domingo, 16 de novembro de 2014

O LEIGO NA IGREJA DAS ORIGENS


« O LEIGO NA IGREJA DAS ORIGENS

-Uma Vocação assumida-

4Os que tinham sido dispersos foram de aldeia em aldeia, anunciando a palavra da Boa-Nova. 5Foi assim que Filipe desceu a uma cidade da Samaria e aí começou a pregar Cristo. 6Ao ouvi-lo falar e ao vê-lo realizar milagres, as multidões aderiam unanimemente à pregação de Filipe. 7De facto, de muitos possessos saíam espíritos malignos, soltando grandes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. 8E houve grande alegria naquela cidade.
9Encontrava-se na cidade um homem chamado Simão, que praticava a magia e assombrava o povo de Samaria, dizendo ser ele próprio algo de grande.” Act 8, 4-9

Do livro da vida

   Jeremias viveu o tempo mais difícil da história de Israel: o fim do reino de Judá e a destruição de Jerusalém pelo império da Babilónia. Uma grande parte do povo de Deus foi exilado para a  Babilónia. E foi no meio destas ruínas que Deus chamou Jeremias. E quando Deus lhe perguntou que é que ele via, ele que vivia todo esse drama respondeu ao Senhor: “vejo um ramo de amendoeira”. A amendoeira é uma das poucas árvores que germina no Inverno. Então o Senhor respondeu: “Viste bem porque vigiarei sobre o meu povo”. Em vez de dizer destruição e morte, Jeremias viu o ramo de amendoeira, o sinal da esperança. O leigo, como profeta, é o homem da esperança, ele vê os sinais de Deus, mesmo quando Deus parece ausente.

1-Os leigos no Novo Testamento

   Os leigos têm uma longa tradição na Igreja das origens. No  Novo Testamento, nunca se fala de leigo, no sentido em que nós usamos hoje este termo: leigo era todo o povo de Deus. Os que integravam este povo eram os chamados “santos”, “eleitos” e sobretudo “irmãos”, fossem clérigos ou não. Basta ler as Cartas de S. Paulo: “Aos irmãos que estão em Corinto, aos santos que estão em Éfeso”, etc.

   No Novo Testamento, todo o povo de Deus é povo consagrado pela unção do Espírito Santo, que, incorporado em Cristo, por meio do Baptismo e da Eucaristia  edifica o seu Corpo, que é a Igreja.

   Dentro deste povo, o Espírito Santo suscita grande variedade de ministérios e de dons: uns são escolhidos para o serviço das mesas, outros para o serviço da Palavra, a uns é dado o dom da profecia, a outros o dom do discernimento, a outros o do governo e por aí adiante.

   O que é posto em destaque não é distinção entre uns e outros, mas sim a tensão entre este povo todo ele consagrado, ungido pelo Espírito Santo e o mundo pagão. A oposição não é entre padres e leigos, mas entre cristãos e pagãos.

   Este acento na unidade de todo o povo de Deus em contraste com o mundo, conserva-se nos primeiros séculos do cristianismo. A preocupação dos cristãos não era distinguir os ministérios do interior da Igreja, mas destacar a novidade cristã como alternativa para o mundo envolvente. É claro que havia diferentes ministérios, conforme ensina S. Paulo, mas mais que dizer o que os leigos não eram, afirma-se sobretudo os carismas e ministérios que possuíam. (…)

2- Os leigos na Igreja das origens

   Se formos a examinar a presença dos leigos na Igreja das origens verificamos um conjunto de situações que mostram como eram importantes os leigos nessa Igreja. Assim:

   - o primeiro movimento missionário da igreja de Jerusalém, foi uma iniciativa dos leigos: a evangelização da Samaria, que se seguiu à primeira perseguição da Igreja, a quando do martírio de Estêvão, foi levada a cabo pelos leigos. Foram os leigos, dispersados pela perseguição, que levaram o Evangelho à Samaria. Não foram os apóstolos que foram à frente: os apóstolos só foram mais tarde para confirmar a missão que os leigos, por sua iniciativa, tinham feito.

   -Os leigos estão ainda na origem da evangelização de Roma, capital do império. De facto, quando S. Paulo lá chegou, prisioneiro para ser julgado, foi recebido por um grupo de “irmãos”, ou seja, de cristãos. Quer dizer: o Evangelho já ali tinha sido anunciado. Ora não temos dados nenhuns para afirmar que algum dos apóstolos já ali tivesse chegado para fundar uma comunidade cristã. Foram certamente leigos a anunciar o Evangelho naquela cidade.

   -A evangelização da primeira geração de cristãos deve-se ainda aos leigos: uns titulares de profissões itinerantes, que abundavam naquele tempo, como os marinheiros,  mercadores ou soldados; outros como artífices, como o caso de Priscila e de Áquila;  outros escravos convertidos. S. Paulo encontrou várias vezes  Áquila e Priscila, negociantes de tendas, residindo em três cidades importantes daquele tempo, como Roma, Corinto e  Éfeso e que com ele colaboraram no anúncio do Evangelho. Em Filipos, S. Paulo encontrou uma mulher chamada Lídia que vinha da Ásia e negociava púrpura (Actos 16,15). O Senhor abriu-lhe o coração e esta mulher fez-se baptizar com todos os seus familiares e desde o primeiro dia tomou a seu cargo o cuidado dos missionários. S. Paulo devia abandonar em breve esta cidade, mas a comunidade, embora recém-nascida, tinha já cristãos leigos para levar adiante o anúncio do Evangelho. S. Paulo no último capítulo da Carta aos Filipenses, mencionava alguns dos seus colaboradores e os primeiros até são mulheres: Evódia e Síntique.

3-Os leigos nas escolas de teologia

   -Mas mais que isso: na terceira fase da evangelização, a da reflexão teológica (Didascália, assim se chamava), os primeiros teólogos são ainda leigos. É como se hoje os nossos seminários de teologia fossem orientados por leigos e para a formação de leigos. Basta recordar os chamados “padres apologistas”, que foram os que defenderam o cristianismo das acusações contra os cristãos nesses primeiros tempos, como S. Justino, Clemente da Alexandria, que eram leigos. O próprio Orígenes, um grande teólogo do século IV, só foi ordenado sacerdote aos 50 anos.

   O cristianismo, pouco a pouco, foi passando das camadas populares às elites intelectuais e foi preciso defende-lo já não com argumentos populares, mas teológicos.               E foram os leigos, saídos das escolas que hoje chamaríamos de universitárias, que fizeram esse papel. Foram eles que abriram o caminho ao que hoje chamamos teologia das religiões.

   Estais portanto a ver que nos começos da Igreja não havia clérigos de um lado e leigos do outro, havia ministérios diferentes, mas estavam todos do mesmo lado. O papel dos leigos foi de facto decisivo para implantar o cristianismo, sobretudo nos ambientes culturais.

   Como é que então os clérigos se começaram a afirmar cada vez mais e os leigos a perder cada vez mais espaço na Igreja? (…)”

A missão em parábolas

VÊ-SE NOS OLHOS

   A história que ides ouvir, recolhia de Félix Uribe, no seu livro “Deus é Humor”.

   Conta ele que um belo dia, chegaram à América cinco emigrantes de uma aldeia perdida nas fragas da Biscaia. Era o tempo da América dourada e os homens para ali emigraram à buca do ouro de que tanto se falava nesses longes da Europa.

Passaram vários anos a cavar terra dura, a filtrar água dos rios, sempre na esperança de um dia aparecer a primeira pepita dourada. Uma esperança que ia enganado a vida dura que levavam e as saudades que sentiam da Biscaia distante. Mas de ouro nem sinal.

Até que uma bela madrugada, mal o sol tinha despontado nos píncaros da montanha, um dos cinco parou extasiado. Ali mesmo, perto do rio, o sol reflectia-se com extraordinário fulgor: era uma pedra redonda, brilhante, luminosa, que o atraía. Ou se enganava muito ou era mesmo ouro. Chamou os amigos e mostrou-lhes o prodígio. Com o respeito de quem se aproxima de coisa sagrada, os quatro não tiveram dúvidas: aquela pedra era mesmo ouro.

   Com as mãos febris, os cinco começaram a retirar a terra molhada que  envolvia a pedra miraculosa e o assombro foi ainda maior: aquela pedra provinha de uma rocha toda de ouro, escondida debaixo da terra, a poucos metros de profundidade. Era uma mina de ouro.

   Quase instintivamente recobriram a pedra com terra molhada e antes que chegasse mais alguém, marcaram encontro para a noite, a fim de acertar as ideias sobre a decisão a tomar.

   E no encontro dessa noite, todos estiveram de acordo em não revelar a ninguém aquele segredo. Todos deram a sua palavra de honra sobre o sigilo e para um biscainho mais nada era necessário: a honra contava mesmo.

   O dia seguinte era domingo e como acontecia todos os domingos, os cinco desceram o povoado. Era o dia em que habitualmente todos os emigrantes ali estacionados à busca do mesmo se encontravam para conviver e enganar a solidão. Roupa lavada  lá desceram em direcção à aldeia.

   Foram à missa, almoçaram na cantina com os conterrâneos, bailaram com as moças da terra, repetiram histórias já de todos conhecidas. E dormiram felizes, envoltos em sonhos de ouro, jorrando por toda a montanha.

   De manhã, os cinco, como se nada tivesse acontecido, regressaram para o monte. Mas com surpresa sua, deram-se conta que vários homens, em grupos diferentes, os seguiam. Olharam-se uns aos outros a ver quem tinha sido o traidor. Mas não, a surpresa era igual para todos. Ninguém quebrara o segredo, ninguém faltara à palavra dada.

Até que um deles se voltou e perguntou formalmente aos que os seguiam:

-Porque é que nos seguis?

-Porque encontrastes ouro.

-E quem vo-lo disse?

-Ninguém.

Então como sabeis?

-Como sabemos? Ora, vê-se nos vossos olhos.
A paixão missionária é algo que não dá para esconder.Toda a nossa vida é tocada por ela e ela irradia do nosso viver como a luz dos nossos olhos.»



“ Retirado do Livro: «O LEIGO VOCAÇÃO PARA A MISSÃO» de Adélio Torres Neiva-Missionários do Espírito Santo-L.I.A.M-3º Tema

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