sábado, 27 de julho de 2019

Biografia do Pe. Cruz


Relato da Vida
A vida do “Santo” Padre Cruz, obscura e gloriosa, apagada e empolgante, é dos testemunhos mais eloquentes dosn nossos dias… Na simplicidade obscura ou no heroísmo dominador, a vida do santo é sempre luz e força do Evangelho. Por isso, o “Santo” Padre Cruz, presença augusta e atuante de Cristo, deslumbrava as multidões que o procuravam ansiosas e reconheciam que nele havia o sinal do grande mistério.

Qual a razão dessa atração poderosa? A lição contínua da Sua vida, que para a nossa memória e para a sede de divino, é a Sua figura iluminada de místico e de apóstolo, transformado em força redentora o fogo divino que lhe abrasava a alma.
D.Manuel Trindade Salgueiro

Nascimento e Vida
A 29 de Julho de 1859 nasceu, em Alcochete, o Padre Francisco Rodrigues da Cruz. Esta Vila já notável, entre outros motivos, por ter sido o berço de D. Manuel I, o Venturoso, e do Beato Manuel Rodrigues, um dos 40 mártires do Brasil, viu crescer a sua importância, por aqui ter nascido, aquele que já em vida era conhecido pelo “Santo” Padre Cruz, que esperamos, um dia, venerar nos altares. A humanidade celebra na sua história inúmeros grandes acontecimentos.

Mas os grandes acontecimentos humanos são aqueles em que nasce um santo, pois o nascimento de um santo tem repercussões eternas.

É que o santo não é apenas um homem virtuoso que Deus premeia no fim da jornada. Um santo não é apenas um lutador que venceu no bom combate, ou um fiel servidor que adquiriu o hábito do dever.

Um santo é um semeador de ideal que espalha o bem e prepara colheitas para o céu. Do nascimento do “Santo” Padre Cruz em Alcochete nos orgulhamos todos nós, juntamente com a Vila de Alcochete, porque ela foi o berço daquele que seria outro S. João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, que faleceu uma semana depois de nascer o “Santo” Padre Cruz. Esta coincidência parece dizer-nos que Deus não queria apagar uma luz sem nos deixar outra acesa. Santo foi o nome que lhe puseram já aos 35 anos de idade e a fama de santidade foi sempre em aumento, até ao seu falecimento.
Bispos, sacerdotes, pessoas de todas as categorias sociais o tinham por santo e como tal o veneravam. E esta fama cresceu a tal ponto que, depois da morte, o seu jazigo, no cemitério de Benfica, é visitado diariamente, por muitos fiéis, que lá vão cumprir promessas, pedir e agradecer graças, alcançadas de Deus, por sua intercessão.

É certo que, por vezes, se notam exageros a raiar pela crendice ou superstição. Claro está que o  Padre Cruz não tem culpa daquilo que não é querido nem desejado por ele. Toda a sua vida foi um serviço de amor a Deus, servindo os homens. Num tempo crítico para a Igreja de Portugal, num tempo de perturbação da ordem e da negação de tantos valores, teve lugar a ação apostólica do Padre Cruz.

A sua figura inconfundível foi para o povo português católico, naquele tempo, uma âncora salvadora: levemente corcovado, um sorriso de inocência sempre no seu rosto fatigado, um ar de recolhimento habitual, perdido em Deus, na intimidade divina que o atraía a desprender-se dos bens terrenos, para os dar generosamente aos mais necessitados que encontrava. Mesmo nos tempos mais revoltosos e intolerantes, o Padre Cruz trajava sempre batina e roupão eclesiástico, e na cabeça, um largo chapéu, já gasto pelo uso. Assim o conheceu Portugal, assim se recordam dele, hoje, muitos que o conheceram. A presença do Padre Cruz em missões e tríduos pelas aldeias e vilas do país; o encontro do Padre Cruz nos comboios, nas ruas de Lisboa, nas Igrejas, nas cadeias, nos hospitais, sempre aliviando penas, confortando misérias, dando coragem aos timoratos e oferecendo certezas duma
renovação cristã aos desalentados, era um espetáculo a que Portugal se habituara. Sim, porque o Padre Cruz foi o Apóstolo que Deus deu a Portugal naqueles tempos agitados.

