domingo, 27 de dezembro de 2020

Wake up the world - (Rejoice Cover)


"Acorda, acorda o mundo e canta Aleluia! A alegria de Deus é a nossa força, Aleluia! Alegria na Terra e no Céu! Senhor Jesus, vem!"

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

SINAL ADMIRÁVEL


"O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele."

Texto: extrato de texto retirado CARTA APOSTÓLICA "ADMIRABILE SIGNUM" DO SANTO    PADRE FRANCISCO SOBRE O SIGNIFICADO E VALOR DO PRESÉPIO;

Imagem: Retirada da google imagens-"Greccio e o primeiro Presépio de São Francisco de Assis";

Tu tens um lugar  único no "Presépio" de Deus, no "Presépio" da Vida. Um Santo Natal e Feliz Ano Novo 2021! São os votos do blog catequese missionária.

Padre Nuno Branco desenha e descreve um presépio onde nada destoa






domingo, 20 de dezembro de 2020

A oração de intercessão- Catequese do Papa Francisco


Catequese - 19. A oração de intercessão

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Quem reza nunca deixa o mundo para trás. Se a oração não recolhe as alegrias e tristezas, as esperanças e angústias da humanidade, torna-se uma atividade “decorativa”, uma atitude superficial, teatral, uma atitude intimista. Todos precisamos de interioridade: de nos retirarmos para um espaço e um tempo dedicados ao nosso relacionamento com Deus. Mas isto não significa fugir à realidade. Na oração, Deus “toma-nos, abençoa-nos, e depois reparte-nos e oferece-nos”, pela fome de todos. Cada cristão é chamado a tornar-se, nas mãos de Deus, pão repartido e partilhado. Isto é, uma oração concreta, que não seja uma fuga.

Assim, homens e mulheres de oração procuram a solidão e o silêncio, não para não serem incomodados, mas para ouvir melhor a voz de Deus. Por vezes retiram-se do mundo, na intimidade do seu quarto, como Jesus recomendava (cf. Mt 6, 6), mas onde quer que estejam, mantêm sempre a porta do seu coração  aberta: uma porta aberta para aqueles que rezam sem saber que estão a rezar; para aqueles que não rezam minimamente mas trazem dentro de si um grito abafado, uma invocação oculta; para aqueles que cometeram um erro e perderam o rumo... Qualquer pessoa pode bater à porta de um orante e encontrar nele ou nela um coração compassivo, que reza sem excluir ninguém. A oração é o nosso coração e a nossa voz, e faz-se coração e voz de muitas pessoas que não sabem rezar ou não rezam, ou não querem rezar ou estão impossibilitadas de o fazer: somos o coração e a voz destas pessoas, que se elevam até Jesus, ao Pai, somos intercessores. Na solidão quem ora – quer na solidão de muito tempo quer na solidão de meia hora – separa-se de tudo e de todos para encontrar tudo e todos em Deus. Assim o orante reza pelo mundo inteiro, carregando sobre os ombros as suas dores e os seus pecados. Reza por todos e por cada pessoa: é como se ele fosse a “antena” de Deus neste mundo. Em cada pobre que bate à porta, em cada pessoa que perdeu o sentido das coisas, aquele que reza vê o rosto de Cristo.

Catecismo escreve: «Interceder, pedir a favor de outrem, é próprio,  [...] dum coração conforme com a misericórdia de Deus» (n. 2635). Isto é belíssimo. Quando rezamos estamos em sintonia com a misericórdia de Deus: misericórdia em relação aos nossos pecados - que é misericordioso connosco - mas também misericórdia para com quantos pediram para rezar por eles, pelos quais queremos rezar em sintonia com o coração de Deus. Esta é a verdadeira oração. Em sintonia com a misericórdia de Deus, aquele coração misericordioso. «No tempo da Igreja, a intercessão cristã participa na de Cristo: é a expressão da comunhão dos santos» (ibid.). O que significa  participar na intercessão de Cristo, quando intercedo por alguém ou rezo por alguém? Porque Cristo diante do Pai é intercessor, reza por nós, e ora mostrando ao Pai as chagas das suas mãos; porque Jesus fisicamente, com o seu corpo está perante o Pai. Jesus é o nosso intercessor, e rezar é fazer um pouco como Jesus: interceder em Jesus junto do Pai, pelos outros. E isto é muito bom.

A oração preocupa-se pelo homem. Simplesmente pelo homem. Aquele que não ama o irmão não reza seriamente. Pode-se dizer: em espírito de ódio não se pode rezar; em espírito de indiferença não se pode rezar. A oração só se dá em espírito de amor. Quem não ama finge que reza, ou pensa que reza, mas não reza, pois falta precisamente o espírito que é o amor.  Na Igreja, aquele que conhece a tristeza ou a alegria do outro vai mais a fundo do que aquele que investiga os “sistemas máximos”. É por isso que existe uma experiência do humano em cada oração, porque as pessoas, por muitos  erros que possam cometer, nunca devem ser rejeitadas nem descartadas.

Quando um crente, movido pelo Espírito Santo, reza pelos pecadores, não faz seleções, não emite juízos de condenação: reza por todos. E também reza por si. Nesse momento, ele sabe que nem sequer é muito diferente das pessoas por quem reza: sente-se pecador, entre os pecadores, e reza por todos. A lição da parábola do fariseu e do publicano é sempre viva e atual (cf. Lc 18, 9-14): não somos melhores do que qualquer outra pessoa, somos todos irmãos numa afinidade de fragilidade, de sofrimento e de pecado. Portanto, uma oração que podemos dirigir a Deus é esta: Senhor, nenhum vivente é justo na vossa presença (cf. Sl 143, 2) – assim diz o salmo: Senhor, nenhum vivente é justo na vossa presença, nenhum de nós: somos todos pecadores - somos todos devedores que têm contas a ajustar; não há ninguém que seja impecável aos teus olhos. Senhor tem piedade de nós. E com este espírito a oração é fecunda, pois vamos com humildade diante de Deus rezar por todos. Ao contrário, o fariseu rezava de maneira soberba: “Dou-te graças, Senhor, porque não sou como os pecadores; sou justo, faço sempre…”. Esta não é oração: é olhar-se no espelho, para a própria realidade, olhar-se no espelho maquilhado pela soberba.

O mundo avança graças a esta cadeia de orantes que intercedem, e que na sua maioria são desconhecidos... mas não a Deus! Há muitos cristãos desconhecidos que, em tempos de perseguição, puderam repetir as palavras de nosso Senhor: «Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).

