domingo, 19 de março de 2023

O que significa ser “apóstolo” hoje ?


Catequeses. A paixão pela evangelização: Ser apóstolos em uma Igreja Apostólica

Continuemos as catequeses sobre a paixão de evangelizar: não apenas sobre “evangelizar”, mas a paixão de evangelizar e, na escola do Concílio Vaticano II, procuremos compreender melhor o que significa ser “apóstolo” hoje. A palavra “apóstolo” traz-nos à mente o grupo dos Doze discípulos escolhidos por Jesus. Às vezes chamamos “apóstolo” a alguns santos ou, mais genericamente, aos Bispos: são apóstolos, pois vão em nome de Jesus. Mas estamos conscientes de que ser apóstolo se refere a cada cristão? Estamos cientes que se refere a cada um de nós? Com efeito, somos chamados a ser apóstolos – isto é enviados – numa Igreja que, no Credo, professamos como apostólica.

Por conseguinte, o que significa ser apóstolo? Significa ser enviado para uma missão. Exemplar e fundacional é o acontecimento em que Cristo Ressuscitado envia os seus apóstolos ao mundo, transmitindo-lhes o poder que Ele próprio recebeu do Pai e oferecendo-lhes o seu Espírito. No Evangelho de João lemos: «Jesus disse-lhes mais uma vez: “A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós”. Depois, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo!”» (20, 21-22).

Outro aspeto fundamental de ser apóstolo é a vocação, ou seja, o chamamento. Foi assim desde o início, quando o Senhor Jesus «chamou a si os que Ele quis. E foram ter com Ele» (Mc 3, 13). Constituiu-os como grupo, atribuindo-lhes o título de “apóstolos”, para que permanecessem com Ele e para os enviar em missão (cf. Mc 3, 14; Mt 10, 1-42).  Nas suas cartas, São Paulo apresenta-se assim: «Paulo, chamado a ser apóstolo», isto é enviado, (1 Cor 1, 1) e ainda: «Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo enviado por vocação, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus» (Rm 1, 1). E insiste que é «apóstolo não da parte de homens, nem por meio de algum homem, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai que o ressuscitou dos mortos» (Gl 1, 1); Deus chamou-o do seio da sua mãe para anunciar o evangelho entre os gentios (cf. Gl 1, 15-16).

A experiência dos Doze apóstolos e o testemunho de Paulo interpelam-nos também hoje. Convidam-nos a averiguar as nossas atitudes, a verificar as nossas escolhas, as nossas decisões, com base nestes pontos fixos: tudo depende de um chamamento gratuito  de Deus; Deus escolhe-nos até para serviços que às vezes parecem exceder as nossas capacidades ou não corresponder às nossas expetativas; ao chamamento  recebido como dom gratuito é preciso responder gratuitamente.

O Concílio diz: «A vocação cristã [...] é também, por sua própria natureza, vocação ao apostolado» (Decr. Apostolicam actuositatem [AA], 2). Trata-se de um chamamento que é comum, «assim como comum é a dignidade dos membros pela sua regeneração em Cristo, comum é a graça da adoção filial, comum é a vocação à perfeição; só existe uma salvação, uma esperança e uma caridade sem divisões» (LG, 32).

É um chamamento que diz respeito tanto aos que receberam o sacramento da Ordem, como às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos, homens ou mulheres, é uma chamamento a todos. Tu, o tesouro que recebeste com a tua vocação cristã, és obrigado a doá-lo: é a dinâmica da vocação, é a dinâmica da vida. Trata-se de um chamamento que habilita a desempenhar ativa e criativamente a sua tarefa apostólica, no seio de uma Igreja na qual «existe diversidade de funções, mas unidade de missão. Aos apóstolos e aos seus sucessores confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar em seu nome e pelo seu poder. Mas os leigos: todos vós; a maioria de vós sois leigos. Também os leigos, dado que são participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, têm um papel próprio a desempenhar na missão de todo o Povo de Deus, na Igreja e no mundo» (AA, 2).

Neste contexto, como entende o Concílio a colaboração do laicado com a hierarquia? Como o entende? Trata-se de uma mera adaptação estratégica às novas situações que surgem? De modo algum, não: há algo mais, que supera as contingências do momento e que retém um seu próprio valor também para nós. A Igreja é assim, é apostólica.

