quarta-feira, 27 de março de 2019
domingo, 24 de março de 2019
«Felizes os misericordiosos porque alcançarão Misericórdia»
Deus
feito Homem em Jesus Cristo, é o rosto da Misericórdia e nós, criados à
imagem de Deus, somos desafiados a
assumir, na nossa vida, no nosso rosto e no nosso coração , essa mesma
identidade.
(…) Jesus traz consigo a novidade do Amor. Ele apresenta-se e
revela-se como rosto de justiça e o verdadeiro rosto da Misericórdia. À lei
antiga de amar o próximo e odiar o inimigo, Jesus propõe a inovação da
misericórdia: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (Mt 5, 44).
Se, pela lei antiga, vigorava o «olho por olho, dente por dente» (Mt 5,
38), Jesus contrapõe dizendo: « Se
alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a
quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado» (Mt 5, 41-42).
Deste modo, Jesus apresenta um modelo de justiça e misericórdia sem limites.
Ele apela para o excesso do Amor, um Amor capaz de ir além da dádiva
equitativa, um Amor abundante que transborda e chega a todos, até aos inimigos
: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36).
Jesus é o rosto da
Misericórdia, não apenas pelas palavras que proferia, mas pelo exemplo de vida,
cujo expoente máximo se encontra na cruz: Perdoa-Lhes, ó Pai, porque não sabem
o que fazem» (Lc 23, 34).
Aqui se revela que «a
misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta, mas uma realidade concreta,
pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem
pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras ( Papa Francisco, Misericordiae Vultus). É precisamente
este o Amor de Deus, um amor concreto, com o qual devemos aprender como nos diz
Jesus na parábola do servo que tendo sido perdoado pelo patrão não foi capaz de
perdoar ao colega (ler Mt 18, 23-33).
Neste texto a Misericórdia desafia e questiona, ela
mesma se torna a base que nos torna capazes de, com sinceridade, rezar o
pai-nosso. De facto, quando rezamos «perdoai-nos como nós perdoamos», não se
trata apenas de dar uma “medida de perdão” a Deus para que Ele a use connosco,
mas também uma forma de compromisso da nossa parte, o compromisso de
aprendermos da Misericórdia de Deus e, consequentemente, em todas as
circunstâncias, ser misericórdia para os outros. Neste sentido, lembra-nos o
Papa Francisco que «somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro,
foi usada Misericórdia para connosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão
mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de
que não podemos prescindir (Misericordiae
Vultus).
Misericórdia,
és tu o meu rosto?
Deus feito Homem em
Jesus Cristo, é o rosto da Misericórdia e nós, criados à
imagem de Deus, somos desafiados a
assumir, na nossa vida, no nosso rosto e no nosso coração , essa mesma
identidade.
Conta-se que S.
Francisco de Assis, vendo que um escorpião se estava a afogar nas águas do rio,
se lançou à água para o salvar. Ao sentir-se “aprisionado”, o escorpião
picou-o, provocando-lhe uma dor tão grande que, instintivamente, o largou. Sem
desistir, S. Francisco pegou num pau e assim conseguiu levar o escorpião até à
margem. Censurado pelos seus seguidores por salvar uma criatura tão má, S.
Francisco apenas respondeu: «O escorpião
reagiu segundo a sua identidade, por isso me picou; eu agi segundo a minha, por
isso o salvei.»
Qual a identidade que
nos habita? A da Misericórdia que vem de Deus ou o desejo de uma justiça à luz
do “olho por olho, dente por dente” que regia os Antigos? Vingança ou Amor?
Qual a nossa escolha? «A misericórdia não é contrária à justiça , mas exprime o
comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade
de se arrepender, converter e acreditar » (Misericordiae
Vultus)
Este amor, a que somos
chamados, é capaz de dar a mão ao próximo e, juntos, caminhar para Deus.
Na parábola do Bom
Samaritano (Lc 10, 29-37), em que o doutor da lei acaba por concluir que
torna-se próximo aquele que usa de Misericórdia, o próprio Jesus conclui e
desafia, dizendo: «Vai tu e faz o mesmo».
(…) Não fiquemos surdos
a este apelo concreto de Jesus e «abramos os nossos olhos para ver as misérias
do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos
desafiados a escutar o seu grito de ajuda. Que o seu grito se torne o nosso e,
juntos, possamos romper a barreira da indiferença que frequentemente reina soberana para
esconder a hipocrisia e o egoísmo». (Misericordiae
Vultus)
Extractos de texto e
imagens retirados da revista “além-mar”,
n. 654, de Janeiro 2016 [ dos Missionários Combonianos ]
quinta-feira, 7 de março de 2019
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2019
«A criação encontra-se em expetativa ansiosa,
aguardando a revelação dos filhos de Deus» (Rm
8, 19)
Queridos irmãos e irmãs!
