domingo, 31 de dezembro de 2017

Boas Festas e Feliz Ano 2018


Que em cada dia as Famílias se deixem transformar por este Menino!

Continuação de Boas Festas e Feliz Ano de 2018!
São os Votos do Blog CATEQUESE MISSIONÁRIA

Espaço familiar: romper bolhas, derrubar muros


“... Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor”      (Lc 2,22) 

Certamente todos já viram um invento recreativo para crianças, composto de um globo inflável que flutua sobre um reservatório de água; ali elas são introduzidas, e ficam se movendo prazerosamente. Tal invento evoca um comportamento frequente nas famílias de hoje. Sem se darem conta, elas mesmas fabricam uma bolha e se fecham nela como num reduzido microcosmo. Elaborado pela mente e inflado pelo ego, esse pequeno globo enclausura as pessoas em um mundo familiar muito definido: o êxito, a vaidade, o dinheiro, os bens materiais, um ambiente raquítico de espaço e tempo, torna-se sua única realidade. 

No entanto, para as famílias cristãs, poderíamos perguntar se há algo mais além, por detrás dessa bolha, desse globo fechado no qual todos brincam como crianças inconscientes. Despertar o “eu profundo e universal” é descobrir-se habitante de um universo novo e espaçoso, um “eu sou” com sabor de infinito, onde nem a escassez ou a riqueza, nem a saúde ou a enfermidade, nem a vida curta ou longa..., é o mais essencial, mas a consciência expandida que rompe a bolha e faz a pessoa sentir a liberdade amorosa dos filhos e filhas de Deus. 

Deus “se fez diferente” e é na “diferença” que Ele vem ao nosso encontro como chance de enriquecimento vital e de intercâmbio criativo. Deixemo-nos surpreender pelo Deus da vida que rompe esquemas, crenças, legalismos, bolhas...; ou nossa vivência de fé se reduzirá a um ritualismo fechado, impedindo sair de nós mesmos.

Também os muros estão voltando à moda. Não podemos esquecer que os muros foram criados para a segregação dos “diferentes”. O muro económico que exclui, se visibiliza no muro que segrega os excluídos. Um muro é uma ordem, um silêncio forçado e prolongado, é vontade de poder e domínio sobre os outros. Muros são pedras da vergonha no nosso percurso vital. Como tirá-los do caminho?

Muros não têm semente, embora se multipliquem pelo mundo. O muro é um veneno. Muros são concretos: muros entre ricos e pobres, entre homens e mulheres, entre ignorantes e doutores, entre negros e brancos, entre centro e periferia. Muros são urros. Muros são murros, são muito burros! Todos os muros deviam se envergonhar, pois se os muros pudessem ensinar alguma coisa, desistiriam de serem muros. 

A festa da Sagrada Família, que se deslocou a Jerusalém, nos instiga a romper a bolha que asfixia a vida e derrubar os muros que cercam o coração das famílias, atrofiando sua própria existência. A mudança de mente, de coração, de esperança, de paradigmas... exige que todos, de tempos em tempos, revisem suas vidas, conservando umas coisas, alterando outras, derrubando ideias fixas, convicções absolutas, modos fechados de viver...  que impedem a entrada do ar para arejar a própria vida.

Há em todo ser humano uma tendência a cercar-se de muros, a encastelar-se, a criar uma rede de proteção. Também as famílias não estão imunes desta tentação. No entanto, nada mais contrário ao espírito cristão que a vida instalada e uma existência estabilizada de uma vez para sempre, tendo pontos de referência fixos, definitivos, tranquilizadores... Numa vida assim faltaria por completo o princípio da criatividade, a capacidade de questionar-se, a audácia de arriscar, a coragem de fazer caminho aberto à aventura. 

Se quisermos que a família cristã tenha a marca da Família de Nazaré, é necessário compreender que ela é chamada a um compromisso diferente e mais profundo: sair da reclusão do próprio mundo para entrar na grande “casa” de Deus; romper com o tradicional para acolher a surpresa; deixar a “margem conhecida” para vislumbrar o “outro lado”; desnudar-se de ilusões egocêntricas; afastar a “pedra” da entrada do coração para poder viver com mais criatividade...  As respostas do passado às questões atuais já não satisfazem; as velhas razões para fazer coisas novas, simplesmente já não movem os corações num mundo repleto de novos desafios. Não há razão para permanecer nas bolhas e condomínios quando todas as circunstâncias mudaram. 

Comprovamos hoje um “déficit de interioridade”. O ser humano “pós-moderno” perdeu a direção do seu coração; dentro dele há um “condomínio” onde portas se fecham, chaves se perdem, segredos são esquecidos... e mergulha na mais profunda solidão estéril. Vive perdido fora de si mesmo e não consegue colocar as grandes perguntas existenciais: “de onde venho? Quem sou? Para onde vou? Quê devo fazer?” 

Muitos já não conseguem mais recolher-se e voltar para “dentro” de si, para recuperar o centro gravitacional de sua vida, o ponto de equilíbrio interior. São vítimas da chamada “síndrome da exteriorização existencial”; tem dificuldades de introspecção, silêncio, reflexão, contemplação...; não são capazes de velejar nas águas da interioridade, vivendo uma vida superficial e sem sentido. 

Seduzidos pelos estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativados pela média, pelas inovações rápidas, magnetizados por ofertas alucinantes... muitos ambientes familiares se esvaziam, perdem a dimensão da interioridade, afastam-se do horizonte de sentido e... se desumanizam. Tudo se torna líquido:  o amor, as relações, os valores, a ética, as grandes causas... Longe de um ambiente humano dinâmico, operante, ousado, solidário..., o que elas deixam transparecer é, pelo contrário, um ambiente humano neutro, apático, estagnado. 

Inspirando-se em Maria e José, pais e mães convertem-se em fonte de vida nova; e a sua missão mais apaixonante é aquela de poder dar uma profundidade e um horizonte novo aos seus filhos; sabem integrar “vida em Nazaré” (espaço de interioridade) e “presença em Jerusalém” (vida expansiva, aberta ao novo e ao diferente). 

“O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria”; esta expressão sugere a atitude básica dos pais e mães: cuidar a vida frágil de quem começa o seu percurso neste mundo. Como seguidores(as) de Jesus e com sua presença humanizadora, eles(elas) são promotores(as) de habilidades na vida de seus filhos: “dão asas” e despertam neles as potencialidades do humano presentes em cada um, levando-os a experimentar condições ousadas de crescimento e realização; na convivência cotidiana, interagem com eles e conseguem extrair deles o melhor, fomentam o papel ativo deles, incentivam-os a desenvolver sua autonomia e dar asas à sua imaginação. 

O ambiente familiar, sadio e instigante, torna os filhos conscientes de que são seres em movimento, protagonistas de mudanças, capazes de criar novos modos de existir, de romper com o instituído e buscar o diferente, o novo, o desconhecido... A família é o espaço das inovações, dos riscos, dos experimentos... Nela se encontra o lugar dos sonhos, dos desejos, da liberdade e autonomia. 

Texto bíblico:  Lc 2,22-40                

Na oração:  A exortação apostólica “amoris Laetitia”, do Papa Francisco,  inspira os casais cristãos a que se convertam em pontes, ponham suas energias, sua formação, dedicação, sua vida a serviço de criar, alimentar e sustentar os laços humanos, relações sociais, estruturas políticas e económicas que tornem possível a solidariedade entre todos os seres humanos e aponte para um mundo fraterno e justo. A vocação para estender pontes, superando fronteiras, é algo crucial para o mundo de hoje.

- Seu ambiente familiar: risco da aventura ou medo asfixiante? Contínua surpresa ou perene rotina?  Espaço de liberdade ou vivências dentro de bolhas asfixiantes e muros de proteção?

Pe. Adroaldo Palaoro sj

Retirado do site - CATEQUESE Hoje-" www.catequesehoje.org.br "- Um site com brasileiro com muita qualidade!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Benção «Urbi et Orbi»-Natal 2017


Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

Em Belém, da Virgem Maria, nasceu Jesus. Não foi por vontade humana que nasceu, mas por um dom de amor de Deus Pai, que «tanto amou o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que n’Ele crê não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16).
Este acontecimento renova-se hoje na Igreja, peregrina no tempo: a fé do povo cristão revive, na liturgia do Natal, o mistério de Deus que vem e assume a nossa carne mortal, fazendo-Se pequenino e pobre para nos salvar. E isto enche-nos de comoção, porque é demasiado grande a ternura do nosso Pai.
Os primeiros, depois de Maria e José, a ver a glória humilde do Salvador foram os pastores de Belém. Reconheceram o sinal que lhes fora anunciado pelos anjos e adoraram o Menino. Aqueles homens, humildes mas vigilantes, são um exemplo para os crentes de todos os tempos que, diante do mistério de Jesus, não se escandalizam da sua pobreza, mas, como Maria, fiam-se da palavra de Deus e, com olhos simples, contemplam a sua glória. Perante o mistério do Verbo encarnado, os cristãos de toda a parte confessam, com as palavras do evangelista João: «contemplamos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade» (1, 14).
Hoje, enquanto sopram no mundo ventos de guerra e um modelo de progresso já ultrapassado continua a produzir degradação humana, social e ambiental, o Natal lembra-nos o sinal do Menino convidando-nos a reconhecê-Lo no rosto das crianças, especialmente daquelas para as quais, como sucedeu a Jesus, «não há lugar na hospedaria» (Lc 2, 7).
Vemos Jesus nas crianças do Médio Oriente, que continuam a sofrer pelo agravamento das tensões entre israelitas e palestinenses. Neste dia de festa, imploramos do Senhor a paz para Jerusalém e para toda a Terra Santa; rezamos para que prevaleça, entre as Partes, a vontade de retomar o diálogo e se possa finalmente chegar a uma solução negociada que permita a coexistência pacífica de dois Estados dentro de fronteiras mutuamente concordadas e internacionalmente reconhecidas. O Senhor sustente também os esforços de quantos, na Comunidade Internacional, se sentem animados pela boa vontade de ajudar aquela martirizada terra a encontrar – não obstante os graves obstáculos – a concórdia, a justiça e a segurança por que há muito aguarda.
Vemos Jesus no rosto das crianças sírias, ainda feridas pela guerra que ensanguentou o país nestes anos. Possa a Síria amada encontrar, finalmente, o respeito pela dignidade de todos, através dum esforço concorde por reconstruir o tecido social, independentemente da pertença étnica e religiosa. Vemos Jesus nas crianças do Iraque, ainda contuso e dividido pelas hostilidades que o afetaram nos últimos quinze anos, e nas crianças do Iémen, onde perdura um conflito em grande parte esquecido, mas com profundas implicações humanitárias sobre a população que padece a fome e a propagação de doenças.
Vemos Jesus nas crianças da África, sobretudo nas que sofrem no Sudão do Sul, na Somália, no Burundi, na República Democrática do Congo, na República Centro-Africana e na Nigéria.
Vemos Jesus nas crianças de todo o mundo, onde a paz e a segurança se encontram ameaçadas pelo perigo de tensões e novos conflitos. Rezamos para que se possam superar, na península coreana, as contraposições e aumentar a confiança mútua, no interesse do mundo inteiro. Ao Deus Menino, confiamos a Venezuela, para que possa retomar um confronto sereno entre os diversos componentes sociais em benefício de todo o amado povo venezuelano. Vemos Jesus nas crianças que padecem, juntamente com suas famílias, as violências do conflito na Ucrânia e as suas graves repercussões humanitárias, e rezamos para que o Senhor conceda, o mais depressa possível, a paz àquele querido país.
Vemos Jesus nas crianças, cujos pais não têm emprego, provando dificuldade em oferecer aos filhos um futuro seguro e tranquilo; e naquelas cuja infância foi roubada, obrigadas a trabalhar desde tenra idade ou alistadas como soldados por mercenários sem escrúpulos.
Vemos Jesus nas inúmeras crianças constrangidas a deixar o seu país, viajando sozinhas em condições desumanas, presa fácil dos traficantes de seres humanos. Através dos seus olhos, vemos o drama de tantos migrantes forçados que chegam a pôr a vida em risco, enfrentando viagens extenuantes que por vezes acabam em tragédia. Revejo Jesus nas crianças que encontrei durante a minha última viagem ao Myanmar e ao Bangladesh, e espero que a Comunidade Internacional não cesse de trabalhar para que seja adequadamente tutelada a dignidade das minorias presentes na região. Jesus conhece bem a tribulação de não ser acolhido e a dificuldade de não ter um lugar onde poder reclinar a cabeça. Que o nosso coração não fique fechado como ficaram as casas de Belém.
Queridos irmãos e irmãs!
Também a nós é indicado, como sinal do Natal, «um menino envolto em panos» (Lc 2, 12). Como a Virgem Maria e São José, como os pastores de Belém, acolhamos no Menino Jesus o amor de Deus feito homem por nós e comprometamo-nos, com a sua graça, a tornar o nosso mundo mais humano, mais digno das crianças de hoje e de amanhã.
A vós, queridos irmãos e irmãs, congregados de todo o mundo nesta Praça e a quantos estão unidos connosco, nos vários países, através do rádio, televisão e outros meios de comunicação, dirijo cordiais votos de Boas Festas.
Que o nascimento de Cristo Salvador renove os corações, suscite o desejo de construir um futuro mais fraterno e solidário, conceda alegria e esperança a todos. Feliz Natal!



Retirado do Site da EDUCRIS em 29.12.2017

«Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício»


'Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o.
Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos.
Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?»
Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»' Mt 9, 9-13

Jesus viu um homem chamado Mateus, compadece-se dele e chama-o.
Com este encontro, a vida de Mateus abre-se, alegra-se, entrega-se ao Mistério de Jesus. Deste modo, Mateus abre as portas de sua casa  a Jesus e aos seus discípulos. Mateus não pôde guardar este mistério só para si, e abre as portas aos seus colegas, cobradores de impostos,  e  a outros pecadores, permitindo o encontro destes com Jesus.
O ambiente é de grande proximidade, estão todos sentados à mesa, partilhando uma refeição. Este encontro vai inquietar os fariseus : «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?».
Jesus escuta-os, não os ignora,  e responde-lhes, «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes.». Depois, Jesus acrescenta: « Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores».

-«Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício.»
Conforme o pedido de Jesus, tentei descobrir esta Palavra no Antigo Testamento, recorrendo a citações de diversos Livros Sagrados :
1. Oseias 6,6 « Porque Eu quero a misericórdia  e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos.».
 A resposta do povo através do culto (sacrifícios e holocaustos) era superficial. O profeta Oseias insiste no conhecimento de Deus, expresso numa vida de comunhão com Ele.
Apesarar da infidelidade do seu povo, se ele se converter a Deus, a Sua Misericórdia terá a última palavra « Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração, porque a minha cólera se afastou deles. Serei para Israel como o orvalho: florescerá como um lírio e deitará raízes como um cedro do Líbano.» Os 14, 5-6
É preciso conhecer Deus melhor, aproximarmo-nos do Seu Amor, e convertermo-nos a Ele. A Sua Misericórdia nos Salvará.

2.  Amós 5, 22-24 «Se me ofereceis holocaustos e oblações, não as  aceito, nem ponho os meus olhos nos sacrifícios das vossas vítimas gordas. Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas. Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca.»
Esta profecia foi dirigida ao Reino do Norte, Israel, numa situação de melhoria económica, mas em que os pequenos proprietários se veem sufocados pelos interesses dos poderosos, acentuando-se deste modo, a divisão entre ricos e pobres, gerando-se injustiças sociais. A par desta decomposição social vem a corrupção religiosa.
Deus diz-nos que desvaloriza os sacríficos e os holocaustos, e valoriza a equidade e justiça .
A conversão, exige de nós  atitudes concretas,  atitudes conformes à Vontade de Deus. Nessa necessária mudança, encontraremos a Fonte e a Torrente que não seca, a Sua Misericórdia.

3. Isaías1, 11-20  « De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros, de gordura de bezerros. Não me agrada o sangue de vitelos, de cordeiros nem de bodes. (…)
Lavai-vos, purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos a malícia das vossas acções. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas.
Vinde agora, entendamo-nos – diz o Senhor. Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Mesmo que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã. Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra;
se recusardes, se vos revoltar­des, sereis devorados pela espada. É o Senhor quem o declara.»
O Senhor diz-nos que a superficialidade não serve. Importante e vital é a Conversão a Ele de todo coração. A Sua Misericórdia nos cobrirá, e justificados por Ele de graça, viveremos verdadeiramente para Ele e para os outros, seremos felizes e faremos os outros felizes.
A recusa da Sua Misericórdia, é caminho que conduz à morte.

4. Primeiro Livro de Samuel 15, 22-23  «Samuel replicou-lhe, então: «Porventura, o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios como na obediência à sua palavra? A obediência vale mais do que os sacrifícios, e a submissão, mais do que a gordura dos carneiros.
A desobediência é tão culpável como a superstição, e a insubmissão é como o pecado da idolatria. Visto, pois, que rejeitaste a palavra do Senhor, também Ele te rejeita e te tira a realeza!»
Estas palavras foram dirigidas por Samuel ao primeiro rei de Israel, Saul.
O que nos deve guiar é a Palavra de Deus, à qual devemos ser fiéis ( atitude interior que agrada ao Senhor).

5. Salmo 51 (50), 18-19 «Não te comprazes nos sacrifícios nem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça. O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito; ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido.»
Salmo do Rei David. Dado tratar do arrependimento pelo pecado, pertence ao número dos “salmos penitenciais”.
Resumo:
O sacrifício agradável a Deus é o arrependimento contrito. Deus não se compraz com holocaustos, com cultos externos. Deus alegra-se com a conversão do nosso coração, com a transformação do nosso interior à Sua Santa Vontade.
Jesus aproxima-se de todos os pecadores com ternura,  mostra-nos  o Amor do Pai para nos restituir a vida. À Luz desse Amor, vemos a Verdade e podemos descobrir o que está mal em nós,  o que necessita de conversão.
Com uma conversão permanente ao Senhor, mudanças de atitude, com esforço interior, vamos desistindo dos nossos erros, e vamos aderindo ao bem, à Palavra de Deus.
A Palavra de Deus nos converterá e a Sua infinita Misericórdia nos Salvará. Assim, a Sua Justiça nos justificará para a Vida Eterna.
« Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.» (Lc 5, 32).