O bom pastor permanece fiel mesmo perante a constatação do pecado do  próprio povo: o bom pastor continua a ser pai mesmo quando os filhos se afastam e o abandonam. Persevera no serviço de pastor até perante aqueles que o levam a sujar as mãos; não fecha o coração a quem talvez o tenha feito sofrer.

A Igreja, em todos os seus membros, tem a missão de praticar a oração de intercessão, intercede pelos outros. Em particular, é dever de todos aqueles que desempenham um papel de responsabilidade: pais, educadores, ministros ordenados, superiores de comunidades... Tal como Abraão e Moisés, devem por vezes “defender” perante Deus as pessoas que lhes foram confiadas. Na realidade, trata-se de olhar para elas com os olhos e o coração de Deus, com a sua mesma invencível compaixão e ternura.  Rezar com ternura pelos outros.

Irmãos e irmãs, somos todos folhas da mesma árvore: cada desprendimento lembra-nos a grande piedade  que devemos  nutrir, na oração, uns pelos outros. Rezemos uns pelos outros: far-nos-á bem e fará bem a todos. Obrigado!


Saudações:

Dirijo uma cordial saudação aos fiéis de língua portuguesa. Queridos irmãos, a oração durante o tempo do Advento nos ajuda a lembrar que não somos mais justos e melhores do que os outros, mas somos todos pecadores necessitados de ser tocados pela misericórdia de Deus. Sobre cada um de vós desça a benção do Senhor.


 

Resumo da catequese do Santo Padre:

A oração não leva o cristão a esquecer-se do mundo, antes pelo contrário, o leva a abraçar as alegrias e dores, esperanças e angústias da humanidade. De fato, embora muitos busquem o silêncio e a solidão para a sua oração, não o fazem por razões intimistas ou para fugir da realidade, mas para escutar melhor a voz de Deus que chama cada cristão a se oferecer aos outros, como pão partido e partilhado. A oração faz com que os nossos corações sejam mais compassivos e atentos às necessidades dos outros, sem excluir ninguém: intercede por todos e cada um, convertendo-se numa espécie de antena de Deus neste mundo. Muitas vezes o Espírito Santo inspira o fiel a interceder pelos pecadores – “defendendo-os” diante de Deus, como fizeram Abraão e Moisés, sabendo reconhecer-se ele também um pecador necessitado de oração. Em suma, a oração permite ver o rosto de Cristo nos outros e aprender a vê-los com os olhos de Deus, com a Sua inesgotável compaixão e ternura.

Texto e Imagem: retirados do  site do Vaticano em 20.12.2020.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

A bênção -Catequese do Papa Francisco

 


Catequese -17. bênção

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje refletimos sobre uma dimensão essencial da oração: a bênção. Continuemos as reflexões sobre a oração. Nas narrações da criação (cf. Gn 1-2) Deus abençoa continuamente a vida, sempre. Abençoa os animais (1, 22), abençoa o homem e a  mulher (1, 28), e no final abençoa o sábado, dia de descanso e de fruição de toda a criação (2, 3). É Deus quem abençoa.  Nas primeiras páginas da Bíblia, é uma repetição contínua de bênçãos. Deus abençoa, mas também os homens abençoam, e depressa descobre-se que a bênção possui uma força especial, que acompanha o destinatário ao longo da vida e dispõe o coração humano a deixar-se mudar por Deus (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Sacrosanctum concilium, 61).

Portanto, no início do mundo há Deus que “bendiz”, abençoa, bendiz. Ele vê que cada obra das suas mãos é boa e bela, e quando chega ao homem e se cumpre a criação, Ele reconhece que é «muito boa» (Gn 1, 31). Pouco tempo depois, aquela beleza que Deus imprimiu na sua obra será alterada e o ser humano tornar-se-á uma criatura degenerada, capaz de difundir o mal e a morte no mundo; mas jamais  nada poderá  apagar a primeira marca de Deus, uma marca de bondade que Deus colocou no mundo, na natureza humana, em todos nós: a capacidade de abençoar e o facto de sermos abençoados. Deus não errou com a criação, nem com a criação do homem. A esperança do mundo reside completamente na bênção de Deus: Ele continua a amar-nos, Ele primeiro, como diz o poeta Péguy, (Le porche du mystère de la deuxième vertu, 1ª ed. 1911. Ed. Port., Os portais do mistério da segunda virtude, Edições Paulinas, Portugal [2014]) continua a esperar o nosso bem.

A grande bênção de Deus é Jesus Cristo, é o grande dom de Deus, o seu Filho. É uma bênção para toda a humanidade, é uma bênção que nos salvou a todos. Ele é a Palavra eterna com a qual o Pai nos abençoou, «quando éramos ainda pecadores» (Rm 5, 8) diz São Paulo: Palavra que se fez carne e foi oferecida por nós na cruz.

São Paulo proclama com comoção o desígnio de amor de Deus e diz assim: «Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante dos seus olhos. No seu amor predestinou-nos para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por Ele no Amado» (Ef 1, 3-6). Não há pecado que possa cancelar completamente a imagem de Cristo presente em cada um de nós. Nenhum pecado pode cancelar aquela imagem que Deus nos concedeu. A imagem de Cristo.  Pode desfigurá-la, mas não a pode subtrair à misericórdia de Deus. Um pecador pode permanecer nos seus erros por muito tempo, mas Deus é paciente até ao fim, esperando que no final aquele coração se abra e mude. Deus é como um bom pai e como uma boa mãe, também Ele é uma boa mãe: nunca deixam de amar o seu filho, por mais que ele possa errar, sempre. Faz-me lembrar as muitas vezes que vi pessoas na fila para entrar na prisão. Tantas mães que esperam na fila para entrar e ver o seu filho na prisão: não deixam de amar o seu filho e sabem que as pessoas que passam no autocarro pensam “Ah, esta é a mãe do prisioneiro”. Contudo, não sentem vergonha, ou melhor, sentem vergonha, mas ficam ali, pois o filho é mais importante do que a vergonha. Portanto, somos mais importantes para Deus do que todos os pecados que podemos cometer, porque Ele é pai, Ele é mãe, Ele é puro amor, Ele abençoou-nos para sempre. E Ele nunca deixará de nos abençoar.

Uma forte experiência é ler estes textos bíblicos de bênção numa prisão, ou numa comunidade de recuperação. Fazer com que as pessoas que permanecem abençoadas apesar dos seus graves erros, sintam que o Pai celeste continua a amá-las e espera que elas finalmente se abram ao bem. Se até os seus parentes mais próximos os abandonaram porque agora são considerados irrecuperáveis, para Deus continuam a ser sempre filhos. Deus não pode cancelar em nós a imagem de filho, cada um de nós é filho, é filha.  Às vezes acontecem milagres: homens e mulheres renascem. Porque encontram a bênção que os unge como filhos. Pois a graça de Deus muda a vida: aceita-nos como somos, mas nunca nos deixa como somos.

