Uma Paróquia de braços abertos!
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
domingo, 17 de fevereiro de 2019
Maria e a missão
Não compreendo
cristianismo sem Maria. Por mais que se negue seu protagonismo na vida
missionária da Igreja, esta não existiria sem seu sim, sua disponibilidade
serviçal ao projeto de Deus em sua vida. Foi Maria o embrião de uma proposta de
amor de Deus às suas criaturas. Sem ela, a história cristã não aconteceria.
Portanto, fica claro a qualquer cristão mais consciente o valor de Maria na
vida da Igreja; esta que se deixou usar por Deus para que Jesus se inserisse em
nossa caminhada.
Cristão que
nega essa maternidade ou menospreza sua importância, nega também seu Filho.
Não há como separar a figura da mãe do encanto e beleza de sua criança.
Em tudo se assemelham. Até na missão que Deus lhes reservou. Tal mãe, tal
filho.
Assim refletir
é resgatar os passos e atitudes de uma mulher determinada a cumprir sua missão
em todos os detalhes. Não foi ela a primeira alma viva a acolher em si própria
a vontade de Deus em sua plenitude? “Faça-se em mim segundo a sua vontade”? Não
foi ela a primeira missionária a anunciar pessoalmente à família de João
Batista, o precursor, que o Reino de Deus estava próximo, ganhava forma em seu
ventre? “Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre!”,
exclamou-lhe Isabel ao vê-la portadora da mais bela gravidez do gênero humano.
Não foi ela a paciente zeladora e primeira grande admiradora de seu menino
preocupado em ensinar naquele templo, entre os doutores? “Não sabeis que devo
preocupar-me com as coisas do meu Pai”? Não foi ela a primeira intercessora do
grande milagre de um novo tempo (o vinho novo das bodas), cuja realização só se
deu graças à sua intervenção? “Façam tudo o que ele vos disser…” Não foi ela a
mulher paciente que o ouvia à distância, dando espaço às multidões que o
cercavam e renunciando sempre aos direitos que a própria maternidade lhe
concedia? “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a
põem em prática”. Como deve ter lhe sido doloroso ouvir essas palavras!
Ser mãe é renunciar. É criar para o mundo, mesmo à distância. É olhar ao longe
um rebento que cresce, que verga, que adquire forças e um dia parte, sem olhar
para trás. Mas ao Filho sempre resta a certeza de que aquele colo que o
embalou, aqueles seios que o amamentaram, aquele sorriso que aliviava suas
dores, aquele olhar reluzente de esperança e de ânimos, não lhe faltariam
nunca. A mãe, de uma forma ou de outra, tinha endereço fixo em seu coração e
velaria por ele em qualquer circunstância, em qualquer necessidade. O seu Filho
já não mais lhe pertencia. Mas as multidões lhe davam graças: “Feliz o ventre
que te carregou, e os seios que te amamentaram”. Ou seja: obrigado mãe pelo
presente que nos destes!
A obra
missionária da Igreja nasceu do sim de Maria. Por isso é ela a estrela da
evangelização, a primeira grande missionária da fé nascida de seu ventre, a mãe
de Deus e da Igreja… Sem ela não teríamos a Redenção. Tanto que o próprio
Redentor nos presenteou com sua maternidade, confiando-a a proteção do
discípulo que mais amava: “Mulher, eis aí o seu filho”. Depois disse ao bom
discípulo, aquele que nos representou aos pés da cruz: “Eis aí a sua
mãe”. Esse é o detalhe que nos falta na prática da devoção mariana. Não
questão de desvio de foco da obra redentora – como nos acusam alguns – mas
preservação, proteção, acolhimento e gratidão a tudo e por tudo que Maria nos
proporcionou e continua a nos proporcionar com sua presença e bênçãos
maternais. Foi após a consumação de tudo, da maior dádiva de amor que Deus nos
fez, foi nesta hora insana, porém magnânima que “o discípulo a recebeu em sua
casa”. A missão de Maria continua em nosso meio, nossa casa comum.Colunista : Wagner Pedro Menezes
Retirado do Site "Catequese CATÓLICA", http://catequesecatolica.com.br , em 17.02.2019.
sábado, 16 de fevereiro de 2019
O elogio da imperfeição - O caminho da fragilidade
[Sugestão de]
Leitura: "O elogio
da imperfeição - O caminho da fragilidade"
«O Cristianismo tornou-se frequentemente uma religião a
"tender para o perfecionismo moral" (confundindo-o com a santidade),
como se fosse a única condição para obter o amor de Deus e os seus dons. Mas o
único dom que Deus poderá conceder-nos não será senão Ele próprio, quer dizer,
amor, perdão e misericórdia.»