Diác. José Luís Leão/2017

sábado, 2 de dezembro de 2017

Que tudo seja transformado em amor - Catequese do Papa

 
Esta é a última catequese sobre o tema da esperança cristã, que nos acompanhou desde o início do presente ano litúrgico. E vou concluir falando do paraíso, como meta da nossa esperança.
«Paraíso» é uma das últimas palavras pronunciadas por Jesus na cruz, dirigida ao bom ladrão. Detenhamo-nos um momento sobre aquela cena. Na cruz, Jesus não está sozinho. Ao seu lado, à direita e à esquerda, há dois malfeitores.
Talvez, passando diante daquelas três cruzes erguidas no Gólgota, alguém suspirou aliviado, pensando que finalmente a justiça tinha sido feita entregando à morte pessoas como elas.
Ao lado de Jesus há também um réu confesso: alguém que reconhece ter merecido aquele terrível suplício. Chamamo-lo “bom ladrão”, o qual, opondo-se ao outro, diz: recebemos o que mereceram os nossos crimes (cf. Lc 23, 41)
No Calvário, naquela sexta-feira trágica e santa, Jesus chega ao extremo da sua encarnação, da sua solidariedade com nós pecadores. Ali realiza-se quanto o profeta Isaías tinha dito sobre o Servo sofredor: «E foi contado entre os malfeitores» (Is 53, 12; cf. Lc 22, 37).
É precisamente no Calvário que Jesus tem o último encontro com um pecador, para abrir de par em par as portas do seu Reino. Isto é interessante: é a única vez que a palavra “paraíso” aparece nos evangelhos. Jesus promete-o a um “pobre diabo” que no madeiro da cruz teve a coragem de lhe dirigir o mais humilde dos pedidos: «Lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino!» (Lc 23, 42). Não tinha boas obras para apresentar, nada possuía, mas confia-se a Deus, que reconhece como inocente, bom, tão diferente dele (v. 41). Foi suficiente aquela palavra de arrependimento humilde, para sensibilizar o coração de Jesus.
O bom ladrão faz-nos lembrar a nossa verdadeira condição diante de Deus: que somos seus filhos, que Ele sente compaixão por nós, que Ele está desarmado todas as vezes que lhe manifestamos a nostalgia do seu amor. Nos quartos de muitos hospitais ou nas celas das prisões este milagre repete-se inúmeras vezes: não há pessoa alguma, por quanto tenha vivido mal, à qual só lhe resta o desespero e à qual seja proibida a graça. Diante de Deus apresentamo-nos todos de mãos vazias, um pouco como o publicano da parábola que tinha parado para rezar no fundo do templo (cf. Lc 18,13). E todas as vezes que um homem, fazendo o último exame de consciência da sua vida, descobre que as faltas superam de forma considerável as boas obras, não deve desanimar, mas entregar-se à misericórdia de Deus. E isto dá-nos esperança, abre-nos o coração!
Deus é Pai, e até ao último instante espera o nosso retorno. E ao filho pródigo, que regressando começa a confessar as suas culpas, o pai fecha-lhe a boca com um abraço (cf. Lc 15, 20). Este é Deus: ama-nos deste modo!
O paraíso não é um lugar de fábula, nem sequer um jardim encantado. O paraíso é o abraço com Deus, Amor infinito, e entramos nele graças a Jesus, que morreu na cruz por nós. Onde há Jesus, há misericórdia e felicidade; sem Ele há frio e trevas. Na hora da morte, o cristão repete a Jesus: “Recorda-te de mim”. E mesmo se não houvesse mais ninguém que se recorda de nós, Jesus está ali, ao nosso lado. Quer levar-nos para o lugar mais bonito que existe. Deseja levar-nos lá com aquele pouco ou tanto de bom que houve na nossa vida, para que nada seja perdido do que Ele já tinha redimido. E para a casa do Pai levará também tudo o que em nós ainda precisa de ser resgatado: as faltas e os erros de uma vida inteira. Esta é a meta da nossa existência: que tudo se cumpra, e seja transformado em amor.
Se acreditarmos nisto, a morte deixa de nos amedrontar, e podemos também ter a esperança de partir deste mundo de maneira serena, com muita confiança. Quem conheceu Jesus, já nada teme. E poderemos repetir também nós as palavras do Velho Simeão, também ele abençoado pelo encontro com Cristo, depois de uma vida inteira consumida em expetativa: «Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação» (Lc 2, 29-30).
E naquele instante, finalmente, já não teremos necessidade de nada, já não veremos de maneira confusa. Já não choraremos inutilmente, porque tudo passou; também as profecias, inclusive o conhecimento. Mas o amor não, esse permanece. Porque «a caridade jamais acabará» (cf. 1 Cor 13,8).
Papa Francisco
Catequese na audiência geral 25.10.2017             

Retirado do Site Catequese do Brasil em 02.12.2017 -http://www.catequesedobrasil.org.br

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Vem Senhor Jesus

 

«Um só
é o meu Senhor,
que pode quebrar
toda a monotonia,
toda insatisfação,
todo o vazio,
toda a sede,
tristeza e injustiça,
É Jesus Cristo
Filho de Deus Vivo,
na unidade do
Espírito Santo!»
 
    Diac. José Luís Leão-2017

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

«A fé inspira a caridade e a caridade protege a fé»




Na manhã deste domingo o Papa Francisco recitou a oração
mariana do Ângelus a partir da janela do Palácio Apostólico, no Vaticano. Na
sua reflexão, antes do Ângelus, o Papa lembrou que a "fé é alimentada com
a caridade" e convidou os crentes a prepararem-se para vinda do Senhor
como se hoje "fosse o último dia".
Leia, na íntegra, a alocução do Papa Francisco.
Neste domingo, o Evangelho (Mt 25, 1-13) indica-nos a
condição para entrar no Reino dos Céus, e fá-lo através da parábola das dez
virgens: trata-se daquelas madrinhas que ficaram encarregues de acomodar e
acompanhar o noivo na cerimónia das bodas que, naquela época, se costumava
celebrar à noite, as madrinhas tinham consigo lâmpadas para iluminar.
A parábola diz-nos que cinco dessas virgens são sábias e
cinco tontas: na verdade, as sábias levaram o óleo para as lâmpadas, enquanto
as tolas não o trouxeram. O noivo atrasou-se a todas adormecem. A meio da noite
é anunciada a chegada do noivo; Então as virgens tolas percebem que não têm
óleo para as lâmpadas, e pedem-no às sabias. Mas elas respondem que não podem
dar, porque não seria suficiente para todos. Enquanto as tolas saem em busca de
azeite, e, entretanto, chega o noivo; as virgens sabias entram com ele na sala
do banquete e a porta fecha-se. As cinco tolas voltam muito tarde e bate à
porta, mas a resposta é: «Não vos conheço» (v. 12), e permanecem fora.
O que quer Jesus ensinar-nos com esta parábola? Quer que nos
lembremos que devemos ter em dia o encontro com Ele. Muitas vezes, nos
evangelhos, Jesus exorta a vigiar, e ele volta a fazê-lo no final desta
parábola: «Vigiai e orai porque não sabeis o dia nem a hora» (v. 13). Mas com
esta parábola, diz-nos que vigiar não significa apenas não dormir, mas estar
preparado; de facto, todas as virgens dormiram antes que o noivo chegasse, mas
no despertar, algumas estavam prontas e outras não. Aqui, portanto, está o
significado de ser sábio e prudente: não é esperar o último momento da nossa
vida para cooperar com a graça de Deus, mas fazê-lo de agora em diante. Seria
bom pensar um pouco: um dia será o último. Se fosse hoje, como estou preparado,
preparada? Mas devo fazer isto e isto… preparar-se como se fosse o último dia:
Isto faz bem.
A lâmpada é o símbolo da fé que ilumina a nossa vida,
enquanto o azeite é o símbolo da caridade que nutre, torna a luz da fé
frutífera e credível. A condição para estar pronto para o encontro com o Senhor
não é apenas a fé, mas uma vida cristã rica de amor e caridade para com o
próximo. Se nos deixarmos guiar pelo que nos parece mais conveniente, na busca
dos nossos interesses, as nossas vidas tornam-se estéreis, incapazes de dar vida
aos outros e não acumulamos nenhuma reserva de azeite para a lâmpada da nossa
fé; e esta - a fé – se extinguirá no momento da vinda do Senhor, ou mesmo mais
cedo. Mas se estamos vigilantes e tentamos fazer o bem, com gestos de amor,
partilha, serviço ao próximo em dificuldade, podemos permanecer calmos enquanto
aguardamos a chegada do noivo: o Senhor pode vir a qualquer momento e até o
sono da morte não nos assusta porque temos a reserva de azeite acumulada com as
boas obras de todos os dias. A fé inspira a caridade e a caridade protege a fé.
A Virgem Maria nos ajude a tornar a nossa fé cada vez mais
operativa através da caridade; para que a nossa lâmpada brilhe aqui, no caminho
terrestre, e depois para sempre, na festa do casamento no paraíso.
Tradução Educris a partir do original em italiano
Retirado do Site da EDUCRIS em 13.11.2017

