domingo, 30 de janeiro de 2022

Igreja que acolhe…


São  comunidades e mais comunidades  que tecem esta bela Igreja. São fios que se entrelaçam, que se cruzam , de diferentes cores e tons . Beleza,  a Igreja de Cristo é beleza…Quem olha para o tecido vê o rosto de Jesus a sorrir, a abençoar , a chamar, a escutar, a curar, a perdoar.


O catequista que dá a mão aos seus catequizandos, que os olha com profundidade, que os escuta  e que faz  suas, as alegrias  e  as tristezas deles . O catequista que não faz acepção de pessoas e que a todos se dá, beleza…aí está o coração de Cristo.

As assembleias que se amam, que criam pontes e que nunca se fecham …Que partilham a vida uns com os outros sem medo e sem receio. Assembleias que acolhem os que caem e com carinho os ajudam a erguer, beleza …aí estão as mãos de Cristo.

Comunidades que recebem os catecúmenos e os recém baptizados com brados de alegria, dando glória a Deus, beleza…aí brilha a luz de Cristo.

Cristãos que no mundo, no trabalho, nos caminhos da vida, sorriem e de todos se fazem irmãos, beleza…como crianças a todos apresentam Cristo.

Que belas que são as comunidades que se juntam e partilham o Pão Vivo, a Palavra, o pão  e as histórias das suas vidas, crianças, jovens, adultos, idosos , padres, leigos,  beleza…aí está a comunhão em Cristo.

 “Irmãos, vivei com alegria; trabalhai pela vossa perfeição; animai-vos uns aos outros; tende os mesmos sentimentos; vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco.”   2 Cor 13,11
                                                                                                                                                                                  Diác. José Luís Leão

Céleste Jérusalem — Chant de l'Emmanuel

domingo, 2 de janeiro de 2022

O perfil “sinodal de Jesus”


"Um Sínodo para todos os Continentes que passe a pente fino todas as Dioceses do mundo, eis a ousadia do Papa Francisco. Em pleno 8º ano do seu pontificado, o Papa ousa cortar mais fundo na reforma da Igreja lançando o tema da sinodalidade na convicção de que este “é o caminho que Deus espera da Igreja do 3º milénio”, como ele mesmo disse no discurso de Comemoração do 50º Aniversário instituição do Sínodo dos Bispos, a 17 de Outubro de 2015.

O Papa, mesmo reconhecendo que a Assembleia Sinodal é um dos grandes frutos do Concílio Vaticano II, quer que se torne um “estilo de Igreja” alargando a escuta a todos os baptizados, para captar o sensus fidei do povo de Deus. Daqui as três palavras chave dinamizadoras de toda a caminhada sinodal: comunhão, participação, missão. Muitas dioceses e paróquias puseram-se já em andamento, contudo não será fácil trilhar este caminho de “conversão sinodal” nas nossas comunidades cristãs.

Estou a ler o livro “Jesus segundo o Novo Testamento” que alguém teve a amabilidade de me oferecer, cujo autor, o biblista britânico James D. G. Dunn, a partir do testemunho dos autores do Novo Testamento-evangelistas e apóstolos- procura dar a conhecer a figura de Jesus Cristo. Achei muito curioso o capítulo intitulado “Jesus segundo Jesus”, porque, pensei, dá-nos a possibilidade de reconstruir aquele que poderíamos chamar, o “perfil sinodal de Jesus”. Jesus , que caminha junto com os seus discípulos, que escuta e encontra, que chama e anuncia a Boa Notícia do Reino, oferece-nos algumas orientações para um “estilo sinodal” da Igreja do nosso tempo.

AS 7 DICAS SINODAIS DE JESUS!

-Primeira dica sinodal:

O Mandamento do Amor no centro!

Todos os autores do Novo Testamento, dos quatro evangelistas a S.Paulo, concordam em afirmar que o coração da mensagem e do estilo de vida de Jesus é o Mandamento do Amor: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”; “amai os inimigos!”; “chamei-vos amigos e não servos!”.

-Segunda dica sinodal:

A preferência pelos pobres!

Jesus na sinagoga da sua terra faz questão em dizer que o Espírito o consagrou para anunciar a Boa Nova aos pobres e, no seu ministério, exalta os pobres de espírito (Bem-aventuranças), elogia os pobres ( a viúva anónima no templo) e desafia os ricos a deixar tudo aos pobres para segui-l’O (Mc 10,21).

-Terceira dica sinodal:

Os pecadores são bem-vindos!

Jesus manifesta uma abertura extraordinária e única, para com aqueles que eram considerados inaceitáveis para a comunidade farisaica. Entra em casa de Zaqueu; participa no banquete de despedida de Levi cobrador de impostos, depois de tê-lo chamado a ser seu discípulo; narra parábolas para justificar que Ele veio para procurar os pecadores tresmalhados…

 -Quarta dica sinodal:

Abertura aos gentios e não crentes!

Os evangelistas Mateus e Lucas, rivalizam em apresentar a universalidade do Evangelho de Jesus: Muitos virão do Oriente e do Ocidente e sentar-se-ão à mesa do Reino do Céu…”(Mt 8, 11). Enquanto o apóstolo Paulo teve que defender com unhas e dentes a sua missão evangelizadora no meio dos gentios, na fidelidade ao mandato de Jesus!

-Quinta dica sinodal:

A presença activa das mulheres entre os seguidores de Jesus!

As mulheres acompanharam Jesus no seu caminho e ministério público, até ao momento mais dramático e perigoso: a paixão de Jesus. Havia três mulheres identificadas a assistir à crucificação (Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José, Salomé), mais “muitas outras mulheres.. que tinham ido com Jesus a Jerusalém” e apenas um homem: João, o discípulo amado. Os discípulos masculinos de Jesus parecem tê-lo abandonado!

-Sexta dica sinodal:

As crianças no centro!

Também neste caso Jesus vai a contracorrente: os apóstolos repreendem as pessoas que tentavam  fazer chegar a Jesus as crianças; e Jesus-conforme o relato de três evangelistas-reage indignado, dizendo: “Deixai vir a mim as crianças!”.

-Sexta dica sinodal:

Só o que sai de dentro torna o homem impuro!

A sétima e última dica sinodal tem a ver com o tema da pureza e impureza que nasce do rigor tradicional judaico. Jesus denuncia a hipocrisia e a fachada : ” Não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca” (Mt 15,11). Porém, Marcos é mais mordaz: “O que sai de dentro da pessoa” (Mc 7,15).

Sem dúvida poderíamos encontrar mais orientações para um caminho sinodal a partir do exemplo de Jesus. Contudo, estas sete dicas parecem-nos muito desafiadoras para as nossas comunidades eclesiais : centrarmo-nos no Mandamento do Amor a Deus e ao próximo; na escolha preferencial pelos pobres; no papel das mulheres; na centralidade dos pequenos; no acolhimento aos irregulares; na escuta e no diálogo com os não crentes; na luta contra o clericalismo e ritualismo.

O caminho sinodal é o caminho da Igreja no mundo que, como Cristo, se deixa interpelar pelo humano semeando uma palavra nova, semeando uma palavra de salvação.

Frei Fabrizio Bordin"

Texto: Retirado da revista “MENSAGEIRO de SANTO ANTÓNIO-N.º11/ 2021”

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 02.01.2022