Este é o ponto de partida para o livro "O elogio da
imperfeição - O caminho da fragilidade", de Paolo Scquizzato, que integra
os mais recentes lançamentos da Paulinas Editora.
«A nossa salvação chegará, não quando tivermos derrotado as
nossas misérias, mas quando começarmos a viver a verdade de nós mesmos, isto é,
quando começarmos a aceitar-nos com as nossas fragilidades. Nós somos as nossas
imperfeições, as nossas feridas e os nossos pecados», assinala a sinopse.
"A riqueza do limite". "Hino à
fragilidade", "Basta-nos a sua graça" e "A lógica da
debilidade" são os capítulos que compõem a primeira parte do livro,
seguida da secção "À escuta do Evangelho", que após a introdução
medita sobre duas narrativas evangélicas: "O cego de nascença" e
"A filha de Jairo e a hemorroíssa".
É do
primeiro capítulo que extraímos o excerto que oferecemos aos nossos leitores.
A riqueza do limite
In "O
elogio da imperfeição"
Transformar
as feridas em pérolas
A pérola é
esplêndida e preciosa.
Nasce da
dor.
Nasce quando uma ostra é ferida.
Nasce quando uma ostra é ferida.
Quando um corpo estranho – uma impureza, um grãozinho de
areia – penetra no seu interior e a habita, a concha começa a produzir uma
substância (a madrepérola) com que o cobre para proteger o seu corpo invadido.
No fim, ter-se-á formado uma bela pérola, brilhante e valiosa. Se não for
ferida, a ostra nunca poderá produzir pérolas, porque a pérola é uma ferida
cicatrizada.
Quantas feridas temos dentro de nós, quantas substâncias
impuras nos habitam? Limites, debilidades, pecados, incapacidades,
inadequações, fragilidades psicofísicas... E quantas feridas nas nossas
relações interpessoais? Para nós, a questão fundamental será sempre esta: o que
fazemos com elas? Como as vivemos?
A única via de saída é envolver as nossas feridas com aquela
substância cicatrizante que é o amor; a única possibilidade de crescer e de ver
as nossas impurezas tornarem-se pérolas.
A alternativa é cultivar ressentimentos contra os outros
pelas suas debilidades e atormentarmo-nos a nós mesmos com permanentes e
devastadores sentimentos de culpa por aquilo que não deveríamos ser e por aquilo
que não deveríamos sentir.
A ideia que frequentemente trazemos em nós é que deveríamos
ser de outro modo; que, para sermos aceites por nós próprios, pelos outros e
por Deus, não deveríamos ter dentro de nós aquelas impurezas indecorosas.
Quereríamos ser simples «ostras vazias», sem corpos estranhos de vários
géneros, «puros», em suma. Mas isto é impossível, e, mesmo que nos
considerássemos tais, isso não significaria que nunca fomos feri dos, mas apenas
que não o reconhecemos, que não conseguimos aceitá-lo, que não soubemos
perdoar-nos e perdoar, compreender e transformar a dor em amor; e seríamos
simplesmente pobres e estaríamos terrivelmente vazios.
É fundamental chegar a compreender a importância – em nós e
fora de nós, nas nossas relações – da presença dos limites, das feridas, das
zonas de sombra; perceber, à luz da mensagem evangélica, que tudo o que do
nosso e do mundo interior alheio, está marcado pela sombra e pelo limite, é a
nossa única riqueza, e que é precisamente então que é possível fazer a
experiência da nossa salvação. Em suma, que não há nada dentro de nós que
mereça ser atirado fora.
«Tudo pode ser transformado em graça, até o pecado, dizia
Agostinho. Até a nossa sexualidade ferida e as nossas neuroses, acrescentaremos
nós, desde que façamos delas uma ocasião para nos abrirmos, para acolhermos e
compartilharmos. Por isso, erraríamos se as desprezássemos. São matéria de
santidade» (André Daigneault, La via dell’imperfezione, Cantalupa, Effatà
Editrice, 2012, p. 17).
