terça-feira, 11 de agosto de 2015

SE ALGUÉM FOR PEQUENINO...

 

«Estamos num século de invenções.

Agora já não se tem a maçada de subir os degraus de uma escada; em casa dos ricos o ascensor substitui-a vantajosamente. Eu queria também encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a indicação do ascensor — objecto do meu desejo —, e li as estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: Se alguém for pequenino, venha a mim.

Então, aproximei-me, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e querendo saber, ó meu Deus!, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei as minhas buscas, e eis o que encontrei: — Como uma mãe acaricia o seu filho, assim eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos! Ah!, nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma.

O ascensor que me há-de elevar até ao Céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena. Ó meu Deus! excedestes a minha esperança, e eu quero cantar as vossas misericórdias.

(História de uma Alma, Ms C 3rº)»
 

"Retirado do Site  http://www.carmelitas.pt , Santa Teresinha do Menino Jesus,  Site Oficial da visita das Relíquias da Santa Teresinha do Menino Jesus a Portugal"
      Site Oficial da visita das RelíquSanta Teresinha do Menino Jesus a Portug

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Fomes que nos habitam




“Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna e que o Filho do homem vos dará” (Jo 6,27)

Com o Evangelho de hoje iniciamos a reflexão sobre o Discurso do Pão da Vida,  que se prolongará durante os próximos domingos. Depois da multiplicação dos pães, o povo foi atrás de Jesus; tinha visto o milagre, comeu com fartura e queria mais! Procurou o milagroso e não buscou o sinal e o apelo de Deus que nele se escondia.. Quando o povo encontrou Jesus em Cafarnaum, teve com ele uma longa conversa, chamada Discurso do Pão da Vida, um conjunto de sete pequenos diálogos que explicam o significado da multiplicação dos pães como símbolo do novo Êxodo e da Ceia Eucarística. 

O povo viu o que aconteceu, mas não chegou a entendê-lo como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Buscou pão e vida mas parou na superfície: a fartura de comida. No entender do povo, Jesus fez o que Moisés tinha feito no passado: deu alimento farto para todos no deserto. 

Indo atrás de Jesus, eles queriam que o passado se repetisse. Mas Jesus pede que o povo dê um passo adiante. Além do trabalho pelo pão que perece, deve trabalhar também pelo alimento não perecível. Este novo alimento será dado pelo Filho do Homem; Ele traz avida que dura para sempre. Ele abre para todos um novo horizonte sobre o sentido da vida e sobre Deus. 

Com frequência, a existência humana parece uma corrida em busca daquilo que nos sacia de um modo definitivo. Nesta corrida, entram elementos que nos são familiares: necessidade, ansiedade, vazio, busca, insatisfação... Todos eles, à primeira vista, remetem à percepção de nós mesmos como seres carentes. Seria, pois, essa carência aquela que desencadearia todo o processo de busca. 

De fato, o ser humano é um ser insaciável, insatisfeito... vive eternamente buscando, muitas vezes sem saber o quê. Em contato com o seu interior, sente a necessidade de preenchê-lo a qualquer preço; na maioria das vezes, preenche-o com “coisas”: busca de poder, posses, prestígio, pão que se perde... e sente-se frustrado, porque nada  lhe satisfaz. Só o Pão vivo pode preencher seu interior.

- “Mas a fome de Deus que eu levo comigo não conhece descanso: ela é exigente! Então eu sigo...

    Ela é tremenda e persistente! Então eu sigo... cada vez mais para frente!

    Ela é constante e forte! Então eu sigo... Até à morte” (C. de M. Doherty). 

Todo ser humano é aventureiro por essência; com ardor, ele anseia por uma causa última pela qual viver, um valor supremo que unifique a multiplicidade caótica de suas vivências e experiências, um projeto que mereça sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como pessoa, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é, viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos...
Carrega dentro de si a fome do infinito, a criatividade, a capacidade de romper fronteiras, os sonhos, a luz.

Portador de uma força que o arrasta para algo maior que ele... não se limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser pleno, de realização, de busca do “mais”...

