segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Jesus está presente, mas esperemos vigilantes (...)


PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Praça São Pedro
Domingo, 27 de novembro de 2022

 

Estimados irmãos e irmãs, bom dia, feliz domingo!

No Evangelho da Liturgia de hoje ouvimos uma bonita promessa que nos introduz no Tempo de Advento: «Virá o vosso Senhor» (Mt 24, 42). Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta até nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida: Deus vem, Deus está próximo e vem. Nunca nos esqueçamos disto! O Senhor vem sempre, o Senhor visita-nos, o Senhor está próximo, e voltará no final dos tempos para nos acolher no seu abraço. Diante desta palavra, perguntamo-nos: como vem o Senhor? E como o reconhecemos e acolhemos? Reflitamos brevemente sobre estas duas perguntas.

A primeira pergunta: como vem o Senhor? Tantas vezes ouvimos dizer que o Senhor está presente no nosso caminho, que Ele nos acompanha e nos fala. Mas talvez, distraídos como estamos por tantas coisas, esta verdade permanece para nós apenas teórica; sim, sabemos que o Senhor vem, mas não vivemos esta verdade ou imaginamos que o Senhor vem de uma forma sensacional, talvez através de algum sinal prodigioso. Ao contrário, Jesus diz que isso acontecerá “como nos dias de Noé” (cf. v. 37). E o que faziam nos dias de Noé?   Simplesmente as coisas normais e quotidianas da vida, como sempre: «comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento» (v. 38). Tenhamos isto em mente: Deus está escondido na nossa vida, Ele está sempre ali, Ele está escondido nas situações mais comuns e ordinárias da nossa vida. Ele não vem em eventos extraordinários, mas nas coisas do dia a dia, Ele manifesta-se nas coisas de todos os dias. Ele está ali, no nosso trabalho diário, num encontro casual, no rosto de uma pessoa em necessidade, inclusive quando enfrentamos dias que parecem cinzentos e monótonos, precisamente ali está o Senhor, que nos chama, fala-nos e inspira as nossas ações.

No entanto, há uma segunda pergunta: como reconhecer e acolher o Senhor? Devemos permanecer acordados, alerta, vigilantes. Jesus avisa-nos: há o perigo de não perceber a sua vinda e de não estar preparado para a sua visita. Recordei noutras ocasiões o que Santo Agostinho disse: «Temo o Senhor que passa» (Serm. 88.14.13), ou seja, temo que Ele passe e eu não O reconheça! De facto, Jesus diz das pessoas do tempo de Noé que comiam e bebiam «e não deram por nada até chegar o dilúvio» (v. 39). Prestemos atenção a isto: eles não repararam em nada! Estavam preocupados com as próprias coisas e não se aperceberam que o dilúvio estava a chegar. De facto, Jesus diz que quando Ele vier, «estarão dois homens no campo: um será levado e o outro será deixado» (v. 40). Em que sentido? Qual é a diferença? Simplesmente que um foi vigilante, esperava, capaz de discernir a presença de Deus na vida diária; o outro, ao contrário, estava distraído, “ia vivendo”, e não se deu conta de nada.

Irmãos e irmãs, neste tempo de Advento, deixemo-nos despertar do torpor e acordemos do sono! Perguntemo-nos: estou consciente do que vivo, estou alerta, estou desperto? Procuremos perguntar-nos: estou ciente daquilo que vivo, estou atento, estou acordado? Procuro reconhecer a presença de Deus nas situações quotidianas, ou estou distraído e um pouco sobrecarregado com as coisas? Se hoje não estivermos conscientes da sua vinda, também não estaremos preparados quando ele chegar no final dos tempos. Portanto, irmãos e irmãs, mantenhamo-nos vigilantes! À espera que o Senhor venha, à espera que o Senhor se aproxime de nós, pois Ele está presente, mas esperemos vigilantes. Que a Virgem Santa, Mulher da espera, que soube captar a passagem de Deus na vida humilde e escondida de Nazaré e o acolheu no seu ventre, nos ajude neste caminho a estar atentos para esperar o Senhor que está entre nós e passa.

Texto: Retirado do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/

Imagem: Retirada da "Google imagens".

