domingo, 30 de novembro de 2014

«O VATICANO II E O DESPERTAR DOS LEIGOS NA IGREJA
“Manifestou-nos o mistério da sua vontade,
e o plano generoso que tinha estabelecido,
para conduzir os tempos à sua plenitude:
submeter tudo a Cristo,
reunindo nele o que há no céu e na terra.
Foi também em Cristo que fomos escolhidos como sua herança,
predestinados de acordo com o desígnio daquele que tudo opera,
de acordo com a decisão da sua vontade,
para que nos entreguemos ao louvor da sua glória,
nós, que previamente pusemos a nossa esperança em Cristo.
Foi nele, ainda, que vós ouvistes a palavra da verdade,
o Evangelho que vos salva.
Foi nele ainda que acreditastes
e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido,
o qual é garantia da nossa herança,
para que dela tomemos posse, na redenção,
para louvor da sua glória. Por isso, também eu, desde que ouvi falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, quando vos recordo nas minhas orações.” Efésios, 1, 9-16
 
Do livro da vida
O Papa João XXIII, quando a janela do Vaticano anunciou ao mundo o Concílio que iria renovar toda a igreja, terminou dizendo: “ Agora, ide para casa e fazei uma carícia aos vossos filhos”. Como quem diz: “A alegria que o Concílio vos vai trazer será tão grande que vós sentireis vontade de fazer festas aos vossos filhos!
  1. O despertar dos leigos
 O despertar dos leigos na igreja para a sua vocação laical, foi um movimento longo que levou bastante tempo a afirmar-se. Começou por grupos ou organizações de leigos que procuravam marcar a sua presença cristã na sociedade: umas, de natureza devocional, como os oratórios, os montepios, as congregações marianas, as fraternidades da chamada “devoção moderna”; outras de carácter social, como as Conferências de S. Vicente de Paulo, fundadas por um leigo, Frederico Ozanam; outras de natureza apostólica, como a Juventude Católica, destinada a desempenhar um papel decisivo na formação e consciência dos leigos na Igreja.
Juntamente com estes movimentos organizados, destacavam-se numerosas personalidades de têmpera cristã do mundo laical, verdadeiros plasmadores do pensamento cristão do séc XIX: filósofos como Descartes, pensadores como Pascal, historiadores como César Cantu, romancistas como Chateaubriand, Mazoni e tantos outros.
 
