domingo, 24 de março de 2019

«Felizes os misericordiosos porque alcançarão Misericórdia»

Deus feito Homem em Jesus Cristo,  é  o rosto da Misericórdia e nós, criados à imagem de Deus, somos desafiados  a assumir, na nossa vida, no nosso rosto e no nosso coração , essa mesma identidade.
(…) Jesus traz consigo a novidade do Amor. Ele apresenta-se e revela-se como rosto de justiça e o verdadeiro rosto da Misericórdia. À lei antiga de amar o próximo e odiar o inimigo, Jesus propõe a inovação da misericórdia: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (Mt 5, 44). Se, pela lei antiga, vigorava o «olho por olho, dente por dente» (Mt 5, 38),  Jesus contrapõe dizendo: « Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado» (Mt 5, 41-42). Deste modo, Jesus apresenta um modelo de justiça e misericórdia sem limites. Ele apela para o excesso do Amor, um Amor capaz de ir além da dádiva equitativa, um Amor abundante que transborda e chega a todos, até aos inimigos : «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36).
Jesus é o rosto da Misericórdia, não apenas pelas palavras que proferia, mas pelo exemplo de vida, cujo expoente máximo se encontra na cruz: Perdoa-Lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).

Aqui se revela que «a misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras ( Papa Francisco, Misericordiae Vultus). É precisamente este o Amor de Deus, um amor concreto, com o qual devemos aprender como nos diz Jesus na parábola do servo que tendo sido perdoado pelo patrão não foi capaz de perdoar ao colega (ler Mt 18, 23-33).
Neste texto a Misericórdia desafia e questiona, ela mesma se torna a base que nos torna capazes de, com sinceridade, rezar o pai-nosso. De facto, quando rezamos «perdoai-nos como nós perdoamos», não se trata apenas de dar uma “medida de perdão” a Deus para que Ele a use connosco, mas também uma forma de compromisso da nossa parte, o compromisso de aprendermos da Misericórdia de Deus e, consequentemente, em todas as circunstâncias, ser misericórdia para os outros. Neste sentido, lembra-nos o Papa Francisco que «somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada Misericórdia para connosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir (Misericordiae Vultus).

Misericórdia, és tu o meu rosto?
Deus feito Homem em Jesus Cristo,  é  o rosto da Misericórdia e nós, criados à imagem de Deus, somos desafiados  a assumir, na nossa vida, no nosso rosto e no nosso coração , essa mesma identidade. 

Conta-se que S. Francisco de Assis, vendo que um escorpião se estava a afogar nas águas do rio, se lançou à água para o salvar. Ao sentir-se “aprisionado”, o escorpião picou-o, provocando-lhe uma dor tão grande que, instintivamente, o largou. Sem desistir, S. Francisco pegou num pau e assim conseguiu levar o escorpião até à margem. Censurado pelos seus seguidores por salvar uma criatura tão má, S. Francisco apenas respondeu: «O escorpião reagiu segundo a sua identidade, por isso me picou; eu agi segundo a minha, por isso o salvei.»

Qual a identidade que nos habita? A da Misericórdia que vem de Deus ou o desejo de uma justiça à luz do “olho por olho, dente por dente” que regia os Antigos? Vingança ou Amor? Qual a nossa escolha? «A misericórdia não é contrária à justiça , mas exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar » (Misericordiae Vultus)

Este amor, a que somos chamados, é capaz de dar a mão ao próximo e, juntos,  caminhar para Deus.

Na parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 29-37), em que o doutor da lei acaba por concluir que torna-se próximo aquele que usa de Misericórdia, o próprio Jesus conclui e desafia, dizendo: «Vai tu e faz o mesmo».
(…) Não fiquemos surdos a este apelo concreto de Jesus e «abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira da indiferença  que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo». (Misericordiae Vultus)
Extractos de texto e imagens retirados da revista “além-mar”,  n. 654, de Janeiro 2016 [ dos Missionários Combonianos ]

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