Pensemos no que Jesus fez com Zaqueu (cf. Lc 19, 1-10), por exemplo. Todos viam nele o mal; ao contrário, Jesus vê nele um vislumbre de bem, e dali, da sua curiosidade em ver Jesus, faz passar a misericórdia que salva. Assim, mudou primeiro o coração e depois a vida de Zaqueu. Nas pessoas menosprezadas e rejeitadas, Jesus via a bênção indelével do Pai. Zaqueu é um pecador público, ele praticou muitas ações  más, mas Jesus via aquele sinal indelével da bênção do Pai e por isso teve compaixão. Aquela frase que se repete tanto no Evangelho, “teve compaixão”, e aquela  compaixão leva Jesus a ajudá-lo e a mudar o seu coração. Mais ainda, chegou a identificar-se com cada pessoa em necessidade (cf. Mt 25, 31-46). No trecho do “protocolo” final sobre o qual seremos todos julgados, Mateus 25, Jesus diz: “Tive fome, estava nu, estava na prisão, estava no hospital, estava ali...”. 

A Deus que abençoa, nós também respondemos abençoando: -  Deus ensinou-nos a abençoar e nós devemos abençoar - é a oração de louvor, de adoração, de ação de graças. O Catecismo escreve: «A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoao coração do homem pode responder, bendizendo Aquele que é a fonte de toda a bênção» (n. 2626). A oração é alegria e gratidão. Deus não esperou que nos convertêssemos para começar a amar-nos, mas fê-lo muito antes, quando ainda estávamos no pecado.

Não  podemos só abençoar este Deus que nos abençoa, devemos abençoar tudo n'Ele, todo o povo, abençoar Deus e abençoar os irmãos, abençoar o mundo: esta é a raiz da mansidão cristã, a capacidade de se sentir abençoado e a capacidade de abençoar. Se todos fizéssemos isto, certamente não haveria guerras. Este mundo precisa de bênção e nós podemos dar a bênção e receber a bênção. O Pai ama-nos. E tudo o que nos resta é a alegria de o abençoar e a alegria de lhe agradecer, e de aprender com Ele a não amaldiçoar, mas a abençoar. E aqui apenas uma palavra para as pessoas que estão habituadas a amaldiçoar, as pessoas que têm sempre na boca, até no coração, uma palavra negativa, uma maldição. Cada um de nós pode pensar: tenho o hábito de amaldiçoar desta maneira? E peçamos ao Senhor a graça de mudar este hábito porque temos um coração abençoado e de um coração abençoado a maldição não pode sair. Que o Senhor nos ensine a nunca amaldiçoar, mas a abençoar.


Saudações:

Queridos ouvintes de língua portuguesa, saúdo-vos cordialmente, desejando-vos aquela misericórdia imensa e inesgotável que o Pai nos deu com o seu Filho feito Menino. Possam os vossos corações e as vossas famílias alegrar-se com a presença deste Deus feito Homem, a exemplo da Virgem Mãe que O concebeu por obra do Espírito Santo! A todos, bom Advento!


Apelo

Gostaria de vos assegurar as minhas orações pela Nigéria, infelizmente ensanguentada de novo por um massacre terrorista. No sábado passado, no nordeste do país, mais de uma centena de camponeses foram brutalmente assassinados. Que Deus os receba na Sua paz e conforte as suas famílias e converta os corações daqueles que cometem tais horrores, ofendem gravemente o Seu nome.

Hoje é o quadragésimo aniversário da morte de quatro missionários norte-americanos mortos em El Salvador: as irmãs de Maryknoll, Ita Ford e Maura Clarke, a religiosa Ursulina Dorothy Kazel e a voluntária Jean Donovan. A 2 de dezembro de 1980, foram raptadas, violadas e assassinadas por um grupo de paramilitares. Estavam a servir em El Salvador no contexto da guerra civil. Com empenho evangélico e correndo grandes riscos, levavam comida e medicamentos às pessoas deslocadas e ajudavam as famílias mais pobres. Estas mulheres viveram a sua fé com grande generosidade. São um exemplo para que todos se tornem  fiéis discípulos missionários.



Resumo da catequese do Santo Padre:

A bênção é uma dimensão essencial da oração. Ao Senhor que nos abençoa, respondemos bendizendo-O por nos ter abençoado e pela bênção recebida. Nas primeiras páginas da Bíblia, aparece Deus ocupado na criação: à sua palavra, surgem o universo e os seres que o embelezam e povoam. Depois, contemplando a sua obra, «viu que era boa (…), muito boa». O Senhor alegra-Se nela e «diz bem» dela. Deus bendiz e abençoa, sendo esta bênção dotada duma força particular que acompanha e configura toda a vida do ser que a recebe. E mesmo que tal bênção pareça estiolar, como sucedeu com o ser humano ao degenerar no pecado, nada poderá apagar aquela primeira marca de bondade recebida de Deus. Por isso, toda a esperança do mundo está posta nesta bênção imutável de Deus. Por exemplo, um ser humano pode permanecer nos seus erros por muito tempo, mas Deus continua pacientemente a esperar que aquele coração mude e retorne à sua bondade primordial. Mas Ele não Se limitou a esperar; «quando éramos ainda pecadores» (Rm 5, 8), recebemos do Céu a maior bênção do Pai: o seu Filho, que Se fez carne e por nós morreu na cruz. «Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que (…) nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo». Está aqui a explicação dos milagres sem conta de homens e mulheres que vemos renascer. Eram incapazes, sozinhos, de retornar à bênção primordial, mas envolveu-os a graça de Cristo que os tornou «santos e irrepreensíveis em caridade na sua presença». É verdade! Ele toma-nos como somos, mas nunca nos deixa como estávamos.

Texto e Imagem: retirados do  site do Vaticano em 02.12.2020

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020

 


MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO

PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020

[18 de outubro de 2020]

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8)

Queridos irmãos e irmãs!

Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».

Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.

No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são, inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.

Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que, nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e lugar.

A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.

A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10, 1-11).

Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.

A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a amparar-nos e a interceder por nós.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.

Francisco


Texto-Retirado do Site do Vaticano/ Imagem-retirada da "Google imagens"/07.10.2020

sábado, 5 de setembro de 2020

A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja

"Introdução

1. A reflexão eclesiológica do Concílio Vaticano II e as notáveis transformações sociais e culturais dos últimos decênios induziram diversas Igrejas particulares a reorganizar a forma de confiar o cuidado pastoral das comunidades paroquiais. Isto consentiu de iniciar novas experiências, valorizando a dimensão da comunhão e atuando, sob a orientação dos Pastores, uma síntese harmônica de carismas e vocações a serviço do anúncio do Evangelho, que melhor corresponda às hodiernas exigências da evangelização.