  1. A emergência do laicado
E já no século XX vai-se descobrir uma nova pista que será decisiva para a doutrina conciliar sobre os leigos: os movimentos de renovação bíblica; teológica; litúrgica; ecuménica; missionária que estão na base do Vaticano II e que despertaram a Igreja para os valores das origens. O movimento bíblico mostrou um Novo Testamento, cheio de missionários e carismas laicais; o movimento missionário veio revelar o papel dos leigos na missão dos começos; o movimento teológico mostrou o papel dos leigos na teologia dos padres da Igreja dos primeiros tempos. Descobre-se a teologia da missão da Igreja, a vocação do cristão à santidade, os carismas e os ministérios, a relação dos cristãos com o mundo, a Igreja como fermento e levedura ao serviço do mundo.
Foi a partir desta leitura renovada da vocação cristã que se relançou a vocação e a missão dos leigos na Igreja. O Vaticano II aparece como resultado de toda esta caminhada. Foi o primeiro Concílio a tratar da vocação laical em toda a sua amplitude.
E logo a segui foi criado o Conselho Pontifício para os Leigos, começam a realizar-se os Congressos dos Leigos, até que o Sínodo sobre os Leigos em 1987 consagra definitivamente a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo.(…)
  1. Os leigos na perspectiva do Concílio
O Direito Canónico de 1917 definia o leigo pela negativa: leigo era aquele que não era clérigo. O Vaticano II coloca-se noutra perspectiva: o leigo é descrito não a partir da sua relação com o clero, mas a partir da sua relação com Cristo, com a Igreja e com o mundo. Vai, portanto, à raiz da vocação laical.
a) Relação com Cristo
        O que faz o leigo antes de mais nada é a sua relação com Cristo: pelo Baptismo, o cristão é ungido pelo Espírito, incorporado em Cristo, entra na família da Santíssima Trindade. Torna-se povo de Deus. Todo o povo de Deus é laical. Todos os cristãos, bispos, padres e leigos identificam-se nesta fonte. Todos se tornam participantes da missão de Cristo, todos participam na sua Santidade. Em Cristo todos são chamados a consagrar o mundo, a governar e a anunciar a Palavra.
        Esta condição é comum a todos os cristãos. Não há cristãos mais cristãos que os outros: todos são afluentes do mesmo rio. É dessa fonte que todos partem, de mãos dadas para a missão da Igreja.
b) Relação com a Igreja
No âmbito da comunhão eclesial, porém, o leigo distingue-se do clero e do consagrado religioso.
        Há leigos que são escolhidos para discernir e coordenar os carismas de cada um dos cristãos: são os ministros “ordenados”, que se chamam padres, presbíteros ou pastores.
        Há leigos que Deus escolhe para serem testemunhas de uma maneira especial dos valores do Reino de Deus: são os “consagrados” ou religiosos.
        Mas o ministério da unidade, próprio dos sacerdotes não é uma síntese dos outros ministérios, não são escolhidos para fazerem tudo na Igreja mas para coordenar as actividades do povo de Deus. Não há nenhuma superioridade de uns em relação aos outros mas apenas formas diversas da participação do sacerdócio de Cristo. Uns são ordenados pelo Baptismo, outros por uma unção especial, o sacramento da Ordem.
        Todos os religiosos, padres e leigos, são chamados à perfeição da santidade. Mas uns, os religiosos, revelam Cristo voltado para o Pai, outros, os padres, revelam Cristo voltado para a comunidade, são pastores; os leigos revelam Cristo voltado para o mundo.
c) Relação com o mundo
        Por vocação, compete aos leigos procurar o reino de Deus, ocupando-se das realidades terrestres e ordenando-as segundo Deus (LG3). A Constituição sobre a Igreja no Mundo Contemporâneo começa assim: “ As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias do homem de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo: não há nenhuma realidade verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. E João Paulo II [agora Santo], desde a sua primeira encíclica… repete que “ o homem é o caminho que a Igreja deve percorrer para cumprir a sua missão”.
        O leigo vive no mundo na variedade das suas condições de vida familiar, profissional, económica, social, cultural e política e é nessa gama de relações que deve anunciar o Evangelho. A missão da Igreja não é defender-se do mundo, isolar-se do mundo, mas lançar pontes para o mundo, ser a luz do mundo. A Fábrica, oficina, o laboratório, a escola, o escritório, o serviço doméstico são os grandes espaços da missão do leigo: a técnica, a ciência, as fraldas, o tractor, são caminhos de missão. Santos de fato-macaco, de bata branca, de avental, são santos leigos do nosso tempo. A história é terra dos santos (…)
SEMEAR NO DESERTO
Mesmo quando Deus está longe
E o desânimo está perto
Tu deves acreditar
 
Mesmo quando a estrada termina
E a dúvida começa
Tu deves esperar
 
Mesmo quando as armas matam
E se cala a indiferença
Tu deves falar
 
Mesmo quando tudo vai bem
E nada há a temer
Tu deves vigiar
 
Mesmo quando tudo vai mal
E nada há a fazer
Tu deves agir
 
Mesmo quando todos mentem
E ninguém diz a verdade
Tu deves dizer
 
Mesmo quando as árvores morrem
E as esperanças também
Tu deves renascer
 
Mesmo quando o mar é um risco
E o destino é incerto
Tu deves partir
 
Mesmo quando a noite é longa
E as sombras assustam
Tu deves despertar
 
Mesmo quando os rios secam
E as vidas são estéreis
Tu deves semear
                                                       Manuel Rito Dias (Introdução à Palavra)»
 
Bibliografia: “ 6º Tema, O Vaticano II e o Despertar dos Leigos na Igreja” (p. 32 – 36) in O Leigo vocação para a missão, Neiva, Adélio Torres, Missionários do Espírito Santo- LIAM

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