Apóstolo da Caridade lhe chamaram, e a placa da Avenida do Padre Cruz em Lisboa, a todos o lembra. Todo o apóstolo compreende a sensibilidade dos homens do seu tempo. E o Padre Cruz, enquanto viveu compreendeu os seus contemporâneos, e esta compreensão deu-lhe um acesso relativamente fácil aos corações sedentos de verdade, de ideal, de transcendência. O seu programa de apostolado traçou-o, em 1925, numa carta escrita ao Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, na altura, o Sr. D. António Mendes Belo:
Há muitos anos que eu me sinto atraído, talvez por especial vocação da misericórdia de Deus Nosso Senhor, para ajudar espiritualmente os presos da cadeia, os doentes dos hospitais, os pobrezinhos e abandonados, a tantos pecadores e almas desamparadas que Nosso Senhor me envia ou põe no meu
caminho. Tenho também grande consolação em ajudar os Párocos nos exercícios de piedade e mais encargos do seu ministério, indo por toda a parte levar, na medida das minhas forças, os socorros da religião a muitas pessoas a quem não é fácil chegarem por outra via. Ora tudo isto tenho sido, isto queria continuar a ser, por me parecer que é mais de honra de Deus
“.
O Padre Cruz, enquanto viveu, impressionou pelo que era: um testemunho que vive o que prega. O Padre Cruz, como verdadeiro homem de Deus, como verdadeiro sacerdote e como verdadeiro Jesuíta, não pregava com muitas palavras doutas e discursos eruditos; a simplicidade era a sua eloquência. Mas, com o seu modo original de ser, com as suas atitudes e o seu comportamento, revelava aos homens do seu tempo o amor de Deus, e com o seu exemplo proclamava a todos que valia a pena experimentar este amor, para melhor servir os homens, seus irmãos. Ninguém dá o que não tem, diz o provérbio.

O Padre Cruz, para poder dar Deus, tinha que ter Deus, para poder dar santidade, tinha que possuir
santidade. Não admira, pois, que a sua passagem fosse uma bênção fecunda de graça. Não é de estranhar que hoje o “Santo” Padre Cruz seja tomado como modelo e incentivo para os que sentem os desafios das novas pobrezas e injustiças, para lhes darem uma resposta de solidariedade, justiça e fraternidade. Portugal celebra já vários santos portugueses canonizados. Entre outros, cito S. João de
Deus, S. António de Lisboa, S. João de Brito, mas aguardamos confiantes que o Padre Cruz seja elevado também à glória dos altares, para alegria de todos os portugueses.


A Proximidade da Morte
Lisboa – 1 de Outubro de 1948
O Padre Cruz já está muito velhinho. Mas a sua velhice não é ainda a “ruína” doutros anciãos da sua idade. No seu corpo decrépito arde a chama imortal davida divina. É já uma “sombra velhinha”: mas a essa sombra descansam novos, mais fatigados e envelhecidos de alma do que ele. A boca está descolorida e murcha, mas continua a sorrir. O coração já lhe bate  desconcertado, mas o amor continua a ser para ele “grande e imensa ocupação”.

Viveu, envelheceu, sem mudança na vida: sempre de joelhos a rezar, sempre de mãos abertas a dar. Sempre pelos caminhos… Há quantos anos?! Sempre pelas cadeias e hospitais… Há quantos anos?
Já o Senhor levou quase todos os que o viram começar; e, os que vieram depois, acham natural que ele continue na vida que sempre lhe viram fazer…

Para o Padre Cruz viver foi  dar-se pela salvação e pela glória de Deus. Por isto mesmo, quando velhinho e doente, o seu apostolado não paralisou.

Recebia, no quarto, algumas pessoas e escrevia a muitas. Há tantos meios de salvar almas! E o Padre Cruz conhecia-os bem.

