quarta-feira, 10 de abril de 2024

Congresso Missão Lisboa 2024- divulgação

 "Congresso Missão Lisboa 2024

Em 2015, um grupo de amigos apaixonados pela missão e evangelização da França começaram o Congrès Mission em Paris. De poucas centenas no primeiro ano, rapidamente o grupo cresceu e por lá têm passado milhares de pessoas nos últimos anos.

Desde 2018 que estamos a tentar trazê-lo para Portugal: e agora parece ser chegado o momento!

A primeira edição será de 12 a 14 de abril, em Lisboa, na igreja de São Jorge de Arroios.


Inscreva-se no Congresso Missão

Inscreva-se em https://forms.gle/tZ3QRAZaFhcF6U9i6

A inscrição gratuita no Congresso não inclui refeições (há restaurantes e supermercados perto da Igreja de Arroios).

Haverá possibilidade de alojamentos, limitados. Este serão distribuídos por ordem de chegada das inscrições. "


Retirado do site  https://www.congressomissao.pt/congresso-missao-2024/ , em 10.04.2024. para divulgação.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Lava-pés: passagem de "ser servido" para "ser servidor"


“Se eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns dos outros”

 (Jo 13,14) 

Jesus sente que sua “hora” se aproxima, reúne os seus discípulos e manifesta-lhes o último desejo com um gesto que marcará para sempre a história da humanidade: o “lava-pés”.

O texto joanino nos diz que Jesus realizou o “lava-pés” durante a ceia. Todas as refeições tinham o “lava-mãos”. Algumas ceias especiais tinham o “lava-pés” no início como sinal de acolhida e de hospitalidade. 

Jesus realiza seu gesto enquanto a refeição está acontecendo. Pode ser que Ele esteja colocando uma relação muito estreita entre o comer  e o servir, melhor dizendo, entre a Eucaristia e o serviço solidário. 

Até Jesus, os convidados para a refeição eram servidos e saiam satisfeitos. A partir de Jesus, os convida-dos para a refeição servem-se uns aos outros e saem da refeição para servir outros. O dom recebido é partilhado entre os seus, mas isso não basta, ele precisa ser colocado à disposição de todos, a começar pelos mais carentes. O dom é, ao mesmo tempo, graça e missão. A força que ele traz é para conduzir à vida em abundância. 

Jesus “levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a à cintura”.

“Levantou-se da mesa”: este gesto de Jesus assume um significado especial. Revela-nos que não se pode servir permanecendo em nosso comodismo. O gesto de levantar denota que há algo por ser feito. 

“Ficar de pé”  é posição que expressa prontidão para servir; para isso é preciso deslocar-se do próprio “lugar” e descer até o “lugar” do outro. É desinstalar-se do próprio bem-estar, é dinamismo.

Jesus não faz um gesto teatral; Ele revela aos apóstolos um “novo ângulo”  ou um novo modo de ver as coisas: não a partir do lugar dos comensais, mas a partir da perspectiva de quem não está sentado à mesa. 

O gesto de Jesus nos convida a deslocar-nos, ou seja, ocupar o lugar da pessoa que não participa da mesa. Quê novidade percebemos a partir deste lugar?

“Estar à mesa” é sempre sinal de fraternidade, de comunhão, mas é necessário saber levantar-se na hora certa para poder servir com amor. 

“Tirou o manto”: Ele mesmo se despoja. Abrir mão do manto é uma iniciativa livre e soberana, que nasce de seu próprio interior. O manto impede a liberdade de movimentos, não permite fazer o serviço com facilidade. Há “mantos” que são sinais de poder. 

O Senhor assume, em tudo, a condição de servo, para servir. Troca o manto pela toalha-avental: este parece ser o distintivo fundamental, divisor de águas entre a religião antes e depois de Jesus Cristo.

As autoridades religiosas vestiam-se do distintivo  de autoridade-poder para servir o povo. Jesus despe-se dele para servir. Ele serve verdadeiramente como servo. Os outros serviam como senhores.