Ele é desafiado a deixar a superfície banal e navegar águas profundas da sua própria existência. 

A conversa de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos é um diálogo bonito, mas exigente. Jesus procura abrir os olhos das pessoas para que aprendam a ler os acontecimentos e descubram neles o rumo que deve tomar na vida. Pois não basta ir atrás de sinais milagrosos que multiplicam o pão para saciar uma carência corporal. Não só de pão vive o ser humano.

O empenho em favor da vida sem uma mística não alcança a raiz.

Enquanto vai conversando com Jesus, as pessoas vão ficando cada vez mais contrariadas com as palavras dele. Mas Jesus não cede, nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que a conversa avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Jesus. No fim só sobram os doze, e nem assim Jesus pode confiar em todos eles!

É quase sempre assim: quando o evangelho começa a exigir compromisso, muita gente se afasta. 

Jesus, com sua presença e seus ensinamentos, desperta outras “fomes”: transcendência, novas relações,  horizontes abertos, mundo da partilha...

O discurso do Pão da Vida desvela esta realidade: o ser humano é surpreendente, inesperado, imprevisível... é pulsação original, é interpelação inquietante; é existência peregrina, é uma mina de significados e riquezas. Ele é seduzido pela liberdade que lhe escancara horizontes novos e lhe abre mares desafiantes. Ele é “espaço à vida aberta”. Há nele algo maior que o leva a ser mais verdadeiro, mais justo, mais criativo, mais arrojado, mais responsável. 

Ele é chamado a superar medos, a escolher rumo construtivo, a definir sua identidade pessoal e a optar por causas humanas que o fazem transcender.

O ser humano pode transcender-se, ir além de si mesmo... E  transcender não significa fugir da própria realidade, mas mergulhar na própria condição humana; “transcender é humanizar-se”.

O impulso de “ir além” é talvez o desafio mais secreto e escondido no ser humano. Ele se recusa a aceitar a realidade na qual está mergulhado porque se sente maior do que tudo o que o cerca.
Com seu pensamento, desejo e sonho, ele habita as estrelas e rompe todos os espaços.
Numa palavra, o ser humano é um projeto infinito; tem sentido de transcendência, projeta-se em muitas direções. Ele tem fome e sede de amplos horizontes.

Entrar”  no caminho de Cristo é viver em “terra de andanças”. 

O discurso de Jesus toca naquilo que é mais humano em nós: mundo dos desejos, dos sonhos, as grandes intuições... Tal apelo vem ao encontro deste dinamismo humano para potencializá-lo e abrir uma nova perspectiva: aquela centrada na pessoa e no projeto de Jesus Cristo. 
Desejamos, com intensidade, com fome, com paixão, com alegria e júbilo... Somos capazes de desejar com a urgência das crianças, com a impertinência dos adolescentes, com a intensidade dos jovens, com a perspectiva dos adultos e com a sabedoria dos anciãos. Desejamos porque estamos vivos e porque somos capazes de imaginar e sonhar: mundos melhores, vidas melhores, relações melhores... 

O desejo é também um dos pilares nos quais se sustenta a fé. Crer é desejar.

O desejo nos ajuda a elevar o olhar para além do imediato; podemos sair do cotidiano, do mais prosaico, e lançar a vista e o coração ao que é possível mas que ainda não está presente. Se caminharmos com olhar fixo somente no imediato, no hoje, no aqui e agora, então nos faltará perspectiva para dirigir nossos passos para algum lugar que valha a pena.
Os homens e as mulheres de todos os tempos e lugares trazem, como que enraizados nas fendas mais profundas de sua alma, sonhos de rara beleza. São desejos de convivialidade, de superação da dor e da solidão, sonhos de fraternidade e harmonia... Era certamente nessa direção que Jesus apontava ao falar do Pão da Vida,  como o mundo das esperanças e possibilidades. “Um outro mundo é possível”.

É preciso forte dose de ousadia e coragem para transcender-se, ir além de si mesmo... 