Podia rezar, podia sofrer. E rezava dia e noite por aqueles que trabalhavam na vinha do Senhor. E, sem se queixar da velhice nem da doença, dizia:
“Dou muitas graças a Deus por ter chegado a esta idade de 89 anos, sendo bastante doente desde há muito anos, e peço a tão Bom Senhor a graça de, no resto da minha vida, O amar sempre e fazer amar de muitas almas. Seja esta sempre a minha vontade: Coração de Jesus fazei que eu Vos ame e Vos faça amar”.

Se o fim da sua vida preocupava os seus muitos amigos, este assunto a ele deixava-o tranquilo: “Bendito seja o nosso Bom Deus e sempre em tudo seja feita a sua santíssima vontade”.

Mas a morte aproximava-se, pacificamente, e veio a 1 de Outubro de 1948. Teria o Padre Cruz pressentido o seu fim? Tal não parece, pois ele não estava preocupado com este momento. A morte do pecado foi a que ele sempre mais temeu, porque seria a separação definitiva da comunhão com Cristo. Por isto mesmo rezava, todos os dias:
“Maria Santíssima, pedi a Deus Pai de quem sois filha, a Deus Filho de quem sois mãe, ao Divino Espírito Santo de quem sois esposa, o perdão dos meus pecados, vós que, sois a Mãe de misericórdia, e no resto da minha vida ter uma fé viva, esperança firme e caridade ardente e graça para comunicar estas virtudes a muitas almas e evitar todo o pecado mesmo venial deliberado, resistir prontamente a todas as tentações, fazer todo o bem que posso e devo com pura intenção e, o que não posso fazer, ter desejo e pena de não poder, e levar todos os meus trabalhos e sofrimentos com inteira submissão à vontade de Deus e procurar adiantar no caminho da perfeição”
Escreveu Santo Agostinho: todos os homens temem a morte do corpo e só poucos temem a morte da alma. O Padre Cruz está entre estes poucos. O Padre Cruz sentia-se radicalmente livre e salvo por Cristo, porque Ele o libertara do pecado e da sua consequência: a morte. Esta libertação não era a morte biológica, pois Cristo também morreu, mas a libertação da escravidão opressora da morte, do medo à mesma, do sem sentido e absurdo de uma vida inútil que acaba no nada.

À Luz da ressurreição de Cristo, o Padre Cruz sabia, há muito tempo, que a morte física, inevitável
apesar dos adiantos da medicina e da aspiração do homem à imortalidade, que ela não era o fim do caminho, mas sim a porta que lhe franqueava a libertação definitiva com Cristo ressuscitado. Graças a esta fé o Padre Cruz, hoje, é um ser para a vida.
“Quando Nosso Senhor na Sua Infinita
Misericórdia me quiser chamar à Sua Divina Presença quero o meu corpo
depositado no jazigo da minha família religiosa, a Companhia de Jesus com a
qual me uni em 3 de Dezembro de 1940, fazendo os santos votos, e assim cumprindo
o ardente desejo que tinha há cerca de 60 anos e não tinha cumprido por falta
de saúde.”

P. Francisco da Cruz, 22 de Maio de 1945

Artigo retirado: em 27.07.2019 do Site "Causa de Canonização do Padre Cruz"  https://pontosj.pt/causapadrecruz/ . Visite o Site!
Imagem retirada:  da Google imagens

Vídeo da  Missa dos 150 Anos do Nascimento do Pe. Cruz


sábado, 13 de julho de 2019

Comunidade: espaço de comunhão



Catequese do Papa sobre os Atos dos Apóstolos

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!

O fruto do Pentecostes, a poderosa efusão do Espírito de Deus sobre a primeira comunidade cristã, foi que muitas pessoas sentiram o próprio coração trespassado pelo alegre anúncio — o querigma — da salvação em Cristo e aderiram livremente a Ele, convertendo-se, recebendo o batismo em seu nome e aceitando por sua vez o dom do Espírito Santo. Cerca de três mil pessoas começam a fazer parte daquela fraternidade, que é o habitat dos crentes e constitui o fermento eclesial da obra de evangelização. O fervor da fé destes irmãos e irmãs em Cristo faz da sua vida o cenário da obra de Deus, que se manifesta com prodígios e sinais através dos Apóstolos. O extraordinário faz-se ordinário e o dia a dia torna-se o espaço da manifestação de Cristo vivo!