É necessário arrancar “todos os mantos do poder” para poder redescobrir a verdadeira dignidade humana desnuda e despojada de todas as aparências. Não há serviço sem se despir de todas as aparências de poder, de força, de prestígio. Não é possível amar colocando-se longe do outro. 

“Coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido”. Normalmente os preparativos ficam por conta de outros; é o servo que prepara a bacia com água para que o senhor lave os pés de outro. Aqui Jesus assume os preparativos, não faz trabalho pela metade. A água derramada não é feita com violência, nem com força, mas com extrema delicadeza, com atenção e amor. Amar é tocar de perto, ajudar, caminhar juntos...; nesse gesto de elevação Jesus revela um amor “físico”, de contato corporal e de serviço, de ajuda humana e de dignidade. Ele não quis só ensinar, dar comida, mas aproximar-se, ajoelhar-se, lavar. 

O gesto que Jesus faz expressa o que Ele é. Ele é inteiramente servo. Todo o seu ser está a serviço. Ele se dá naquilo que faz, e faz o que propõe aos discípulos. 

Lava os pés dos discípulos. Inclina-se aos pés deles, até o chão. Com reverência, o mestre lava os pés dos discípulos: essa é a dinâmica que revela a novidade do Reino de Deus. “Lavar os pés” dos discípulos é cuidar dos que servem os servos. 

Jesus sabia que seus discípulos tinham pés frágeis, pés de argila. E se os pés são, na mentalidade judaica, símbolo de infância e prazer, seus pés precisariam, sem dúvida, ser lavados de todas as suas memórias negativas. Cada discípulo era uma criança doente, e era preciso, em primeiro lugar, curar essa criança antes que ela se colocasse a caminho para anunciar o Evangelho, a Boa-Nova. 

“Depois que lhes lavou os pés, retomou o manto, voltou à mesa e lhes disse: ‘compreendeis o que vos fiz?’” Jesus volta ao lugar em que estava antes, mas volta diferente. Ele repõe o manto, mas não depõe a toalha-avental. Ele assume e visibiliza uma nova realidade que caracteriza o novo modo de ser, que é próprio dos cristãos. O amor-serviço tem como primeiro símbolo o avental. O avental é o selo de autenticidade que orienta, credita e dignifica a autoridade que se faz serviço. A autoridade cristã nasce do serviço, se sustenta nele, só persevera servindo. 

Jesus pede que a dinâmica iniciada por Ele tenha continuidade, seja progressiva e circular, partindo do meio para a periferia em forma de círculo a fim de atingir a todos. O novo modo de exercer a autoridade é praticado primeiro entre todos os que participam da ceia, mas deve ser exercido sem limite de tempo ou de espaço, isto é, deve atingir toda criatura em todos os tempos até a plenitude. 

Todos os gestos do lava-pés possuem uma sacralidade própria, uma reverência, uma paz e calma especial. Não há pressa, não há agressividade, não há nada que possa dar a mínima aparência de algo que fosse obrigado. No corre-corre da vida é urgente reassumir a linguagem dos gestos que se perdem na pressa, na mania de fazer muitas coisas porque outras nos atropelam e nos distraem do essencial. 

Texto bíblico:  Jo 13,1-15 

Na oração: Seja você alguém que, na admiração da gratidão, se aproxima deste gesto ousado de Jesus (tirar o manto e vestir o avental), a fim de purificar sentimentos, endireitar caminhos e aprofundar a caminhada na convivência com os irmãos. 

A sua identificação com Jesus lhe confere um novo modo de ver, avaliar, escolher e posicionar. É a contemplação, a postura mais envolvente, que lhe pode fazer enxergar o milagre; e, sensibilizado, abrir-se-á à dimensão do maior serviço, por pura gratuidade. 