Texto bíblico:  Jo 6,24-35 

Na oração:

* deixe-se conduzir pela “fome e sede” de Deus que está enraizada em seu coração;

* faça o possível para estimular esta fome, entregando-se a ela;

* esteja certo de que esta “inquietação” tem sua resposta no Amor de Deus, presente na Criação;

 * Que desejas, pensando a longo prazo?

 * A que aspiras na vida e nas relações de hoje?

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI

"Retirado do site -CATEQUESE Hoje-http://www.catequesehoje.org.br"- Um site com brasileiro com muita qualidade!

Jesus e as crianças

  

  
“Apresentaram-lhe, então, umas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nos.
 Jesus disse-lhes: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» E, depois de lhes ter imposto as mãos, prosseguiu o seu caminho.”  Mt19, 13-15

 

domingo, 2 de agosto de 2015

"Vinde e vede": o método catequético de Jesus

 
« Falai de Deus com a clareza da verdade
e da certeza: com um poder
de corpo e alma que não possa ninguém, à passagem vossa, não O entender
Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente, tão sem leis
Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura: bem o sabeis.
Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo tenha amor
à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.
Com voz, pensamentos e atos representai tão exatos os reinos seus
que todos vão livremente para esse encontro excelente.
Falai de Deus.  
Cecília Meireles

O processo catequético empreendido no Brasil e em todo o continente latino americano desde o início do século passado, possui características bastante peculiares no tocante à metodologia e caminhos percorridos ao longo do processo.

A catequese é o lugar da experiência de fé e amor, vividos por todos os envolvidos nessa “trama” de fios de seda, tão bem desenhados e delicados, entrelaçados pela troca de desejos, conhecimentos, histórias de vida, caminhos que conduzem ao amadurecimento e educação da fé. Fé que é dom e adesão a Jesus Cristo! 

Catequizar é justamente aprofundar essa adesão, iluminando a pessoa de Jesus Cristo, seus gestos, suas palavras, seu modo como acolhia as pessoas e como evangelizava seus discípulos. A pedagogia de Jesus é a inspiração para o processo de educação da fé; e voltar o olhar para a caminhada catequética do nosso continente é importante para se perceber os desejos de retorno à fonte inspiradora- Cristo Jesus! Quantos desafios enfrentados e também quantas oportunidades de novas escolhas que possibilitaram a retomada do Método de Jesus.  

O que muito nos impressiona em Jesus é sua fidelidade à missão que recebera do Pai. Veio ao mundo para fazer a vontade do Pai e, mesmo diante da crise de fé de alguns discípulos, mesmo vendo que muitos deixavam de segui-lo, Jesus permanece firme e desafia seus Apóstolos: “vocês também querem ir embora?” ( Jo 6, 67) Não se impressiona com a falta de fé, não se impressiona com o escândalo que seu ensinamento promove no meio do grupo. Nem mesmo suaviza seu ensinamento aos Apóstolos e aos discípulos que ficaram; ao contrário, confirma que ele é o Pão vivo descido do céu e que sua carne e seu sangue são realmente comida e bebida. Se isso escandalizava, dizia Jesus, o que dizer do grande escândalo da Cruz, o caminho necessário para ele subir até o Pai? (Jo 6, 62). Diferentemente de nós, que a todo o momento medimos nossas audiências para avaliar se estamos ou não agradando, Jesus mede a presença dos discípulos pela fidelidade ao que ensina. Aqueles que ficaram, muito possivelmente, não entenderam muita coisa, mas creram e por isso continuaram com Jesus. 

Jesus é o paradigma de catequista que escolhe, chama, seduz, caminha, ensina e envia à missão. O Mestre diferenciado que educa para um novo modo de amar: “Não há maior amor que dar a vida pelo irmão”.  É o mestre que “aponta saída e cura as feridas”. Catequizar ao modo do Mestre Jesus é despertar no catequizando o olhar para as pegadas de Deus nos fatos, na Sagrada Escritura, na pessoa humana e na liberdade. Seguindo os passos d´Ele, o catequista é aquele que ajuda seus catequizandos a lidar com as dificuldades da vida, que caminha junto e faz junto com os seus interlocutores, numa sincera e verdadeira troca de experiência. 

