segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Nous avons vu sa lumière | Emmanuel Music

Eveille-toi, sors de la nuit | Emmanuel Music

Oración de san Francisco de Asís | Oración simple | Un regalo para el Pa...

Oração de São Francisco
Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

chanson des graines d'amitié

Dans la nuit | Emmanuel Music


"De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.»

Quando os anjos se afastaram deles em direcção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: «Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.»

Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele menino. Todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores. Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado." Lc 2, 13-20


Agora, é o tempo de dar a conhecer este Menino, o Emanuel, o Deus Connosco, a todo mundo. Não guardes esta Luz só para ti, deixa-te inflamar pelo Seu Amor, e sê um sinal da Sua presença!
 
blog Catequese Missionária.

domingo, 18 de dezembro de 2022

José escolhe o caminho da misericórdia...

PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Praça de S.Pedro

Domingo, 18 de dezembro de 2022

"Queridos irmãos e irmãs, bom dia! 

Hoje, quarto e último domingo do Advento, a liturgia apresenta-nos a figura de São José (cf. Mt 1,18-24). Ele é um homem justo que está prestes a se casar. Podemos imaginar seus sonhos para o futuro: uma família linda, com uma esposa afetuosa, muitos filhos bons e um emprego decente; sonhos simples e bons, sonhos de gente simples e boa. No entanto, de repente esses sonhos são interrompidos por uma descoberta desconcertante: Maria, sua noiva, está esperando um filho, e esse filho não é dele! O que José poderia ter sentido? Perplexidade, dor, desorientação, talvez também raiva e decepção... Ele sente que o mundo está a desabar, está a cair sobre ele! O que ele poderia fazer?

A Lei oferecia-lhe duas possibilidades. A primeira, denunciar Maria e fazê-la pagar o preço de uma suposta infidelidade. A segunda, anular o noivado em segredo, sem expor Maria a escândalos e graves consequências, assumindo o peso da vergonha. E José escolhe este segundo caminho, que é o caminho da misericórdia. E eis que, no centro da crise, precisamente enquanto ele pensava e avaliava tudo isto, Deus acendeu uma nova luz no seu coração: num sonho, anunciou-lhe que a maternidade de Maria não provinha de uma traição, mas era a obra de Deus, Espírito Santo, e o que há de nascer é o Salvador (cf. v. 20-21); Maria será a mãe do Messias e ele será seu guardião. Ao acordar, José entende que o maior sonho de todo piedoso israelita - ser o pai do Messias - está a se realizar para ele de forma absolutamente inesperada. 

Com efeito, para tal, não lhe bastará pertencer à linhagem de David e observar fielmente a Lei, mas terá de confiar em Deus acima de tudo, acolhendo Maria e o seu Filho de uma forma completamente diferente da prevista, diferente do que sempre foi feito. Por outras palavras, José terá de renunciar às suas certezas reconfortantes, aos seus planos perfeitos, às suas legítimas expectativas, e abrir-se a um futuro inteiramente por descobrir. E a Deus, que lhe estraga os planos e lhe pede que confie Nele, José responde que sim. A coragem de José é heroica e realiza-se no silêncio: a sua coragem consiste em confiar, confia, acolhe, coloca-se à disposição, não pede mais garantias.

Irmãos, irmãs, o que José nos diz hoje? Também temos os nossos sonhos, e talvez no Natal pensemos mais neles, discutamo-los juntos. Talvez ansiamos por alguns sonhos desfeitos e vemos que as melhores esperanças muitas vezes devem ser confrontadas com situações inesperadas e desconcertantes. E quando isso acontece,  José indica-nos o caminho: não devemos ceder a sentimentos negativos, como a raiva e o fechamento, este é o caminho errado! Ao contrário, devemos acolher as surpresas, as surpresas da vida, inclusive as crises, lembrando que quando se está em crise não se deve decidir precipitadamente, por instinto, mas passar pela criatividade, como fez José, "considerar todas as coisas ” (cf. v. 20) e apoiam-se no critério principal: a misericórdia de Deus.

Quando a crise é habitada sem ceder ao fechamento, à raiva e ao medo, tendo a porta aberta para Deus, Ele pode intervir. Ele é especialista em transformar crises em sonhos: sim, Deus abre as crises para novas perspectivas que não imaginávamos, talvez não como esperamos, mas como Ele sabe. E estes são, irmãos e irmãs, os horizontes de Deus: surpreendentes, mas infinitamente mais amplos e belos que os nossos. Que a Virgem Maria nos ajude a viver abertos às surpresas de Deus."



Texto: Retirado do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/ em 18/12/2022; [tradução, recorrendo ao   "google tradutor", de Espanhol para Português];

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 18/12/2022;

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

CONGRESSO MISSIONÁRIO-FRATERNIDADE SEM FRONTEIRAS 2022

A Fraternidade e a Reconstrução da Esperança, Cardeal José Tolentino Mendonça


Acesse a todos temas deste tão importante congresso, através do Link:

https://congressomissio22.wordpress.com/   




segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Jesus está presente, mas esperemos vigilantes (...)


PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Praça São Pedro
Domingo, 27 de novembro de 2022

 

Estimados irmãos e irmãs, bom dia, feliz domingo!

No Evangelho da Liturgia de hoje ouvimos uma bonita promessa que nos introduz no Tempo de Advento: «Virá o vosso Senhor» (Mt 24, 42). Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta até nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida: Deus vem, Deus está próximo e vem. Nunca nos esqueçamos disto! O Senhor vem sempre, o Senhor visita-nos, o Senhor está próximo, e voltará no final dos tempos para nos acolher no seu abraço. Diante desta palavra, perguntamo-nos: como vem o Senhor? E como o reconhecemos e acolhemos? Reflitamos brevemente sobre estas duas perguntas.