No âmbito da unidade da missão, a diversidade de carismas e ministérios não deve dar lugar, no seio do corpo eclesial, a categorias privilegiadas: aqui não há uma promoção, e quando tu concebes a vida cristã como uma promoção, isto é, aquele que está em cima comanda os outros porque conseguiu subir, isto não é cristianismo. Isto é paganismo puro. A vocação cristã não é uma promoção para subir, não! É outra questão. E há uma coisa grande porque, embora «por vontade de Cristo, alguns sejam constituídos num lugar talvez mais importante, doutores, dispensadores dos mistérios e pastores a favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em benefício da edificação do corpo de Cristo» (LG, 32). Quem tem mais dignidade, na Igreja: o bispo, o sacerdote? Não... todos somos cristãos ao serviço dos outros. Quem é mais importante, na Igreja: a religiosa ou a pessoa comum, batizada, a criança, o bispo...? Todos são iguais, somos iguais e quando uma das partes se considera mais importante do que os outros e levanta um pouco o nariz, erra. Não é essa a vocação de Jesus. A vocação que Jesus dá, a todos – mas inclusive a quantos parecem estar em postos mais altos – é o serviço, servir os outros, humilhar-te. Se encontrares uma pessoa que na Igreja tem uma vocação mais elevada e tu a vês vaidosa, dirás: “Pobrezinho”; reza por ele porque não entendeu o que é a vocação de Deus. A vocação de Deus é adoração ao Pai, amor à comunidade e serviço. Isto é ser apóstolo, este é o testemunho dos apóstolos.

A questão da igualdade em dignidade pede-nos que repensemos muitos aspetos das nossas relações, que são decisivas para a evangelização. Por exemplo, estamos conscientes de que, com as nossas palavras, podemos lesar a dignidade das pessoas, arruinando assim as relações dentro da Igreja? Enquanto procuramos dialogar com o mundo, também sabemos dialogar entre nós, crentes? Ou na paróquia um vai contra o outro, uma fala mal do outro para subir mais? Sabemos ouvir para compreender as razões do outro, ou será que nos impomos, talvez até com palavras de cetim? Ouvir, humilhar-se, estar ao serviço dos outros: isto é servir, isto é ser cristão, isto é ser apóstolo.

Caros irmãos e irmãs, não tenhamos medo de nos interrogar com estas perguntas.  Fujamos da vaidade, da vaidade dos postos. Estas palavras podem ajudar-nos a verificar o modo em que vivemos a nossa vocação batismal, como vivemos a nossa maneira de ser apóstolos numa Igreja apostólica, que está ao serviço dos outros.

Papa Francisco

catequese na audiência geral 15.03.2023

Texto: Retirado do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/ em 19/03/2023; 

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 19/03/2023;

Espíritu Santo | Ven, Espíritu Divino | Música Católica

Hino a São José

domingo, 12 de março de 2023

A evangelização faz-se sempre in ecclesia, isto é, em comunidade (...)


Catequeses. A paixão pela evangelização : A evangelização como serviço eclesial

Na última catequese vimos que o primeiro “concílio” na história da Igreja – concílio, como o do Vaticano II – o primeiro concílio, foi convocado em Jerusalém, para uma questão ligada à evangelização, ou seja, ao anúncio da Boa Nova aos não-judeus – pensava-se que só aos judeus se devia levar o anúncio do Evangelho.  No século XX, o Concílio Ecuménico Vaticano II apresentou a Igreja como Povo de Deus peregrino no tempo e por sua natureza missionário (cf. Decr. Ad gentes, 2). O que significa isto? Existe como que uma ponte entre o primeiro e o último Concílio, no sinal da evangelização, uma ponte cujo arquitecto é o Espírito Santo. Hoje coloquemo-nos à escuta do Concílio Vaticano II, para descobrir que evangelizar é sempre um serviço eclesial, nunca solitário, jamais isolado nem individualista. A evangelização faz-se sempre in ecclesia, isto é, em comunidade e sem fazer proselitismo pois isto não é evangelização.

Com efeito, o evangelizador transmite sempre aquilo que ele mesmo ou ela mesma recebeu. Foi São Paulo que o escreveu primeiro: o evangelho que ele anunciava e que as comunidades recebiam e no qual permaneciam firmes é o mesmo que o Apóstolo, por sua vez, tinha recebido (cf. 1 Cor 15, 1-3). Recebe-se a fé e transmite-se a fé. Este dinamismo eclesial de transmissão da Mensagem é vinculante e garante a autenticidade do anúncio cristão. O próprio Paulo escreve aos Gálatas: «Se alguém, nós ou um anjo do céu, vos anunciasse um evangelho diferente daquele que vos temos anunciado, que ele seja anátema» (1, 8). É bom isto e adequa-se a tantas visões que estão na moda...

Por isso, a dimensão eclesial da evangelização constitui um critério de verificação do zelo apostólico. Uma verificação necessária, porque a tentação de proceder “solitariamente” está sempre à espreita, de modo especial quando o caminho se torna impérvio e sentimos o peso do compromisso. Igualmente perigosa é a tentação de seguir caminhos pseudoeclesiais mais fáceis, de adotar a lógica mundana dos números e das sondagens, de confiar na força das nossas ideias, dos programas, das estruturas, das “relações que contam”.  Isto não está bem, isto deve ajudar um pouco mas é fundamental a força que o Espírito te dá para anunciar a verdade de Jesus Cristo, para anunciar o Evangelho. Os outros aspetos são secundários.

