos desgraçados, encurralados, escravos e sem esperança.

1.2- O filho mais velho

O filho mais velho fica na casa com o pai, servindo-o sem transgredir uma ordem Dele. Este filho é “uma das noventa e noventa e nove ovelhas” que não arriscam novas pastagens.

Este filho, que é fiel, também se apresenta como justo, perfeito e juiz. Este filho, faz-nos lembrar, todos nós que vamos ao templo aos Domingos, que “cumprimos” os mandamentos, os preceitos, mas que muitas vezes, não queremos estar com as pessoas que não têm a nossa religião, que têm pontos de vista que nos incomodam, que são mais pobres, que são muito pecadoras, muito escandalosas. Somos pessoas que gostamos de ficar seguros em casa do Pai.

1.3- Onde estamos?

Onde nos encontramos? De saída da casa do pai?  Em terras “longínquas” a esbanjar a nossa vida, ou, já cobertos de feridas, vícios, completamente desanimados e perdidos sem conhecer Quem nos procura?

Onde estamos? Estamos em casa do Pai, mas sem o conhecer?

Procuramos o Pai? 

Nas nossas vidas, podemos constatar que atravessamos diversas vezes estes estádios, com avanços e recuos, em outras situações, estamos com um pé no caminho e outro em casa. Esta parábola parece ser o resumo da nossa vida.

2. Encontro com o Pai, a conversão.

Tanto o filho mais novo como o filho mais velho, independentemente de terem partido ou de terem “permanecido” na casa do Pai, apesar das feridas abertas, determinante é o encontro com o Pai.

Ambos os filhos, ainda não conheciam verdadeiramente o Pai, não conheciam o seu Amor transformador. O Pai sempre procura os seus filhos, não desiste deles. Acende a candeia, a chama do Amor, tira todos obstáculos, e procura-os cuidadosamente até os encontrar.  

Vale a pena relembrar as atitudes do Pai para com o filho mais novo:
-Aceita o pedido de divisão do filho;
-Vê o seu filho ao longe ( sempre o procurou);
-Enche-se de compaixão;
-Corre a lançar-se-lhe ao pescoço e cobre-o de beijos;
-Escuta o filho;
-Manda trazer-lhe a melhor túnica, manda colocar o anel no dedo e sandália nos pés (devolve-lhe a dignidade de filho);
-Manda trazer e matar o vitelo mais gordo;
-Manda fazer um banquete;
-Explica o sentido da Festa «porque este meu filho estava morto e reviveu estava perdido e foi encontrado»

O filho não diz mais nada, tal era a sua alegria, renasce neste encontro com o Pai, é curado, é salvo, é renovado.  O Pai encontra o Filho e a festa começa, o coração de pedra do filho transforma-se novamente num coração de carne…

«Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão», diz-nos Jesus.

Importante  relembrar também,  as atitudes do Pai para com o filho mais velho:
- Suplica ao filho para entrar na festa;
-Reconhece que ele tem estado sempre com Ele;
-Reconhece que o que é dele, também é do filho;
-Explica o sentido da festa;

 Jesus não nos diz se o Filho mais velho entra no banquete, se se converteu, ou não.

E nós, quando nos encontramos na situação do filho mais novo, cheios de feridas, vícios, procuramos o Pai?  Sabemos que Ele nos ama incondicionalmente? Sabemos que Ele, a todo momento, nos pode restituir a dignidade de seus filhos muito queridos? Já tivemos na nossa vida experiências de encontro com o Pai, na oração, na escuta da Sua Palavra, nos Sacramentos, no nosso próximo? O sinal desse encontro é a Alegria e a Paz.

Estaremos nós, na situação do filho mais velho? Estamos fechados às fragilidades dos mais pobres e pecadores. Sentimo-nos seguros com as nossas obras? Se sim, não sejamos orgulhosos, aceitemos entrar na Festa do Senhor e digamos, Pai, preciso muito de Ti, sem Ti nada sou, cura-me.

3. O Reino de Deus

Jesus, o Verbo de Deus, que existe desde sempre, que encarnou na humanidade para nos revelar o Pai, ensinou-nos em parábolas e com o seu exemplo, como o Pai nos ama.

Jesus não ficou fechado no templo, caminhava, arriscava, a todos convidava à conversão, pecadores, fariseus, doutores da Lei, etc.

E nós, no mundo que nos envolve, procuramos anunciar a Misericórdia do Pai? Somos sinal e testemunhas dessa Misericórdia? 

O pecador está perdido, precisa de ser encontrado pelo Pai, de deixar-se encontrar pelo Pai. Nós, devemos facilitar "esse encontro"  ao nosso próximo, sejam eles nossos amigos ou inimigos. 

Diác. José Luís Leão/ 2018