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES 2017

 
"A missão no coração da fé cristã

Queridos irmãos e irmãs!
O Dia Mundial das Missões concentra-nos, também este ano, na pessoa de Jesus, «o primeiro e maior evangelizador» (Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 7), que incessantemente nos envia a anunciar o Evangelho do amor de Deus Pai, com a força do Espírito Santo. Este Dia convida-nos a refletir novamente sobre a missão no coração da fé cristã. De facto a Igreja é, por sua natureza, missionária; se assim não for, deixa de ser a Igreja de Cristo, não passando duma associação entre muitas outras, que rapidamente veria exaurir-se a sua finalidade e desapareceria. Por isso, somos convidados a interrogar-nos sobre algumas questões que tocam a própria identidade cristã e as nossas responsabilidades de crentes, num mundo baralhado com tantas quimeras, ferido por grandes frustrações e dilacerado por numerosas guerras fratricidas, que injustamente atingem sobretudo os inocentes. Qual é o fundamento da missão? Qual é o coração da missão? Quais são as atitudes vitais da missão?
A missão e o poder transformador do Evangelho de Cristo, Caminho, Verdade e Vida
1. A missão da Igreja, destinada a todos os homens de boa vontade, funda-se sobre o poder transformador do Evangelho. Este é uma Boa Nova portadora duma alegria contagiante, porque contém e oferece uma vida nova: a vida de Cristo ressuscitado, o qual, comunicando o seu Espírito vivificador, torna-Se para nós Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). É Caminho que nos convida a segui-Lo com confiança e coragem. E, seguindo Jesus como nosso Caminho, fazemos experiência da sua Verdade e recebemos a sua Vida, que é plena comunhão com Deus Pai na força do Espírito Santo, liberta-nos de toda a forma de egoísmo e torna-se fonte de criatividade no amor.
2. Deus Pai quer esta transformação existencial dos seus filhos e filhas; uma transformação que se expressa como culto em espírito e verdade (cf. Jo 4, 23-24), ou seja, numa vida animada pelo Espírito Santo à imitação do Filho Jesus para glória de Deus Pai. «A glória de Deus é o homem vivo» (Ireneu, Adversus haereses IV, 20, 7). Assim, o anúncio do Evangelho torna-se palavra viva e eficaz que realiza o que proclama (cf. Is 55, 10-11), isto é, Jesus Cristo, que incessantemente Se faz carne em cada situação humana (cf. Jo 1, 14).
A missão e o kairós de Cristo
3. Por conseguinte, a missão da Igreja não é a propagação duma ideologia religiosa, nem mesmo a proposta duma ética sublime. No mundo, há muitos movimentos capazes de apresentar ideais elevados ou expressões éticas notáveis. Diversamente, através da missão da Igreja, é Jesus Cristo que continua a evangelizar e agir; e, por isso, aquela representa o kairós, o tempo propício da salvação na história. Por meio da proclamação do Evangelho, Jesus torna-Se sem cessar nosso contemporâneo, consentindo à pessoa que O acolhe com fé e amor experimentar a força transformadora do seu Espírito de Ressuscitado que fecunda o ser humano e a criação, como faz a chuva com a terra. «A sua ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 276).
4. Lembremo-nos sempre de que, «ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo» (Bento XVI, Carta. enc. Deus caritas est, 1). O Evangelho é uma Pessoa, que continuamente Se oferece e, a quem A acolhe com fé humilde e operosa, continuamente convida a partilhar a sua vida através duma participação efetiva no seu mistério pascal de morte e ressurreição. Assim, por meio do Batismo, o Evangelho torna-se fonte de vida nova, liberta do domínio do pecado, iluminada e transformada pelo Espírito Santo; através da Confirmação, torna-se unção fortalecedora que, graças ao mesmo Espírito, indica caminhos e estratégias novas de testemunho e proximidade; e, mediante a Eucaristia, torna-se alimento do homem novo, «remédio de imortalidade» (Inácio de Antioquia, Epistula ad Ephesios, 20, 2).
5. O mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo. Ele, através da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas sanguinolentas da humanidade, e a sua missão de Bom Pastor, buscando sem descanso quem se extraviou por veredas enviesadas e sem saída. E, graças a Deus, não faltam experiências significativas que testemunham a força transformadora do Evangelho. Penso no gesto daquele estudante «dinka» que, à custa da própria vida, protege um estudante da tribo «nuer» que ia ser assassinado. Penso naquela Celebração Eucarística em Kitgum, no norte do Uganda – então ensanguentado pelas atrocidades dum grupo de rebeldes –, quando um missionário levou as pessoas a repetirem as palavras de Jesus na cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mc 15, 34), expressando o grito desesperado dos irmãos e irmãs do Senhor crucificado. Aquela Celebração foi fonte de grande consolação e de muita coragem para as pessoas. E podemos pensar em tantos testemunhos – testemunhos sem conta – de como o Evangelho ajuda a superar os fechamentos, os conflitos, o racismo, o tribalismo, promovendo por todo o lado a reconciliação, a fraternidade e a partilha entre todos.
A missão inspira uma espiritualidade de êxodo, peregrinação e exílio contínuos
6. A missão da Igreja é animada por uma espiritualidade de êxodo contínuo. Trata-se de «sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 20). A missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de verdade e justiça. A missão da Igreja inspira uma experiência de exílio contínuo, para fazer sentir ao homem sedento de infinito a sua condição de exilado a caminho da pátria definitiva, pendente entre o «já» e o «ainda não» do Reino dos Céus.
7. A missão adverte a Igreja de que não é fim em si mesma, mas instrumento e mediação do Reino. Uma Igreja autorreferencial, que se compraza dos sucessos terrenos, não é a Igreja de Cristo, seu corpo crucificado e glorioso. Por isso mesmo, é preferível «uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças» (Ibid., 49).
Os jovens, esperança da missão
8. Os jovens são a esperança da missão. A pessoa de Jesus e a Boa Nova proclamada por Ele continuam a fascinar muitos jovens. Estes buscam percursos onde possam concretizar a coragem e os ímpetos do coração ao serviço da humanidade. «São muitos os jovens que se solidarizam contra os males do mundo, aderindo a várias formas de militância e voluntariado. (...) Como é bom que os jovens sejam “caminheiros da fé”, felizes por levarem Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra!» (Ibid., 106). A próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em 2018 sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», revela-se uma ocasião providencial para envolver os jovens na responsabilidade missionária comum, que precisa da sua rica imaginação e criatividade.
O serviço das Obras Missionárias Pontifícias
9. As Obras Missionárias Pontifícias são um instrumento precioso para suscitar em cada comunidade cristã o desejo de sair das próprias fronteiras e das próprias seguranças, fazendo-se ao largo a fim de anunciar o Evangelho a todos. Através duma espiritualidade missionária profunda vivida dia-a-dia e dum esforço constante de formação e animação missionária, envolvem-se adolescentes, jovens, adultos, famílias, sacerdotes, religiosos e religiosas, bispos para que, em cada um, cresça um coração missionário. Promovido pela Obra da Propagação da Fé, o Dia Mundial das Missões é a ocasião propícia para o coração missionário das comunidades cristãs participar, com a oração, com o testemunho da vida e com a comunhão dos bens, na resposta às graves e vastas necessidades da evangelização.
Fazer missão com Maria, Mãe da evangelização
10. Queridos irmãos e irmãs, façamos missão inspirando-nos em Maria, Mãe da evangelização. Movida pelo Espírito, Ela acolheu o Verbo da vida na profundidade da sua fé humilde. Que a Virgem nos ajude a dizer o nosso «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no nosso tempo; nos obtenha um novo ardor de ressuscitados para levar, a todos, o Evangelho da vida que vence a morte; interceda por nós, a fim de podermos ter uma santa ousadia de procurar novos caminhos para que chegue a todos o dom da salvação.
Vaticano, 4 de junho – Solenidade de Pentecostes – de 2017
FRANCISCO"
 
Retirado do Site do Vaticano - http://w2.vatican.va

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

 
 
 
 
Cruz fiel e redentora,
Árvore nobre, gloriosa!
 Nenhuma outra nos deu
Tal ramagem, flor e fruto,
 Doces cravos, doce lenho,
 doce fruto sustentais!
 
Porto feliz preparaste
 Para o mundo naufragado
E pagaste por inteiro
O preço da redenção,
Pois o sangue do Cordeiro
Resgatou as nossas culpas.
 
Deus quis vencer o inimigo
 Com as suas próprias armas.
 A Sabedoria aceitou
O tremendo desafio
 E onde nascera a morte
 Brotou a fonte da vida.
 
Elevemos jubilosos
 À Santíssima Trindade
O louvor que Lhe devemos
 Pela nossa salvação,
 Ao Eterno Pai e ao Filho
 E ao Espírito de amor.

" Hino retirado do livro da Liturgia das Horas-dia 14 Setembro-EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ- Vésperas II"