Todos os anos, por meio da Mãe Igreja, Deus
«concede aos seus fiéis a graça de se prepararem, na alegria do coração
purificado, para celebrar as festas pascais, a fim de que (…), participando nos
mistérios da renovação cristã, alcancem a plenitude da filiação divina»
(Prefácio I da Quaresma). Assim, de Páscoa em Páscoa, podemos caminhar para a
realização da salvação que já recebemos, graças ao mistério pascal de Cristo:
«De facto, foi na esperança que fomos salvos» (Rm 8, 24). Este mistério
de salvação, já operante em nós durante a vida terrena, é um processo dinâmico
que abrange também a história e toda a criação. São Paulo chega a dizer: «Até a
criação se encontra em expetativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de
Deus» (Rm 8, 19). Nesta perspetiva, gostaria de oferecer algumas
propostas de reflexão, que acompanhem o nosso caminho de conversão na próxima
Quaresma.
1. A redenção da criação
A celebração do Tríduo Pascal da paixão, morte e
ressurreição de Cristo, ponto culminante do Ano Litúrgico, sempre nos chama a
viver um itinerário de preparação, cientes de que tornar-nos semelhantes a
Cristo (cf. Rm 8, 29) é um dom inestimável da misericórdia de Deus.
Se o homem vive como filho de Deus, se vive como
pessoa redimida, que se deixa guiar pelo Espírito Santo (cf. Rm 8, 14),
e sabe reconhecer e praticar a lei de Deus, a começar pela lei gravada no seu
coração e na natureza, beneficia também a criação, cooperando para a sua
redenção. Por isso, a criação – diz São Paulo – deseja de modo intensíssimo que
se manifestem os filhos de Deus, isto é, que a vida daqueles que gozam da graça
do mistério pascal de Jesus se cubra plenamente dos seus frutos, destinados a
alcançar o seu completo amadurecimento na redenção do próprio corpo humano.
Quando a caridade de Cristo transfigura a vida dos santos – espírito, alma e
corpo –, estes rendem louvor a Deus e, com a oração, a contemplação e a arte,
envolvem nisto também as criaturas, como demonstra admiravelmente o «Cântico do
irmão sol», de São Francisco de Assis (cf. Encíclica Laudato si’, 87).
Neste mundo, porém, a harmonia gerada pela redenção continua ainda – e sempre
estará – ameaçada pela força negativa do pecado e da morte.
2. A força destruidora do pecado
Com efeito, quando não vivemos como filhos de
Deus, muitas vezes adotamos comportamentos destruidores do próximo e das outras
criaturas – mas também de nós próprios –, considerando, de forma mais ou menos
consciente, que podemos usá-los como bem nos apraz. Então sobrepõe-se a
intemperança, levando a um estilo de vida que viola os limites que a nossa
condição humana e a natureza nos pedem para respeitar, seguindo aqueles desejos
incontrolados que, no livro da Sabedoria, se atribuem aos ímpios, ou seja, a quantos
não têm Deus como ponto de referência das suas ações, nem uma esperança para o
futuro (cf. 2, 1-11). Se não estivermos voltados continuamente para a Páscoa,
para o horizonte da Ressurreição, é claro que acaba por se impor a lógica do tudo
e imediatamente, do possuir cada vez mais.
Como sabemos, a causa de todo o mal é o pecado,
que, desde a sua aparição no meio dos homens, interrompeu a comunhão com Deus,
com os outros e com a criação, à qual nos encontramos ligados antes de mais
nada através do nosso corpo. Rompendo-se a comunhão com Deus, acabou por falir
também a relação harmoniosa dos seres humanos com o meio ambiente, onde estão
chamados a viver, a ponto de o jardim se transformar num deserto (cf. Gn
3, 17-18). Trata-se daquele pecado que leva o homem a considerar-se como deus
da criação, a sentir-se o seu senhor absoluto e a usá-la, não para o fim
querido pelo Criador, mas para interesse próprio em detrimento das criaturas e
dos outros.
Quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor,
acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado – que
habita no coração do homem (cf. Mc 7, 20-23), manifestando-se como
avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros e
muitas vezes também do próprio – leva à exploração da criação (pessoas e meio
ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo
um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem
está dominado por ela.