Papa Francisco, no início do seu ministério, recordou a importância da “criatividade”, que significa «procurar novas estradas», ou seja, «procurar a estrada para que o Evangelho seja anunciado»; a tal propósito, concluiu o Santo Padre, «a Igreja, também o Código de Direito Canônico nos dá tantas, tantas possibilidades, tanta liberdade para procurar estas coisas»[1].

2. As situações descritas na presente Instrução representam uma preciosa ocasião para a conversão pastoral no sentido missionário. São, de fato, convites às comunidades paroquiais a sair de si mesmas, oferecendo instrumentos para uma reforma, também estrutural, orientada a um estilo de comunhão e de colaboração, de encontro e de proximidade, de misericórdia e de solicitude para o anúncio do Evangelho.

I. A conversão pastoral

3. A conversão pastoral é um dos temas fundamentais na “nova etapa da evangelização”[2] que a Igreja é chamada hoje a promover, para que as comunidades cristãs tornem-se cada vez mais centros propulsores do encontro com Cristo.

Por isto, o Santo Padre sugeriu: «Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6, 37)»[3].

4. Motivada por esta santa inquietude, a Igreja, «fiel à própria tradição e, ao mesmo tempo, consciente da sua missão universal, é capaz de entrar em comunicação com as diversas formas de cultura, com o que se enriquecem tanto a própria Igreja como essas várias culturas»[4]. De fato, o encontro fecundo e criativo entre o Evangelho e a cultura conduz a um progresso verdadeiro: de um lado, a Palavra de Deus se encarna na história dos homens renovando-a; de outro lado, «a Igreja […] pode também ser enriquecida, e de fato o é, com a evolução da vida social»[5], de modo a aprofundar a missão que lhe confiada por Cristo, para melhor expressá-la no tempo em que se vive.

5. A Igreja anuncia que o Verbo «se fez carne e veio habitar em nosso meio» (Jo 1, 14). Esta Palavra de Deus, que ama habitar entre os homens, na sua inesgotável riqueza[6] foi acolhida no mundo inteiro por povos diversos, promovendo suas aspirações mais nobres, incluindo o desejo de Deus, a dignidade da vida de cada pessoa, a igualdade entre os homens e o respeito pelas diferenças na única família humana, o diálogo como instrumento de participação, anseio pela paz, o acolhimento como expressão de fraternidade e solidariedade, a tutela responsável do criado[7].

Não é pensável, então, que uma tal novidade, cuja difusão até os confins do mundo ainda está inacabado, desapareça ou, pior, se dissolva[8]. Para continuar o percurso da Palavra, é necessário que nas comunidades cristãs se atue uma decisiva escolha missionária, «capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação»[9]. (...)"

Leia o documento na íntegra no Site do Vaticano! Vale mesmo a pena!   

Link, para ver a totalidade do documento no Site do Vaticano:

http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2020/07/20/0391/00886.html#port

Texto: Extrato de texto retirado do Site do Vaticano em 05.09.2020. [Documento da Igreja Católica, da Congregação para o Clero, aprovado pelo Papa Francisco no dia 27 de Junho de 2020].

Imagem: Retirada da "Google imagens", em 05.09.2020.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Catequese: Novo Diretório projeta contemporaneidade do Evangelho


Documento assenta novo modelo de formação e comunicação na cultura digital, na globalização da transmissão da fé e na atenção ao mundo e ao outro, em particular às pessoas portadoras de deficiência.

O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que desde 2013, por decisão de Bento XVI, assumiu entre as suas competências o setor da Catequese, apresentou esta quinta-feira o novo Diretório de Catequese.

O documento, que sucede ao “Diretório Catequético Geral” de 1971 e ao “Diretório Geral de Catequese” de 1997, foi aprovado pelo Papa Francisco a 23 de março de 2020, memorial litúrgico de San Turibio di Mogrovejo que, no século XVI, deu forte impulso à evangelização e catequese.

Ao longo de 428 pontos, a cultura digital, globalização da fé, a renovação das linguagens, a inclusão social e a atenção às questões sociais, ecológicas, culturais e espirituais são alguns dos pontos chave do novo documento.

O portal Vatican News apresenta um resumo, que aqui replicamos, dos pontos essenciais do novo diretório que irá orientar a ação catequética nas comunidades católicas.

Em Portugal o novo documento orientador da Catequese vai ser editado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã, com apresentação da obra nas Jornadas Nacionais de Catequistas.

Novo diretório de catequese: atualizando o evangelho

A peculiaridade do novo Diretório é o estreito vínculo entre evangelização e catequese, que sublinha a união entre o primeiro anúncio e o amadurecimento da fé, à luz da cultura do encontro. Essa peculiaridade – explica o documento – é mais necessária diante de dois desafios que a Igreja enfrenta no tempo atual: a cultura digital e a globalização da cultura. Em mais de 300 páginas, divididas em 3 partes e 12 capítulos, o texto lembra que toda a pessoa batizada é um discípulo missionário e que esforços e responsabilidades são urgentemente necessários para encontrar novas linguagens com as quais comunicar a fé.

Três princípios básicos pelos quais podemos agir: testemunho, porque “a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”; misericórdia, catequese autêntica que torna credível a proclamação da fé; e o diálogo, o livre e gratuito, que não obriga, mas que, partindo do amor, contribui para a paz. Dessa maneira – explica o Diretório -, a catequese ajuda os cristãos a dar pleno sentido à sua existência.

A formação dos catequistas

Na sua primeira parte, intitulada “Catequese na missão evangelizadora da Igreja”, o texto foca, em particular, a formação dos catequistas: para serem testemunhas credíveis da fé, eles devem “ser catequistas antes de serem catequistas” e, portanto, devem trabalhar com gratuidade, dedicação, coerência, segundo uma espiritualidade missionária que os afasta do “esforço pastoral estéril” e do individualismo. Professores, educadores, testemunhas, catequistas devem acompanhar a liberdade dos outros com humildade e respeito. Ao mesmo tempo, será necessário “estar vigilante para garantir que todas as pessoas, especialmente menores e pessoas vulneráveis, garantam proteção absoluta contra qualquer forma de abuso”. Os catequistas também são convidados a adotar um “estilo de comunhão” e a serem criativos no uso de ferramentas e linguagens.