Se começamos a raciocinar deste modo, quer dizer que se
realizou em nós a verdadeira conversão, a metanoia evangélica; tornámos nosso
um pensamento «outro», diferente, ou, então, chegamos finalmente a já não
pensar que a «pureza», a ausência de debilidade e de pecado, é a nossa
salvação, bem pelo contrário! A salvação, a santidade, consistirá finalmente em
nos apercebermos da nossa verdade, ou seja, de que estamos feridos, somos
limitados, frágeis; mas, ao mesmo tempo, objeto do amor «louco» de Deus que –
precisamente porque somos feitos assim – vem visitar-nos e habitar-nos.
«A santidade
tem tão pouco a ver com a perfeição que é o seu oposto absoluto. A perfeição é
a irmã mais nova mimada da morte. A santidade é o gosto forte pela vida tal
como é – uma capacidade infantil de alegrar-se com aquilo que é, sem pedir nada
mais» (Christian Bobin).
O Evangelho revela continuamente que tudo o que tem o sabor
do limite também encerra em si a possibilidade da sua realização.
Jesus diz a cada um de nós: «Ama aquela parte de ti que
gostarias de não ter. Começa por envolvê-la com o amor e, no fim, verificarás
que tens em ti uma pérola preciosa, porque na ferida reconhecida, envolta pelo
amor, experimentarás o tesouro que trazes dentro de ti.»
Com insistência, o Evangelho exorta-nos a «pôr no meio» o
nosso limite e a nossa fragilidade (cf. o homem com a mão paralisada, Mc 3,3 e
Lc 6,8; o paralítico, Lc 5,19). Colocar no meio as nossas zonas de sombra quer
dizer reconhecer, de um lado, a sua existência e, do outro, que elas, diante da
ressurreição de Cristo, não são a última palavra sobre a nossa humanidade.
Devemos
decidir se optamos pela força ou pela debilidade.
A nossa insuficiência, a nossa debilidade, é uma força maior
do que qualquer outra, porque tem a própria força de Deus: «Quando sou fraco,
então é que sou forte» (2 Cor 12,10).
Esta verdade deveria voltar ao centro do nosso viver cristão.
Como já dissemos, nos Evangelhos, no centro da cena está sempre o homem na sua
doença, enquanto ser ferido, débil e frágil. Por isso, também no centro da
assembleia (da comunidade, da nossa família, da Igreja...), no centro do nosso
viver cristão, não sobressaem a força, o «faça-o você mesmo», a observância
obsessiva dos santos preceitos, o sermos moralmente irrepreensíveis..., mas
está simplesmente a nossa fraqueza.
Reconciliar-se
com o limite
Devemos recuperar a realidade do limite e reconciliarmo-nos
com ela. Só existimos enquanto limitados. Nascemos e morreremos, pelo que somos
limitados no tempo. Temos um corpo, cujos contornos definem a nossa fronteira
com o mundo circunstante, e isso diz-nos que somos limitados no espaço.
Quereríamos ser capazes de amar mais, relacionarmo-nos de maneira diferente,
mas todos os dias fazemos a experiência de que «somos feitos assim» (cada um
tem a sua história, a sua estrutura psicológica, o seu carácter, as suas
doenças interiores...): somos limitados no amor.
Para não falar no limite do outro que, enquanto diferente de
nós, não nos permite ser o que quereríamos, e, por isso, percebemo-lo como
limitador. A alteridade, dentro e fora de nós, frustra o nosso desejo de «como
deveriam ser as coisas»; mas existe e não podemos ignorá-la. A alteridade,
quando nos causa medo, assume o nome de inimigo. E o inimigo é sempre para
combater e, possivelmente, destruir.
Hoje, em geral, entendemos o limite de maneira negativa:
representa para nós constrição, impedimento e sufocamento, enquanto para os
gregos antigos permitia estabelecer os contornos do bem e do mal. O vício e o
pecado estavam no excesso; a virtude e o bem tinham que ver com o meio, ou
seja, um range [gama] – diríamos hoje – situada entre os limites extremos.
De facto, no horizonte ético dos antigos, o erro mais grave
era a hybris, a desmesura, o excesso que ultrapassa os limites. Hoje, pelo
contrário, a palavra limite e tudo aquilo que tem o sabor de limitativo soa a
coerção e, por isso, como totalmente negativo: sabe a dependência,
inferioridade, falta, portanto, a alguma coisa de que é preciso livrarmo-nos o
mais depressa possível.