Pe. Adroaldo Palaoro sj

Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI

Texto e Imagem- Retirado do site - "CATEQUESEHoje -  www.catequesehoje.org.br ", em 28.03.2024 - Um site de Catequese do Brasil, com muita qualidade!

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Como vencer a tentação?

Neste 1º domingo da Quaresma, há duas palavras centrais: “tentação” e “conversão”.

“O Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás.” Marcos 1:12. “Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: ‘Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Convertei-vos e acreditai no Evangelho’.” Marcos 1:15

“Conversão” em grego “metanoia“, significa uma revolução, uma mudança no pensamento. Converter-se é, mudar a forma de pensarporque a tentação chega-nos sempre através dos nossos pensamentos. Está tudo nos nossos pensamentos. Se aprendermos a controlar nossos pensamentos, dominamos as tentações e não sucumbimos às tentações.


Como controlar os nossos pensamentos?

1. Conhecendo os 3 inimigos que atacam os nossos pensamentos

– O 1º inimigo é minha humanidade ferida (o homem velho).

É a nossa tendência para “asneirar”. “Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço… Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.” Romanos 7:19-23

– O 2º inimigo é Satanás.

“Não te deixes dominar por Satanás, cujas intenções conhecemos bem!” 2 Coríntios 2:1 Deus dá-nos inspirações e Satanás, tentações, então há guerra nos nossos pensamentos…

– O 3º inimigo são os valores do mundo

“Tudo o que há no mundo (a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, a arrogância das riquezas) não é de Deus, mas do mundo.” 1 João 2:16 E as tentações de Jesus no deserto se referiam a isso: Ter, Parecer e Poder (paixão, posse e posição). Somos muito pouco ajudados pela cultura que nos rodeia.

 

2. Sabendo como funciona uma tentação: 4 D’s

Todas as tentações funcionam da mesma maneira. 4 passos!

– Passo 1: Desejo: A tentação não vem de fora, vem de dentro, dos nossos pensamentos. É aí que tudo começa, é onde tudo acontece.

– Passo 2: Dúvida. É aquela vozinha que sussurra ao nosso ouvido: ” Deus realmente disse isso…?” “Que mal é que tem?”

– Passo 3: DesilusãoO Homem não suporta a frustração.

“O fruto proibido é o mais apetecido”

– Passo 4: Desobediência e  Derrota. O desejo, se escutado, dá lugar à dúvida, que causa frustração e desencadeia desobediência e derrota.

 

3. Aprendendo a resistir e a vencer as tentações

 

 Assim que surge uma tentação, devemos fazer como Jesus, devemos imediatamente rejeitá-la com vigor! Se seguirmos o caminho da discussão, é uma causa perdida!

2º E há certas tentações que o melhor é fugir e depressa!

Se não queres ser enganado pelas tentações, foge delas!

3º Consentir e aceitar a minha realidade! Todas as tentações têm a mesma marca. Convidam-nos a fugir de uma realidade difícil para obter, suavemente, uma vida melhor, uma atração pelo fácil.

4º Mas, acima de tudo, se Jesus derrotou o maligno a cada tentação, foi porque se apoiou e confiou na Palavra de Deus!

Por isso, no início destes 40 dias de Quaresma mergulhemos na meditação da Palavra de DeusAlimentemos os nossos pensamentos com verdade.

«O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus». Mateus 4:4 (resposta de Jesus à tentação de Satanás).

PPP

Questiona-te:

– Quais são as tentações mais frequentes?

– O que posso fazer para as evitar?

– O que é que Jesus teria dito/feito no meu lugar?


Texto: Retirado do site da Paróquia de S.Jorge  de Arroios -"G(o)od News"- https://iaa.pt/

em 18/02/2024; 

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 18/02/2024;


terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Vem salvar-nos, Senhor...

Feliz Quaresma 2024! 
Aproveita bem estes 40 dias para te encontrares com o Senhor, que veio, vem e virá para te salvar!

