Johny Linares, o
Missionário
Testemunho de vida
Olá, o meu nome é Johny Linares, sou missionário do Centro
Missionário Católico, sou das Honduras, nasci em S. PedroSula e trabalho há
três anos e meio no país El Salvador , um país que abriu muito as portas para
que, por meio do reggaeton, também e
através desta pequena produtora, Benedictus
Music tenhamos podido levar esta mensagem de Salvação através deste género
musical a muitas pessoas e especialmente aos jovens.
Em que momento da tua
vida conheceste Deus?
Eu creio que o Senhor nos chama de muitas e diferentes
maneiras e que posso resumir, posso dizer-vos que sempre foi através da música
e creio que como em qualquer vida pessoal de cada jovem há muito para contar.
Na minha, não foi um grande testemunho, não desceu uma luz, não me apareceu o
Senhor em sonho, mas sim, simplesmente através da música.
Há muitos anos que queria conhecer [Deus], havia um espaço na
minha vida onde eu necessitava algo diferente. Cheguei a ter amigos a quem não
lhes importava a lei, não lhes importavam os seus pais. Tínhamo-nos tornado
jovens rebeldes e, casualmente, numa das muitas picardias que fizemos, a
última, foi roubarmos um carro. Do que mais me lembro foi que quando me dei
conta de que o carro em que estávamos era roubado, eu pedi aos meus amigos para
sair do carro e, nesse momento, apanhei um autocarro. Nunca na minha vida tinha
andado de autocarro pero como diz o ditado “quem tem boca vai a Roma”. E quando
ia caminhando jamais imaginei que existia um igreja católica, uma paróquia a
cerca de três quarteirões da minha casa. Casualmente ia a passar, bastante
desorientado devido à travessura que tínhamos feito, ouvi o som de uma
guitarra, e isso chamou-me a atenção. Escutei alguém a tocar guitarra e jamais
esquecerei esse momento em que o coro paroquial estava a ensaiar para cantar na
missa do dia seguinte.
Alguém deu conta que eu estava a “espiar” e convidou-me
para o grupo juvenil. Assim à primeira não liguei a este convite e, bem, eles
descobriram onde é que eu vivia e convidaram-me. Chegaram num domingo às sete
da manhã e as pessoas pensaram que não eram católicos, mas de outra religião. Recebi-os
amavelmente e educadamente e eles insistiram. Convidaram-me ao longo de vários
dias, até que, por fim, cedi. A primeira missão que tive foi entrar na paróquia,
chamada “Paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe", uma comunidade chamada Fátima,
e foi aí que comecei a entrar na vida religiosa, na vida de Deus. E pouco a
pouco, o Senhor foi-me moldando. Lembro-me que comecei como ajudante de
catequista, depois catequista e, por fim, entrei também no teatro, com um grupo
de teatro chamado “Missão Jes”, chegando
também às Honduras, na rádio. Entrei na Rádio Católica de S. Pedro Sula chamada
Rádio Luz. Por fim, conheci um Irmão, chamado Jorge Prado, que é da Guatemala,
e com ele fiz uma boa dupla. Com eles começamos a travar [conhecimento] com
jovens. Daí nasce a ideia do reggaetón
.
Como começaste a cantar
este género musical?
Como disse muitas vezes, não podemos brincar com Deus, porque
quando alguém quer brincar com Deus, o
Senhor leva isso muito a sério. Lembro-me que, quando ainda estava a trabalhar
na rádio, Jorge Prado aproxima-se do estúdio onde eu estava naquele momento a
improvisar com uma faixa, ele escutou esta letra, este rap e gostou e disse “por
que não trabalhamos juntos? Por que não cantar reggaetón? E eu repondi: “ Não, eu não sei cantar, eu apenas sei
falar” e então ele me disse “Tu fazes isso muito bem, deveríamos fazer algo”.
Então entusiasmei-me tanto, o meu irmão viu esse entusiasmo e começámos a fazer
composições fáceis. Depois foram-se juntando outros amigos e nasce a ideia, em
4 de Setembro de 2004, de formar um grupo de reggeaton. Começámos com três, Alejandro Zepeda, Juan Villalobos,
seus servidores Johny Linares e Elena Valladares e nasce um grupo o Benedictus Music, ou, dizendo melhor, Benedictus, que era a marca do nosso
grupo “Benedictus” e foi o nosso primeiro lançamento a 4 de Setembro, numa actividade
(tele radio ton) que se celebrou em S. Pedro Sula, com este nome. Recordo que fomos
os primeiros a cantar reggaetón , foi
um boom, por assim dizer, e as
pessoas gostaram, inclusivamente as pessoas mais velhas disseram que gostaram
do ritmo, que devíamos fazer mais coisas. Este grupo manteve-se uns dois ou
três anos, fomos cantando juntos como o grupo Benedictus, mas o grupo desfez-se, devido a alguns problemas,
ficando somente eu. Comecei por cantar as mesmas músicas, aprendi todas as
canções, enfim, foi uma aventura e uma odisseia aprender as canções dos meus
outros irmãos. No final, fiquei completamente só. Lembro-me muitas vezes que os
jovens com as suas diferentes actividades sonhavam gravar um disco como
qualquer cantor que começa.
Há quanto tempo cantas?
Desde 2004 até à actualidade [2012], foram 8 anos,
aproximadamente.
Quando aconteceu a tua
gravação?
Foi no ano 2011, que pela primeira vez, mais que tudo, me
entusiasmo, houve um poder de Deus, um milagre de Deus, em que o Senhor me começou
a dizer “tens que gravar, já chegou o tempo de gravar” e eu lhe disse na minha
oração “ se é o momento de gravar, há que abrir portas”. E assim foi
acontecendo esse abrir de portas. E em 2011, por fim, gravo o primeiro disco
como Benedictus Music na Produtora do
meu Irmão Francisco Quintana, lá na Guatemala, um Irmão que se transformou num anjo
que me deu a mão, que agarrou este projecto como se fosse seu e onde também as
suas palavras de ânimo, os seus conselhos e esse apoio profissional e musical
que me ofereceu, tudo isso concretizou este projecto. E [eu] disse “Isto é de
Deus”.
Porquê tanto tempo de
espera para gravar?
Essa foi a grande questão. Muitas pessoas me perguntaram
isso. Por que não gravaste quando saíste?
Recordo muito bem as palavras muito sábias que me disse Jorge
Prado “Não podemos construir gigantes com pés de barro”. De nada servia poder
gravar um disco se, no fina, o grupo se desintegrar. E isso aconteceu. O grupo
desfez-se. Na minha vida pessoal, tinha presente estas palavras e eu dizia “Não
é o momento”, até que por fim, o Senhor deu esse “selo” e por isso o disco se
chama “Com o selo de Deus” , porque
Ele pôs o selo [ a marca] total para que pudéssemos fazer este disco.
Por que demorei? Porque
chega um momento em que amadurecemos e em que Deus diz “este é o momento”.
Infelizmente, às vezes emocionamo-nos e fazemos qualquer coisa que, afinal, não
contém a bênção de Deus, o Espírito de Deus, o apoio de Deus.
Gravar é fácil, gravar e escrever é o mais fácil, mas ter o
apoio de Deus é necessário um crescimento, muita oração e também que o Senhor,
Ele mesmo, se encarregue de abrir as portas e por isso, a minha missão em si
mesma, desde o facto de ser missionário, não era de gravar um disco qualquer. Eu
dizia “ quero que [o disco] tenha o Teu selo, Senhor, que tenha o Teu apoio,
que cada vez que [eu]fale, que proclame uma palavra, tenha um impacto no
coração dos jovens.
Foi por isso que demorei tanto. Porque Deus queria
preparar-me, Deus queria algo melhor para começar este projecto como é o reggaeton e é por isso que há agora um
nome como Johny o Missionário, com o selo musical Benedictus Music.
Qual foi o momento que
mais te marcou como missionário?
É momento muito difícil que eu creio que todos os
missionários que o são a tempo inteiro sabem que é, cada dia. Cada dia que
vivemos é um momento difícil. E isto não é ser negativo é porque cada dia o
Senhor nos ensina uma coisa diferente, cada dia é uma prova maior, mas houve um
momento que eu quero contar. Creio que é o momento que mais marcou a minha vida
foi uma missão na Guatemala. Lembro-me muito bem. Eu estava colaborando com o
Apostolado Católico de Israel, de Guatemala, com sede em S. Pedro Sula e fomos
numa primeira missão que tivemos numa comunidade, num município chamado Santa
Catarina Pinula. Enviaram-me a uma comunidade muito, muito pobre e devido ao
crescimento e para glória de Deus, o Irmão que estava responsável por esta
missão destinou-me a uma casa onde as paredes eram feitas de chapas de zinco, o
chuveiro era feito de quatro paus pousados na terra e com um pano de nylon para
podermos tomar banho. Às vezes estávamos a tomar banho, e o nylon só nos tapava
do peito até aos joelhos e as pessoas que
passavam de autocarro viam e achavam muito cómico. O que mais me marcou foi uma
noite em que íamos jantar e serviram-me um prato que, na Guatemala, é um prato
especial que se serve às visitas. E eu era um visitante, um enviado de Deus…
para eles eu era uma visita especial. E eles fizeram de tudo para que eu
estivesse confortável, para que comesse e levam-me este prato típico da
Guatemala. O mais impressionante foi que
quando ia a começar a comer escuto a voz de uma criança de apenas 5 anos a
dizer baixinho à mamã: “E nós, o que vamos comer?”. Ao ouvir estas palavras, a
mãe respondeu ao filho: “ Filho, fica tranquilo, amanhã vamos comer”.
Sinceramente, isto marcou a minha vida. Até mesmo hoje quando me lembro, causa-me
muita tristeza…Como há pessoas que nos ensinam que, muitas vezes, as coisas económicas,
materiais, ao fim e ao cabo não são tão importantes como a vida que Deus nos dá. Como
esta missão pela qual, muitas vezes, não somos tão agradecidos, quando muitas
vezes não nos damos conta do valor que temos como seres humanos. Ao escutar
esta criança simplesmente disse: “ Sou indigno, Senhor, para estar aqui tirando
o pão da boca desta pobre gente”. Desde esse momento, dei-me conta de que há
muita necessidade, não somente de levar o pão de cada dia mas também o pão espiritual,
o acompanhamento, a oração, o estar disponível, simplesmente falar e escutar as
pessoas. Por isso, nunca esquecerei este momento na Guatemala. Foi um momento
que marcou a minha vida como missão, desde aí comecei a amar esta missão, a
minha vocação como missionário, que até ao dia de hoje não renunciei pela
simples razão de que amo a missão e, em segundo lugar, porque Deus me protegeu
totalmente e em terceiro lugar, porque deixei tudo: a minha família, o meu
país, o meu trabalho.
Pergunto-me, afinal, de que valeria dizer “isto não serviu
para nada”. Regressar ao meu país ou abandonar a vocação…a pergunta é: “para
que serviu deixar tudo”. E também pela simples razão de que não posso
envergonhar o nome de Deus porque se deixei tudo e Deus me deu tudo o que
precisei, inclusivamente, tudo o que veem, este pequeno estúdio, como poderia
regressar sendo tão mal agradecido e escutar as vozes dos meus vizinhos,
família ou de outras pessoas que, quando se apercebem de que és missionário te
dizem “estes não são tempos para ser missionário, hoje não, em pleno séc. XXI
não se pode ser missionário a tempo inteiro… está bem que ajudes a Deus, mas,
por favor, pensa no teu futuro”. Se eu regressasse ou renunciasse à minha
vocação, seria como envergonhar o nome de Deus, porque Deus foi misericordioso,
Ele protegeu esta obra, Deus protegeu a minha vocação e por esta simples razão,
não posso ser mal-agradecido para com Ele.