A linguagem da catequese: narração, arte, música

O desafio da linguagem está presente, em particular, na segunda parte do Diretório, intitulada “O processo de catequese”. Numerosas modalidades expressivas mencionadas, a partir da narração, definiram como “um modelo comunicativo profundo e eficaz”, pois são capazes de entrelaçar, de maneira frutífera, a história de Jesus, a fé e a vida dos homens. Como exemplo, a arte é importante, pois, através da contemplação da beleza, permite que se experimente o encontro com Deus, enquanto a música, especialmente a música sacra, impregna no espírito humano o desejo pelo infinito.

Catequese na vida das pessoas: a importância da família

Mas é quando a catequese se torna concreta na vida das pessoas que emerge claramente a importância da família: um sujeito ativo de evangelização e um lugar natural para viver a fé de maneira simples e espontânea. Oferece, de facto, uma educação cristã “mais testemunhada que o ensino”, através de um estilo humilde e compassivo. Diante de situações irregulares e de novos cenários familiares presentes na sociedade contemporânea, nos quais há um esvaziamento do significado transcendente da família, a Igreja pede que se acompanhe na fé com proximidade, escuta e compreensão, na ótica da preocupação, respeito e solicitude, para restaurar a confiança e a esperança para todos e superar a solidão e a discriminação. A catequese também será projetada de acordo com as faixas etárias dos seus destinatários: crianças, jovens, adultos e idosos. Mas, embora diversificada em idiomas, deve ter um estilo único: o de acompanhamento, que torna testemunhas catequistas credíveis, convictos e envolventes, discretos mas presentes, capazes de aprimorar as qualidades de cada fiel e fazê-lo sentir-se bem-vindo e reconhecido dentro da comunidade cristã. 

“Cultura de inclusão” e acolhimento de deficientes e migrantes

Hospitalidade e reconhecimento são as palavras-chave que devem acompanhar também a catequese para os deficientes: diante do constrangimento e do medo que podem despertar porque lembram a dor e a morte, será importante responder com uma “cultura de inclusão” que vença a “cultura do descarte”. As pessoas com deficiência são, de facto, testemunhas das verdades essenciais da vida humana, como vulnerabilidade e fragilidade, devendo, portanto, ser aceites como um grande presente, enquanto as suas famílias merecem “respeito e admiração”. Outra categoria específica mencionada pelo Diretório é a dos migrantes que, longe da sua terra natal, podem sofrer uma crise de fé: para eles também, a catequese terá que se concentrar em hospitalidade, confiança e solidariedade, para que sejam apoiados na luta contra preconceitos e perigos sérios que possam incorrer, como o tráfico de seres humanos.

A prisão, “autêntica terra missionária”, e a opção preferencial pelos pobres

O documento olha para as prisões como uma “autêntica terra missionária”: para os presos, a catequese será o anúncio da salvação em Cristo, perdão e libertação, juntamente com uma escuta atenta que mostra o rosto materno da Igreja. Entre as categorias mais marginalizadas, a Igreja não esquece os pobres: a opção preferencial em relação a eles também é a “atenção espiritual” – pergunta o Diretório – lembrando o primado da caridade e a importância de um dinamismo missionário que, em reunião com o mais necessitado, faça o encontro com Cristo.

“A Igreja também – recomenda o texto – é chamada a viver a pobreza como abandono total a Deus, sem confiar nos meios mundanos”. Nesse contexto, a catequese deve educar a pobreza evangélica, promover a cultura da fraternidade e incentivar os fiéis a se indignarem com situações de miséria e injustiça. Além disso, perto do Dia Mundial dos Pobres, a reflexão catequética deve ser acompanhada de “um compromisso concreto e direto, com sinais tangíveis de atenção aos pobres e marginalizados”.

Paróquias, associações e escolas católicas

Na terceira parte, dedicada à “catequese na Igreja particular”, emerge sobretudo o papel das paróquias, associações, movimentos eclesiais e escolas católicas. No primeiro, definido como “exemplo de apostolado comunitário”, destaca-se a “plasticidade” que os torna capazes de uma catequese criativa, “em escuta” e “em saída” em relação às experiências das pessoas. Associações e movimentos, por outro lado, são lembrados pela “grande capacidade evangelizadora” que os torna uma “riqueza da Igreja”, desde que cuidem da formação e da comunhão eclesial. Quanto às escolas católicas, elas são instados a mudar de escolas-instituições para escolas-comunidades ou comunidades de fé com um projeto educacional baseado nos valores do Evangelho.

Ensino de religião e catequese: distinto, mas complementar

Nesse contexto, um parágrafo separado é dedicado ao ensino da religião, o qual – enfatizam – é distinto, mas complementar à catequese, e é caracterizado por dois aspetos: entrar em relacionamento com outros conhecimentos e saber transformar o conhecimento em sabedoria da vida. “O fator religioso é uma dimensão da existência e não deve ser esquecido”, diz o Diretório; portanto, “é direito dos pais e dos alunos” receber formação integral que também leve em consideração o ensino da religião. O importante é que isso sempre ocorra através de um diálogo aberto e respeitoso, livre de conflitos ideológicos. 

Pluralismo cultural e pluralismo religioso: a relação com o judaísmo e o islão

Um grande capítulo foca os diferentes cenários contemporâneos com os quais a catequese deve se confrontar: pluralismo cultural que leva ao tratamento superficial de questões morais; os contextos urbanos difíceis, muitas vezes desumanos, violentos e segregadores; o confronto com os povos indígenas que requerem conhecimento adequado para superar os preconceitos; a piedade popular e o seu ser, por um lado, um “lugar teológico” e “reserva de fé”, mas, por outro, correr o risco de se abrir para superstições e seitas.

Em todas essas áreas, a catequese é chamada a trazer esperança e dignidade, superar o anonimato e promover a proteção ambiental. Setores especiais são, então, os do ecumenismo e do diálogo inter-religioso com o judaísmo e o islamismo: com relação ao primeiro ponto, o Diretório enfatiza como a catequese deve “despertar o desejo de unidade” entre os cristãos, para ser “uma ferramenta credível de evangelização”. Quanto ao judaísmo, convida-se a um diálogo que combata o antissemitismo e promova a paz e a justiça. Diante do fundamentalismo violento que às vezes se encontra no Islão, a Igreja insta a evitar generalizações superficiais, promovendo o conhecimento e encontro com muçulmanos. De qualquer forma, num contexto de pluralismo religioso, a catequese deve “aprofundar e fortalecer a identidade dos crentes”, ajudando-os a discernir e promover o seu impulso missionário por meio do testemunho, colaboração e diálogo “afável e cordial”. 