A primeira pergunta: como vem o Senhor? Tantas vezes ouvimos dizer que o Senhor está presente no nosso caminho, que Ele nos acompanha e nos fala. Mas talvez, distraídos como estamos por tantas coisas, esta verdade permanece para nós apenas teórica; sim, sabemos que o Senhor vem, mas não vivemos esta verdade ou imaginamos que o Senhor vem de uma forma sensacional, talvez através de algum sinal prodigioso. Ao contrário, Jesus diz que isso acontecerá “como nos dias de Noé” (cf. v. 37). E o que faziam nos dias de Noé?   Simplesmente as coisas normais e quotidianas da vida, como sempre: «comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento» (v. 38). Tenhamos isto em mente: Deus está escondido na nossa vida, Ele está sempre ali, Ele está escondido nas situações mais comuns e ordinárias da nossa vida. Ele não vem em eventos extraordinários, mas nas coisas do dia a dia, Ele manifesta-se nas coisas de todos os dias. Ele está ali, no nosso trabalho diário, num encontro casual, no rosto de uma pessoa em necessidade, inclusive quando enfrentamos dias que parecem cinzentos e monótonos, precisamente ali está o Senhor, que nos chama, fala-nos e inspira as nossas ações.

No entanto, há uma segunda pergunta: como reconhecer e acolher o Senhor? Devemos permanecer acordados, alerta, vigilantes. Jesus avisa-nos: há o perigo de não perceber a sua vinda e de não estar preparado para a sua visita. Recordei noutras ocasiões o que Santo Agostinho disse: «Temo o Senhor que passa» (Serm. 88.14.13), ou seja, temo que Ele passe e eu não O reconheça! De facto, Jesus diz das pessoas do tempo de Noé que comiam e bebiam «e não deram por nada até chegar o dilúvio» (v. 39). Prestemos atenção a isto: eles não repararam em nada! Estavam preocupados com as próprias coisas e não se aperceberam que o dilúvio estava a chegar. De facto, Jesus diz que quando Ele vier, «estarão dois homens no campo: um será levado e o outro será deixado» (v. 40). Em que sentido? Qual é a diferença? Simplesmente que um foi vigilante, esperava, capaz de discernir a presença de Deus na vida diária; o outro, ao contrário, estava distraído, “ia vivendo”, e não se deu conta de nada.

Irmãos e irmãs, neste tempo de Advento, deixemo-nos despertar do torpor e acordemos do sono! Perguntemo-nos: estou consciente do que vivo, estou alerta, estou desperto? Procuremos perguntar-nos: estou ciente daquilo que vivo, estou atento, estou acordado? Procuro reconhecer a presença de Deus nas situações quotidianas, ou estou distraído e um pouco sobrecarregado com as coisas? Se hoje não estivermos conscientes da sua vinda, também não estaremos preparados quando ele chegar no final dos tempos. Portanto, irmãos e irmãs, mantenhamo-nos vigilantes! À espera que o Senhor venha, à espera que o Senhor se aproxime de nós, pois Ele está presente, mas esperemos vigilantes. Que a Virgem Santa, Mulher da espera, que soube captar a passagem de Deus na vida humilde e escondida de Nazaré e o acolheu no seu ventre, nos ajude neste caminho a estar atentos para esperar o Senhor que está entre nós e passa.

Texto: Retirado do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/

Imagem: Retirada da "Google imagens".

Jesus, remember me | Taizé

sábado, 5 de novembro de 2022

Céleste Jérusalem — Chant de l'Emmanuel

Nossa morada encontra-se nos Céus,

Nós veremos a Esposa do Cordeiro

Toda adornada com a glória de Deus:

Celeste Jerusalém!


O Cordeiro será a nossa luz.

Já não precisaremos do Sol,

A noite deixará de existir

O próprio Deus nos iluminará!


Não haverá mais gritos nem dor

E as nossas lágrimas cessarão

Deus viverá no meio de nós

E um novo mundo surgirá!

(...)


Regressar ao caminho verdadeiro como Jacob...

O Patriarca Jacob

Rabi Elisha Salas

"Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora.Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. E disse-lhe:«Deixa-me partir, porque já rompe a aurora».Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» - respondeu ele. E então abençoou-o. Jacob chamou àquele lugar Penuel; «porque vi um ser divino, face a face, e conservei a vida» - disse ele. O sol principiara a levantar-se, quando Jacob deixou Penuel, coxeando por causa da sua coxa. *É por isso que os filhos de Israel não comem, ainda hoje, o nervo ciático que está na cavidade da coxa porque Jacob foi ferido no nervo ciático da coxa, que ficou paralisado." (Gn 32, 25-33)

 Luta de Jacob e o Anjo. Pintura do francês Alexander Louis Leloir

Ao regressar da casa de Labão onde esteve vinte anos, Jacob encontrava-se entre duas frentes de conflito: por um lado, Labão e os seus estavam insatisfeitos com ele, por ele ter levado as duas filhas de Labão, as suas servas e todo o gado a que tinha direito segundo o acordo que tinha feito (Gn.30,25-31;55). Por outro lado, o encontro com o seu irmão Esaú assustava-o; não se viam há vinte anos, e Jacob recordava perfeitamente e que Esaú tinha prometido matá-lo, tendo sido essa a razão da sua fuga da casa dos seus pais. Jacob não sabia se Esaú continuava a odiá-lo ou se o tinha perdoado; não tinha outra opção, já que Deus, Ele próprio, lhe tinha ordenado que regressasse à sua terra (Gn 31,3).

Na sua viagem de regresso, e prevendo já o inevitável encontro com o seu irmão, Jacob planeia este encontro meticulosamente: primeiro envia-lhe mensageiros para o avisar de que vinha ao seu encontro, mas…Más notícias! Os mensageiros regressaram com informação de que Esaú vinha na sua direcção com quatrocentos homens! Isto causou-lhe uma grande preocupação e medo, não só por ele próprio, mas também por toda a sua família. Afinal, talvez Esaú nunca lhe tivesse perdoado e estivessem todos a correr perigo de vida!