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Porque toda vida vem de Ti | Jésed | CORO SORRISO


Re Sol La Si-

Porque toda a vida vem de Ti,

Sol Re Sol La

Em Tua luz, vejo a luz

Re Sol La Si-

Porque toda a vida vem de Ti,

Sol La Sol La Re

E a Tua luz, faz-me ver a luz.

 

Re Sol Si- La Sol

Que precioso é o Teu amor, Senhor meu Deus.

La Re La

Mais do que a vida, sim!

Re Sol Si- La Sol

E na sombra das tuas asas buscarei

La Re

refúgio e Paz.

 

Na abundância do amor me prostrarei

ante Teu trono ó Deus

Nos Teus átrios com temor, Te louvarei,

por Tuas graças Senhor!

 

A abundância dos teus átrios gozarei

como o melhor festim

Do Teu rio de delícias

beberei todo o melhor.


tomemos nos braços, também nós, o Menino...

 FESTA DA APRESENTÇÃO DO SENHOR

XXVIII DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA

SANTA MISSA COM OS MEMBROS DOS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA
E DAS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Ao povo que esperava a salvação do Senhor, os profetas anunciavam a sua vinda, como afirma o profeta Malaquias: «Entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega!» (3, 1). Simeão e Ana são imagem e figura desta expetativa. Veem entrar o Senhor no seu santuário e, iluminados pelo Espírito Santo, reconhecem-No no Menino que Maria traz ao colo. Esperaram por Ele durante toda a vida: Simeão, homem «justo e piedoso que esperava a consolação de Israel» (Lc 2, 25), e Ana, que «não se afastava do templo» (Lc 2, 37).

Faz-nos bem contemplar estes dois anciãos, pacientes na expetativa, vigilantes no espírito e perseverantes na oração. O seu coração manteve-se desperto, como uma tocha sempre acesa. São de idade avançada, mas têm a juventude do coração; não se deixam desgastar pelos dias, porque, na expetativa, os seus olhos permanecem voltados para Deus (cf. Sal 145, 15)... voltados para Deus em expetativa, sempre à espera. Ao longo do caminho da vida, sentiram dificuldades e desilusões, mas não cederam ao derrotismo: não «mandaram para a reforma» a esperança. E assim, ao contemplar o Menino, reconhecem que o tempo se completou, que a profecia se realizou; Aquele que procuravam e por Quem suspiravam, o Messias das nações, chegou. Mantendo viva a expetativa do Senhor, tornam-se capazes de O acolher na novidade da sua vinda.

Irmãos e irmãs, a expetativa de Deus é importante também para nós, para o nosso caminho de fé. Todos os dias, nos visita o Senhor: fala-nos, revela-Se-nos de maneira inesperada e há de vir no fim da vida e dos tempos. Por isso, Ele mesmo nos exorta a permanecer despertos, a vigiar, a perseverar na expetativa. De facto, a pior coisa que nos pode acontecer é deixar-nos cair no «sono do espírito»: adormecer o coração, anestesiar a alma, arquivar a esperança nos cantos obscuros das desilusões e resignações.

Penso em vós, irmãs e irmãos consagrados, e no dom que sois; penso em cada um de nós, cristãos de hoje… Ainda somos capazes de viver a expetativa? Não ficaremos às vezes demasiado ocupados connosco próprios, com as coisas e os ritmos intensos de cada dia, a ponto de nos esquecermos de Deus que sempre vem? Porventura não estaremos demasiado enleados com as nossas obras de bem-fazer, arriscando-nos a reduzir a própria vida consagrada e cristã às «muitas coisas a fazer» e negligenciando a busca diária do Senhor? Não correremos por vezes o risco de programar a vida pessoal e a vida comunitária com base no cálculo das possibilidades de sucesso, em vez de cultivar com alegria e humildade a pequena semente que nos foi confiada, na paciência de quem semeia sem esperar recompensa e de quem sabe esperar pelos tempos e as surpresas de Deus? Às vezes – temos de o reconhecer – perdemos esta capacidade de esperar. Isto depende de vários obstáculos, dos quais me apraz destacar dois.