O Evangelho de João conta-nos as características próprias da vocação dos primeiros discípulos e como eles iniciam seu itinerário de fé descobrindo o mistério de Jesus e gradualmente vão conhecendo e aderindo a Ele. A iniciativa parte do mestre que interpela e chama a viver a fé: “Vinde e Vede!”( Jo 1,39)  Jesus deseja que o sigamos e que sejamos seus discípulos. 

Nesse sentido, o texto de João é modelo de como a vida de Jesus marcou os primeiros discípulos e as comunidades formadas a partir dessa experiência. A identidade dessas comunidades foi se firmando pelo desejo de propagar a Mensagem de Jesus de Nazaré e pela educação da fé ensinada por Ele. 

A catequese tem essa tarefa: o agir e prática de educar a fé e a Igreja zela com especial cuidado por ela. A Igreja orienta a volta à fonte que é a Palavra de Deus em Jesus Cristo, à sensibilidade à dimensão humana, à experiência pessoal, comunitária e existencial ao serviço, com um novo jeito de ser Igreja: a catequese tem a missão de aprofundar a vivência da comunidade, suscitando e educando discípulos missionários para o seguimento autêntico de Jesus Cristo. 

No contexto histórico que o ser humano vive, educa-se, cria culturas e, expressa o amor a Deus na experiência da Mensagem de Jesus. A V Conferência Episcopal Latino americana e caribenha de Aparecida refletiu-se sobre o espírito renovador da Igreja e que ela encontra-se em momento de recepção pelas Igrejas particulares. Seu “agir” depende da abertura à ação do Espírito aos “novos sinais dos tempos”, e uma resposta corajosa e ativa à tarefa de educação da fé. 

Que todos nós catequistas percebamos que a catequese deve unir serviço/ministério e prazer nas pegadas de Jesus de Nazaré. Assim, alimentaremos sempre a mística de nossa vocação através da alegria dessa missão e ser sinal visível da presença de Deus na vida da comunidade e para todas as pessoas.

Rita de Cássia Rezende

Coordenadora da Comissão para Animação Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Pouso Alegre-MG

Co-autora do Livro "O processo de formação da identidade cristã" - Ed. Paulus»
 
"Retirado do site -CATEQUESE Hoje-http://www.catequesehoje.org.br"- Um site com brasileiro com muita qualidade!
 
 
 

sábado, 1 de agosto de 2015

Missões - Capuchinhos Franciscanos - Testemunho

    
 
                                             Testemunho de Ana Patrícia
« De tudo aquilo que foi Timor e, continua a ser na minha vida, ficam as muitas recordações e uma verdadeira saudade! E, esta saudade é de uma vida diferente, saudade de muitos momentos e, particularmente, de pessoas. Foram sempre as pessoas que estiveram lá connosco, que nos acolheram, que se despediram de nós, de um modo inesperado, no momento difícil. E foi assim, porque Deus deu-nos o privilégio de conhecermos pessoas autênticas.

Explorei, procurei, descobri, encontrei, chorei, amei. Surpreendi-me, desiludi-me, conheci-me, foram muitos os contrastes de sentimentos e emoções com a realidade que via e vivia…o confronto comigo mesma! O testemunho de vidas autênticas baseadas na humildade e simplicidade fizeram encontrar-me…crescer um bocadinho! Pessoas que nada tinham mas que tudo eram! Assim chorei, sofri, mas cresci! Tomei nota como sou pequenina, mesmo pequenina. Tomei nota que esta minha passagem por Timor foi uma graça na minha vida, porque recebi muito mais do que aquilo que eu fui capaz de dar! Tomei nota como a fé é um dom e a minha missão é hoje e agora onde quer que eu esteja, porque me fizeram ver que ‘o essencial são as pessoas.’

São pessoas de um olhar profundo e sincero, por vezes indecifrável, e transmitiam serenidade, plenitude, autenticidade, mas também era rostos de pessoas que passaram por muito sofrimento, tristeza, e que vivem numa inquietação perante um futuro incerto…não sabem se os seus sonhos algum dia irão realizar-se! Olham-nos nos olhos…são transparentes ao ponto de se darem por completo.