Hoje, tudo deve ser off limits, desde a investigação
científica ao desporto, passando por todos os aspetos do quotidiano: os
contratos são anuláveis, as relações de trabalho são efémeras e substituíveis,
a palavra dada e a promessa feita são irrelevantes; também se ultrapassou o
limite da vergonha, pelo que o réu já não precisa de se arrepender ou de pedir
desculpa. As novas tecnologias e os novos media comprimiram de tal maneira o
tempo e inutilizaram tanto o espaço que conduziram à rejeição da ideia do fim e,
consequentemente, do confim.
Daqui se conclui que o limite último da vida, ou seja, a
morte, confim com o mistério de fim, já não pode ser aceite. O limite da morte
é anacrónico e absurdo; por isso, é de algum modo imperioso que sejamos
imortais, infinitos.
Depois, como já vimos, há a experiência do limite que nos é
imposta pelo outro, pela qual percebemos o tu como realidade lesiva da nossa
liberdade, do facto de termos razão, das nossas ideias, do nosso sucesso, do
facto de sermos «os primeiros», se não até os únicos.
Tudo isto é esplendidamente contado no episódio do Génesis,
onde Caim, filho único, perde o seu status com a chegada de Abel, o segundo
filho. Para ele, voltar a ser o único, não tem outra solução a não ser eliminar
o antagonista (cf. Gn 4,1-8).
Etimologicamente, eliminar quer dizer expulsar (o
e-privativo) da soleira da porta (limen, liminis): pôr/atirar para fora de
casa, da sua história, o outro, que não permite que se seja o que se quereria,
possibilitando o nosso ser ilimitado.
Da negação do limite a uma vida inautêntica
Christian Bobin escreve:
«Nunca me empolguei muito por exames. Não que fosse mau
aluno, como sói dizer-se. Quando adivinhava o que se esperava de mim, então eu
dava-o. Fazia da arte de aprender uma arte deveras subtil da oferta; é preciso
dar ao outro o que ele espera de nós, e não o que desejamos para nós. O que se
espera de nós, não aquilo que somos.
Porque o que ele espera nunca é o que nós somos, é sempre
outra coisa. Portanto, aprendi muito depressa a dar aquilo que não tinha»
(Elogio do nada).
O homem é um esplêndido ator. O drama que representa é viver
segundo aquilo que os outros esperam dele, e não o facto de ser realmente capaz
de realizar a sua história, quer dizer, a verdade.
O problema é que o outro espera sempre de nós algo diferente
do que somos; isto comporta, inevitavelmente, que demos e manifestemos sempre
aquilo que não temos e que, afinal, não somos. A questão será sempre parecermos
aos outros que somos perfeitos, não manchados por limites ou fragilidades, isto
é, que vivamos através daquelas performances que eles esperam de nós e que nos
tornam bem aceites, bem-queridos. Amados.
Aprendemos isto desde pequeninos em relação aos nossos pais,
para, depois, vivê-lo com os professores, os educadores, os empregadores, o
nosso partner, com nós próprios e com Deus.
Mas não se pode viver uma vida assim; não se pode resistir a
um esforço continuado de nos mostrarmos adequados, performantes, perfeitos,
para tranquilizar os outros a fim de lhes dar prazer.
«Um princípio basilar para o nosso percurso de vida é: «Não
te deixes condicionar pelos outros. Não permitas que os outros te prescrevam a
estrada que deves percorrer. Vai pela tua estrada. Torna-te tu próprio.
Descobre a forma autêntica e incontaminada que o Senhor te atribuiu. E tem a
coragem de viver o aspeto originário de ti mesmo. Quem eras antes de os teus
pais te educarem? Quem eras em Deus, antes de nasceres?» Lembra-te do teu
núcleo divino. Se entrares em contacto com ele, poderás percorrer livremente a
tua estrada (Anselm Grün, O livro da arte de viver).
O nosso drama de cristãos é desejarmos ser performantes, até
diante de Deus. Fizemos do Cristianismo a religião do «tender para o
perfecionismo moral» – confundindo-o com a santidade –, como se fosse a única
condição para obter o amor de Deus e os seus dons. Mas o único dom que Deus
poderá conceder-nos não será senão Ele próprio, quer dizer, amor, perdão e
misericórdia. E Deus só me poderá dar tudo isto quando eu me reconhecer
necessitado de amor, pecador e pobre.