O primeiro obstáculo que nos faz perder a capacidade de esperar é a negligência da vida interior. Acontece quando o cansaço prevalece sobre o encanto, quando o hábito ocupa o lugar do entusiasmo, quando perdemos a perseverança no caminho espiritual, quando as experiências negativas, os conflitos ou a demora no aparecimento dos frutos nos transformam em pessoas amargas e amarguradas. Não nos faz bem ruminar a amargura, porque, numa família religiosa – como em qualquer comunidade e família –, as pessoas amarguradas e de «cara triste» tornam a atmosfera pesada; são pessoas que parecem ter vinagre no coração. Então é necessário recuperar a graça perdida: voltar atrás e, através duma vida interior intensa, regressar ao espírito de humildade jubilosa, de silenciosa gratidão. E isto alimenta-se com a adoração, com o trabalho rezado e feito de coração, com a oração concreta que luta e intercede, capaz de despertar o anélito de Deus, o amor de outrora, o encanto do primeiro dia, o gosto da expetativa.

O segundo obstáculo é a adaptação ao estilo do mundo, que acaba por ocupar o lugar do Evangelho. E o nosso é um mundo que frequentemente corre a grande velocidade, que exalta o «tudo e já», que se consome no ativismo e procura exorcizar os medos e as angústias da vida nos templos pagãos do consumismo ou da diversão a todo o custo. Em tal contexto, onde é banido e se perdeu o silêncio, esperar não é fácil, porque exige um comportamento de sadia passividade, a coragem de abrandar o passo, de não nos deixarmos dominar pelas atividades, de criar espaço dentro de nós para a ação de Deus, como ensina a mística cristã. Por conseguinte estejamos atentos para que o espírito mundano não entre nas nossas comunidades religiosas, na vida eclesial e no caminho de cada um de nós; caso contrário, não daremos fruto. A vida cristã e a missão apostólica precisam que a expetativa, amadurecida na oração e na fidelidade diária, nos liberte do mito da eficiência, da obsessão do lucro e, sobretudo, da pretensão de encerrar Deus nas nossas categorias, porque Ele vem sempre de modo imprevisível, vem sempre em tempos que não são os nossos e sob forma diferente da que esperávamos.

Como afirma a mística e filósofa francesa Simone Weil, somos a noiva que espera durante a noite a chegada do noivo, e «o papel da futura esposa é a expetativa (…). Desejar Deus e renunciar a tudo o mais: nisto apenas consiste a salvação» (S. Weil, Expetativa de Deus, Milão 1991, 152). Irmãs, irmãos, cultivemos na oração a expetativa do Senhor e aprendamos a «passividade boa do Espírito»: assim seremos capazes de nos abrir à novidade de Deus.

Como Simeão, tomemos nos braços, também nós, o Menino, o Deus da novidade e das surpresas. Acolhendo o Senhor, o passado abre-se ao futuro, o velho que sobrevive em nós abre-se ao novo que Ele gera. Sabemos que isto não é simples, porque, na vida religiosa – como aliás na de cada cristão –, é difícil opor-se à «força do velho»: «de facto, não é fácil para o velho que há em nós acolher a criança, o novo – acolher o novo, na nossa velhice, acolher o novo - (…). A novidade de Deus apresenta-se como uma criança e nós, com todos os nossos hábitos, medos, temores, invejas – atenção às invejas! –, preocupações, temos à nossa frente esta criança. Abraçá-la-emos, acolhê-la-emos, dar-lhe-emos espaço? Esta novidade entrará verdadeiramente na nossa vida ou, ao contrário, tentaremos compaginar velho e novo, procurando deixar-nos perturbar o menos possível pela presença da novidade de Deus?» (C. M. Martini, Algo de muito pessoal. Meditações sobre a Oração, Milão 2009, 32-33).

