Chamo-me Joana e sou originária da Paróquia da Póvoa de Santo
Adrião e Olival de Basto. Nasci no seio de uma família católica e, desde
sempre, estive envolvida nas diversas atividades paroquiais. Como qualquer
jovem, tive os meus períodos normais de crise e questionamento. Enquanto
adolescente questionei a existência de Deus, mas creio que foi com este
profundo e sincero questionamento de quem é Deus e de qual seria o seu projeto
para mim e para o mundo que começou a minha busca vocacional.
Progredindo nos estudos escolares começou a crescer em mim o
desejo de ser médica. O gosto pelo estudo e sobretudo pela arquitetura do
organismo humano motivaram a que me empenhasse para alcançar este objetivo. E,
nesse momento, quando consegui entrar na faculdade de medicina, pensei que
tinha alcançado o que Deus queria para mim e considerei a medicina como a minha
vocação primordial. Contudo, Deus sonha sempre mais alto para cada um de nós e
desejava, para mim, algo mais belo, mais radical, mais abundante.
Ao mesmo tempo que entrei em medicina conheci, pela
primeira vez, as irmãs missionárias combonianas. O que me cativou mais foi a
profunda alegria que transmitiam quando falavam da sua vida partilhada com os
mais pobres. Se, ao princípio, esta vocação missionária pareceu-me longínqua e
inalcançável para mim, a presença destas irmãs fez-me questionar muito a
coerência com que vivia a minha fé cristã. Algo tão impactante como o título da
mensagem do Papa Francisco para o “ I Dia Mundial dos Pobres” que celebramos
este ano “Amar não com palavras, mas com obras”.
Após anos intensos de busca, senti
que Deus me chamava a comprometer-me mais seriamente com o meu projeto
vocacional. E assim, sentindo fortemente o chamamento a ser Irmã Missionária
Comboniana, uma vez terminando o meu curso de Medicina, comecei as etapas de
formação religiosa. Na primeira etapa que se chama postulando- que é um
primeiro contacto com forma de vida orante, comunitária e apostólica de uma
missionária comboniana. – Tive que, pela primeira vez, deixar o meu país, a
minha cultura, o meu idioma e viajei rumo a Granada, no Sul de Espanha. Na
seguinte etapa, o noviciado-esta etapa que, na vida religiosa, corresponde a um
período de intenso encontro com Jesus, principalmente por meio da Sua Palavra-
viajei rumo ao Equador onde fiz parte de um grupo de cinco jovens, cada uma de
um ponto do planeta, mas todas perseguindo o sonho de Deus a seu respeito. E,
depois de quatro anos de intensa formação religiosa, foi com muita alegria que
respondi que SIM a uma vida de pobreza, castidade e obediência a Jesus e à sua
Missão no mundo de hoje, com a minha profissão religiosa. Do Equador
enviaram-me à Escócia para melhorar o meu inglês para que pudesse aprender a
língua árabe na Jordânia. Assim, faz quase um ano que me encontro na Jordânia e
que estou a fazer esta bela e desafiante experiencia de encontro com a
realidade dos refugiados e migrantes que lá se encontram, fruto das inúmeras
guerras que ainda se travam na região que é considerada “Terra Santa” pelas
três principais religiões mundiais: judaísmo, islamismo, cristianismo.
Enquanto vos escrevo já sei que, depois do aperfeiçoamento
da língua árabe, viajarei a uma nova terra prometida: Sudão do Sul, o país mais
jovem do mundo onde toda a ajuda no campo médico é tão necessária. Despeço-me
de todos vós, acreditando, no fundo do meu coração, que todos nós, comprometidos
com o Reino de Deus, procuramos na nossa vida estar no lugar onde a vontade de
Deus nos coloca, que é sempre a fonte da
maior paz, amor e vida abundante que podemos desejar para as nossas vidas.
Irmã Joana Sofia Carneiro
Missionária Comboniana
“Artigo retirado do Boletim Trimestral n.º 123, “evangelizar
hoje”, Abril/Junho-2018, dos Missionários Combonianos”
Nenhum comentário:
Postar um comentário