‘Parábolas
sobre a misericórdia - 1Aproximavam-se dele todos os cobradores de
impostos e pecadores para o ouvirem. 2Mas os fariseus e os doutores
da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com
eles.»
3Jesus
propôs-lhes, então, esta parábola:
A ovelha perdida (Mt 18,10-14) - 4«Qual é o homem dentre vós
que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e
nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? 5Ao
encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao chegar a casa,
convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei
a minha ovelha perdida.’
7Digo-vos
Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por
noventa e nove justos que não necessitam de conversão.»
A dracma perdida - 8«Ou qual é a mulher que, tendo dez
dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura
cuidadosamente até a encontrar? 9E, ao encontrá-la, convoca as amigas
e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’
10Digo-vos:
Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.»
Os dois filhos - 11Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. 12O
mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o
pai repartiu os bens entre os dois. 13Poucos dias depois, o filho
mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou
tudo quanto possuía, numa vida desregrada. 14Depois de gastar tudo,
houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações.
15Então,
foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou
para os seus campos guardar porcos. 16Bem desejava ele encher o
estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
17E, caindo
em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui
a morrer de fome! 18Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou
dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno
de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ 20E,
levantando-se, foi ter com o pai.
Quando ainda estava longe, o pai
viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o
de beijos. 21O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra
ti; já não mereço ser chamado teu filho.’
22Mas o pai
disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um
anel para o dedo e sandálias para os pés. 23Trazei o vitelo gordo e
matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, 24porque este meu
filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa
principiou.
25Ora, o
filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa
ouviu a música e as danças. 26Chamou um dos servos e perguntou-lhe o
que era aquilo. 27Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai
matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’
28Encolerizado,
não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. 29Respondendo
ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma
ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos;
30e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com
meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ 31O pai respondeu-lhe:
‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas
tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e
reviveu; estava perdido e foi encontrado.’»’
Imagem-Turismo de Portugal
«Este acolhe os pecadores e come com eles»
Para
muitos um pecador é um condenado, alguém injusto que merece ser separado
eternamente dos ‘bons’. Este seria o pensamento dominante nos fariseus e
doutores da Lei, face aos pecadores, face aos incumpridores da Lei. Jesus, porém,
acolhe e partilha a vida com os pecadores, os ditos “indesejados”.
É neste
contexto, que Jesus nos ensina que Deus é Amor, que é Pai de Misericórdia
infinita. Que todo pecador precisa de ser encontrado pelo Pai, de deixar-se encontrar pelo Pai.
Face a
estas maravilhosas parábolas sobre a Misericórdia, deixo aqui uma humilde reflexão:
1. Caminhar
ou ficar em casa?
1.1 -O
filho mais novo
O filho
mais novo parte, quebra com frieza a sua relação com a família, quer
separar-se, quer escolher sozinho os caminhos a seguir. Ao partir desta forma,
deixa o seu Pai mais pobre, mais triste, despojado dos seus bens e da sua presença. É desta forma que o pai perde o filho, é desta forma que o pastor
perde a sua ovelha muito querida.
Este filho
parte com bens materiais, com um coração vazio, sem alegria, mas procurando
encontrar a sua própria felicidade, talvez nos divertimentos e distrações.
Imagino a ovelha, que pastando no deserto com as outras, e que vendo uma e
outra pastagem mais verdejante, mais atraente, se afasta, e vai deixando as
outras ovelhas e o seu pastor.
Este
filho gasta os seus bens numa vida desregrada e perde a sua última “segurança”,
o dinheiro, ficando deste modo na miséria. De cidadão livre e senhor, quase se
torna escravo.
Na nossa
vida, não são poucas as vezes que nos separamos dos outros, que queremos fazer
caminho sozinhos, à nossa maneira. Por vezes ferimos os nossos amigos mais
próximos, e partimos sem dar satisfações, para realizar as nossas vontades. São
alguns exemplos disso, os esposos que desistem da família; são filhos que
abandonam os pais nos lares, nos hospitais; é a luxuria que por vezes toma
conta das nossas vidas; é o querer ter prestígio; são as riquezas, é o poder que se sobrepõe à caridade; são as
distrações e ilusões que nos agarram; são tentações às quais vamos cedendo de passo
em passo, e que nos levam para caminhos
longínquos e perigosos, etc. As consequências podem ser devastadoras, corremos o
risco de nos sentirmos desgraçados, encurralados, escravos e sem esperança.
1.2- O filho mais velho
O filho
mais velho fica na casa com o pai, servindo-o sem transgredir uma ordem Dele.
Este filho é “uma das noventa e noventa e nove ovelhas” que não arriscam novas
pastagens.