O mundo digital: luzes e sombras

A reflexão do Diretório muda então para o tema digital: primeiro, a importância de garantir uma presença que ateste aos valores do Evangelho é reiterada. Portanto, os catequistas são instados a educar as pessoas sobre o bom uso do digital: em particular os jovens deverão ser acompanhados, pois o mundo virtual pode ter profundas repercussões na gestão das emoções e na construção da identidade. Hoje, a cultura digital – continua o documento – é percebida como “natural”, tanto que mudou a linguagem e as hierarquias de valores em escala global. Rico em aspetos positivos (por exemplo, enriquece habilidades cognitivas e promove informações independentes para proteger as pessoas mais vulneráveis), o mundo digital, ao mesmo tempo, também possui um “lado sombrio”: pode trazer solidão, manipulação, violência, cyberbullying, preconceito, ódio. Não apenas isso: a narrativa digital é emocional, intuitiva e envolvente, mas é desprovida de análises críticas, acabando por tornar os destinatários simples usuários, em vez de descodificadores de uma mensagem. Sem esquecer a atitude quase “fideísta” que se pode ter em relação, por exemplo, a um mecanismo de busca. 

Contra a cultura do instante

Então, o que a catequese pode fazer nesse setor? Educar, antes de tudo, para contrastar a “cultura instantânea”, desprovida de hierarquias e perspetivas de valor, fraca na memória e incapaz de distinguir verdade e qualidade. Acima de tudo, os jovens serão acompanhados na busca de uma liberdade interior que os ajude a se diferenciar do “rebanho social”. “O desafio da evangelização envolve o da inculturação no continente digital”, afirma o Diretório, reiterando a importância de oferecer espaços de experiência de fé autêntica, capazes de fornecer chaves interpretativas para temas fortes, como corporalidade, afetividade, justiça e paz.

Ciência e fé: conflitos aparentes, testemunho de cientistas cristãos

O documento foca a ciência e a tecnologia. Reafirmando que devem orientar-se para a melhoria das condições de vida e o progresso da família humana, colocando-se assim ao serviço da pessoa, o Diretório recomenda uma catequese bem preparada e aprofundada que possa neutralizar uma disseminação científica e tecnológica muitas vezes imprecisa. Por isso, exorta-nos a eliminar preconceitos e ideologias e a esclarecer os aparentes conflitos entre ciência e fé, além de aprimorar o testemunho de cientistas cristãos, um exemplo de harmonia e síntese entre os dois. O cientista, de facto, busca a verdade com sinceridade, inclina-se à comunicação e ao diálogo, ama a honestidade intelectual e pode, portanto, incentivar a inculturação da fé na ciência.

Bioética: nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível

Uma reflexão separada, no entanto, deve ser feita para a bioética, partindo do pressuposto de que “nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível”. Portanto, será necessário distinguir entre intervenções terapêuticas e manipulações, e prestar atenção à eugenia e às discriminações que isso implica. Na denominação de “género”, recorde-se que a Igreja acompanha “sempre e em qualquer situação”, sem julgar, pessoas que vivem situações complexas e às vezes conflitantes. No entanto, “numa perspetiva de fé, a sexualidade não é apenas um dado físico, mas é uma realidade pessoal, um valor confiado à responsabilidade da pessoa”, “uma resposta ao chamado original de Deus”. No campo bioético, portanto, os catequistas precisarão de formação específica que parte do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana e contrasta a cultura da morte. Nesse sentido, o Diretório condena a pena de morte, definida como “uma medida desumana que humilha a dignidade da pessoa”.

Conversão ecológica, compromisso social e proteção ao emprego

Entre as outras questões abordadas no documento, destaca-se uma “profunda conversão ecológica” a ser promovida por meio de uma catequese atenta à proteção da Criação e inspirando uma vida virtuosa, longe do consumismo, porque “a ecologia integral é parte integrante da vida cristã”. ” Há também um forte incentivo a um compromisso social ativo dos católicos, para que eles ajam em favor do bem comum, contrastando as estruturas do pecado com a retidão moral e a abertura ao diálogo. Quanto ao mundo do trabalho, ele recomenda a evangelização de acordo com a Doutrina Social da Igreja, com especial atenção à defesa dos direitos dos mais fracos. Por fim, os dois últimos capítulos do Diretório concentram-se nos catecismos locais, com as indicações relativas à obtenção da aprovação da Sé Apostólica e nos órgãos a serviço da catequese, incluindo o Sínodo dos Bispos e as Conferências Episcopais.

Vatican News

Texto e imagem-retirados do site da Diocese de Setúbal- https://diocese-setubal.pt - em 25.08.2020.

Ser uma Igreja querigmática, missionária e mistagógica

Chamados a estar no mundo para amar e viver o amor entre os irmãos, sejamos uma Igreja querigmática, missionária e mistagógica.

Uma Igreja querigmática é aquela que anuncia a Boa-Nova. Falar ao mundo sobre a novidade que Jesus de Nazaré traz à humanidade, como Senhor e Mestre, inaugurando um novo jeito de viver. Com ela aprendemos a caminhar com Jesus e a experimentar o seu amor divino. O Evangelista João na passagem do capítulo 3,16-17 nos fala da amplitude desse amor divino doado à humanidade: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho único para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Sua presença no mundo foi para que o mundo pudesse ser salvo por Ele, e foi. Ao doar sua vida na cruz, ele salvou o mundo e Deus foi glorificado por Ele, pois o que Jesus veio fazer no mundo foi realizar a vontade do Pai expondo seu projeto para nós. Jesus nos fala de si mesmo, quem é ele enquanto Filho de Deus e o que ele produz de transformação na nossa história de vida. Jesus falou de Deus e apresentou Deus de forma nova e diferente em relação ao conceito de Deus que normalmente se utiliza nas tradições do Antigo Testamento.

Nos Evangelhos Jesus está sempre a nos ensinar. Através de sua palavras vamos absorvendo a verdade de que Ele é o Messias enviado em cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Com sua encarnação temos revelado o grande mistério: Deus quer intervir novamente na história e, por meio de seu Filho, salvar o mundo. É um amor tão grande que não temos como compreendê-lo a não ser, nos colocando nos passos de Jesus Cristo, Filho amado do Pai, quem no-lo deu a conhecer. Assim se diz: “Somente o Filho conhece o pai e aquele ao qual o Filho o quiser revelar” Mt 11,27).

Igreja Missionária

Evangelizar não é uma tarefa de alguns, mas de toda a Igreja. Todos devem estar a serviço da evangelização,uma missão não apenas de alguns, mas de toda a Igreja. Quando nos colocamos no seguimento do Cristo, estamos nos propondo a ser uma Igreja missionária, acolhedora que vai ao encontro dos irmãos para anunciar a todos essa nova realidade transformada e instaurada por Jesus: ‘o Reino de Deus Chegou’. Esse é o legado de Jesus para darmos continuidade. A Igreja sabe que todos os esforços que a humanidade está a fazer em favor da comunhão e da partilha tem plena resposta na ação de Jesus Cristo, redentor do homem e do mundo e que ela foi mandada por Ele como “Sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano. Assim sendo, é por meio de todos nós, fiéis batizados, que a Igreja de Cristo torna-se presente nos mais diversos setores do mundo, como sinal e fonte de esperança e amor.