As crianças são felizes! Brincam de verdade, divertem-se com tarefas simples, até varrer o átrio da Igreja para apanharem as folhas secas serve de entretenimento para elas. Já têm incutido um espírito de serviço e entreajuda que as nossas crianças rodeadas de consumismo não vivem! Brincam juntas…felizes! “Ó naransa?” (como te chamas?) perguntávamos nós para que viessem ter connosco e não fugissem de vergonha. Elas riam-se muito ao ouvirem-nos falar tétum e eu sentia-me realizada ao poder vivenciar isto. A adolescente Leonarda e a pequenina e simpática Maria do Rosário foram presenças muito queridas que marcaram a minha caminhada.

As experiências foram variadas e vividas intensamente…

As experiências que mais gostei foram as idas às montanhas. Fizemos caminhadas longas e cansativas debaixo do sol para lá chegarmos, o que foi óptimo experimentarmos os caminhos que muitos trilham regularmente; chegando lá pudemos ver com os nossos próprios olhos as condições em que vivem uma aldeia inteira desde bebés e crianças até ao mais idoso, o que foi duro mas real; dormitando para, no dia seguinte, pudermos sentir o que é não ter água sem sabor a fumo para beber, porque esta era fervida pelo menos cinco vezes na fogueira para salvaguardar qualquer intoxicação; servirem-nos as refeições com tudo de melhor que tinham e podiam e não comerem enquanto nós não acabássemos; e, para que não bastasse conhecer quase uma aldeia inteira que nunca tinha ido ao médico. Fizemos o rastreio de saúde nestas montanhas e foi muito bom podermos agir e trabalhar em campo, podermos também nós darmo-nos um bocadinho e sentirmo-nos a fazer um trabalho útil. Foi extraordinário a adesão de todos ao rastreio e o seu entusiasmo, a alegria de terem ali alguém que se preocupava com eles e que foi procurá-los à sua própria casa…

Visitámos alguns estabelecimentos de serviços de saúde e, foi, verdadeiramente, medonho! O hospital distrital como o de Manatuto com míseras condições, com cerca de 15 camas com redes mosquiteiras rotas e 2 ambulâncias a cobrir todo o distrito; o hospital de Díli como o único local onde se faz Raio X em Timor; o hospital de Baucau com ninhadas de baratas no tecto, doentes traumatizados e queimados graves sem condições de tratamento e suporte; sei que já se fazem muitos esforços para se desenvolver estas estruturas, mas há muito trabalho neste campo ainda por fazer. A saúde é fundamental na vida de qualquer ser humano. Mas, por outro lado, tivemos contacto com profissionais de saúde dignos de respeito por serem capazes de serem humanos em tudo aquilo que faziam e com uma humildade autêntica no serviço que prestavam.

Os testemunhos missionários que tivemos a graça de conhecer são uma parte indispensável desta experiência. São pessoas que se doam por completo à missão, aos outros, sem esperar nada em troca. Exemplos de verdadeiros homens e mulheres de Deus, que se dignam a continuarem o trabalho deixado por Cristo como sua missão. O ser evangelizadores deixando que Deus faça neles maravilhas. São vidas riquíssimas de vida! Só uma fé como a deles permite ultrapassarem tantas dificuldades, medos e angústias; superarem tantas metas não atingidas e objectivos desmoronados.

As avaliações diárias que fizemos todas as noites em grupo ajudaram-me a reflectir dia-a-dia e, isso foi fundamental para ir assentando estas vivências. A partilha tem sempre uma riqueza indefinida…as orações que rezámos naquela capela tão especial em Laleia foram intensas e fizeram-me sentir pertinho de Deus. Sofri para logo sentir a alegria de viver!…e tudo isso eu vivi! E foi tão bom!

Esta experiência missionária suscitou em mim o desejo de voltar…e voltar podendo dar mais de mim, voltar e estar ao serviço, principalmente, na área da saúde que eu tanto desejo desempenhar.

Dou graças a Deus pela oportunidade que colocou diante de mim…»
«Retirado do Site dos Franciscanos Capuchinhos-  http://www.capuchinhos.org»