3. A força sanadora do arrependimento e do perdão
Por isso, a criação tem impelente necessidade que
se revelem os filhos de Deus, aqueles que se tornaram «nova criação»: «Se
alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que
surgiram coisas novas» (2 Cor 5, 17). Com efeito, com a sua
manifestação, a própria criação pode também «fazer páscoa»:
abrir-se para o novo céu e a nova terra (cf. Ap 21, 1). E o caminho rumo
à Páscoa chama-nos precisamente a restaurar a nossa fisionomia e o nosso
coração de cristãos, através do arrependimento, a conversão e o perdão, para
podermos viver toda a riqueza da graça do mistério pascal.
Esta «impaciência», esta expetativa da criação
ver-se-á satisfeita quando se manifestarem os filhos de Deus, isto é, quando os
cristãos e todos os homens entrarem decididamente neste «parto» que é a
conversão. Juntamente connosco, toda a criação é chamada a sair «da escravidão
da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus» (Rm
8, 21). A Quaresma é sinal sacramental desta conversão. Ela chama os cristãos a
encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o mistério pascal na sua vida
pessoal, familiar e social, particularmente através do jejum, da oração e da
esmola.
Jejuar, isto é, aprender a modificar a
nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de
«devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por
amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber
renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos
necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da
insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de
assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do
projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a
Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira
felicidade.
Queridos irmãos e irmãs, a «quaresma» do Filho de
Deus consistiu em entrar no deserto da criação para fazê-la voltar a ser
aquele jardim da comunhão com Deus que era antes do pecado das origens
(cf. Mc 1,12-13; Is 51,3). Que a nossa Quaresma seja percorrer o
mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo também à criação, que «será
libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos
filhos de Deus» (Rm 8, 21). Não deixemos que passe em vão este tempo
favorável! Peçamos a Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira
conversão. Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos
para a Páscoa de Jesus; façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade,
partilhando com eles os nossos bens espirituais e materiais. Assim, acolhendo
na nossa vida concreta a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, atrairemos
também sobre a criação a sua força transformadora.
Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de
outubro de 2018.
Franciscus
“Retirado do Site do Vaticano: w2.vatican.va/ em 07.03.2019”
Imagem retirada da “Google imagens” em
07.03.2019
sábado, 2 de março de 2019
Johny Linares, Missionário, Testemunho de Vida
Johny Linares, o
Missionário
Testemunho de vida
Olá, o meu nome é Johny Linares, sou missionário do Centro
Missionário Católico, sou das Honduras, nasci em S. PedroSula e trabalho há
três anos e meio no país El Salvador , um país que abriu muito as portas para
que, por meio do reggaeton, também e
através desta pequena produtora, Benedictus
Music tenhamos podido levar esta mensagem de Salvação através deste género
musical a muitas pessoas e especialmente aos jovens.
Em que momento da tua
vida conheceste Deus?
Eu creio que o Senhor nos chama de muitas e diferentes
maneiras e que posso resumir, posso dizer-vos que sempre foi através da música
e creio que como em qualquer vida pessoal de cada jovem há muito para contar.
Na minha, não foi um grande testemunho, não desceu uma luz, não me apareceu o
Senhor em sonho, mas sim, simplesmente através da música.
Há muitos anos que queria conhecer [Deus], havia um espaço na
minha vida onde eu necessitava algo diferente. Cheguei a ter amigos a quem não
lhes importava a lei, não lhes importavam os seus pais. Tínhamo-nos tornado
jovens rebeldes e, casualmente, numa das muitas picardias que fizemos, a
última, foi roubarmos um carro. Do que mais me lembro foi que quando me dei
conta de que o carro em que estávamos era roubado, eu pedi aos meus amigos para
sair do carro e, nesse momento, apanhei um autocarro. Nunca na minha vida tinha
andado de autocarro pero como diz o ditado “quem tem boca vai a Roma”. E quando
ia caminhando jamais imaginei que existia um igreja católica, uma paróquia a
cerca de três quarteirões da minha casa. Casualmente ia a passar, bastante
desorientado devido à travessura que tínhamos feito, ouvi o som de uma
guitarra, e isso chamou-me a atenção. Escutei alguém a tocar guitarra e jamais
esquecerei esse momento em que o coro paroquial estava a ensaiar para cantar na
missa do dia seguinte.