Então, no momento da aflição, ao sentir-se encurralado por todos os lados, ele pensa noutra estratégia para melhorar este encontro: separou a sua gente em dois grupos, ambos com uma mensagem especial para Esaú e com muitos animais de oferta para o acalmar. Seguidamente, na sua angústia, sem saber como enfrentar esta situação, Jacob reza a Deus em profundo desespero, pedindo a Sua ajuda: Deus do meu pai Abraão, de Deus do meu pai Isac, Senhor que me disseste ”volta à tua terra, à terra do teu nascimento, far-te-ei bem”. Menor sou eu que todas as beneficências e que toda a fidelidade que fizeste ao Teu servo, pois com o meu cajado passei este Jordão e agora transformei-me em dois acampamentos. Livra-me, peço-Te, da mão de meu irmão…(Gn 32, 9-11).

Nós, os seres humanos, quando nos encontramos em situações de quebra, de grandes dificuldades, de solidão, é nesses momentos que podemos atingir uma transparência total connosco mesmos e com Deus.

Jacob sabe que não tem escapatória. Lembra-se de onde vem (de Charan), lembra-se que é filho de homens amados por Deus (o seu avô e o seu pai), lembra-se das promessas recebidas por parte de Deus (que lhe faria bem) e sabe que não é merecedor das bondades de HaShem: « Menor sou eu que todas as beneficências  e que toda a fidelidade que fizeste ao Teu servo…) Gn 32,10.

Mas a ajuda de Deus ainda não vem. O que fazer?? Ele olha para a sua família e eles aí estão, provavelmente tão preocupados quanto ele, e também sem saberem o que fazer. Jacob não se pode deixar ir abaixo; não quer chorar diante deles. Ele tem que ser forte, mas sabe que não é capaz. Precisa de estar só, de abrir o seu coração a Deus, a sua última esperança.

Surge-lhe  uma nova ideia: passar suas duas famílias para a outra margem do rio que tem à frente e ficar a sós com Deus (Gn 32,22-24).

Jacob fica então só e atinge a conexão espiritual necessária. De repente, os seus olhos abrem-se e vê Aquele que esteve sempre ao seu lado, mas que ele não via: um anjo, com o qual Jacob luta até ao amanhecer, talvez fazendo uma profunda auto-avaliação de consciência, uma introspecção, reflectindo sobre a sua vida, os erros cometidos, os actos imaturos que cometeu contra seu irmão, contra os seus pais...Ali está Jacob, a sós com os seus defeitos, e disposto a mudar. Talvez o anjo, ao enfrentá-lo o tenha feito reagir; é como um bom amigo que nos chama à atenção pelas nossas atitudes (ou falta delas), e que nos leva a fazer as mudanças de vida necessárias para nos transformarmos no homem que Deus vê em nós, mas nós, cegos, nunca tínhamos aberto os olhos para esse potencial; nunca tínhamos parado para nos conhecermos a nós próprios.

Chega o momento da despedida do anjo. Aquele anjo que obrigou Jacob a ver-se como era e como deveria ser, e Jacob não o  quer deixar ir. Ele sente-se diferente, tem algo diferente dentro de si, talvez sempre tenha lá estado mas ele não o deixava aparecer…Agora sim, está bem presente. Ao  ver que o sol nasce e que tem que enfrentar a realidade do temido encontro com o seu irmão, Jacob não que deixar o anjo partir, mas é inevitável, como se o anjo lhe dissesse: «O dia está a chegar e com ele a realidade; só tu podes enfrentá-la». Ao responder à pergunta do anjo-Como te chamas? –Jacob foi forçado a reencontrar-se com o seu próprio nome, representativo dos erros do seu passado: Jacob que comprou a primogenitura ao seu irmão por um simples prato de lentilhas, aproveitando-se de um momento de fraqueza dele-, Jacob que enganou o velho pai, aproveitando-se da sua cegueira; Jacob, que se foi apropriando sub-repticiamente dos rebanhos de Labão  com os estratagema das varas no bebedouro…

Toda a vida de Jacob, o seu nascimento, os ciúmes do irmão, a sua fuga de casa, a sua vida com Labão, com as sua mulheres, os seus filhos, a mudança que teve que fazer na sua vida para se tornar pastor quando em casa de seus pais «habitava em tendas» (Gn 25,27), as suas noites solitárias e frias com o gado, a saída de casa de Labão e o inevitável reencontro com Esaú…Tudo aquilo que passou trouxeram-no até este grande momento de transformação.

Então, revelando e confirmando a mudança total operada em Jacob, surge a resposta do anjo: o teu nome já não será Jacob, mas ISRAEL-[]-que significa «Deus é recto, transparente, verdadeiro». A Torá mostra-nos, desde Abraão, a importância do significado dos nomes na vida das pessoas, a capacidade que os nomes têm de influenciar a personalidade e os comportamento humanos e esta é, talvez, a mudança de nome mais representativa que a Torá nos apresenta.

Aprendamos com Jacob a reconhecer a necessidade de mudança nas nossas próprias vidas, e não deixarmos escapar os movimentos altos de transformação que a vida nos proporciona. Saibamos agarrá-los e aproveitá-los ao máximo. Esta é uma das ideias importantes do Judaísmo: a noção de Teshuvá (regressar ao caminho verdadeiro). Enfrentarmos os erros do nosso passado, assumir-mo-los e decidirmos mudar, para avançar rumo ao futuro como uma nova pessoa.

Texto: Retirado da revista "Biblica", n.º 401 de Agosto de 2022, da Difusora Bíblica dos Franciscanos Capuchinhos. Uma Revista Fantástica!