O Evangelista Lucas narra-nos isto, mostrando-nos a Igreja de Jerusalém como o paradigma de todas as comunidades cristãs, como o ícone de uma fraternidade que fascina e que não deve ser mitificada, nem sequer minimizada. A narração dos Atos permite-nos olhar para dentro das paredes da domus onde os primeiros cristãos se reúnem como família de Deus, espaço da koinonia, ou seja, da comunhão de amor entre irmãos e irmãs em Cristo. Perscrutando no seu interior, podemos ver que eles vivem de uma forma muito específica: são «assíduos no ensinamento dos Apóstolos, na união fraterna, na fração do pão e nas orações» (At 2, 42). Os cristãos ouvem assiduamente a didaqué, ou seja, o ensinamento apostólico; praticam relacionamentos interpessoais de alta qualidade (inclusive através da comunhão dos bens espirituais e materiais); fazem memória do Senhor mediante a “fração do pão”, isto é, a Eucaristia, e dialogam com Deus na oração. São estas as atitudes do cristão, as quatro caraterísticas de um bom cristão.

Contrariamente à sociedade humana, onde se tende a perseguir os próprios interesses, prescindindo ou até em detrimento do próximo, a comunidade dos crentes afasta o individualismo para favorecer a partilha e a solidariedade. Não há lugar para o egoísmo na alma do cristão: se o teu coração for egoísta, não és cristão, és um mundano, que só procuras a tua vantagem, o teu benefício. E Lucas diz-nos que os crentes permanecem juntos (cf. At 2, 44). A proximidade e a unidade são o estilo dos crentes: próximos, preocupados uns pelos outros, não para falar mal do outro, não, para ajudar, para se aproximar.

Portanto, a graça do Batismo revela a íntima união entre os irmãos em Cristo, que são chamados a compartilhar, a identificar-se com os outros e a dar, «de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 45), ou seja, a generosidade, a esmola, preocupar-se pelo próximo, visitar os doentes, ir ao encontro dos necessitados, de quantos precisam de consolação.

E precisamente porque escolhe o caminho da comunhão e da atenção aos carentes, esta fraternidade que é a Igreja pode levar uma vida litúrgica verdadeira e autêntica. Lucas diz: «Frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo» (At 2, 46-47).

Enfim, a narração dos Atos recorda-nos que o Senhor garante o crescimento da comunidade (cf. 2, 47): a perseverança dos crentes na aliança genuína com Deus e com os irmãos torna-se força atrativa que fascina e conquista muitas pessoas (cf. Evangelii gaudium, 14), um princípio graças ao qual a comunidade de crentes de todos os tempos vive.

Oremos ao Espírito Santo a fim de que faça das nossas comunidades lugares onde receber e praticar a vida nova, as obras de solidariedade e de comunhão, lugares onde as liturgias sejam um encontro com Deus, que se torna comunhão com os irmãos e irmãs, lugares que sejam portas abertas para a Jerusalém celestial.

Papa Francisco

catequese na audiência geral 26.06.2019

Texto, retirado do site “Catequese do Brasil”, www.catequesedobrasil.org.br/ em 13.07.2019.
Imagem, retirada da "Google Imagens".