Este
filho, que é fiel, também se apresenta como justo, perfeito e juiz. Este filho,
faz-nos lembrar, todos nós que vamos ao templo aos Domingos, que “cumprimos” os
mandamentos, os preceitos, mas que muitas vezes, não queremos estar com as
pessoas que não têm a nossa religião, que têm pontos de vista que nos
incomodam, que são mais pobres, que são muito pecadoras, muito escandalosas.
Somos pessoas que gostamos de ficar seguros em casa do Pai.
1.3- Onde estamos?
Onde nos
encontramos? De saída da casa do pai? Em
terras “longínquas” a esbanjar a nossa vida, ou, já cobertos de feridas,
vícios, completamente desanimados e perdidos sem conhecer Quem nos procura?
Onde
estamos? Estamos em casa do Pai, mas sem o conhecer?
Procuramos
o Pai?
Nas
nossas vidas, podemos constatar que atravessamos diversas vezes estes estádios,
com avanços e recuos, em outras situações, estamos com um pé no caminho e outro em casa. Esta parábola parece ser o resumo da nossa
vida.
2. Encontro com o Pai, a conversão.
Tanto o
filho mais novo como o filho mais velho, independentemente de terem partido ou
de terem “permanecido” na casa do Pai, apesar das feridas abertas, determinante
é o encontro com o Pai.
Ambos os
filhos, ainda não conheciam verdadeiramente o Pai, não conheciam o seu Amor
transformador. O Pai sempre procura os seus filhos, não desiste deles. Acende a
candeia, a chama do Amor, tira todos obstáculos, e procura-os cuidadosamente
até os encontrar.
Vale a
pena relembrar as atitudes do Pai para com o filho mais novo:
-Aceita o pedido de divisão do filho;
-Vê o seu filho ao longe ( sempre o procurou);
-Enche-se de compaixão;
-Corre a lançar-se-lhe ao pescoço e cobre-o
de beijos;
-Escuta o filho;
-Manda trazer-lhe a melhor túnica, manda
colocar o anel no dedo e sandália nos pés (devolve-lhe a dignidade de filho);
-Manda trazer e matar o vitelo mais gordo;
-Manda fazer um banquete;
-Explica o sentido da Festa «porque este meu
filho estava morto e reviveu estava perdido e foi encontrado»
O filho
não diz mais nada, tal era a sua alegria, renasce neste encontro com o Pai, é
curado, é salvo, é renovado. O Pai
encontra o Filho e a festa começa, o coração de pedra do filho transforma-se
novamente num coração de carne…
«Haverá
mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e
nove justos que não precisam de conversão», diz-nos Jesus.
Importante relembrar também, as atitudes do Pai para com o filho mais velho:
- Suplica ao filho para entrar na festa;
-Reconhece que ele tem estado
sempre com Ele;
-Reconhece que o que é dele, também é do
filho;
-Explica o sentido da festa;
Jesus não
nos diz se o Filho mais velho entra no banquete, se se converteu, ou não.
E nós,
quando nos encontramos na situação do filho mais novo, cheios de feridas,
vícios, procuramos o Pai? Sabemos que
Ele nos ama incondicionalmente? Sabemos que Ele, a todo momento, nos pode
restituir a dignidade de seus filhos muito queridos? Já tivemos na nossa vida experiências de encontro com o
Pai, na oração, na escuta da Sua Palavra, nos Sacramentos, no nosso próximo? O
sinal desse encontro é a Alegria e a Paz.
Estaremos
nós, na situação do filho mais velho? Estamos fechados às fragilidades dos mais
pobres e pecadores. Sentimo-nos seguros com as nossas obras? Se sim, não
sejamos orgulhosos, aceitemos entrar na Festa do Senhor e digamos, Pai, preciso
muito de Ti, sem Ti nada sou, cura-me.
3. O Reino de Deus
Jesus, o
Verbo de Deus, que existe desde sempre, que encarnou na humanidade para nos
revelar o Pai, ensinou-nos em parábolas e com o seu exemplo, como o Pai nos
ama.
Jesus não
ficou fechado no templo, caminhava, arriscava, a todos convidava à conversão,
pecadores, fariseus, doutores da Lei, etc.
E nós, no
mundo que nos envolve, procuramos anunciar a Misericórdia do Pai? Somos sinal e
testemunhas dessa Misericórdia?
O pecador
está perdido, precisa de ser encontrado pelo Pai, de deixar-se encontrar pelo Pai. Nós, devemos facilitar "esse encontro" ao nosso próximo, sejam eles nossos amigos ou inimigos.
Diác.
José Luís Leão/ 2018