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 06.11.2022

domingo, 9 de outubro de 2022

Tournez les yeux vers le Seigneur - Chant de l'Emmanuel

Os elementos do discernimento: a familiaridade com o Senhor


Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Retomemos as catequeses sobre o tema do discernimento, pois é muito importante o tema do discernimento para saber o que acontece dentro de nós; dos sentimentos e das ideias, devemos discernir de onde veem, para onde me levam, para qual decisão - e hoje concentremo-nos no primeiro dos seus elementos constitutivos, isto é a oração. Para discernir é preciso estar num ambiente, num estado de oração.

A oração é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo que nos dirijamos a Deus com simplicidade e familiaridade, como se fala com um amigo. É saber ir além dos pensamentos, entrar em intimidade com o Senhor, com uma espontaneidade afetuosa. O segredo da vida dos santos é a familiaridade e a confidência com Deus, que cresce neles e torna cada vez mais fácil reconhecer o que Lhe agrada. A oração verdadeira é familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar orações como um papagaio, blá-blá-blá, não. A verdadeira oração é aquela espontaneidade e afeto com o Senhor. Esta familiaridade supera o medo ou a dúvida de que a sua vontade não é para o nosso bem, uma tentação que às vezes atravessa os nossos pensamentos, tornando o coração inquieto e incerto ou até amargo.

O discernimento não pretende uma certeza absoluta – não é quimicamente um puro método, não, pretende uma certeza absoluta porque diz respeito à vida, e a vida nem sempre é lógica, apresenta muitos aspetos que não se deixam encerrar numa única categoria de pensamento. Gostaríamos de saber exatamente o que se deveria fazer, e, no entanto, até quando acontece, nem por isso agimos sempre em conformidade. Quantas vezes também nós vivemos a experiência descrita pelo apóstolo Paulo, que diz assim: «Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero» (Rm 7, 19). Não somos apenas razão, não somos máquinas, não é suficiente receber instruções para as pôr em prática: os obstáculos, assim como as ajudas, a decidir-se pelo Senhor são acima de tudo afetivos, do coração.

É significativo que o primeiro milagre realizado por Jesus no Evangelho de Marcos seja um exorcismo (cf. 1, 21-28). Na sinagoga de Cafarnaum, liberta um homem do demónio, livrando-o da falsa imagem de Deus que Satanás sugere desde as origens: a de um Deus que não quer a nossa felicidade. O endemoninhado daquele trecho de Evangelho, sabe que Jesus é Deus, mas isto não o leva a acreditar n’Ele. Com efeito, diz: «Vieste arruinar-nos» (v. 24).

Muitas pessoas, inclusive cristãos, pensam a mesma coisa: que Jesus pode até ser o Filho de Deus, mas duvidam que Ele quer a nossa felicidade; aliás, alguns temem que levar a sério a sua proposta, o que Jesus nos propõe,  signifique arruinar a vida, mortificar os nossos desejos, as nossas aspirações mais fortes. Às vezes surgem dentro de nós estes pensamentos: que Deus nos pede demasiado, temos medo de que Deus nos peça demasiado, que não nos ame verdadeiramente. Ao contrário, na nossa primeira audiência vimos que o sinal de um encontro com o Senhor é a alegria. Quando me encontro com o Senhor na oração, fico alegre. Cada um de nós torna-se jubiloso, algo bonito. Por outro lado, a tristeza ou o medo são sinais de distância de Deus: «Se quiseres entrar na vida, observa os mandamentos», diz Jesus ao jovem rico (Mt 19, 17). Infelizmente para aquele jovem, alguns obstáculos não lhe permitiram satisfazer o desejo que tinha no coração, de seguir mais de perto o “bom mestre”. Era um jovem interessado, empreendedor, tinha tomado a iniciativa de se encontrar com Jesus, mas vivia também muito dividido nos afetos; para ele as riquezas eram demasiado importantes. Jesus não o obriga a decidir, mas o texto observa que o jovem se afasta de Jesus «contristado» (v. 22). Quem se afasta do Senhor nunca se sente satisfeito, mesmo que tenha à sua disposição uma grande abundância de bens e possibilidades. Jesus nunca obriga a segui-lo, nunca. Jesus faz-te conhecer a sua vontade, de coração faz com que saibas as coisas, mas deixa-te livre. E isto é o aspeto mais bonito da oração com Jesus: a liberdade que Ele nos deixa. Ao contrário, quando nos afastamos do Senhor permanecemos com alguma coisa triste, algo negativo no coração.

Discernir o que acontece dentro de nós não é fácil, porque as aparências enganam, mas a familiaridade com Deus pode dissipar delicadamente dúvidas e temores, tornando a nossa vida cada vez mais recetiva à sua «luz suave», de acordo com a bonita expressão de São John Henry Newman. Os santos brilham com luz refletida, mostrando nos gestos simples do seu dia a presença amorosa de Deus, que torna possível o impossível. Diz-se que dois cônjuges que viveram juntos durante muito tempo, amando-se, acabam por se assemelhar um ao outro. Algo análogo pode-se dizer da oração afetiva: de modo gradual, mas eficaz, torna-nos cada vez mais capazes de reconhecer o que conta por conaturalidade, como algo que brota das profundezas do nosso ser. Estar em oração não significa pronunciar palavras, palavras, não; estar em oração significa abrir o coração a Jesus, aproximar-se de Jesus, deixar que Jesus entre no meu coração e nos faça sentir a sua presença. E nisto podemos discernir quando é Jesus e quando somos nós com os nossos pensamentos, muitas vezes distantes daquilo que Jesus quer.

Peçamos esta graça: viver uma relação de amizade com o Senhor, como um amigo fala com o amigo (cf. Santo Inácio de Loyola, Exercícios espirituais, 53). Conheci um irmão religioso idoso que era o porteiro de um colégio e cada vez que podia ele aproximava-se da capela, olhava para o altar, e dizia: “olá”, porque tinha proximidade com Jesus. Ele não precisava de dizer blá-blá-blá, não: “olá, estou perto de ti e tu estás perto de mim”. Esta é a relação que devemos ter na oração: proximidade, proximidade afetiva, como irmãos, proximidade com Jesus. Um sorriso, um simples gesto e não recitar palavras que não chegam ao coração. Como eu dizia, falar com Jesus como um amigo fala a outro amigo. É uma graça que devemos pedir uns pelos outros: ver Jesus como o nosso amigo, o nosso maior amigo, o nosso amigo fiel, que não chantageia, sobretudo que nunca nos abandona, nem sequer quando nos afastamos d’Ele. Ele permanece à porta do coração. “Não, não quero saber de nada de ti”, dizemos. E Ele permanece calado, fica ali ao alcance das mãos, ao alcance do coração porque Ele é sempre fiel. Vamos em frente com esta oração, recitamos a prece do “olá”, a oração de saudar o Senhor com o coração, a oração do afeto, a oração da proximidade, com poucas palavras, mas com gestos e com boas obras. Obrigado.

Papa Francisco

Catequese na audiência geral 28.09.22

Texto: Retirado do Site do Vaticano em 09.10.2022- http://www.vatican.va/

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 09.10.2022


sábado, 1 de outubro de 2022

O que significa discernir?


Catequeses sobre o discernimento

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje iniciamos um novo ciclo de catequeses: terminámos as catequeses sobre a velhice, agora começamos um novo ciclo sobre o tema do discernimento. Discernir é um ato importante que se refere a todos, pois as escolhas constituem uma parte essencial da vida. Discernir as escolhas. Escolhe-se uma comida, uma roupa, um percurso de estudos, um emprego, uma relação. Em tudo isto realiza-se um projeto de vida, e também se concretiza a nossa relação com Deus.

No Evangelho, Jesus fala do discernimento com imagens tiradas da vida comum; por exemplo, descreve os pescadores que selecionam os peixes bons e descartam os maus; ou o comerciante que sabe identificar, entre muitas pérolas, a de maior valor. Ou aquele que, lavrando um campo, se depara com algo que se revela um tesouro (cf. Mt 13, 44-48).

À luz destes exemplos, o discernimento apresenta-se como um exercício de inteligência, também de perícia e inclusive de vontade, para reconhecer o momento favorável: são estas as condições para fazer uma boa escolha. É preciso inteligência, perícia e também vontade para fazer uma boa escolha. E há ainda um custo necessário para que o discernimento se torne viável. Para desempenhar a sua profissão da melhor forma, o pescador tem em consideração o cansaço, as longas noites passadas no mar, e além disso descarta uma parte da pesca, aceitando uma perda do lucro para o bem daqueles a quem se destina. O mercador de pérolas não hesita em gastar tudo para comprar aquela pérola; e o homem que se deparou com um tesouro faz o mesmo. Situações inesperadas, não programadas, onde é fundamental reconhecer a importância e urgência de uma decisão a tomar. Cada um deve tomar decisões; não há ninguém que as tome por nós. Numa certa altura os adultos, livres, podem pedir conselhos, pensar, mas a decisão é pessoal; não se pode dizer: “Perdi isto, porque o meu marido decidiu, a minha esposa decidiu, o meu irmão decidiu”: não! Tu deves decidir, cada um de nós deve decidir, e por isso é importante saber discernir: para decidir bem, é necessário saber discernir.

O Evangelho sugere outro aspeto importante do discernimento: ele envolve os afetos. Quem encontrou o tesouro não tem dificuldade de vender tudo, tão grande é a sua alegria (cf. Mt 13, 44). O termo usado pelo evangelista Mateus indica uma alegria totalmente especial, que nenhuma realidade humana pode dar; e com efeito, repete-se em pouquíssimas outras passagens do Evangelho, todas elas relativas ao encontro com Deus. É a alegria dos Magos quando, depois de uma viagem longa e árdua, veem de novo a estrela (cf. Mt 2, 10); a alegria, é a alegria das mulheres que regressam do sepulcro vazio, depois de ter ouvido o anúncio da ressurreição, feito pelo anjo (cf. Mt 28, 8). É a alegria de quem encontrou o Senhor! Tomar uma boa decisão, uma decisão certa, leva-te sempre àquela alegria final; talvez ao longo do caminho tenhamos que sofrer um pouco de incerteza, pensar, procurar, mas no final a decisão certa beneficia-te com a alegria.

No juízo final Deus fará um discernimento – um grande discernimento – em relação a nós. As imagens do camponês, do pescador e do comerciante são exemplos do que acontece no Reino dos céus, um Reino que se manifesta nas ações comuns da vida, que exigem uma tomada de posição. Por isso é muito importante saber discernir: as grandes escolhas podem surgir de circunstâncias à primeira vista secundárias, mas que se revelam decisivas. Por exemplo, pensemos no primeiro encontro de André e João com Jesus, um encontro que nasce de uma simples pergunta: “Rabi, onde moras?” – “Vinde ver!” (cf. Jo 1, 38-39), diz Jesus. Um diálogo muito breve, mas é o início de uma mudança que, passo a passo, marcará a vida inteira. Anos mais tarde, o Evangelista continuará a lembrar-se daquele encontro que o mudou para sempre, recordando-se até da hora: «Eram cerca das quatro horas da tarde» (v. 39). Foi a hora em que o tempo e o eterno se encontraram na sua vida. E, numa decisão boa, certa, encontra-se a vontade de Deus com a nossa vontade; encontra-se o caminho atual com o eterno. Tomar uma decisão certa, depois de um caminho de discernimento, significa fazer este encontro: o tempo com o eterno.