Que lições aprendeste
na tua vida missionária?
Esta entrevista não chegaria para dizer tudo o que aprendi,
mas posso resumir tudo numas palavras que me disse a minha esposa, Rocío, quando
eu vim pela primeira vez a El Salvador : “ É preciso aprender a depender
totalmente de Deus.” E pouco a pouco, o Senhor me foi mostrando, foi-me tirando
os obstáculos para poder depender totalmente de Deus. E eu faço a pergunta às
pessoas; “será que realmente já aprendemos a depender totalmente de Deus?”.
Não! Agora dependemos do dinheiro, e o dinheiro vem do nosso trabalho. Então,
damo-nos conta de que dependemos do nosso trabalho, das coisas materiais.
Quando eu deixo a minha família, deixo as minhas comodidades, o meu trabalho
que foi uma bênção que tanto me doeu, e venho para aqui e não tenho nada, venho
simplesmente com a minha roupa, as minhas recordações, com as minhas
nostalgias, a minhas dores e tudo o resto, foi muito difícil poder afastar-me
deste ambiente, renunciar totalmente às minhas coisas e dizer : “ Senhor, aqui
estou. O que vou comer, não sei; o que vou dar à minha esposa, não sei; o que
vou comer amanhã, não sei.” E o Senhor, pouco a pouco, tratando-me com diferentes
situações me foi ensinando a depender totalmente de Deus. É difícil? Sim, é
muito difícil. Cada um tem o seu testemunho, cada um tem o seu processo e cada
um poderia contar, mas no meu, fiquei muito marcado. Aprendi a depender
totalmente de Deus. Nesta vida missionária nunca me arrependo nem nunca me vou
arrepender de saber depender de Deus. As minhas preocupações desapareceram, não porque não tenha nada que fazer.
Infelizmente, muitas pessoas pensam que ser missionário é não ter nada que
fazer, e dizem que não me preocupo com nada porque sou missionário e dizem que não tenho obrigações.
Claro que tenho obrigações. Muitas pessoas não se apercebem de que às vezes só
temos um dólar para comer. E aí é a prova de fogo, é quando o Senhor diz: “Bem,
se realmente acreditas em mim, põe-te de joelhos e pede-Me.” E é nessas alturas
que o Senhor me protege, quando só há um dólar ou dois para a comida e nessa
mesma noite ou dia envia anjos e digo simplesmente isto: “Senhor de que mais
posso viver? De quem mais posso depender? Somente de Ti.”.
Dou graças a Deus pela minha vida, dou graças a Deus também
pela tua vida que estás a ver este vídeo e te faço o mesmo convite: aprende a
depender de Deus. Não basta ser missionário, não significa que renuncies a tudo,
mas quando não tiveres o que tu queres, e as coisa não correm como tu queres,
simplesmente depende de Deus...Isto aprendi. Esse dia vais aprender que não
existem mais preocupações, não existe stress, não vão existir zangas com o teu cônjuge
ou a tua família, ou com qualquer outra pessoa que esteja contigo. É aí que
Deus vai dizer “Eu tenho o controle de tudo. Aconteça o que acontecer, Eu tenho
o controle da tua vida”
Deixa que o Senhor marque na tua vida esse amor, que seja
como um selo bendito no teu coração. Que o Senhor abençoe a tua vida. E pedimos
as vossas orações por todos os missionários que andam pelo mundo trabalhando
para este missão que é muito difícil, mas não impossível. Que por vezes é muito
complicada, mas que não é tão feia. Esta é a vitória para aquele que ama a Deus.
Obrigado.
Tradução
livre de: Gracinda Leão
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