Igreja Mistagógica

É a mistagogia que nos revela a verdadeira compreensão da ação evangelizadora da Igreja. Falar de mistagogia é falar do sentido de se deixar conduzir para dentro do mistério. E a Igreja é esse mistério de Cristo. Ele a faz sacramento de si mesmo. E ao sermos iniciados na fé cristã, por meio dos sacramentos, somos conduzidos para dentro do “Mistério” que é Cristo em nós.

A mistagogia é um caminho de integração progressiva dos batizados na fé e na comunidade cristã. É a abertura para o dialogo com toda a História da Salvação, com o encontro com Jesus Cristo e com a experiência das primeiras comunidades. Assim, a mistagogia vem a ser um carisma no âmbito da Igreja que comporta a dimensão teológica própria da dinâmica da Revelação e fé. Falar da fé cristã é falar da certeza de uma esperança. Uma fé que não é baseada em coisas, mas ela nos remete a uma pessoa que nos deu uma nova vida, nos recriou, nos fez renascer como novas criaturas.

A fé cristã tem fundamento nas promessas garantidas por um acontecimento que, mesmo não tendo presenciado, cremos, aceitamos e recebemos, porque Ele, o Cristo, nos promete felicidade e nos conduz até ela, pois ela provém dele, emerge dele que está sempre aberto ao amor, á verdade e à justiça do próprio Deus. A felicidade que o homem busca e espera alcançar para dar sentido à vida culminará na esperança viva que o Espírito do ressuscitado infunde nas pessoas que creem.

Crendo, as pessoas buscarão os sacramentos que as iniciam na vida do Cristo, e pela mistagogia, serão conduzidos para dentro do Mistério de sua vida, tornando-se participantes do Mistério que é o próprio Deus.

A vivência e conhecimento da Sagrada Escritura e a vivência sacramental e comunitária auxiliará àquele que, pouco a pouco irá interiorizando e amadurecendo sua fé, introduzindo-o cada vez mais na experiência do Viver em Cristo. E essa é a vocação do Cristão.

Neuza Silveira de Souza

Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético

Parte escrita  - Retiradas do site - "CATEQUESEHoje -  www.catequesehoje.org.br ", em 25.08.2020 - Um site com brasileiro com muita qualidade!

Imagem: retirada da "Google Imagens em em 25.08.2020.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

«Puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons»

"Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O Reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes.
Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos, e o que não presta deitam-no fora.
Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos
e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes.
Entendestes tudo isto?». Eles responderam-Lhe: «Entendemos».
Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas».
Quando acabou de proferir estas parábolas, Jesus continuou o seu caminho."    Mt  13, 47-53

Comentários de Santo Agostinho (354-430) , doutor da Igreja:

«Ele governará a Terra com justiça, e os povos com fidelidade» (Sl 95,13). Que justiça e que fidelidade são estas? Ele juntará os eleitos em seu redor (Mc 13,27) e afastará os outros, colocando aqueles à sua direita e estes à sua esquerda (Mt 25,33). Haverá coisa mais justa, mais fiel do que esta? Aqueles que não tiverem querido exercer misericórdia antes da chegada do juiz, não poderão esperar dele misericórdia. Aqueles que tiverem querido exercer misericórdia, serão julgados com misericórdia (Lc 6,37). Porque Ele dirá àqueles que tiver colocado à sua direita: «Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo»; e atribui-lhes-á obras de misericórdia: «Tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber», e por aí fora (Mt 25,31s.). Porque tu és injusto, não há de o Juiz ser justo? Porque te acontece mentir, não há de a Verdade ser verídica? Se queres encontrar um Juiz misericordioso, sê misericordioso antes de Ele chegar. Perdoa a quem te tiver ofendido; dá dos teus bens, se possuis em abundância. […] Dá do que dele recebeste: «Que tens tu, que não hajas recebido?» (1Cor 4,7). Eis os sacrifícios que são agradáveis a Deus: a misericórdia, a humildade, o reconhecimento, a paz, a caridade. Se isso levarmos, esperaremos com segurança o advento do Juiz, desse Juiz que «governará a Terra com justiça, e os povos com fidelidade».

Textos: Retirados do site "Evangelho Quotidiano",https://evangelhoquotidiano.org/PT,  em 30.07.2020;
Imagem: Retirada da "Google Imagens", em 30.07.2020;

quinta-feira, 9 de julho de 2020

O MÉDICO MISERICORDIOSO DE FLORENÇA ...


No decorrer do sacramento da penitência, um Padre Missionário dos Combonianos, Italiano mas residir em Portugal, contou-me a seguinte história, que inquietou a minha consciência:

«-Conta-se que um velho médico de Florença, de tempos mais remotos, ganhava o seu pão com muita dificuldade. Naquele tempo, os médicos tinham que se deslocar pelas frias zonas de Florença e arredores, a pé e a cavalo,  por caminhos e pessoas difíceis. Apesar de todos estes sacrifícios,  eram muito mal pagos,  vivendo com grandes dificuldades.
Este médico tinha um filho,  que decidiu ir estudar para uma universidade longe de casa. O  filho, desde o início dos seus estudos, começou a seguir por maus caminhos, esbanjando, em pouco tempo, as mesadas que o pai lhe dava. O dinheiro recebido era logo gasto, e o filho escrevia a seu pai para lhe enviar mais dinheiro.
Um dia, este pai foi ter com o filho à universidade e encontrou-o a dormir em pleno dia, pois tinha estado na farra  toda a noite. O pai ao vê-lo não o acordou. Deixou o dinheiro na mesinha de cabeceira, escreveu-lhe um bilhete, deu-lhe um beijo e foi-se embora.
Ora, quando o filho acordou, viu o dinheiro e o bilhete que o seu pai lhe deixara, e leu a mensagem : “Querido Filho, gosto muito de ti.  Deixo-te aqui dinheiro para o que precisares, mas antes de o gastares, pensa bem no  sacrifício, nas dificuldades que o  teu velho pai passa para ganhar este dinheiro”» (…)

Jesus perdoa sempre os nossos pecados quando nos arrependemos, mas pagou-os com o seu sangue derramado. Não há sacrifício maior, nem maior prova de amor. Quando somos tentados, deveríamos lembrar deste Amor/Sacrifício de Jesus por nós, do Seu sangue derramado, e evitar  pecar a todo o custo.