quinta-feira, 22 de junho de 2017

ACOLHEI A SEMENTE DO REINO DE DEUS


'De novo começou a ensinar à beira-mar. Uma enorme multidão vem agrupar-se junto dele e, por isso, sobe para um barco e senta-se nele, no mar, ficando a multidão em terra, junto ao mar. Ensinava-lhes muitas coisas em parábolas e dizia nos seus ensinamentos:
«Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.»
(…) E acrescentou: «Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas as outras parábolas?
O semeador semeia a palavra. Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um» ''       Mc4,1-9; 13-20
Aqui temos o Nosso Maior Amigo, Jesus, sobre um barco no Mar da Galileia, ensinado os seus discípulos que estão sobre a areia. Jesus no barco, mas não é derrubado pela adversidade (o mar), os discípulos em terra, mas sentem a pouca estabilidade que a areia lhes oferece, precisam de mais…Em termos de fecundidade,  o mar é cheio de vida, peixinhos, algas, etc. A areia por seu lado é árida, poucas plantas nascem e crescem sobre ela…
É neste cenário real que Jesus apresenta e explica a parábola do semeador. Jesus ensina-nos a descobrir o sucesso, e por vezes, insucesso, da sementeira. Como pode haver insucesso se a Semente é Muito Boa? É isso, que vamos tentar descobrir…
1.Factores externos de influência, que vêm ao nosso encontro /atitude a ter perante eles:
-Distrações
A semente que caiu à beira do caminho- veio um passarinho e tomou-a. Na explicação da parábola, Jesus diz-nos que este passarinho é o demónio e  que nos rouba a semente. Na nossa caminhada, podem  corresponder às distrações que vêm até nós, e nos conseguem roubar atenção do essencial , a Palavra de Deus. Será que o facebook , twiter,os sms,os jogos, as séries televisivas, etc, me  estarão  a roubar a vida de “levezinho”? Ou será, que só lhes dedico tempo na medida certa…
-Desânimo
A semente que caiu em terreno pedregoso-cresceu, veio o calor e secou. Jesus diz-nos , que este calor resulta das tribulações e perseguições por causa da Palavra e  que vêm ter connosco. Como cedemos? É quando perdemos a força. Quando nos deixamos levar pelo desânimo (uma das maiores ciladas do demónio). Recebemos com alegria mas desfalecemos. Todos temos um telemóvel, e quando a bateria fica gasta, o que fazemos? Carregamo-la com ajuda de um carregador… Como podemos ganhar novo ânimo: rezando, como Jesus nos ensinou!
-Divisão, o pecado
A semente que caiu entre espinhos-cresceu, mas os espinhos sufocaram-na. Os espinhos são a sedução das riquezas e as restantes ambições, diz-nos Jesus. Então o que está aqui em causa é a divisão, o pecado. Queremos o bem, mas também queremos o mal. O segredo para inverter esta situação,  é  Servir a Deus e aos irmãos.
2.Factores de internos
-Deus que nos habita
A semente que caiu em bom terreno- cresceu e deu fruto. As condições, as boas disposições, vêm de Deus que está em nós. Apenas cuidamos daquilo que recebemos de Graça e pela Sua Graça. Escutamo-La  com alegria, guardamo-La com todo coração e confiamos no milagre da vida. Esta rebenta, cresce e dá muito, e bom fruto.
-Confiança,  a  Conversão torna o  nosso coração arável
Nas zonas do Douro,  onde a pedra  dos monte e colinas é moída, partida e composta pelo trabalho do homem, dá origem às melhores vinhas do mundo. Estas, resistem ao sol muito quente e dão bom fruto.
As Beiras Portuguesas, ensinaram-me que no inverno se deve afastar a terra de junto da cepa, e que mais tarde,  se deve a voltar a aproximar. Assim, o teor de humidade é o ideal, para que a raiz possa permanecer em todas as estações do ano , e dar bom fruto.
O bom podador faz milagres numa vinha. Deixemos que Deus nos pode,  limpando-nos de todo mal.
Portanto, recebendo a Palavra de Deus, a Boa Semente,  com uma nova Atitude de Conversão, com Fé, Alegria, Esperança, em Oração e Caridade, todo o nosso coração será de Deus um dia, e dará frutos do Reino! Todos os nossos corações serão um só, em Cristo Jesus.
Diac. José Luís Leão-2017

sábado, 22 de abril de 2017

São Paulo e a dimensão contemplativa da missão

 
Ao princípio parecia-lhe interessante. Ser água da montanha. Morar nas alturas, cantar naquele silêncio, onde só as águias faziam o ninho. A cada passo, elas vinham ter com a água beijavam-na com ternura e neste beijo matavam a sede.
Descia a encosta, despreocupada e feliz e cá em baixo, eram as pessoas que iam ter com ela. Tomavam-na nas mãos, matavam a sede, depois enchiam as bilhas e lá partiam rumo à aldeia. Ouvia-lhes os segredos, sabia das suas vidas e sentia-se da família delas.
Às vezes, eram os trabalhadores ao fim do dia que vinham ter com ela, lavavam as mãos e os pés, às vezes o rosto e partiam felizes com a sua frescura. E as crianças, no fim da escola, vinham brincar com ela, divertir-se e chapinar.
Ao princípio, a água sentia-se mesmo feliz.
Mas pouco a pouco deu em andar cabisbaixa sem gosto para viver naquelas fragas. Afinal, as águias tinham todo o espaço para voar enquanto ela andava sempre de rastos, sem asas para as alturas. As pessoas vinham à fonte, é verdade que a apreciavam e a mimavam, mas logo que enchiam a bilha, cada qual partia, a pensar mais na sua vida do que na água que levava. Mesmo os que vinham lavar os pés e as mãos olhavam mais para os pés e para as mãos do que para ela. Até as crianças se esqueciam dela logo que a sineta tocava para as aulas.
Era triste a vida de uma fonte na montanha. Até que um dia a água resolveu escrever uma carta a Deus a pedir-lhe para ser outra coisa. Estava cansada se de ser água para os outros, de não ter família sua, de não ter histórias para contar.
E todas as manhãs, ainda antes de sol nascer, a água olhava para o cimo da montanha ver se a resposta de Deus chegava. Como Deus parecia distante que não havia meio de responder à sua carta.
Até que um dia, reparou que as águias mal bebiam, como se tivessem medo de a magoar. E lá em baixo, na planície, as pessoas só enchiam meia bilha, como se receassem que a água não chegasse para todos. E as crianças, já não chapinavam nela e a gente grande regressava a casa com o suor do campo, sem ousar tocar-lhe.
Estava a água muito intrigada a pensar no porquê desta mudança, quando Deus se aproximou devagarinho e ficou-a olhá-la em silêncio. E a água viu o rosto de Deus reflectido nela! Trazia uma carta na mão. Era a resposta ao seu pedido. Vinha dizer-lhe adeus e rever-se nela pela última vez. “Sabes, tu, assim pura e transparente, eras o meu espelho. Eu precisava de ti para matar a sede às águias da montanha, dar de beber à aldeia, refrescar as pessoas cansadas do trabalho, divertir as crianças. Por teu intermédio, muitos se fizeram meus filhos. O meu Espírito não desceu sobre ninguém sem que primeiro não fosse purificado por ti. Nos meus tempos da Palestina, foi a única coisa que eu pedi para mim: um copo de água junto de um poço. Era um dia de muito sol e de muito cansaço, mas que matou a sede a uma cidade inteira.
A água estava deslumbrada com o que ouvia. Nunca se vira tão transparente e tão pura. E tão útil e fecunda. E quase sem o Senhor dar por ela, tirou-lhe a carta da mão e deitou-a ao ribeiro. E a carta lá partiu a cantar, toda feliz pelas fragas da montanha. E a água ficou-se a olhar para Deus, feliz por ser água da fonte.
Falar do mistério da missão em S. Paulo é penetrar numa fonte sempre a correr, em que nós mergulhamos e onde bebemos toda a pureza das terras altas.
1. A missão como mistério
A imagem que guardamos de S.Paulo é a de um missionário itinerante, sempre em viagem, infatigável, levando o Evangelho a todos os povos, cada vez mais distantes. Parece que lhe servia melhor a veste de guerreiro que o burel de místico. Mas a verdade é que o grande desafio que S.Paulo nos lança hoje, mais que a expansão do Evangelho é o da dimensão contemplativa da missão. Ele é sem dúvida o teólogo que mais penetrou no mistério da missão apesar das suas viagens constantes e da sua actividade  permanente , S.Paulo nunca viveu à superfície, foi sempre ao fundo das suas experiências e dos valores em que jogou a sua vida.
A carta aos Efésios é certamente a mais bela carta que ele escreveu;  nessa carta ele toma-nos pela mão e leva-nos quase de chofre à profundidade do mistério da missão:
A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo, e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas, para que agora, por meio da Igreja, seja dado a conhecer,  aos Principados e às Autoridades no alto do céu a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o desígnio eterno  que Ele realizou em Cristo  Jesus Senhor Nosso. É por isso que eu dobro  os joelhos, diante do Pai, do qual recebe  o nome toda a família nos céus e na terra, que ele vos conceda de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios da força  pelo seu Espírito,  para que se robusteça em vós o homem interior que Cristo pela fé, habite nos vossos corações, que estejais enraizados  e alicerçados no amor, para terdes a capacidade de apreender,  com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade…a capacidade de conhecer  o amor de Cristo que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus” ( Ef. 3, 8-20)
Este texto que Paulo escreveu no primeiro ano do seu cativeiro é um texto fundamental para a teologia da missão. A missão nasce no seio de Deus é preciso fazer essa viagem para chegarmos ao umbral da missão.
A palavra “mistério” com que S.Paulo identifica a missão, é uma das palavras mais densas de conteúdo de toda a Sagrada Escritura. O Novo testamento cita-a 25 vezes e os Manuscritos o do Mar Morto ensinam-nos que ela era corrente nas comunidades cristãs das origens.
S. Paulo fala constantemente desse mistério aos Efésios e explica-lhes que ele não é senão desígnio de Deus, o seu projecto de salvar todos os homens, por meio de seu Filho. “Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu o seu Filho”, é certamente a palavra mais bela de toda a Sagrada Escritura. È neste projecto de Deus que a missão tem a sua vertente mais profunda. Foi o Pai e não a Igreja que concebeu o plano de salvar todos os homens e de os pôr em comunhão com o Pai. A missão é terra e privilégio de Deus. “ Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que Deus , antes dos  séculos, de antemão destinou para nossa glória…Como está escrito, nem os olhos viram  nem os ouvidos ouviram, nem jamais penetrou  em coração humano, o que Deus tem preparado  para aqueles que o amam. Mas a nós Deus o revelou pelo seu Espírito” ( ! Cor 2, 6-9)
S.Paulo tem consciência de que ao anunciar o Evangelho não fazia por conta própria: “ Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com prestígio da linguagem ou da sabedoria para vos anunciar os mistérios de Deus. Julguei não dever saber outra coisa entre vós, a não ser Jesus Cristo este, Crucificado. Estive no meio de vós cheio de fraqueza, de receio e de grande temor. A minha palavra e a minha pregação nada tinham de argumentos persuasivos da sabedoria humana, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus “ ( 1 Cor  2, 1-5). È a maior confissão que Paulo faz da sua vocação apostólica.
Era frequente, antes do Vaticano II, fundamentar a missão no mandato de Cristo de anunciar o Evangelho a todos os povos. Ora o Ad Gentes, quase como eco da Lumen Gentium, faz remontar a missão à sua verdadeira fonte: a missão tem origem na Trindade de Deus. “
O contributo mais decisivo do Vaticano II  para a teologia da missão foi o ter situado a missão na sua verdadeira fonte: a missão nasce em Deus, é dom de Deus. A nossa colaboração missionária consiste apenas em nos deixarmos envolver por esse dom Anunciar o Reino é deixar transparecer este dom de Deus que nos foi confiado no dia do nosso Baptismo.
O missionário antes de se entregar aos homens que quer evangelizar, entrega-se a Deus que quer amar. Nós somos missionários na medida em que nos deixamos tocar pelo mistério de Deus. A planificação pastoral de Deus é sempre anterior e mais vasta que a nossa. Esse olhar apaixonado por Deus é fundamental para identificar e legitimar qualquer iniciativa missionária. È a nossa credencial. Só os santos e os profetas podem entrar na terra da missão.
Esta leitura contemplativa da missão faz com que ela seja uma amizade que se descobre pouco a pouco, à medida que nos abrimos a ela. Exige a entrega do coração para se revelar. De facto, em João, os discípulos em vez de serem chamados como nos sinópticos, são atraídos, seduzidos por Jesus e é aprofundando esta amizade que eles entram na missão: “Mestre, onde moras? Vinde e vede” È preciso entrar na sua casa para acolher o dom da missão. A missão não se impõe. Só o amor a pode motivar. O diálogo é o espaço privilegiado para Jesus comunicar o dom do Pai. No diálogo, Jesus acompanha as pessoas na sua própria descoberta e pede licença para entrar na história de cada um.
O homem é a primeira terra de missão, Da missão do Verbo, que todos os dias põe a sua mesa na nossa casa, com gestos que nós compreendemos, com sinais que fazem parte do nosso quotidiano: o pão e o vinho, a água e a luz, o amor e a festa, a dor e o trabalho, a ternura e a compaixão.
“Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, edificados sobre os alicerces dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. È nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor. È nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito”  ( Ef 2, 19-20)
2. Chaves de leitura da missão como contemplação 
2.1. A missão como louvor
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que do alto do céu nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos encolheu em Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença no amor. Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade, para que seja prestado louvor à glória da sua graça que gratuitamente derramou sobre nós no seu Filho bem amado. ( Ef. 1, 3-149
´´É pelo louvor que S.Paulo  nos introduz no coração da missão. Quase todas as suas cartas começam por uma confissão de louvor. Particularmente a Carta aos Efésios e a Carta aos Filipenses são dos textos mais belos de louvor e acção de graças de toda a Bíblia. O apóstolo confessa-se maravilhado por tudo o que Deus lhe revelou e por tudo o que a sua graça opera no meio do seu povo. Ser escolhido para anunciar o reino de Deus é uma graça tão grande que só a cantar se pode falar dela. Não sei se em alguma outra passagem, S.Paulo fala com tanto entusiasmo de Deus  como nesta introdução da Carta a aos Efésios. O louvor e a acção de graças, um coração radiante por essa novidade e por esta bênção de Deus que nos atinge no mais profundo do nosso ser , são de facto a primeira palavra do missionário. A palavra de um apaixonado. Não se pode separar o anúncio do louvor pois há coisas que só podem ser anunciadas a louvar e a bendizer, com o coração em festa.
A contemplação é a maneira mais profunda de conhecer a Deus: é um conhecimento que  não precisa da mediação dos nossos conceitos. Contemplar é estar diante de Deus como se está diante de uma flor ou diante do mar ou diante do amor. Todo o raciocínio afasta do mistério, fica à superfície. Se a contemplação é a maneira mais profunda de conhecer e “ver” a Deus, o louvor é a linguagem mais apropriada para o anunciar. Diante de uma flor não dizemos o que ela é mas o encanto que tem O louvor tem algo da eternidade de Deus: ele leva-nos `a manhã da criação onde a mão de Deus tocou o mundo dos homens. È esse toque de Deus que emerge quando o nosso coração mergulha nessa fonte. Não é por acaso que  o céu nos é apresentado através da imagem do canto e do louvor : "o céu  e a terra proclamam a vossa glória: hossana nas alturas!”
Não se pode ser porta-voz de Deus sem estar apaixonado por Ele. sem o calor e a alegria de um coração surpreendido e maravilhado pelo dom de Deus.
A carta aos Filipenses, é a carta da alegria da missão. Diz Amêdeo Brunot, que depois da majestade basilical da Carta aos  Romanos , na Carta aos  Filipenses temos a impressão  de entrar numa capela familiar, no cimo de um  monte, onde chega toda a alegria e toda a magia  da paisagem.
Depois de ter passado mais de meio século de vida, Paulo torna-nos confidentes da felicidade que sente por estar ao serviço do anúncio do Evangelho. Num tempo em que tantos se cansam e se desiludem neste ministério difícil do anúncio do Evangelho, esta carta é um estímulo para nos ajudar a descobrir da bênção dos pés que, pelos montes anunciam a paz, como canta o profeta. A carta aos Filipenses é uma das mais belas cartas  de S.Paulo. Foi escrita no cárcere ( 1, 14-17)  “No meio das minha tribulações, exulto de alegria”- grita o apóstolo. Toda a carta desde o princípio ao fim é um hino à alegria.
A “marca do Espírito Santo em nós, diz  S.Paulo , é  a nossa capacidade de louvar e bendizer . “Fostes marcados com o selo do Espírito Santo, o qual é penhor da nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para louvor da sua glória"  (Ef. 1, 13-14) O louvor é de facto a primeira palavra que o missionário deve aprender. Foi o primeiro anúncio dos apóstolos, no dia do Pentecostes: “Ouvimo-los narrar nas nossas línguas as maravilhas de Deus"
Recuperar a mística da missão é voltar ao cenáculo para acolher o dom do Espírito Santo, aprender a louvar e a bendizer, pois é  no cenáculo que nasce a missão.