Pois bem, irmãos e irmãs, coloquemo-nos mais diretamente na escola do Concílio Vaticano II, relendo alguns números do Decreto Ad gentes (AG), o documento sobre a atividade missionária da Igreja. Estes textos do Vaticano II conservam plenamente o seu valor, até no nosso contexto complexo e plural.

Em primeiro lugar, este documento, AG convida-nos a considerar o amor de Deus Pai como uma fonte, que «nos cria livremente pela sua extraordinária e misericordiosa benignidade, e depois nos chama gratuitamente a partilhar a sua própria vida e glória. Esta é a nossa vocação. Ele quis ser, assim, não só criador de todas as coisas, mas também “tudo em todas as coisas” (1 Cor 15, 28), conseguindo simultaneamente a sua glória e a nossa felicidade» (n. 2). Esta passagem é fundamental, pois diz que o amor do Pai tem como destinatário cada ser humano. O amor de Deus não é apenas por um pequeno grupo, não... por todos. Colocai bem aquela palavra na cabeça e no coração: todos, todos, sem excluir ninguém, assim diz o Senhor. E este amor por cada ser humano é um amor que alcança cada homem e mulher através da missão de Jesus, medianeiro da salvação e nosso Redentor (cf. AG, 3), e mediante a missão do Espírito Santo (cf. AG, 4), o qual, Espírito Santo, age em cada um, tanto nos batizados como nos não-batizados. O Espírito Santo age!

Além disso, o Concílio recorda que a Igreja tem a tarefa de continuar a missão de Cristo, que foi «enviado a evangelizar os pobres; por isso – acrescenta o documento Ad gentes – a Igreja, movida pelo influxo do Espírito Santo, o Espírito de Cristo, deve seguir o mesmo caminho d’Ele: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação própria até à morte, morte de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição» (AG, 5). Se permanecer fiel a este “caminho”, a missão da Igreja será «a manifestação, ou seja, a epifania e a realização dos desígnios de Deus no mundo e na história» (AG, 9).

Irmãos e irmãs, estas breves indicações ajudam-nos também a compreender o sentido eclesial do zelo apostólico de cada discípulo-missionário. O zelo apostólico não é um entusiasmo, é outra coisa, é uma graça de Deus, que devemos preservar. Devemos compreender o sentido porque no Povo de Deus peregrino e evangelizador não existem sujeitos ativos e passivos. Não há os que pregam, os que anunciam o Evangelho num modo ou noutro, e os que estão calados. Não. «Cada batizado – diz a Evangelii gaudium – qualquer que seja a sua função na Igreja e o grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização» (Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 120). Tu és cristão? “Sim, recebi o Batismo”... E tu evangelizas? “Mas o que significa isso...?” Se tu não evangelizares, se tu não testemunhares, se tu não deres aquele testemunho do Batismo que recebeste, da fé que o Senhor te concedeu, tu não és um bom cristão. Em virtude do Batismo recebido e da consequente incorporação na Igreja, cada batizado participa na missão da Igreja e, nela, na missão de Cristo Rei, Sacerdote e Profeta. Irmãos e irmãs, esta tarefa «é uma e a mesma em toda a parte, sejam quais forem os condicionamentos, embora difira quanto ao exercício conforme as circunstâncias» (AG, 6). Isto convida-nos a não nos tornarmos escleróticos nem fossilizados; resgata-nos daquela inquietude que não é de Deus. O zelo missionário do crente manifesta-se também como busca criativa de novas maneiras de anunciar e testemunhar, de novos modos de encontrar a humanidade ferida que Cristo assumiu. Em síntese, de novas formas de servir o Evangelho e a humanidade. A evangelização é um serviço. Se alguém se disser evangelizador e não tiver aquela atitude, aquele coração de servo, e se se considerar patrão, não é um evangelizador, não... é um pobre diabo.

Voltar ao amor fontal do Pai e às missões do Filho e do Espírito Santo não nos fecha em espaços de tranquilidade pessoal estática. Pelo contrário, leva-nos a reconhecer a gratuidade do dom da plenitude de vida a que somos chamados, dom pelo qual louvamos e damos graças a Deus.  Este dom não é apenas para nós, mas é para o dar aos outros. E leva-nos também a viver cada vez mais plenamente o que recebemos partilhando-o com os outros, com sentido de responsabilidade e percorrendo juntos os caminhos, muitas vezes tortuosos e difíceis da história, na expetativa vigilante e laboriosa do seu cumprimento. Peçamos esta graça ao Senhor, pegar pela mão esta vocação cristã e dar graças ao Senhor por aquilo que nos concedeu, por este tesouro. E procurar comunica-lo aos outros.

Papa Francisco

Catequese na audiência geral 08.03.2023

Texto: Retirado do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/ em 12/03/2023; 

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 12/03/2023"

domingo, 5 de março de 2023

O poder transformador da gratidão


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Quaresma 2021-Igrejas de Arroios e Anjos

Porque existo e sou batizado?


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Quaresma 2020-Igrejas de Arroios e Anjos