Alguém deu conta que eu estava a “espiar” e convidou-me
para o grupo juvenil. Assim à primeira não liguei a este convite e, bem, eles
descobriram onde é que eu vivia e convidaram-me. Chegaram num domingo às sete
da manhã e as pessoas pensaram que não eram católicos, mas de outra religião. Recebi-os
amavelmente e educadamente e eles insistiram. Convidaram-me ao longo de vários
dias, até que, por fim, cedi. A primeira missão que tive foi entrar na paróquia,
chamada “Paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe", uma comunidade chamada Fátima,
e foi aí que comecei a entrar na vida religiosa, na vida de Deus. E pouco a
pouco, o Senhor foi-me moldando. Lembro-me que comecei como ajudante de
catequista, depois catequista e, por fim, entrei também no teatro, com um grupo
de teatro chamado “Missão Jes”, chegando
também às Honduras, na rádio. Entrei na Rádio Católica de S. Pedro Sula chamada
Rádio Luz. Por fim, conheci um Irmão, chamado Jorge Prado, que é da Guatemala,
e com ele fiz uma boa dupla. Com eles começamos a travar [conhecimento] com
jovens. Daí nasce a ideia do reggaetón
.
Como começaste a cantar
este género musical?
Como disse muitas vezes, não podemos brincar com Deus, porque
quando alguém quer brincar com Deus, o
Senhor leva isso muito a sério. Lembro-me que, quando ainda estava a trabalhar
na rádio, Jorge Prado aproxima-se do estúdio onde eu estava naquele momento a
improvisar com uma faixa, ele escutou esta letra, este rap e gostou e disse “por
que não trabalhamos juntos? Por que não cantar reggaetón? E eu repondi: “ Não, eu não sei cantar, eu apenas sei
falar” e então ele me disse “Tu fazes isso muito bem, deveríamos fazer algo”.
Então entusiasmei-me tanto, o meu irmão viu esse entusiasmo e começámos a fazer
composições fáceis. Depois foram-se juntando outros amigos e nasce a ideia, em
4 de Setembro de 2004, de formar um grupo de reggeaton. Começámos com três, Alejandro Zepeda, Juan Villalobos,
seus servidores Johny Linares e Elena Valladares e nasce um grupo o Benedictus Music, ou, dizendo melhor, Benedictus, que era a marca do nosso
grupo “Benedictus” e foi o nosso primeiro lançamento a 4 de Setembro, numa actividade
(tele radio ton) que se celebrou em S. Pedro Sula, com este nome. Recordo que fomos
os primeiros a cantar reggaetón , foi
um boom, por assim dizer, e as
pessoas gostaram, inclusivamente as pessoas mais velhas disseram que gostaram
do ritmo, que devíamos fazer mais coisas. Este grupo manteve-se uns dois ou
três anos, fomos cantando juntos como o grupo Benedictus, mas o grupo desfez-se, devido a alguns problemas,
ficando somente eu. Comecei por cantar as mesmas músicas, aprendi todas as
canções, enfim, foi uma aventura e uma odisseia aprender as canções dos meus
outros irmãos. No final, fiquei completamente só. Lembro-me muitas vezes que os
jovens com as suas diferentes actividades sonhavam gravar um disco como
qualquer cantor que começa.
Há quanto tempo cantas?
Desde 2004 até à actualidade [2012], foram 8 anos,
aproximadamente.
Quando aconteceu a tua
gravação?
Foi no ano 2011, que pela primeira vez, mais que tudo, me
entusiasmo, houve um poder de Deus, um milagre de Deus, em que o Senhor me começou
a dizer “tens que gravar, já chegou o tempo de gravar” e eu lhe disse na minha
oração “ se é o momento de gravar, há que abrir portas”. E assim foi
acontecendo esse abrir de portas. E em 2011, por fim, gravo o primeiro disco
como Benedictus Music na Produtora do
meu Irmão Francisco Quintana, lá na Guatemala, um Irmão que se transformou num anjo
que me deu a mão, que agarrou este projecto como se fosse seu e onde também as
suas palavras de ânimo, os seus conselhos e esse apoio profissional e musical
que me ofereceu, tudo isso concretizou este projecto. E [eu] disse “Isto é de
Deus”.
Porquê tanto tempo de
espera para gravar?
Essa foi a grande questão. Muitas pessoas me perguntaram
isso. Por que não gravaste quando saíste?
Recordo muito bem as palavras muito sábias que me disse Jorge
Prado “Não podemos construir gigantes com pés de barro”. De nada servia poder
gravar um disco se, no fina, o grupo se desintegrar. E isso aconteceu. O grupo
desfez-se. Na minha vida pessoal, tinha presente estas palavras e eu dizia “Não
é o momento”, até que por fim, o Senhor deu esse “selo” e por isso o disco se
chama “Com o selo de Deus” , porque
Ele pôs o selo [ a marca] total para que pudéssemos fazer este disco.
Por que demorei? Porque
chega um momento em que amadurecemos e em que Deus diz “este é o momento”.
Infelizmente, às vezes emocionamo-nos e fazemos qualquer coisa que, afinal, não
contém a bênção de Deus, o Espírito de Deus, o apoio de Deus.
Gravar é fácil, gravar e escrever é o mais fácil, mas ter o
apoio de Deus é necessário um crescimento, muita oração e também que o Senhor,
Ele mesmo, se encarregue de abrir as portas e por isso, a minha missão em si
mesma, desde o facto de ser missionário, não era de gravar um disco qualquer. Eu
dizia “ quero que [o disco] tenha o Teu selo, Senhor, que tenha o Teu apoio,
que cada vez que [eu]fale, que proclame uma palavra, tenha um impacto no
coração dos jovens.
Foi por isso que demorei tanto. Porque Deus queria
preparar-me, Deus queria algo melhor para começar este projecto como é o reggaeton e é por isso que há agora um
nome como Johny o Missionário, com o selo musical Benedictus Music.
Qual foi o momento que
mais te marcou como missionário?
É momento muito difícil que eu creio que todos os
missionários que o são a tempo inteiro sabem que é, cada dia. Cada dia que
vivemos é um momento difícil. E isto não é ser negativo é porque cada dia o
Senhor nos ensina uma coisa diferente, cada dia é uma prova maior, mas houve um
momento que eu quero contar. Creio que é o momento que mais marcou a minha vida
foi uma missão na Guatemala. Lembro-me muito bem. Eu estava colaborando com o
Apostolado Católico de Israel, de Guatemala, com sede em S. Pedro Sula e fomos
numa primeira missão que tivemos numa comunidade, num município chamado Santa
Catarina Pinula. Enviaram-me a uma comunidade muito, muito pobre e devido ao
crescimento e para glória de Deus, o Irmão que estava responsável por esta
missão destinou-me a uma casa onde as paredes eram feitas de chapas de zinco, o
chuveiro era feito de quatro paus pousados na terra e com um pano de nylon para
podermos tomar banho. Às vezes estávamos a tomar banho, e o nylon só nos tapava
do peito até aos joelhos e as pessoas que
passavam de autocarro viam e achavam muito cómico. O que mais me marcou foi uma
noite em que íamos jantar e serviram-me um prato que, na Guatemala, é um prato
especial que se serve às visitas. E eu era um visitante, um enviado de Deus…
para eles eu era uma visita especial. E eles fizeram de tudo para que eu
estivesse confortável, para que comesse e levam-me este prato típico da
Guatemala. O mais impressionante foi que
quando ia a começar a comer escuto a voz de uma criança de apenas 5 anos a
dizer baixinho à mamã: “E nós, o que vamos comer?”. Ao ouvir estas palavras, a
mãe respondeu ao filho: “ Filho, fica tranquilo, amanhã vamos comer”.
Sinceramente, isto marcou a minha vida. Até mesmo hoje quando me lembro, causa-me
muita tristeza…Como há pessoas que nos ensinam que, muitas vezes, as coisas económicas,
materiais, ao fim e ao cabo não são tão importantes como a vida que Deus nos dá. Como
esta missão pela qual, muitas vezes, não somos tão agradecidos, quando muitas
vezes não nos damos conta do valor que temos como seres humanos. Ao escutar
esta criança simplesmente disse: “ Sou indigno, Senhor, para estar aqui tirando
o pão da boca desta pobre gente”. Desde esse momento, dei-me conta de que há
muita necessidade, não somente de levar o pão de cada dia mas também o pão espiritual,
o acompanhamento, a oração, o estar disponível, simplesmente falar e escutar as
pessoas. Por isso, nunca esquecerei este momento na Guatemala. Foi um momento
que marcou a minha vida como missão, desde aí comecei a amar esta missão, a
minha vocação como missionário, que até ao dia de hoje não renunciei pela
simples razão de que amo a missão e, em segundo lugar, porque Deus me protegeu
totalmente e em terceiro lugar, porque deixei tudo: a minha família, o meu
país, o meu trabalho.