Jesus, remember me | Taizé

sábado, 5 de novembro de 2022

Céleste Jérusalem — Chant de l'Emmanuel

Nossa morada encontra-se nos Céus,

Nós veremos a Esposa do Cordeiro

Toda adornada com a glória de Deus:

Celeste Jerusalém!


O Cordeiro será a nossa luz.

Já não precisaremos do Sol,

A noite deixará de existir

O próprio Deus nos iluminará!


Não haverá mais gritos nem dor

E as nossas lágrimas cessarão

Deus viverá no meio de nós

E um novo mundo surgirá!

(...)


Regressar ao caminho verdadeiro como Jacob...

O Patriarca Jacob

Rabi Elisha Salas

"Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora.Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. E disse-lhe:«Deixa-me partir, porque já rompe a aurora».Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» - respondeu ele. E então abençoou-o. Jacob chamou àquele lugar Penuel; «porque vi um ser divino, face a face, e conservei a vida» - disse ele. O sol principiara a levantar-se, quando Jacob deixou Penuel, coxeando por causa da sua coxa. *É por isso que os filhos de Israel não comem, ainda hoje, o nervo ciático que está na cavidade da coxa porque Jacob foi ferido no nervo ciático da coxa, que ficou paralisado." (Gn 32, 25-33)

 Luta de Jacob e o Anjo. Pintura do francês Alexander Louis Leloir

Ao regressar da casa de Labão onde esteve vinte anos, Jacob encontrava-se entre duas frentes de conflito: por um lado, Labão e os seus estavam insatisfeitos com ele, por ele ter levado as duas filhas de Labão, as suas servas e todo o gado a que tinha direito segundo o acordo que tinha feito (Gn.30,25-31;55). Por outro lado, o encontro com o seu irmão Esaú assustava-o; não se viam há vinte anos, e Jacob recordava perfeitamente e que Esaú tinha prometido matá-lo, tendo sido essa a razão da sua fuga da casa dos seus pais. Jacob não sabia se Esaú continuava a odiá-lo ou se o tinha perdoado; não tinha outra opção, já que Deus, Ele próprio, lhe tinha ordenado que regressasse à sua terra (Gn 31,3).

Na sua viagem de regresso, e prevendo já o inevitável encontro com o seu irmão, Jacob planeia este encontro meticulosamente: primeiro envia-lhe mensageiros para o avisar de que vinha ao seu encontro, mas…Más notícias! Os mensageiros regressaram com informação de que Esaú vinha na sua direcção com quatrocentos homens! Isto causou-lhe uma grande preocupação e medo, não só por ele próprio, mas também por toda a sua família. Afinal, talvez Esaú nunca lhe tivesse perdoado e estivessem todos a correr perigo de vida!

Então, no momento da aflição, ao sentir-se encurralado por todos os lados, ele pensa noutra estratégia para melhorar este encontro: separou a sua gente em dois grupos, ambos com uma mensagem especial para Esaú e com muitos animais de oferta para o acalmar. Seguidamente, na sua angústia, sem saber como enfrentar esta situação, Jacob reza a Deus em profundo desespero, pedindo a Sua ajuda: Deus do meu pai Abraão, de Deus do meu pai Isac, Senhor que me disseste ”volta à tua terra, à terra do teu nascimento, far-te-ei bem”. Menor sou eu que todas as beneficências e que toda a fidelidade que fizeste ao Teu servo, pois com o meu cajado passei este Jordão e agora transformei-me em dois acampamentos. Livra-me, peço-Te, da mão de meu irmão…(Gn 32, 9-11).

Nós, os seres humanos, quando nos encontramos em situações de quebra, de grandes dificuldades, de solidão, é nesses momentos que podemos atingir uma transparência total connosco mesmos e com Deus.

Jacob sabe que não tem escapatória. Lembra-se de onde vem (de Charan), lembra-se que é filho de homens amados por Deus (o seu avô e o seu pai), lembra-se das promessas recebidas por parte de Deus (que lhe faria bem) e sabe que não é merecedor das bondades de HaShem: « Menor sou eu que todas as beneficências  e que toda a fidelidade que fizeste ao Teu servo…) Gn 32,10.

Mas a ajuda de Deus ainda não vem. O que fazer?? Ele olha para a sua família e eles aí estão, provavelmente tão preocupados quanto ele, e também sem saberem o que fazer. Jacob não se pode deixar ir abaixo; não quer chorar diante deles. Ele tem que ser forte, mas sabe que não é capaz. Precisa de estar só, de abrir o seu coração a Deus, a sua última esperança.

Surge-lhe  uma nova ideia: passar suas duas famílias para a outra margem do rio que tem à frente e ficar a sós com Deus (Gn 32,22-24).

Jacob fica então só e atinge a conexão espiritual necessária. De repente, os seus olhos abrem-se e vê Aquele que esteve sempre ao seu lado, mas que ele não via: um anjo, com o qual Jacob luta até ao amanhecer, talvez fazendo uma profunda auto-avaliação de consciência, uma introspecção, reflectindo sobre a sua vida, os erros cometidos, os actos imaturos que cometeu contra seu irmão, contra os seus pais...Ali está Jacob, a sós com os seus defeitos, e disposto a mudar. Talvez o anjo, ao enfrentá-lo o tenha feito reagir; é como um bom amigo que nos chama à atenção pelas nossas atitudes (ou falta delas), e que nos leva a fazer as mudanças de vida necessárias para nos transformarmos no homem que Deus vê em nós, mas nós, cegos, nunca tínhamos aberto os olhos para esse potencial; nunca tínhamos parado para nos conhecermos a nós próprios.

Chega o momento da despedida do anjo. Aquele anjo que obrigou Jacob a ver-se como era e como deveria ser, e Jacob não o  quer deixar ir. Ele sente-se diferente, tem algo diferente dentro de si, talvez sempre tenha lá estado mas ele não o deixava aparecer…Agora sim, está bem presente. Ao  ver que o sol nasce e que tem que enfrentar a realidade do temido encontro com o seu irmão, Jacob não que deixar o anjo partir, mas é inevitável, como se o anjo lhe dissesse: «O dia está a chegar e com ele a realidade; só tu podes enfrentá-la». Ao responder à pergunta do anjo-Como te chamas? –Jacob foi forçado a reencontrar-se com o seu próprio nome, representativo dos erros do seu passado: Jacob que comprou a primogenitura ao seu irmão por um simples prato de lentilhas, aproveitando-se de um momento de fraqueza dele-, Jacob que enganou o velho pai, aproveitando-se da sua cegueira; Jacob, que se foi apropriando sub-repticiamente dos rebanhos de Labão  com os estratagema das varas no bebedouro…

Toda a vida de Jacob, o seu nascimento, os ciúmes do irmão, a sua fuga de casa, a sua vida com Labão, com as sua mulheres, os seus filhos, a mudança que teve que fazer na sua vida para se tornar pastor quando em casa de seus pais «habitava em tendas» (Gn 25,27), as suas noites solitárias e frias com o gado, a saída de casa de Labão e o inevitável reencontro com Esaú…Tudo aquilo que passou trouxeram-no até este grande momento de transformação.

Então, revelando e confirmando a mudança total operada em Jacob, surge a resposta do anjo: o teu nome já não será Jacob, mas ISRAEL-[]-que significa «Deus é recto, transparente, verdadeiro». A Torá mostra-nos, desde Abraão, a importância do significado dos nomes na vida das pessoas, a capacidade que os nomes têm de influenciar a personalidade e os comportamento humanos e esta é, talvez, a mudança de nome mais representativa que a Torá nos apresenta.

Aprendamos com Jacob a reconhecer a necessidade de mudança nas nossas próprias vidas, e não deixarmos escapar os movimentos altos de transformação que a vida nos proporciona. Saibamos agarrá-los e aproveitá-los ao máximo. Esta é uma das ideias importantes do Judaísmo: a noção de Teshuvá (regressar ao caminho verdadeiro). Enfrentarmos os erros do nosso passado, assumir-mo-los e decidirmos mudar, para avançar rumo ao futuro como uma nova pessoa.

Texto: Retirado da revista "Biblica", n.º 401 de Agosto de 2022, da Difusora Bíblica dos Franciscanos Capuchinhos. Uma Revista Fantástica!

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 06.11.2022