Portanto: conhecimento, experiência, afetos, vontade: eis alguns elementos indispensáveis para o discernimento. No decurso destas catequeses veremos outros, igualmente importantes.

O discernimento - como eu dizia – exige esforço. Segundo a Bíblia, não encontramos diante de nós, já embalada, a vida que devemos viver: não! Devemos decidi-la continuamente, de acordo com as realidades que se apresentam. Deus convida-nos a avaliar e a escolher: Criou-nos livres e quer que exerçamos a nossa liberdade. Por isso, discernir é difícil.

Vivemos frequentemente esta experiência: escolher algo que nos parecia bom e, no entanto, não o era. Ou saber qual era o nosso verdadeiro bem e deixar de o escolher. O homem, diversamente dos animais, pode errar, pode não desejar escolher de modo correto. A Bíblia mostra-o a partir das suas primeiras páginas. Deus dá ao homem uma instrução exata: se quiseres viver, se quiseres desfrutar da vida, lembra-te que és criatura, que não és o critério do bem e do mal, e que as escolhas que fizeres terão uma consequência para ti, para os outros e para o mundo (cf. Gn 2, 16-17); podes fazer da terra um jardim magnífico, ou podes transformá-la num deserto de morte. Um ensinamento fundamental: não é por acaso que se trata do primeiro diálogo entre Deus e o homem. O diálogo é: o Senhor dá a missão, é preciso fazer isto e aquilo; e o homem, a cada passo que dá, deve discernir qual é a decisão a tomar. O discernimento é aquela reflexão da mente, do coração que devemos fazer antes de tomar uma decisão.

O discernimento é árduo, mas indispensável para viver. Requer que eu me conheça, que saiba o que é bom para mim aqui e agora. Exige sobretudo uma relação filial com Deus. Deus é Pai e não nos deixa sozinhos, está sempre disposto a aconselhar-nos, a encorajar-nos, a acolher-nos. Mas nunca impõe a sua vontade. Porquê? Porque quer ser amado, não temido. E Deus também quer que sejamos filhos, não escravos: filhos livres. E o amor só pode ser vivido na liberdade. Para aprender a viver é preciso aprender a amar, e por isso é necessário discernir: o que posso fazer agora, diante desta alternativa? Que seja um sinal de mais amor, de mais maturidade no amor. Peçamos que o Espírito Santo nos guie! Invoquemo-lo todos os dias, especialmente quando devemos fazer escolhas. Obrigado!

Papa Francisco

31.08.22

Catequese na audiência geral

Texto: Retirado do Site do Vaticano em 01.10.2022- http://www.vatican.va/

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 01.10.2022

domingo, 4 de setembro de 2022

Laissez vous consumer - Chant de communion

um sorriso transparente, que não engana...

SANTA MISSA E BEATIFICAÇÃO DO SERVO DE DEUS O PAPA JOÃO PAULO I

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Praça São Pedro
XXIII Domingo do Tempo Comum, 4 de setembro de 2022

Jesus vai a caminho de Jerusalém e, como diz o Evangelho de hoje, «seguiam com Ele grandes multidões» (Lc 14, 25). Caminhar com Ele significa segui-Lo, isto é, tornar-se discípulo. E, contudo, a estas pessoas o Senhor faz um discurso pouco atraente e muito exigente: não pode ser seu discípulo quem não O ama mais do que aos seus entes queridos, quem não carrega a sua cruz, quem não renuncia aos bens terrenos (cf. 14, 26-27.33). Porque é que Jesus dirige tais palavras à multidão? Qual é o significado das suas advertências? Tentemos responder a estas questões.

Em primeiro lugar, vemos muitas pessoas, uma multidão numerosa que segue Jesus. Podemos imaginar que muitos ficaram fascinados pelas suas palavras e maravilhados com os gestos que realizava; e, por isso, terão visto n’Ele uma esperança para o próprio futuro. Que teria feito qualquer outro mestre de então, ou – podemos ainda interrogar-nos – que faria um líder astuto ao ver que as suas palavras e o seu carisma atraíam as multidões e faziam crescer o consenso no seio delas? Como sucede hoje, especialmente nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagácia e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o «salvador» que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder, a sua própria imagem, a própria capacidade de controlar as coisas.

O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente. É importante compreender o estilo de Deus, compreender como age Deus. Deus age segundo um estilo, e o estilo de Deus é diverso do estilo de tais pessoas, porque Ele não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas. Não tem a paixão dos números, não busca consensos, nem é um idólatra do sucesso pessoal. Pelo contrário, parece preocupar-Se quando as pessoas O seguem com euforia e fáceis entusiasmos. Assim, em vez de Se deixar atrair pelo fascínio da popularidade – porque a popularidade fascina –, pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que O segue e as consequências que isso acarreta. De facto, naquela multidão havia muitos que talvez seguissem Jesus, porque esperavam que Ele fosse um chefe que os libertaria dos inimigos, alguém que conquistaria o poder e o partilharia com eles; ou então alguém que, realizando milagres, resolveria os problemas da fome e das doenças. Com efeito, pode-se seguir o Senhor por várias razões, e algumas destas –admitamo-lo – são mundanas: por trás duma fachada religiosa perfeita pode-se esconder a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais. Ainda hoje sucede isto entre os cristãos. Mas este não é o estilo de Jesus; nem pode ser o estilo do discípulo e da Igreja. Se alguém segue Cristo movido por tais interesses pessoais, enganou-se no caminho.

O Senhor pede um comportamento diferente: segui-Lo não significa entrar na corte, nem participar num cortejo triunfal, nem mesmo garantir-se um seguro de vida. Pelo contrário, significa «tomar a própria cruz» (Lc 14, 27): como Ele, carregar os pesos próprios e os pesos alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós. Trata-se de opções que comprometem a totalidade da existência; por isso, Jesus deseja que o discípulo nada anteponha a este amor, nem sequer os afetos mais queridos ou os bens maiores.

Para o conseguir, porém, é preciso olhar mais para Ele do que para nós próprios, aprender o amor que brota do Crucificado. N’Ele vemos um amor que se dá até ao fim, sem medida nem fronteiras. A medida do amor é amar sem medida. Nós mesmos – dizia o Papa Luciani – «somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga» (Angelus, 10/IX/1978). Não se apaga: nunca se eclipsa da nossa vida, resplandece sobre nós e ilumina até as noites mais escuras. Ora, olhando para o Crucificado, somos chamados às alturas daquele amor: somos chamados a purificar-nos das nossas ideias erradas sobre Deus e dos nossos fechamentos, a amá-Lo a Ele e aos outros, na Igreja e na sociedade, incluindo aqueles que não pensam como nós e até os próprios inimigos.

Amar, ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição. Amar assim, inclusive a este preço, porque – dizia o Beato João Paulo I – se queres beijar Jesus crucificado, «não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor» (Audiência Geral, 27/IX/1978). O amor até ao extremo, com todos os seus espinhos: e não as coisas a meio, as acomodações ou a vida tranquila. Se não apontarmos para o alto, se não arriscarmos, se nos contentarmos com uma fé superficial, somos – diz Jesus – como quem deseja construir uma torre, mas não calculou bem os meios para a fazer: «assenta os alicerces» e, depois, «não a pode acabar» (Lc 14, 29). Se, por medo de nos perdermos, renunciamos a dar-nos, deixamos inacabadas as coisas – os relacionamentos, o trabalho, as responsabilidades que nos estão confiadas, os sonhos, e até a fé –, então acabamos por viver a meias. E quantas pessoas vivem a meias! Também nós muitas vezes temos a tentação de viver a meias, sem nunca dar o passo decisivo (isto é viver a meias), sem levantar voo, sem arriscar pelo bem, sem nos empenharmos verdadeiramente pelos outros. Jesus pede-nos isto: vive o Evangelho e viverás a vida, não a meias, mas até ao fundo. Vive o Evangelho, vive a vida, sem cedências.

Irmãos, irmãs, o novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mi mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever (cf. A. Luciani/João Paulo I, Opera Omnia, Pádua 1988, vol. II, 11). Nesta linha, exclamava: «O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: “somos servos inúteis”» (Audiência Geral, 6/IX/1978).

Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com o rosto alegre, o rosto sereno, o rosto sorridente, uma Igreja que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no retrogradismo. Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha «o sorriso da alma», um sorriso transparente, que não engana: o sorriso da alma. Servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: «Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais» (Audiência Geral, 13/IX/1978). Amen.

Texto: Retirado do Site do Vaticano em 05.09.2022- http://www.vatican.va/

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 05.09.2022

domingo, 10 de julho de 2022

Como deve ser o nosso modo de agir? Como o de Jesus, cheios de compaixão!

"Se Deus é por nós, quem será contra nós. Quem nos poderá separar do amor de Deus, a angústia a fome, a espada a tribulação, a nudez (…).

Esta imagem que temos aqui, esta inspiração, é o mosaico do "Bom Samaritano" e que nos permite avançar para uma mensagem de esperança muito forte de que Jesus se ocupa de nós, toma conta de nós.

Deixamos o desafio de leres a passagem da Escritura, a parábola do Bom Samaritano, Lc 10,30-37. Depois propomos-te uma pequena meditação, um comentário do Padre Cristof Mardrique, sobre este quadro do Bom Samaritano."

“ Tomando a palavra, Jesus respondeu:«Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante.Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão.Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: 'Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.' Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.» " Lc 10,30-37

Neste mosaico do Bom Samaritano, nesta pintura, nada de extraordinário, nenhuma cor viva, nada que me chame o olhar. É preciso esforçar-mo-nos para tomar atenção. Esta cena é apagada, quase invisível, a caridade não faz barulho, Jesus toma conta de nós sem gritar, sem anunciar, sem projectores. Jesus toma conta de nós de uma maneira discreta, apagada e muita vezes nem se quer vemos, e o pior, é que ainda por cima duvidamos!

No quadro temos duas personagens, o Samaritano que chamamos bom, mas isso nem sequer é mencionado no Evangelho, mas no fim do diálogo  com Jesus o Evangelista diz que este fez provas de bondade para com o  próximo. Vemos também o homem que foi espancado.

Quem é este Bom Samaritano? Na sua cabeça tem um crusifário que simboliza Cristo. Normalmente  ele é representado com cores vermelhas, mas quando olhamos para as mãos do Samaritano e vemos os sinais dos cravos, então é bem claro que é Jesus Ressuscitado! O Bom Samaritano também Ele está ferido. O profeta Isaías diz,” nas suas chagas encontramos a cura”. Ele também viveu as provações como nós. Deus aproxima-se, sabe cuidar de nós com delicadeza porque Ele sabe muito bem o que é ser ferido, Ele conhece o nosso sofrimento e podemos nos aproximar Dele sem medo.

Olhamos também as mãos que estão à volta do pescoço, poderemos pensar que é uma única pessoa, que é ao mesmo tempo, o bom samaritano e o homem ferido. Há uma unidade entre os dois. Jesus não se distância, Ele abraça a nossa miséria, Ele Abraça o homem ferido.