Pergunto-me, afinal, de que valeria dizer “isto não serviu
para nada”. Regressar ao meu país ou abandonar a vocação…a pergunta é: “para
que serviu deixar tudo”. E também pela simples razão de que não posso
envergonhar o nome de Deus porque se deixei tudo e Deus me deu tudo o que
precisei, inclusivamente, tudo o que veem, este pequeno estúdio, como poderia
regressar sendo tão mal agradecido e escutar as vozes dos meus vizinhos,
família ou de outras pessoas que, quando se apercebem de que és missionário te
dizem “estes não são tempos para ser missionário, hoje não, em pleno séc. XXI
não se pode ser missionário a tempo inteiro… está bem que ajudes a Deus, mas,
por favor, pensa no teu futuro”. Se eu regressasse ou renunciasse à minha
vocação, seria como envergonhar o nome de Deus, porque Deus foi misericordioso,
Ele protegeu esta obra, Deus protegeu a minha vocação e por esta simples razão,
não posso ser mal-agradecido para com Ele.
Que lições aprendeste
na tua vida missionária?
Esta entrevista não chegaria para dizer tudo o que aprendi,
mas posso resumir tudo numas palavras que me disse a minha esposa, Rocío, quando
eu vim pela primeira vez a El Salvador : “ É preciso aprender a depender
totalmente de Deus.” E pouco a pouco, o Senhor me foi mostrando, foi-me tirando
os obstáculos para poder depender totalmente de Deus. E eu faço a pergunta às
pessoas; “será que realmente já aprendemos a depender totalmente de Deus?”.
Não! Agora dependemos do dinheiro, e o dinheiro vem do nosso trabalho. Então,
damo-nos conta de que dependemos do nosso trabalho, das coisas materiais.
Quando eu deixo a minha família, deixo as minhas comodidades, o meu trabalho
que foi uma bênção que tanto me doeu, e venho para aqui e não tenho nada, venho
simplesmente com a minha roupa, as minhas recordações, com as minhas
nostalgias, a minhas dores e tudo o resto, foi muito difícil poder afastar-me
deste ambiente, renunciar totalmente às minhas coisas e dizer : “ Senhor, aqui
estou. O que vou comer, não sei; o que vou dar à minha esposa, não sei; o que
vou comer amanhã, não sei.” E o Senhor, pouco a pouco, tratando-me com diferentes
situações me foi ensinando a depender totalmente de Deus. É difícil? Sim, é
muito difícil. Cada um tem o seu testemunho, cada um tem o seu processo e cada
um poderia contar, mas no meu, fiquei muito marcado. Aprendi a depender
totalmente de Deus. Nesta vida missionária nunca me arrependo nem nunca me vou
arrepender de saber depender de Deus. As minhas preocupações desapareceram, não porque não tenha nada que fazer.
Infelizmente, muitas pessoas pensam que ser missionário é não ter nada que
fazer, e dizem que não me preocupo com nada porque sou missionário e dizem que não tenho obrigações.
Claro que tenho obrigações. Muitas pessoas não se apercebem de que às vezes só
temos um dólar para comer. E aí é a prova de fogo, é quando o Senhor diz: “Bem,
se realmente acreditas em mim, põe-te de joelhos e pede-Me.” E é nessas alturas
que o Senhor me protege, quando só há um dólar ou dois para a comida e nessa
mesma noite ou dia envia anjos e digo simplesmente isto: “Senhor de que mais
posso viver? De quem mais posso depender? Somente de Ti.”.
Dou graças a Deus pela minha vida, dou graças a Deus também
pela tua vida que estás a ver este vídeo e te faço o mesmo convite: aprende a
depender de Deus. Não basta ser missionário, não significa que renuncies a tudo,
mas quando não tiveres o que tu queres, e as coisa não correm como tu queres,
simplesmente depende de Deus...Isto aprendi. Esse dia vais aprender que não
existem mais preocupações, não existe stress, não vão existir zangas com o teu cônjuge
ou a tua família, ou com qualquer outra pessoa que esteja contigo. É aí que
Deus vai dizer “Eu tenho o controle de tudo. Aconteça o que acontecer, Eu tenho
o controle da tua vida”
Deixa que o Senhor marque na tua vida esse amor, que seja
como um selo bendito no teu coração. Que o Senhor abençoe a tua vida. E pedimos
as vossas orações por todos os missionários que andam pelo mundo trabalhando
para este missão que é muito difícil, mas não impossível. Que por vezes é muito
complicada, mas que não é tão feia. Esta é a vitória para aquele que ama a Deus.
Obrigado.
Tradução
livre de: Gracinda Leão
Assinar:
Postagens (Atom)