Deus
feito Homem em Jesus Cristo, é o rosto da Misericórdia e nós, criados à
imagem de Deus, somos desafiados a
assumir, na nossa vida, no nosso rosto e no nosso coração , essa mesma
identidade.
(…) Jesus traz consigo a novidade do Amor. Ele apresenta-se e
revela-se como rosto de justiça e o verdadeiro rosto da Misericórdia. À lei
antiga de amar o próximo e odiar o inimigo, Jesus propõe a inovação da
misericórdia: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (Mt 5, 44).
Se, pela lei antiga, vigorava o «olho por olho, dente por dente» (Mt 5,
38), Jesus contrapõe dizendo: « Se
alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a
quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado» (Mt 5, 41-42).
Deste modo, Jesus apresenta um modelo de justiça e misericórdia sem limites.
Ele apela para o excesso do Amor, um Amor capaz de ir além da dádiva
equitativa, um Amor abundante que transborda e chega a todos, até aos inimigos
: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36).
Jesus é o rosto da
Misericórdia, não apenas pelas palavras que proferia, mas pelo exemplo de vida,
cujo expoente máximo se encontra na cruz: Perdoa-Lhes, ó Pai, porque não sabem
o que fazem» (Lc 23, 34).
Aqui se revela que «a
misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta, mas uma realidade concreta,
pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem
pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras ( Papa Francisco, Misericordiae Vultus). É precisamente
este o Amor de Deus, um amor concreto, com o qual devemos aprender como nos diz
Jesus na parábola do servo que tendo sido perdoado pelo patrão não foi capaz de
perdoar ao colega (ler Mt 18, 23-33).
Neste texto a Misericórdia desafia e questiona, ela
mesma se torna a base que nos torna capazes de, com sinceridade, rezar o
pai-nosso. De facto, quando rezamos «perdoai-nos como nós perdoamos», não se
trata apenas de dar uma “medida de perdão” a Deus para que Ele a use connosco,
mas também uma forma de compromisso da nossa parte, o compromisso de
aprendermos da Misericórdia de Deus e, consequentemente, em todas as
circunstâncias, ser misericórdia para os outros. Neste sentido, lembra-nos o
Papa Francisco que «somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro,
foi usada Misericórdia para connosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão
mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de
que não podemos prescindir (Misericordiae
Vultus).
Misericórdia,
és tu o meu rosto?
Deus feito Homem em
Jesus Cristo, é o rosto da Misericórdia e nós, criados à
imagem de Deus, somos desafiados a
assumir, na nossa vida, no nosso rosto e no nosso coração , essa mesma
identidade.
Conta-se que S.
Francisco de Assis, vendo que um escorpião se estava a afogar nas águas do rio,
se lançou à água para o salvar. Ao sentir-se “aprisionado”, o escorpião
picou-o, provocando-lhe uma dor tão grande que, instintivamente, o largou. Sem
desistir, S. Francisco pegou num pau e assim conseguiu levar o escorpião até à
margem. Censurado pelos seus seguidores por salvar uma criatura tão má, S.
Francisco apenas respondeu: «O escorpião
reagiu segundo a sua identidade, por isso me picou; eu agi segundo a minha, por
isso o salvei.»
Qual a identidade que
nos habita? A da Misericórdia que vem de Deus ou o desejo de uma justiça à luz
do “olho por olho, dente por dente” que regia os Antigos? Vingança ou Amor?
Qual a nossa escolha? «A misericórdia não é contrária à justiça , mas exprime o
comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade
de se arrepender, converter e acreditar » (Misericordiae
Vultus)
Este amor, a que somos
chamados, é capaz de dar a mão ao próximo e, juntos, caminhar para Deus.
Na parábola do Bom
Samaritano (Lc 10, 29-37), em que o doutor da lei acaba por concluir que
torna-se próximo aquele que usa de Misericórdia, o próprio Jesus conclui e
desafia, dizendo: «Vai tu e faz o mesmo».
(…) Não fiquemos surdos
a este apelo concreto de Jesus e «abramos os nossos olhos para ver as misérias
do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos
desafiados a escutar o seu grito de ajuda. Que o seu grito se torne o nosso e,
juntos, possamos romper a barreira da indiferença que frequentemente reina soberana para
esconder a hipocrisia e o egoísmo». (Misericordiae
Vultus)
Extractos de texto e
imagens retirados da revista “além-mar”,
n. 654, de Janeiro 2016 [ dos Missionários Combonianos ]
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