2.2. A Missão como dom do Espírito Santo

“Saulo, meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em que vinhas, para recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo. Nesse instante, caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o Baptismo”  (Act 9, 17)
Tudo começou com este Baptismo em que o Espírito Santo marcou encontro com S.Paulo. É a presença deste Espírito que o levará a tocar a fímbria do mistério da missão "A nós, Deus revelou-nos o seu mistério por meio do seu Espírito. Pois o Espírito tudo penetra, até as profundidades de Deus". ( 1 Cor. 2, 10-13)
S.Paulo diz-nos que só o Espírito Santo pode penetrar nos segredos de Deus : é necessária a acção do Espírito Santo para transpor esse limiar. Esse limar é o limiar que nos abre para a missão. Acolhendo o Espírito Santo, o homem torna-se o confidente de Deus, o seu profeta, a voz de Deus na terra dos homens.
Paulo vai mais longe e diz mesmo o que nos distingue é a marca do Espírito Santo em nós. È o Espírito que nos marca com o seu selo e infunde no nosso coração a paixão pela missão. Sem ele, nós seríamos uns intrusos em terra alheia, “Fostes marcados com o selo do Espírito Santo, o qual é penhor da nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para a sua glória” ( Ef. 1, 13-14). Nós somos a carta que Deus escreveu aos homens para falar com eles. “ Porventura não é a Igreja criada pelos apóstolos a nossa carta de recomendação, escrita pelo Espírito em caracteres da nova Aliança não em tábuas de pedra mas no fundo dos nossos corações? ( 2 Cor. 3, 3) È  uma imagem muito bela: quando nós que anunciamos o Evangelho, somos uma carta que o Espírito Santo escreveu e o Pai envia aos homens. 
Esta actividade do Espírito no coração de Paulo  prolongar-se-á por toda a sua vida : ela é uma fonte onde todos os dias ele vai beber. No fim da sua carreira ele poderá dizer: “  Com certeza que ouvistes falar da graça de Deus  que me foi dada para vosso benefício afim de realizar o seu plano: que por revelação me foi dado conhecer o mistério tal como antes o descrevi resumidamente. Lendo-o podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo que não foi dado a conhecer aos filhos dos homens em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos, Apóstolos e Profetas, no Espírito” ( Ef. 3, 4-5).
Este é o ponto de partida da vocação missionária de todo o cristão: com o dom do Espírito Santo , que é derramado nos nossos corações pelo Baptismo, nós ficamos marcados com a assinatura, o selo do amor de Deus “ O amor de Deus  foi derramado nos nossos corações  pelo Espírito Santo que nos foi dado”.(Rom 5,5) È esta a senha  que nos  permite entrar na missão, ou seja, na terra de Deus . È a ultrapassagem desta fronteira que nos embarca na missão de Deus.
Esta presença do Espírito Santo na alma do Apóstolo não é uma página que se assinou ou uma credencial que levamos no bolso. Ela é um roteiro que vai à nossa frente a marcar o itinerário da missão que temos de percorrer.
Foi na comunidade de Antioquia, onde Paulo tinha passado um ano a evangelizar com Barnabé, que o Espírito Santo veio ter com a comunidade a indicar-lhe o itinerário de Paulo e Barnabé: “ Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: Separai Barnabé e Paulo para o trabalho a que os chamei”. Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir” ( Act 13, 2-4)
Foi o Espírito Santo que escolheu os pioneiros da evangelização da Ásia Menor. E o Espírito Santo partiu com eles para a terra da missão. De facto, pouco depois, quando Paulo encontrou na ilha de Chipre o mago Elymas, dizem os Actos dos  Apóstolo, Paulo dirige-se a ele “cheio do Espírito Santo”. Na segunda viagem o papel do Espírito Santo no itinerário da missão de Paulo, será ainda mais interventivo.  Com Silas, Paulo visita  de novo algumas cidades  que tinha encontrado na primeira viagem, nomeadamente Derbes e Listra, depois resolve ir para a “Ásia”, ou seja, para a região  de Éfeso, mas o Espírito  impede-o; vai então para o norte, a Frigia  e o país dos Gálatas , querem continuara viagem  para a Bitínia, mas o Espírito mais uma vez  não lho permite (Act 16, 4) .
Depois destas frustrações, Paulo não volta para trás mas continua a caminhar, a procurar. Então Paulo chega a Tróade. Tróade era uma localidade perto da antiga Tróia, celebrada pelos poetas. Era aí que o esperava o Macedónio. O Espírito queria que ele chegasse ao ponto donde pudesse ver esse macedónio que o chamava. A Macedónia ficava fora da Ásia Menor: era a primeira província romana na Europa. Era portanto uma cultura diferente da Ásia Menor: O macedónio era um apelo novo, o apelo de um mundo diferente e de uma nova cultura. Paulo tinha levado o cristianismo da cultura judaica para a cultura grega, agora tratava-se da passagem para a cultura romana  A voz do macedónio, mais que uma voz vinda de longe, é uma intuição interior, uma voz do Espírito dentro de nós. O apelo da missão sem fronteiras. Um apelo que só se chega a ouvir depois de muitas conversões e por vezes de muitas frustrações.
O macedónio representava uma cultura nova, a cultura europeia, que logo se anunciava de difícil evangelização. Era uma cultura que saberia defender-se, uma cultura superior. O macedónio de pé, na plenitude das suas forças e do seu orgulho, desafiava S.Paulo. Exactamente num momento em que tantos portais se fechavam e ele se sentia cansado e desanimado, de repente, surge-lhe um apelo para além de todos os seus projectos e de todas as suas forças, ele que até ali se limitara a andar de cidade em cidade por espaços do seu à vontade.
Podemos imaginar que e Paulo tenha de repente compreendido o sentido das suas frustrações e do seu entusiasmo sem resposta. O Senhor estava-o preparando e amadurecendo para um novo apelo, o apelo da Europa, ou seja, da missão sem fronteiras.
Os caminhos da missão estão muitas vezes ligados a intuições deste género: quando nós parecemos inúteis e estamos cansados pelas nossas frustrações, é então que o Senhor bate à nossa porta a dizer que precisa de nós.
E no final da sua peregrinação, Paulo é levado para Jerusalém conduzido “prisioneiro do Espírito”. Ele o confessa em Éfeso aos presbíteros de Mileto: “ Agora, obedecendo ao Espírito vou a Jerusalém, sem saber o que  lá me espera , só sei que de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa  que me aguardam cadeias e tribulações” ( Act 20, 22-23
Mas para lá desta viagem geográfica fala sobretudo de uma outra viagem: acompanhado do Espírito Santo: a viagem ao interior do mistério da missão. O Espírito Santo foi para ele  a mão que o levou  a penetrar no segredo da missão. Aos Gálatas S.Paulo confessa: “ Quando aprouve a Deus – que me segregou desde o seio de minha mãe  e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que eu o anuncie  como Evangelho entre os gentios ,  não fui  consultar  criatura humana alguma , nem subi a Jerusalém  para ir ter com os que  se haviam tornado apóstolos antes de mim “  È o Espírito Santo e que nos comunica a vida de Deus é o tema  de todo o capítulo oitavo da Carta aos Romanos. È o Espírito que nos faz filhos de Deus. A missão como filiação de Deus ou santidade é mergulhar na fonte da missão. “Aqueles que são filhos de Deus são conduzidos pelo Espírito de Deus; vós não recebestes um espírito  que vos faz escravos , mas um Espírito que faz de vós filhos adoptivos  pelo qual gritamos : Abba Pai. Este mesmo Espírito atesta  ao nosso espírito que somos filhos de Deus  e portanto herdeiros  de Deus e co-herdeiros de Cristo” ( Rom. 8, 14-17; Gal 4, 5-7).
O Vaticano II  consagrou a vocação de todos os cristãos à perfeição da santidade, ou seja, à perfeição do amor  e da comunhão com Deus.
Todos na Igreja, quer pertençam à hierarquia quer façam parte da grei, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação “ ( I res. 4, 3, Ef. 1, 4). A santidade deixou de ser monopólio dos ditos “estados de perfeição” ou dos santos em vias de canonização. A santidade na sua perfeição é a vocação de todo o cristão. Esta é verdadeiramente a “Jóia da Coroa” do Concílio. Ela mudou completamente o olhar sobre a vida cristã “Sede perfeitos como o vosso Pai do céu é perfeito” “ O Espírito Santo nos escolheu em Cristo, antes da criação do mundo, para sermos santos e sem defeito no amor “ ( Ef 1, 4)
È pois, bem claro, diz a Lúmen Gentium no nº 40,  que todos os fiéis , seja qual for o seu estado  ou classe, são chamados  à plenitude  da vida cristã e à perfeição da caridade, santidade esta que promove , mesmo na sociedade terrena, um teor de vida mais humano” ( LG  40) O que significa que todo o cristão é terra de missão.
No Baptismo, todos recebemos o Espírito Santo em plenitude, tanto o leigo, como o padre, o bispo ou o Papa. Todos são chamados à perfeição da santidade. Não se recebe o Espírito Santo, mais ou menos; a conta gotas, aos bocadinhos, por esmola.  O Espírito Santo entrega-se todo: Ele é o grande dom do Pai. Uma hóstia não está mais ou menos consagrada, Cristo não está mais numa partícula que noutra. Está todo em cada uma. Mas os efeitos da comunhão não são iguais em todos. O Espírito Santo está todo em cada cristão, como Cristo está todo em cada hóstia consagrada, seja ela grande ou pequena. Acolher o Espirito na sua plenitude é embarcar no projecto missionário do Pai.
Um dos mais belos hinos de S.Paulo é aquela viagem que Cristo faz do seio do Pai até à terra dos homens, conforme S.Paulo o explica aos Filipenses.
Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele que era de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e ao manifestar-se, sendo identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo , tornando-se  obediente até à morte  e morte da cruz. Por isso Deus O exaltou e O elevou acima de tudo “ ( Fil. 2, 5-11) Esta kenose leva-nos ao coração da missão. Acolher a missão do Pai é entregar-se a si mesmo, “descalçar-se”, perder as suas defesas, colocar-se em estado líquido, de pôr as armas,  sair de si, para se deixar acolher por outra terra onde o Espírito já se encontra e nos espera. Este despojamento é necessário para captar os caminhos do Espírito já presente nos espaços da missão. È Ele que precede o missionário e lhe indica os caminhos da missão. O missionário é assim o primeiro a ser evangelizado no seio daquele povo. O Espírito está presente não só na história que o missionário vai encontrar, mas também na cultura e até nas suas crenças religiosas, como também na sua vida quotidiana. È um despojamento que permite ao missionário discernir e descobrir um novo rosto de Cristo incarnado naquele povo, vivendo a  sua história e os seus valores. A missão é sobretudo ajudar o povo a fazer esta descoberta. È uma Kenose,  feita de disponibilidade total, de abertura ao outro, de escuta, de silêncio, de contemplação. A missão é mais paixão que acção. Trata-se de se deixar moldar pela missão que  se recebe, de se tornar permeável ao encontro com o outro. È isso que lhe permite ultrapassar todas as barreiras culturais e étnicas para poder acolher o dom do outro. 
 2.3.  A escuta orante da Palavra/  A Palavra confidência de Deus
Alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo , pelo seu Corpo que  é a Igreja.  Foi dela que eu me tornei servidor , segundo a missão que Deus me confiou para vosso benefício: levar à plena realização a Palavra de Deus, o mistério escondido  ao longo das gerações  e que agora Deus manifestou aos seu santos ( Col. 1. 24-25)"
No prólogo do seu evangelho, S.João situa o Verbo, a palavra de Deus, como fonte da missão. E leva-nos em peregrinação até essa fonte.  Cristo é o Verbo de Deus que desde o seio da eternidade, progressivamente vai entrando na história humana. Toda a realidade criada é fruto dessa Palavra incarnada. A missão aparece-nos na sua origem, abrangendo todo o universo, a começar pelo universo da criação. A Palavra penetra em toda a historia humana e em todas as realidades criadas, oferecendo-lhe a abundância e a plenitude dom de Deus. “Da sua plenitude, todos nós recebemos”. Este Logos de Deus abraça a história humana e faz-se parte integrante dessa história: “fez-se carne e habitou entre nós”.
Ao longo do Evangelho de João são numerosos os textos que falam da relação entre o Pai e o Filho; A missão do Filho é situada no interior da filiação divina. Ela comunica o mais profundo do mistério do Pai. A missão é da ordem da filiação; é dom da vida do Pai., como S.Paulo já o tinha dito. Esta filiação vai fecundar toda a história humana; João situa-a no mais profundo das aspirações do homem. Os símbolos do pão e da água, da luz e da vida, que identificam as mais profundas aspirações da pessoa, vai João identificá-las com o próprio Filho, enviado do Pai. “Eu sou o pão que mata toda a fome, a água viva que mata toda a sede, a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo, a ressurreição e a vida”. Assim, a missão, se por um lado está situada no coração da Trindade de Deus , por outro,   tem o seu termo no coração do homem. O Evangelho de João vai ao fundo dos símbolos através dos quais passa a teologia do Reino de Deus; é um Evangelho para ser contemplado, é uma missão para ser rezada.
S.Paulo confessa aos Coríntios: : “ A minha palavra e a minha pregação não se apoiam em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas numa manifestação do poder do Espírito, para que a vossa fé não esteja alicerçada na sabedoria humana, mas no poder de Deus  “ ( 1 Cor, 2, 4-5).
S.Paulo  utilizou todas as tecnologias de ponta da comunicação do seu tempo para o anúncio do Evangelho. Basta recordar as viagens e a mobilidade  que farão dele uma cátedra itinerante  que vai ao encontro das pessoas, as cartas que eram uma técnica  avançada de difícil  manejo que correspondia à nossa Internet, os areópagos e praças públicas a anunciarem os modernos meios audiovisuais, o diálogo  nas suas expressão de encontro com as culturas e com as religiões, etc.
Mas efectivamente elas são apenas um instrumento ao serviço da palavra. No segundo capítulo da 1ª Carta aos Coríntios ele afirma que “quando fui ter convosco não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deus. Julguei não saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo e este crucificado ( 1 Cor. 2,) ....Ensinamos a sabedoria de Deus, mistério que permanece oculto e que Deus antes dos séculos predestinou para nossa glória…. A nós , porém Deus o revelou  por meio do Espírito. Pois o Espírito tudo penetra até as profundidades de Deus …… Dos dons de Deus não falamos com palavras da sabedoria humana mas com as que o Espírito inspira"
A Palavra de Deus exige uma escuta  orante que nos conduz ao mistério da missão. Nós temos muito a tendência para derivarmos a nossa teologia para a devoção, para as palavras da sabedoria humana. A perda do contacto profundo com a Palavra de Deus continua a ser talvez o nosso maior handicap. .Já Zade  Smith, a escritora britânica  de origem oriental confessava ao Expresso: “Eu cresci numa família sem filiação religiosa. Quando se não tem um grande livro, é natural olhar para uma data de pequenos livros” Nós fizemos da nossa espiritualidade uma  espiritualidade de pequenos livros.
Como nos ensina Armindo Vaz ( A arte de ler a Bíblia, Ed Carmelo),  nos primeiros séculos da Igreja a espiritualidade cristã era bíblica. Depois, pouco a pouco, foi surgindo a necessidade de explicar a Bíblia e a explicação acabou por substituir a Bíblia. A Bíblia passou para as escolas: e assim começaram a distinguir-se a lectio divina e a lectio escolástica e dois modelos de teologia, a teologia monástica e a teologia escolástica. A teologia monástica era a teologia dos monges, um desenvolvimento da lectio divina, a partir da Sagrada Escritura a teologia escolástica era a teologia das universidades, a partir da filosofia, da disputatio Numa pontificava o Deus de Abraão, de Issac e  e de Jacob, o Deus da história da salvação,  e na outra o Deus dos  filósofos, de Aristóteles e Platão, o Deus das escolas....Para uns o que provava a existência de Deus era a história  da salvação, para outros era a filosofia, a via das cinco causas de que falava Aristóteles  e  que a Escolástica assumiu. Deus foi passando da Bíblia para o o foro da filosofia. Uma tinha a sua expressão na liturgia, a outra na escola, uma era de toda a comunidade, a outra dos peritos, uma voltada para a contemplação, a outra debruçada sobre a análise e o estudo, uma era  espiritual, afectiva, a outra intelectual e abstrata.
A partir do século XII a teologia escolástica começou a dominar a teologia bíblica: o livro a dominar sobre a Palavra. Foi o predomínio da erudição clerical sobre a mística. Desde então no Ocidente prevaleceu esse modelo teológico. E foi então que começou o desterro da Palavra na vida da Igreja e dos cristãos. A leitura bíblica foi dominada pela leitura dos argumentos dos exegetas. O povo afastado da Bíblia, voltou-se para os santos com quem se identificava: as catedrais da Idade Média com os seus vitrais, as suas procissões, os seus santos as suas iluminuras, tornaram-se a Bíblia do povo. Assim nasceu a espiritualidade devocional, santoral. O primado da palavra de Deus foi substituído pelas devoções .A devotio moderna, fundamentalmente subjectiva, acabou por se impor na Igreja. A espiritualidade divorciou-se da Bíblia.
A língua da Bíblia era o latim, a língua dos eruditos, dos filósofos e teólogos.. O Papa Inocêncio III em 1199 chegou a proibir a tradução da Bíblia para as línguas vulgares ou “romances” falada pelo povo: a Bíblia não devia ser acessível aos ignorantes, aos bárbaros. A exegese da Igreja foi substituída pela exegese da Sorbona a teologia de joelhos pela teologia da escola. A Bíblia tornou-se  fonte de heresias  e pretexto para muitas bíblias irem desaguar no Tribunal da Inquisição. Santa Teresinha do Menino Jesus nunca teve acesso a um texto integral do Antigo Testamento. Aquando da Reforma protestante os protestantes entrincheiraram-se  na Bíblia, os católicos refugiaram-se na Tradição e nos sacramentos. E como a Eucaristia incluía duas leituras da Escritura, bastava chegar ao Credo ou ao ofertório para a missa ser válida, pois as leituras bíblicas eram um elemento secundário da celebração eucarística.
De resto, elas eram em latim e ninguém as entendia. No ritual dos sacramentos deixou de haver espaço para palavra de Deus. Com o decorrer do tempo, a Igreja Católica, preocupada em defender a fé tradicional do povo, ameaçada por uma livre interpretação bíblica, deu prioridade à catequese das crianças. A Bíblia era o suporte do catecismo mas o seu acesso directo estava praticamente reservada ao clero. Como diz D.Marcelino “ O estudo da Sagrada Escritura foi deficiente, por haver mais preocupação com os problemas exegéticos que com a riqueza espiritual inesgotável da Palavra de Deus”.
Foi nesta espiritualidade que nós fomos educados e com ela ficamos marcados. È evidente que para penetrarmos no mistério da Missão temos que voltar à Palavra de Deus, como confidência da sua missão e do seu amor por todo o género humano. A Palavra  de Deus é a confidência do seu amor e dos seus caminhos no mundo dos homens . È uma palavra para se rezar. Ele leva-nos directamente ao mistério da missão.

 
Era uma vez uma boneca diferente de todas as outras. Há bonecas de plástico, como há bonecas de neve. Esta não era de neve nem de plástico era de sal.
O sal é um produto que existe sobretudo no mar. Por isso a água do amor é salgada.
Mas esta boneca de sal não era como as bonecas de neve que ficam paradas e mortas de frio no jardim. Esta era uma boneca viva, que sabia pensar e gostava de passear. Muitas vezes ouvira falar do mar e quando lhe falavam do mar, toda ela estremecia. Diziam-lhe que o mar era azul, imenso, cheio de ondas e gaivotas. E nem ela sabia porquê, um desejo irresistível de ver o mar se foi apoderando dela.: Esse desejo tornou-se ainda mais irresistível quando lhe disseram que ela tinha vindo do mar. o sal de que ela era feita era sal do mar.
E um belo dia, resolveu pôr-se a caminho, à procura do mar, que ela não conhecia .Encontrou um grande rio. Também ele era azul, mas não tinha ondas nem gaivotas. Não podia ser o mar.
Sentiu-se atraída por ele, mas algo lhe dizia que ele não podia ser o mar. Perguntou ao rio para onde é que ele ia e o rio disse-lhe que ia para o mar. Aí sim, estremeceu toda. E logo lhe pediu licença para o acompanhar até ao mar. O rio sabia onde ficava o mar e seria uma boa companhia para a viagem. E lá foi seguindo, sempre ao lado do rio, numa viagem que parecia não ter fim. Como o mar ficava longe!
Andou, andou até que chegaram a uma grande praia, cheia de areia e de sol. Lá adiante logo o reconheceu: era o mar. Lá estavam as ondas e as gaivotas. Azul como o céu, imenso como céu,  as ondas brancas logo lhe começaram a acenar e a fazer sinal. Sentiu-se reconhecida. Não havia dúvidas, era o seu mar. Todas a sondas cantavam e dançavam de alegria:
- Quem és tu? Perguntou como quem não desconfiava de nada
-Sou o mar! Responderam as ondas doidas de alegria.
- Como posso chegar a ti?
- Avança sem medo, toca-me.
Pequenina como era, tocar aquele mar imenso parecia-lhe um milagre. Mas algo lhe dizia que ela fazia parte daquele mar e daquele azul.
Timidamente meteu um pé na água. E experimentou uma sensação estranha, dolorosa e feliz ao mesmo tempo.
Pouco depois, ao voltar atrás para a areia seca da praia, sobressaltada, deu-se conta de que os dedos dos pés que tinham tocado na água, tinham desaparecido. O mar tinha-os derretido.
E de repente, ficou com medo do mar: ter-se-ia enganado? Mas algo lhe dizia para experimentar de novo. Era uma atracção quase irresistível. E a boneca voltou a tocar na água. E então sentiu que primeiro os pés, depois, as pernas, depois o corpo todo ia desaparecendo no mar, ma suma felicidade imensa a invadia toda E foi avançando lentamente até que todo os eu corpo se transformou em mar.
Na praia brincavam algumas crianças. Uma delas gritou:
- Ò mar, quem és tu?
Então a boneca de sal, toda feita mar, gritou com todas as ondas: - O mar sou eu!
 
É uma parábola de Pedro Gaivota que eu aplicaria ao mistério da missão Em cada um de nós existe essa saudade  que vem das fontes da nossa fé. Nós somos filhos o Mar. Deus  é a fonte onde nasce a nossa vocação missionária. Para ser missionário é preciso que a nossa a imagem, o boneco que nós somos, se transforme naquele que lhe deu o ser. A nossa história pequenina faz parte de um amor tão imenso como o amor do Pai do céu: nós somos feitos para o mar.
Retirado do Site dos Franciscanos Capuchinhos em 18.04.2017.