sábado, 1 de agosto de 2015

Missões - Capuchinhos Franciscanos - Testemunho

    
 
                                             Testemunho de Ana Patrícia
« De tudo aquilo que foi Timor e, continua a ser na minha vida, ficam as muitas recordações e uma verdadeira saudade! E, esta saudade é de uma vida diferente, saudade de muitos momentos e, particularmente, de pessoas. Foram sempre as pessoas que estiveram lá connosco, que nos acolheram, que se despediram de nós, de um modo inesperado, no momento difícil. E foi assim, porque Deus deu-nos o privilégio de conhecermos pessoas autênticas.

Explorei, procurei, descobri, encontrei, chorei, amei. Surpreendi-me, desiludi-me, conheci-me, foram muitos os contrastes de sentimentos e emoções com a realidade que via e vivia…o confronto comigo mesma! O testemunho de vidas autênticas baseadas na humildade e simplicidade fizeram encontrar-me…crescer um bocadinho! Pessoas que nada tinham mas que tudo eram! Assim chorei, sofri, mas cresci! Tomei nota como sou pequenina, mesmo pequenina. Tomei nota que esta minha passagem por Timor foi uma graça na minha vida, porque recebi muito mais do que aquilo que eu fui capaz de dar! Tomei nota como a fé é um dom e a minha missão é hoje e agora onde quer que eu esteja, porque me fizeram ver que ‘o essencial são as pessoas.’

São pessoas de um olhar profundo e sincero, por vezes indecifrável, e transmitiam serenidade, plenitude, autenticidade, mas também era rostos de pessoas que passaram por muito sofrimento, tristeza, e que vivem numa inquietação perante um futuro incerto…não sabem se os seus sonhos algum dia irão realizar-se! Olham-nos nos olhos…são transparentes ao ponto de se darem por completo.

As crianças são felizes! Brincam de verdade, divertem-se com tarefas simples, até varrer o átrio da Igreja para apanharem as folhas secas serve de entretenimento para elas. Já têm incutido um espírito de serviço e entreajuda que as nossas crianças rodeadas de consumismo não vivem! Brincam juntas…felizes! “Ó naransa?” (como te chamas?) perguntávamos nós para que viessem ter connosco e não fugissem de vergonha. Elas riam-se muito ao ouvirem-nos falar tétum e eu sentia-me realizada ao poder vivenciar isto. A adolescente Leonarda e a pequenina e simpática Maria do Rosário foram presenças muito queridas que marcaram a minha caminhada.

As experiências foram variadas e vividas intensamente…

As experiências que mais gostei foram as idas às montanhas. Fizemos caminhadas longas e cansativas debaixo do sol para lá chegarmos, o que foi óptimo experimentarmos os caminhos que muitos trilham regularmente; chegando lá pudemos ver com os nossos próprios olhos as condições em que vivem uma aldeia inteira desde bebés e crianças até ao mais idoso, o que foi duro mas real; dormitando para, no dia seguinte, pudermos sentir o que é não ter água sem sabor a fumo para beber, porque esta era fervida pelo menos cinco vezes na fogueira para salvaguardar qualquer intoxicação; servirem-nos as refeições com tudo de melhor que tinham e podiam e não comerem enquanto nós não acabássemos; e, para que não bastasse conhecer quase uma aldeia inteira que nunca tinha ido ao médico. Fizemos o rastreio de saúde nestas montanhas e foi muito bom podermos agir e trabalhar em campo, podermos também nós darmo-nos um bocadinho e sentirmo-nos a fazer um trabalho útil. Foi extraordinário a adesão de todos ao rastreio e o seu entusiasmo, a alegria de terem ali alguém que se preocupava com eles e que foi procurá-los à sua própria casa…

Visitámos alguns estabelecimentos de serviços de saúde e, foi, verdadeiramente, medonho! O hospital distrital como o de Manatuto com míseras condições, com cerca de 15 camas com redes mosquiteiras rotas e 2 ambulâncias a cobrir todo o distrito; o hospital de Díli como o único local onde se faz Raio X em Timor; o hospital de Baucau com ninhadas de baratas no tecto, doentes traumatizados e queimados graves sem condições de tratamento e suporte; sei que já se fazem muitos esforços para se desenvolver estas estruturas, mas há muito trabalho neste campo ainda por fazer. A saúde é fundamental na vida de qualquer ser humano. Mas, por outro lado, tivemos contacto com profissionais de saúde dignos de respeito por serem capazes de serem humanos em tudo aquilo que faziam e com uma humildade autêntica no serviço que prestavam.

Os testemunhos missionários que tivemos a graça de conhecer são uma parte indispensável desta experiência. São pessoas que se doam por completo à missão, aos outros, sem esperar nada em troca. Exemplos de verdadeiros homens e mulheres de Deus, que se dignam a continuarem o trabalho deixado por Cristo como sua missão. O ser evangelizadores deixando que Deus faça neles maravilhas. São vidas riquíssimas de vida! Só uma fé como a deles permite ultrapassarem tantas dificuldades, medos e angústias; superarem tantas metas não atingidas e objectivos desmoronados.

As avaliações diárias que fizemos todas as noites em grupo ajudaram-me a reflectir dia-a-dia e, isso foi fundamental para ir assentando estas vivências. A partilha tem sempre uma riqueza indefinida…as orações que rezámos naquela capela tão especial em Laleia foram intensas e fizeram-me sentir pertinho de Deus. Sofri para logo sentir a alegria de viver!…e tudo isso eu vivi! E foi tão bom!

Esta experiência missionária suscitou em mim o desejo de voltar…e voltar podendo dar mais de mim, voltar e estar ao serviço, principalmente, na área da saúde que eu tanto desejo desempenhar.

Dou graças a Deus pela oportunidade que colocou diante de mim…»
«Retirado do Site dos Franciscanos Capuchinhos-  http://www.capuchinhos.org»

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