Nós vemos o óleo que Jesus deita sobre o corpo deste homem que sofre, é o sinal da doçura de Deus, da delicadeza. Jesus diz –“ aprendam de mim que sou manso e humilde de coração”. Este óleo  que Ele deita, é símbolo da doçura de Deus quando toma conta de nós. É um detalhe deveras interessante, que Jesus não deita o óleo na ferida, a que está no ombro, Ele deita o óleo no coração. Talvez tenhamos feridas que são visíveis . Mas Jesus  também conhece as nossas feridas mais profundas, mais graves, as feridas do coração, do coração endurecido pelo nosso pecado. Este óleo sobre o coração , Jesus derrama-o sobre aquilo que faz mal, que nos dói na nossa vida, e sobre o pecado.

O Samaritano chega ao pé do homem, olha para ele, e enche-se de compaixão, Ele viu-o, olhou para ele, nos diz o texto. É incrível o olhar de Jesus  sobre este homem despojado! Este olhar está completamente desapegado do gesto de deitar o óleo. Ele olha-o e ao mesmo tempo Ele deita o óleo. O olhar de Jesus é um olhar de espera, que ama este homem que está caído, é um olhar cheio de promessas para o futuro.

Jesus está de joelhos a cuidar deste homem. Também os Evangelhos nos dizem que Jesus está de joelhos quando lava os pés aos seus discípulos, também de joelhos quando lhe pedem para lapidar a mulher apanhada em adultério, estava de joelhos na hora da agonia, quando intercedia pelo mundo, pelo homem ferido que somos todos nós. Deus está de joelhos ao pé de nós, Deus vem para nos servir, não para ser servido.

Nós damos conta que existe uma roupa, por cima do braço de Jesus, Ele apronta-se a revestir o homem que foi despojado, é o manto da graça. É manto da graça com que Deus reveste Adão e Eva depois do pecado.

Há muitas obras de misericórdia na parábola do bom samaritano, nós podemos pensar no albergue também Ele deu de comer e de beber a este homem. Reparem naquela passagem “ Eu era um estrangeiro e vós me acolheste , Eu estava nu e vós me vestiste(…).

Por fim Jesus pousa delicadamente a sua mão sobre a face do homem, um gesto delicado. Ele parece estar a acarinhar o rosto deste homem, intimidade incrível , entre Deus e este homem! É uma carícia! Nós raramente acariciámos a face de alguém, fazemos a uma criança quando chora, fazemos ao seu  cônjuge , ou no hospital para manifestar a nossa presença a um doente. Que gesto tão desconcertante de Deus!

Olhemos para este homem ferido, que está despojado dos seus vestimentos, da sua roupa,  é como se não tivesse sido respeitado na sua pessoa, no seu mistério. Foi entregue ao olhar que julga sem protecção. O Evangelho diz que o deixaram meio morto e no entanto, aqui , ele não parece muito ferido. O texto não diz que ele está muito ferido, mas que está meio morto, ele está mais morto do que vivo. A sua vida não é uma vida, ele tem os olhos fechados como num sono que faz com que ele não esteja a viver. Ele não vive plenamente, ele vai vivendo(…) Ele, como muitos é um morto vivo.

São João diz-nos que “aquele que não ama permanece na morte”. Este homem não tem vida em abundância como Deus promete. Ele está morto no seu ser, ele está morto no seu corpo, ele está morto na sua esperança.

Um ponto importante, o enfermo não recusa os cuidados do Bom Samaritano, nós vemos a sua mão direita que abraça o Bom Samaritano. É um gesto activo. Esta mão sobre o ombro de Jesus é o sinal que ele aceita ser ajudado, cuidado curado. Ele quer que tomem conta dele. Ele debateu-se na vida como tantos, e agora, ele deixa-se amar, ele não está desconfiado,  em alerta, não vá eu ser ainda mais ferido? Ele escolhe Jesus num acto de confiança, Nele, ele pode repousar, ser curado, é a sua amizade com Jesus! Jesus, em ti a minha alma repousa, diz a Escritura, do seu cansaço, do seu pecado.

Observemos estas duas personagens, os seus  olhos, as suas barbas, o seu cabelo, as suas sobrancelhas, as mãos, eles até parecem um com o outro, eles são idênticos. São as mesmas pessoas,  como se este homem que foi espancado, despojado, e de quem o Bom Samaritano quer cuidar dele,  aprende-se  também,  a ser o Bom Samaritano para tomar conta dos outros. É preciso ter experimentado a bondade de Deus por nós, ter recebido a sua Misericórdia, para sermos bondosos para com os outros, amando com o amor de Deus, com o coração de Deus.

-Há duas coisas a compreender, em primeiro lugar, Deus é bom para mim! Ele me faz bem!

-A segunda, eu faço bem pelos outros?

Deus me faz bem. Quando rezares descobre como é que Deus te olha, rezar é deixar-te olhar por Deus.

Jesus tomou este homem e colocou-o na sua montada. A Igreja diz que a montada é a cruz. Deus toma conta de nós, tomando-nos na cruz de Jesus. A cruz não é somente lugar de sofrimento, é o lugar onde apreendemos a amar, e Deus amou-nos até ao fim na cruz.

As feridas podem ser muitas, este homem deixou Jerusalém e foi para longe de Deus, foi para Jericó, para as profundezas da humanidade, Jericó a Vila mais baixa que existe, ele desce às profundezas do mal. As nossa feridas são também aquilo que os outros nos fizeram. Este homem foi humilhado, colocado à parte, as pessoas passavam com indiferença  sem o ver, sem lhe dar assistência por um olhar, abandonaram-no.

Jesus depois conduziu-o a um albergue, confiou-o à Igreja, para a Igreja cuide bem deste homem. O albergue é o símbolo da Igreja.

Pedimos a Maria, Mãe da Igreja, que nos conduza a seu Filho!"

Texto - retirado de um encontro da Comunidade Emanuel  em França,  Paray-Le-Monial em Agosto de 2020, e que foi transmitido online em  em plena pandemia do covid 19 -[ tradução-blog catequesemissionária]. 

Imagem-retirada da "google imagens" em 18.07.2022