sexta-feira, 5 de julho de 2019

A vocação de São Francisco

Oração Inicial:
Ó glorioso Deus altíssimo,
ilumina as trevas do meu coração,
concede-me uma fé verdadeira,
uma esperança firme
e um amor perfeito.
Mostra-me, Senhor,
o reto sentido e conhecimento,
a fim de que possa cumprir
a tua santa e verdadeira vontade.
O que é a Vocação?
O tema a aprofundar hoje será a Vocação de São Francisco de Assis. No entanto, para compreendermos verdadeiramente como se foi desenvolvendo a vocação na sua vida, é importante que nos questionemos primeiro o que é a Vocação e a que tipo e vocação nos estamos a referir.
Muitas vezes já ouvimos dizer que o João tem vocação para a música ou que a vocação da Maria é ser médica. Nestes dois casos estamos a falar que determinada pessoa se sente inspirada a fazer algo, que tem jeito para aquilo. Mas não é a esse tipo de vocação que nos referimos. A vocação a que nos propomos tratar é muito mais ‘profunda’…
Vocação significa que existe alguém que chama e alguém que responde a esse chamamento. Mais concretamente, Deus que prepara um projeto e que chama determinada pessoa a acolher e levar por diante esse projeto, que foi cuidadosamente preparado por Deus. É de salientar que Ele não obriga ninguém a aceitar esse projeto, mas propõe, dá liberdade de escolha. Convida a abandonar o caminho que a pessoa tinha planeado para abraçar o caminho que Deus lhe propõe. E a pessoa tem a liberdade de dizer que sim, ou não…
E este chamamento não acontece apenas com alguns eleitos, mas com todos nós. É verdade! Deus chama a todos, mas a vocações diferentes. Isto porque, como nós não somos iguais, Deus cria um projeto especial e único para cada um de nós. É como se o projeto estivesse intrinsecamente unido ao nosso ADN. Assim sendo, o chamamento que faz ao António será diferente daquele feito à Ana, ainda que por vezes possa ter inúmeras semelhanças. Podem até ser chamados a caminhar juntos, a partilhar o mesmo projeto, mas cada um com uma vocação única e peculiar.
A Vocação na Sagrada Escritura - A Vocação do Profeta Jeremias
A palavra do SENHOR foi-me dirigida nestes termos: «Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» E eu respondi: «Ah! Senhor DEUS, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.» Mas o SENHOR replicou-me: «Não digas: ‘Sou um jovem’. Pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que Eu te mandar. Não terás medo diante deles, pois Eu estou contigo para te livrar» – oráculo do SENHOR. (Jeremias 1,4-8)
Para Refletir: Deus chama Jeremias a abraçar a vocação que Deus cuidadosamente preparou para ele. Jeremias tem medo de não ser capaz de levar por diante tão grande projeto e por isso vacila. Deus jamais pediria a Jeremias mais do que aquilo que ele seria capaz de suportar, e por isso Deus dá-lhe confiança, garantindo-lhe a Sua presença constante a seu lado para o fortalecer e proteger nas dificuldades que irá encontrar ao longo do caminho. Seguir o caminho proposto por Deus não é fácil, pois irão aparecer sempre inúmeros obstáculos… mas é certamente o caminho que conduzirá à maior das alegrias e à verdadeira felicidade. 
A Vocação de São Francisco de Assis
Também Francisco foi chamado por Deus a ser sinal e instrumento da Paz e do Bem, da alegria e do amor de Deus. A forma como cresce dentro dele esta vocação é bastante pertinente e digna de ser observada com maior atenção…
(lê o texto individualmente e vai sublinhando o que te chamar mais à atenção)
Francisco nasceu na cidade de Assis. Sua mãe dera-lhe o nome de João; mas o pai, ausente quando ele nasceu, ao voltar da França, deu-lhe o nome de Francisco. Quando chegou à juventude, dotado de espírito vivo, exerceu o ofício de seu pai, o comércio, mas de modo muito diferente do dele: era mais generoso e mais alegre, entregava-se aos divertimentos e ao canto, e vagueava, dia e noite, pela cidade, com amigos da sua idade. Era tão liberal nos gastos, que dissipava em festas e banquetes tudo o que tinha ou ganhava. Seus pais repreendiam-no por esbanjar o dinheiro consigo e com os outros. Quem o visse, julgá-lo-ia filho dum príncipe e não de comerciantes. Mas, como eram ricos e o amavam ternamente, iam suportando tudo, não o querendo desgostar por tais fantasias. Ele, sempre mais pródigo, também não tinha moderação na maneira de vestir: mandava fazer roupas mais ricas que as que convinham à sua condição social.
Certa noite, durante o sono, apareceu-lhe um homem; chamando-o pelo seu nome, conduziu-o a um palácio, grande e encantador, cheio de armas de guerra; havia, suspensos das paredes, escudos refulgentes e todos os outros objetos próprios do equipamento militar. Cheio de alegria, interrogava-se com espanto o que significaria aquilo. Depois perguntou: «A quem pertencem estas armas que brilham com tanto esplendor, e este palácio tão encantador?» Ouviu esta resposta: «Todas estas armas, com o palácio, são para ti e para os teus cavaleiros».
De manhã, levantou-se radiante. Interpretando as coisas ao jeito do mundo, pois não tinha ainda saboreado o espírito de Deus, acreditou que o sonho lhe pressagiava honras principescas. Julgando, portanto, esta visão como o anúncio de grande fortuna, decidiu partir imediatamente para a Apúlia, para ser armado cavaleiro. Mostrava uma alegria tão grande para além do habitual, que muitos ficavam surpreendidos e perguntavam-lhe donde lhe vinha tamanha alegria. «Sei – respondeu – que me tornarei um grande príncipe».
Um dia, quando dormitava, ouviu uma voz a perguntar-lhe onde queria ir. Revelou com prazer toda a sua ambição. Então a voz acrescentou: «Quem te pode dar mais, o senhor ou o servo?» Respondeu: «O Senhor». A voz replicou: «Ora bem; porque deixas o Senhor pelo servo, o príncipe pelo vassalo?» Então Francisco perguntou: «Que quereis que eu faça, Senhor?» «Volta para a tua terra – disse a voz – e lá saberás o que deves fazer, porque a visão que sonhaste, deves interpretá- la de modo completamente diferente». Acordado, começou a refletir longamente sobre esta nova visão. Enquanto que a primeira, por assim dizer, o pusera fora de si de alegria, pois satisfazia os seus desejos de prosperidade temporal, esta recolheu-o todo para dentro de si. Maravilhado, procurava- lhe o sentido e meditava-a com tanta atenção, que não conseguiu conciliar o sono no resto da noite. De manhã, tomou o caminho de Assis, apressado, feliz e alegre em extremo. Esperou com confiança que Deus, depois de o honrar com esta visão, lhe desse a conhecer a sua vontade e o aconselhasse para a sua salvação. O seu coração mudara. Renunciou a ir à Apúlia. Não desejava mais que conformar-se com a vontade divina.
Um dia, em que ele orava ao Senhor com todo o fervor, falou-lhe uma voz: «Francisco, tudo o que tu amaste e desejaste possuir segundo a carne, tens agora que o detestar e desprezar, se queres conhecer a minha vontade. Quando o alcançares, o que outrora te parecia encantador e delicioso, ser-te-á insuportável e amargo; e no que antes te causava horror, colherás extrema doçura e suavidade ilimitada».
Confortado por estas palavras e pela graça de Deus, Francisco passeava um dia a cavalo, não longe de Assis, quando se encontrou com um leproso. Ordinariamente a vista da lepra causava-lhe calafrios. Nesta ocasião ele fez violência a si mesmo: desceu do cavalo, ofereceu uma esmola ao leproso e beijou-o; naquele momento reconheceu a verdade da promessa divina: o que outrora lhe era amargo, ou seja, a vista e o contacto dos leprosos, converteu-se em doçura. De facto, a vista dos leprosos era-lhe antes tão irritante, que não só não os queria ver como não consentia em se aproximar do lugar em que habitavam. E se alguma vez sucedia passar perto dos seus casebres ou vê-los, desviava sempre a vista e chegava mesmo a tapar o nariz. Mas a graça de Deus tornou-o familiar e amigo dos leprosos, a ponto de ficar de bom gosto em sua companhia e de os servir com humildade.
Algum tempo depois, ao passar perto da igreja de São Damião, uma voz interior impeliu-o a entrar e orar. Tendo entrado, começou a rezar com fervor diante da imagem de Cristo Crucificado, a qual lhe falou com doçura e benevolência: «Francisco, não vês que a minha casa cai em ruínas? Vai e repara-ma». A tremer e cheio de assombro, respondeu: «Vou fazê-lo prontamente, Senhor». Compreendeu tratar-se da igreja de São Damião, com muitos sinais de velhice, que faziam prever ruína próxima. As palavras divinas encheram-no de alegria e a sua alma iluminou-se de viva luz.