Irmãos e irmãs, estas perguntas são-nos dirigidas a nós, a cada um de nós, são dirigidas às nossas comunidades, são dirigidas à Igreja. Deixemo-nos interpelar, deixemo-nos mover pelo Espírito, como Simeão e Ana. Se vivermos, como eles, a expetativa salvaguardando a vida interior e permanecendo coerentes com o estilo do Evangelho, se vivermos, como eles, a expetativa, abraçaremos Jesus, que é luz e esperança da vida.

 Extratos de texto: Retirados do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/ em 03/02/2024; 

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 03/02/2024;

Espère en moi | Emmanuel Music

"dai ao vosso servo um coração inteligente" (1Rs 3,9)


Ciclo de catequeses do Papa Francisco: Os vícios e as virtudes - O combate espiritual

Na semana passada introduzimo-nos no tema dos vícios e das virtudes. Ele recorda a luta espiritual do cristão. Com efeito, a vida espiritual do cristão não é pacífica, linear, sem desafios; pelo contrário, a vida cristã exige um combate constante: o combate cristão para conservar a fé, para enriquecer os dons da fé em nós. Não é por acaso que a primeira unção que cada cristão recebe no sacramento do Batismo - a unção catecumenal - é sem perfume algum e anuncia simbolicamente que a vida é uma luta. Sim, na antiguidade os lutadores eram completamente ungidos antes da competição, quer para tonificar os músculos, quer para tornar o corpo esquivo às garras do adversário. A unção dos catecúmenos torna imediatamente claro que ao cristão não é poupada a luta, que o cristão deve lutar: também a sua existência, como a de todos, deverá descer à arena, pois a vida é uma sucessão de provações e tentações.

Uma célebre frase atribuída a Abade António, o primeiro grande padre do monaquismo, reza assim: “Tira as tentações e ninguém se salvará”. Os santos não são homens aos quais foi poupada a tentação, mas pessoas bem conscientes de que as seduções do mal aparecem repetidamente na vida, para ser desmascaradas e rejeitadas. Todos nós experimentamos isto, todos nós: ter um mau pensamento, o desejo de fazer isto ou de falar mal do outro... Todos, todos nós somos tentados, e devemos lutar para não cair nessas tentações. Se algum de vós não tem tentações, que o diga, pois isto seria algo extraordinário! Todos nós temos tentações, e todos devemos aprender a comportar-nos em tais situações.

Há muitas pessoas que são egocêntricas, que pensam que estão “bem” – “Não, eu sou bom, sou boa, não tenho estes problemas”. Mas nenhum de nós está bem; se alguém se sente bem, sonha; cada um de nós tem muitas coisas a corrigir, e também devemos estar vigilantes. E às vezes acontece que vamos ao Sacramento da Reconciliação e dizemos, com sinceridade: “Padre, não me lembro, não sei se cometi pecados...”. Mas isto é falta de conhecimento do que acontece no coração. Somos pecadores, todos nós! E um pequeno exame de consciência, um pequeno olhar interior far-nos-á bem. Caso contrário, correremos o risco de viver nas trevas, porque nos habituamos às trevas e já não conseguimos distinguir o bem do mal. Isaac de Nínive dizia que, na Igreja, quem conhece os seus pecados e chora por eles é maior do que aquele que ressuscita um morto. Todos nós devemos pedir a Deus a graça de nos reconhecermos pobres pecadores, necessitados de conversão, guardando no coração a confiança de que nenhum pecado é demasiado grande para a misericórdia infinita de Deus Pai. Esta é a lição inaugural que Jesus nos dá!