Texto: partilha de um  penitente em  09.07.2020
Imagem: fotografia tirada na Igreja dos Combonianos.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

"Corpo de Deus" em pandemia



Os  tempos actuais estão a ser marcados por um vírus, que está a impor modificações na humanidade. Um vírus que circula livre, e que nos tem tirado certos graus de liberdade, obrigando a um distanciamento social. Transmite-se de pessoa em pessoa. Nenhum povo foi excluído.

Milhões de pessoas confinadas em suas casas, fechados entre quatro paredes, já há alguns meses. Os trabalhadores ligados à saúde a enfrentar o vírus de frente, e numa fase mais inicial, sem grandes proteções e meios (enfermeiros, médicos, auxiliares de saúde, bombeiros, etc). Também há empresas que nunca pararam, para poderem servir o mundo com bens mais essenciais.

Os estudantes deixaram as escolas, e passaram para sistema de ensino a partir de suas casas, através de redes de conectividade.

Os idosos ficaram “presos” nos seus lares e instituições, privados do carinho das famílias.

As Igrejas “fecharam” portas, e tal como nas escolas começou-se a utilizar a internet para podermos estar todos conectáveis/contactáveis nas celebrações, catequese e outras situações. No caso da Igreja Católica, os crentes ficaram privados dos Sacramentos…

Muitas pessoas têm morrido com a doença, principalmente os mais idosos, os doentes crónicos e os mais  pobres. Aumentou a fome, a insolvência de empresas  e o desemprego.

Aparentemente, em balanço, a humanidade toda mergulhou em grande sofrimento e medo. Mas também aconteceram outras coisas, sementes de amor e de esperança: aumentou interajuda entre as pessoas e povos, o voluntariado, o combate à fome, a ajuda comunitária na compra de equipamentos para os profissionais da saúde. A poluição que diminuiu de forma abrupta, há um maior respeito pelo cuidado da vida, há uma espiritualidade mais sincera , etc…

Hoje, dia em que nós Católicos celebramos a “Solenidade do Corpo de Deus”, sinto o “Corpo de Deus” em pandemia.

Com o sofrimento a atravessar a nossa vida, de uma forma atroz, em vez de desesperarmos, sentimos que Ele está connosco espiritualmente. Agora já não estamos privados dos Sacramentos em Portugal, mas em todo período em que estivemos, a presença de Jesus não desapareceu. Parece que até aumentou a nossa  confiança no Senhor e a nossa  Fé, pela Graça e o grande Amor de Deus.

Penso que muitos cristãos já não viviam os Domingos como os cristãos da Igreja Nascente. Para muitos praticantes, os Sacramentos são como rotinas, entra-se sisudo na Celebração, não se escuta a Palavra de Deus com o coração, não há conversão, não se toma o “Corpo do Senhor” com sede e com fome do Mistério, e aparentemente, não acontece nada, saem igualmente sisudos da igreja. Aqueles Discípulos de Emaús, que estavam desanimados, mas que se encontraram com Cristo Jesus na descida de Jerusalém, no início ficaram com os seus corações inflamados enquanto escutavam a Palavra de Deus. Depois da "Fração do Pão", reconheceram Jesus, ficaram cheios de alegria, inverteram o trajeto do seu caminho, voltaram a subir Jerusalém, e anunciaram Jesus Ressuscitado!

Penso que esta pandemia nos tem ensinado a sermos pão para os outros, arriscando mesmo a  vida. Hoje, se ainda temos a igrejas muito vazias, não fiquemos tristes, pois, mais importante,  é que em cada filho(a) de Deus esteja a aumentar esta fome e esta sede de Jesus, que o nosso encontro/confronto com a Palavra de Deus, deixe de ser morno, e passe para a dimensão da Verdadeira Vida,  Alegria e Paz.

A Eucaristia é fonte e a meta da nossa caminhada. É Jesus, na Unidade da Santíssima Trindade, que se faz Alimento para todos nós. Todos os Sacramentos concorrem para um único bem. Nos Sacramentos está toda a Vida de Jesus manifestada entre nós, e toda Ela nos é oferecida. Como seguidores de Jesus,  somos convidados a assumir essa mesma Vida no nosso corpo, para que em todos nós, possam ver  o “Corpo de Jesus”.

Existe um slogan, que surgiu em tempo de pandemia, que diz “Vai ficar tudo bem!”. Esperamos que fique tudo bem, tudo bem melhor que antes da pandemia, bem diferente. Pois  há coisas antes da pandemia que não estavam nada bem:

-Viagens de fim-de-semana de avião para destinos longínquos só porque caprichosamente me apetece, estava bem? Enquanto, havia e há pessoas sem tecto, outras  sem água e alimentos  em suas casas. Sacrificar o ambiente com toneladas de combustível queimado por um capricho…

-Construir lares de idosos de uma maneira massiva, e descarregar os nossos idosos lá, estava bem? Lares que são bandeiras de muitas paróquias e dioceses. Tirar os idosos de suas casas, das suas famílias, estava bem? Não estava bem, não! Os pais que cuidaram dos seus filhos quando  eram crianças/jovens  merecem ser cuidados pelos próprios filhos. Temos que tomar outro rumo, deve ser promovido o idoso em família.  Ser pão para os nossos pais, é sacrificarmos o nosso conforto por eles. Claro, com ajuda do estado e igreja .

-Descarregar os idosos nos hospitais estava bem? Isto era ser pão para os outros?

-Descarregar os filhos nas creches e escolas estava bem? Não haver um horário flexível para que, um/os pais, possam acompanhar melhor os seus filhos na escola e na vida, estava bem?

- Descarregar os filhos na catequese estava bem? Não deveria a catequese abraçar os pais, os filhos e a comunidade. Sair da sacristia que cheira a mofo, e ir ao encontro dos pobres e da vida, ..Isto dá trabalho, desinstala,  mas não será isto…ser pão para os outros!

-O consumismo desenfreado, só porque sim, estava bem? Não deveríamos nós, comprar o necessário e partilhar o restante com quem precisa…isto é ser pão para os outros!

-Ter as nossas crianças paradas, a olhar para um telemóvel, enquanto a verdadeira vida lhes passa ao lado, isto estava bem? Não deveriam eles serem envolvidos nos projectos e vida da comunidade? Um santo, uma pessoa feliz, aprende em comunidade a caminhar…uma comunidade apática habituada às comunidades da tradição, não se deixa salgar, nem salga ninguém!

Blog Catequese Missionária, "Solenidade do Corpo de Deus”, 11.06.2020,

Imagem: retirada da google imagens em 11.06.2020.