«A santidade que Jesus nos propõe não é de ordem natural, mas
é uma santidade que devemos acolher na nossa pobreza. Jesus veio para os
pecadores e para os débeis, e não para os fortes que estão bem. O esquema de
perfeição humana baseado na vontade e na ascese segue um traçado exatamente
oposto ao da santidade que Jesus nos propõe no Evangelho» (André Daigneault, La
via dell’imperfezione [A vida da imperfeição], cit., p. 24)
A nossa salvação chegará, não quando tivermos derrotado as
nossas misérias, mas quando começarmos a viver a verdade de nós mesmos, isto é,
quando começarmos a aceitar-nos com as nossas fragilidades. Nós somos as nossas
imperfeições, as nossas feridas e os nossos pecados. Não somos outra coisa,
embora talvez o desejemos, mesmo que nos escondamos atrás das máscaras e
recitemos guiões que não nos pertencem.
O Evangelho é uma escola de realismo. Jesus veio arrancar-nos
as máscaras de histriões para que, finalmente, estejamos livres para ser nós
próprios, mesmo que nos custe ou tenhamos de parecer inadequados e loucos aos
olhos do mundo.
«Perguntas-me de que modo me tornei louco. Aconteceu assim:
um dia, muito antes que muitos fossem gerados, acordei de um sono profundo e
apercebi-me de que me tinham sido roubadas todas as máscaras – as sete máscaras
que em sete vidas eu tinha forjado e colocado –, e sem máscara corri pelas ruas
cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
Riam-se de mim homens e mulheres, e alguns precipitaram-se para as suas casas
com medo de mim. E, quando cheguei à praça do mercado, um jovem gritou, do
telhado de uma casa: "É um louco!" Virei os olhos para cima para o
ver; pela primeira vez, o sol me beijou o rosto, o meu rosto nu. O sol beijava
pela primeira vez o meu rosto descoberto e a minha alma incendiava-se de amor
pelo sol, e já não chorava as minhas máscaras. E, como se estivesse em transe,
gritei: "Abençoados, abençoados sejam os ladrões que roubaram as minhas
máscaras!" Foi assim que me tornei louco. E na loucura encontrei a
liberdade e a salvação: fui libertado da solidão e salvo pela compreensão,
porque aqueles que nos compreendem dominam sempre alguma coisa em nós» (Khalil
Gibran, O louco).
Jesus veio libertar-nos do medo de não estarmos à altura
diante de quem quer que seja: nós próprios, o outro, Deus. Adão, o homem de
sempre, escondeu-se por causa disto. Estava nu e teve medo. Diante de Eva
defendeu-se, acusando-a; diante de Deus, escondeu-se no abismo.
O Evangelho é uma contínua memória da encarnação; o Deus que
se pôs ao nosso lado não veio tirar-nos a inadequação, a fragilidade, o limite,
mas libertar-nos do medo que tudo isto exerce em nós, para que não sejamos esborrachados
sob este peso enorme.
É preciso restituir às nossas feridas o direito de cidadania!
A relação com nós próprios e com a nossa vida quotidiana
(social, familiar e relacional) tornar-se-á «paradisíaca» quando conseguirmos
acolher-nos e amar-nos, não de malgrado, mas através de todas as nossas feridas
e das nossas debilidades.
Uma comunidade – seja ela civil, familiar ou religiosa – será
um paraíso, não quando todos forem perfeitos e não houver tensões, mas quando
cada um puder viver a liberdade de tirar a máscara porque se sente aceite e
amado tal como é; quando limites, pecados, feridas e traições já não forem
ocasiões de divisão e de maldições, mas lugares onde se pode amar e perdoar.
Publicado em 24.05.2016+”
Retirado do Site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura ,
https://www.snpcultura.org , em 16.02.2019.
sábado, 9 de fevereiro de 2019
Viver em redes... sem enredar-se
“Avança
para águas mais profundas, e lançai vossas redes...” (Lc 5,4)
Indiscutivelmente,
Jesus é o misterioso visitante que cada dia chega até nós para advertir que
precisamos de nos libertar do tedioso cotidiano, quando ele se torna convencional
e, não raro, carregado de desencanto, pesado, estressante... