sábado, 30 de junho de 2018

Parábolas sobre a misericórdia


‘Parábolas sobre a misericórdia - 1Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 
3Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: 
A ovelha perdida (Mt 18,10-14) - 4«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ 
7Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.» 
A dracma perdida - 8«Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? 9E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ 
10Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.» 
Os dois filhos - 11Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. 12O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. 13Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. 
15Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. 16Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 
17E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! 18Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ 20E, levantando-se, foi ter com o pai. 
Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. 21O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ 
22Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. 23Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. 
25Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. 26Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. 27Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ 
28Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; 30e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ 31O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»’



"Retirado em 10.06.2018 do Site do Capuchinhos  “ http://www.capuchinhos.org "
Imagem-Turismo de Portugal

«Este acolhe os pecadores e come com eles»

Para muitos um pecador é um condenado, alguém injusto que merece ser separado eternamente dos ‘bons’. Este seria o pensamento dominante nos fariseus e doutores da Lei, face aos pecadores, face aos incumpridores da Lei. Jesus, porém, acolhe e partilha a vida com os pecadores, os ditos “indesejados”.
É neste contexto, que Jesus nos ensina que Deus é Amor, que é Pai de Misericórdia infinita. Que todo pecador precisa de ser encontrado pelo Pai, de deixar-se encontrar pelo Pai.

Face a estas maravilhosas parábolas sobre a Misericórdia, deixo aqui uma humilde reflexão:

1. Caminhar ou ficar em casa? 

1.1 -O filho mais novo

O filho mais novo parte, quebra com frieza a sua relação com a família, quer separar-se, quer escolher sozinho os caminhos a seguir. Ao partir desta forma, deixa o seu Pai mais pobre, mais triste, despojado dos seus bens e da sua presença. É desta forma que o pai perde o filho, é desta forma que o pastor perde a sua ovelha muito querida.

Este filho parte com bens materiais, com um coração vazio, sem alegria, mas procurando encontrar a sua própria felicidade, talvez nos divertimentos e distrações. Imagino a ovelha, que pastando no deserto com as outras, e que vendo uma e outra pastagem mais verdejante, mais atraente, se afasta, e vai deixando as outras ovelhas e o seu pastor.

Este filho gasta os seus bens numa vida desregrada e perde a sua última “segurança”, o dinheiro, ficando deste modo na miséria. De cidadão livre e senhor, quase se torna escravo.

Na nossa vida, não são poucas as vezes que nos separamos dos outros, que queremos fazer caminho sozinhos, à nossa maneira. Por vezes ferimos os nossos amigos mais próximos, e partimos sem dar satisfações, para realizar as nossas vontades. São alguns exemplos disso, os esposos que desistem da família; são filhos que abandonam os pais nos lares, nos hospitais; é a luxuria que por vezes toma conta das nossas vidas; é o querer ter prestígio;  são as riquezas, é o poder  que se sobrepõe à caridade; são as distrações e ilusões que nos agarram;  são tentações às quais vamos cedendo de passo em passo, e que  nos levam para caminhos longínquos e perigosos, etc. As consequências podem ser devastadoras, corremos o risco de nos sentirmos desgraçados, encurralados, escravos e sem esperança.

1.2- O filho mais velho

O filho mais velho fica na casa com o pai, servindo-o sem transgredir uma ordem Dele. Este filho é “uma das noventa e noventa e nove ovelhas” que não arriscam novas pastagens.

Este filho, que é fiel, também se apresenta como justo, perfeito e juiz. Este filho, faz-nos lembrar, todos nós que vamos ao templo aos Domingos, que “cumprimos” os mandamentos, os preceitos, mas que muitas vezes, não queremos estar com as pessoas que não têm a nossa religião, que têm pontos de vista que nos incomodam, que são mais pobres, que são muito pecadoras, muito escandalosas. Somos pessoas que gostamos de ficar seguros em casa do Pai.

1.3- Onde estamos?

Onde nos encontramos? De saída da casa do pai?  Em terras “longínquas” a esbanjar a nossa vida, ou, já cobertos de feridas, vícios, completamente desanimados e perdidos sem conhecer Quem nos procura?

Onde estamos? Estamos em casa do Pai, mas sem o conhecer?

Procuramos o Pai? 

Nas nossas vidas, podemos constatar que atravessamos diversas vezes estes estádios, com avanços e recuos, em outras situações, estamos com um pé no caminho e outro em casa. Esta parábola parece ser o resumo da nossa vida.

2. Encontro com o Pai, a conversão.

Tanto o filho mais novo como o filho mais velho, independentemente de terem partido ou de terem “permanecido” na casa do Pai, apesar das feridas abertas, determinante é o encontro com o Pai.

Ambos os filhos, ainda não conheciam verdadeiramente o Pai, não conheciam o seu Amor transformador. O Pai sempre procura os seus filhos, não desiste deles. Acende a candeia, a chama do Amor, tira todos obstáculos, e procura-os cuidadosamente até os encontrar.  

Vale a pena relembrar as atitudes do Pai para com o filho mais novo:
-Aceita o pedido de divisão do filho;
-Vê o seu filho ao longe ( sempre o procurou);
-Enche-se de compaixão;
-Corre a lançar-se-lhe ao pescoço e cobre-o de beijos;
-Escuta o filho;
-Manda trazer-lhe a melhor túnica, manda colocar o anel no dedo e sandália nos pés (devolve-lhe a dignidade de filho);
-Manda trazer e matar o vitelo mais gordo;
-Manda fazer um banquete;
-Explica o sentido da Festa «porque este meu filho estava morto e reviveu estava perdido e foi encontrado»

O filho não diz mais nada, tal era a sua alegria, renasce neste encontro com o Pai, é curado, é salvo, é renovado.  O Pai encontra o Filho e a festa começa, o coração de pedra do filho transforma-se novamente num coração de carne…

«Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão», diz-nos Jesus.

Importante  relembrar também,  as atitudes do Pai para com o filho mais velho:
- Suplica ao filho para entrar na festa;
-Reconhece que ele tem estado sempre com Ele;
-Reconhece que o que é dele, também é do filho;
-Explica o sentido da festa;

 Jesus não nos diz se o Filho mais velho entra no banquete, se se converteu, ou não.

E nós, quando nos encontramos na situação do filho mais novo, cheios de feridas, vícios, procuramos o Pai?  Sabemos que Ele nos ama incondicionalmente? Sabemos que Ele, a todo momento, nos pode restituir a dignidade de seus filhos muito queridos? Já tivemos na nossa vida experiências de encontro com o Pai, na oração, na escuta da Sua Palavra, nos Sacramentos, no nosso próximo? O sinal desse encontro é a Alegria e a Paz.

Estaremos nós, na situação do filho mais velho? Estamos fechados às fragilidades dos mais pobres e pecadores. Sentimo-nos seguros com as nossas obras? Se sim, não sejamos orgulhosos, aceitemos entrar na Festa do Senhor e digamos, Pai, preciso muito de Ti, sem Ti nada sou, cura-me.

3. O Reino de Deus

Jesus, o Verbo de Deus, que existe desde sempre, que encarnou na humanidade para nos revelar o Pai, ensinou-nos em parábolas e com o seu exemplo, como o Pai nos ama.

Jesus não ficou fechado no templo, caminhava, arriscava, a todos convidava à conversão, pecadores, fariseus, doutores da Lei, etc.

E nós, no mundo que nos envolve, procuramos anunciar a Misericórdia do Pai? Somos sinal e testemunhas dessa Misericórdia? 

O pecador está perdido, precisa de ser encontrado pelo Pai, de deixar-se encontrar pelo Pai. Nós, devemos facilitar "esse encontro"  ao nosso próximo, sejam eles nossos amigos ou inimigos. 

Diác. José Luís Leão/ 2018

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