Um dia ouviu, durante a celebração da missa, o que Cristo recomendou aos seus discípulos quando os enviou a pregar: não levar para a viagem nem ouro, nem prata, nem bolsa, nem pão, nem bastão; não usar calçado, não possuir duas túnicas. Compreendeu mais claramente estas palavras, quando em seguida pediu ao padre que lhas explicasse. Então, cheio de indizível alegria, exclamou: «Eis o que quero realizar, com todas as minhas forças». Confiando à memória todos os conselhos ouvidos, alegremente se esforçou por pô-los em prática. Sem hesitar, desembaraçou-se da túnica dupla; e, a partir deste momento, não mais usou o bastão, nem calçado, nem saco, nem bolsa. Manda fazer uma túnica muito pobre e grosseira; deita fora a correia e, para cinto, toma uma corda. Põe toda a solicitude do seu coração em escutar as inspirações desta nova graça e pergunta- se como poderá transpô-las para a sua vida. Levado por impulso divino, fez-se o arauto da perfeição evangélica e começou a pregar a penitência ao povo em linguagem familiar.
Pouco a pouco o bem-aventurado Francisco dava-se a conhecer, na verdade e simplicidade da sua doutrina e da sua vida, de modo que, dois anos após a sua conversão, alguns homens, empolgados pelo seu exemplo, decidiram fazer penitência e, renunciando a todas as coisas do mundo, quiseram juntar-se a ele pelo hábito e pela vida (Cf. Legenda dos Três Companheiros).
Para refletir: Francisco de Assis, tal como tantos jovens do seu tempo desejava ser cavaleiro, ambicionava ser alguém importante, de grande reconhecimento diante dos outros. Deus inicialmente pareceu confirmar os seus planos, mostrando-lhe que tinha grandes projetos para Francisco. No entanto, o caminho apresentado por Deus para alcançar tal meta era bem diferente daquele idealizado por Francisco. Aqui surge o mérito de Francisco: ser capaz não apenas de escutar, mas principalmente de acolher a voz que fala ao seu coração, de estar disponível para ouvir e predispor-se a percorrer novos caminhos.
O grande e ambicioso projeto é de Deus. Projeto esse que, sabemos nós hoje, levará Francisco a fazer grandes coisas.… mas para isso Francisco deveria renunciar aos seus projetos pessoais, deveria deixar-se conduzir por caminhos que até então lhe davam a maior repulsa. Francisco queria subir, mas Deus diz-lhe que tem que descer. Francisco queria ser o maior, Deus diz-lhe que deverá ser o último. E, pouco a pouco, Francisco compreenderá que aquilo que inicialmente lhe parecia amargo se converterá em doçura de alma e de corpo.
Podemos então dizer que o grande mérito de Francisco está simplesmente no dizer SIM… e não foi coisa pouca. Francisco teve a coragem de dar o seu Sim, de acolher a vocação que Deus tinha preparado para ele, mas acima de tudo, de permanecer fiel a esse Sim, a essa vocação, até ao fim…
(Após a leitura e breve reflexão individual deverão juntar-se em pequenos grupos, onde cada um possa partilhar as suas impressões.  Após a discussão nos grupos, reúnem-se todos e partilham de modo resumido os pontos essenciais falados).
Breve introdução à realidade atual
Após a partilha, poderão colocar-se algumas questões para discussão… como por exemplo…
a) Como pode Francisco de Assis ser inspiração para nós hoje?
b) Sinto que também eu estou a abraçar a Vocação à qual Deus me chama?
c). Como posso viver a minha vocação no grupo de jovens, na Igreja e no mundo?
Oração final:
Deus Pai de Misericórdia, nós te pedimos que continues a tocar os corações de todos os Teus filhos e a chamar ‘trabalhadores para a Tua vinha’, como fizeste com São Francisco de Assis e tantos outros. Tu que conheces o mais íntimo na nossa alma, converte-nos também a nós ao Teu amor, e ajuda-nos a dizermos o nosso SIM à Tua vontade. E, seguindo os Teus caminhos, nos tornemos verdadeiros sinais e instrumentos do Teu amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Ámen.
Texto e imagem retirado do site dos Franciscanos Capuchinhos,  https://capuchinhos.org, em 06.07.2019. 

Jésus Christ Est Seigneur, Alléluia !