Vemo-lo logo nas primeiras páginas dos Evangelhos, em primeiro lugar quando nos falam do batismo do Messias nas águas do rio Jordão. O episódio tem em si algo de desconcertante: por que se submete Jesus a este rito de purificação? Ele é Deus, é perfeito! De que pecado se deve arrepender Jesus? De nenhum! Até o Batista fica escandalizado, a ponto de o texto dizer: João queria impedi-lo, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti. E tu vens a mim?». Mas Jesus é um Messias muito diferente do que João o tinha apresentado e do modo como as pessoas o imaginavam: não encarna o Deus irado, não convoca para o julgamento mas, pelo contrário, põe-se na fila com os pecadores. Como? Sim, Jesus caminha connosco, com todos nós, pecadores. Não é um pecador, mas está entre nós. E isto é bom! “Padre, cometi tantos pecados!” – “Mas Jesus está contigo: fala deles, Ele ajuda-te a abandoná-los”. Jesus nunca nos deixa sozinhos, nunca! Pensai bem nisto. “Oh, Padre, cometi coisas graves!” – “Mas Jesus compreende-te e acompanha-te: entende o teu pecado e perdoa-o”. Nunca esqueçamos isto! Nos piores momentos, nos momentos em que escorregamos nos pecados, Jesus está ao nosso lado para nos ajudar a levantar. Isto dá-nos consolação. Não podemos perder esta certeza: Jesus está ao nosso lado para nos ajudar, para nos proteger, até para nos levantar depois do pecado. “Mas Padre, é verdade que Jesus perdoa tudo?” – “Tudo. Ele veio para perdoar, para salvar. Mas Jesus quer o teu coração aberto”. Nunca se esquece de perdoar: somos nós, muitas vezes, que perdemos a capacidade de pedir perdão. Recuperemos a capacidade de pedir perdão. Cada um de nós tem muitas coisas das quais pedir perdão: cada um de nós pense nisso dentro de si, e hoje fale com Jesus sobre isto. Fale com Jesus sobre isto: “Senhor, não sei se é verdade ou não, mas tenho a certeza de que Tu não te afastas de mim. Tenho a certeza de que me perdoas. Senhor, sou pecador, pecadora, mas por favor não te afastes”. Esta seria uma bonita oração a Jesus hoje: “Senhor, não te afastes de mim”.

E logo após o episódio do batismo, os Evangelhos narram que Jesus se retira para o deserto, onde é tentado por Satanás. Também aqui se põe a questão: por que o Filho de Deus deve conhecer a tentação? Também neste caso, Jesus se mostra solidário com a nossa frágil natureza humana e torna-se o nosso grande exemplum: as tentações que atravessa e vence no meio das pedras áridas do deserto são a primeira instrução que dá à nossa vida de discípulos. Ele experimentou o que também nós devemos sempre preparar-nos para enfrentar: a vida é feita de desafios, provações, encruzilhadas, visões opostas, seduções ocultas, vozes contraditórias. Algumas vozes são até persuasivas, a ponto que Satanás tenta Jesus recorrendo às palavras da Escritura. Devemos preservar a lucidez interior para escolher o caminho que nos conduz verdadeiramente à felicidade e depois esforçar-nos para não parar ao longo do caminho.

Lembremo-nos de que estamos sempre divididos entre extremos opostos: a soberba desafia a humildade; o ódio opõe-se à caridade; a tristeza impede a verdadeira alegria do Espírito; o empedramento do coração rejeita a misericórdia. Os cristãos caminham constantemente sobre estes cumes. Por isso é importante refletir sobre os vícios e as virtudes: ajuda-nos a superar a cultura niilista em que os contornos entre o bem e o mal permanecem matizados e, ao mesmo tempo, recorda-nos que o ser humano, ao contrário de qualquer outra criatura, pode sempre transcender-se a si mesmo, abrindo-se a Deus e caminhando rumo à santidade.

Portanto, o combate espiritual leva-nos a olhar mais de perto os vícios que nos agrilhoam e a caminhar, com a graça de Deus, para as virtudes que podem florescer em nós, trazendo a primavera do Espírito à nossa vida.

Papa Francisco

Audiência geral 04.01.23

 Extratos de texto: Retirados do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/ em 03/02/2024; 

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 03/02/2024;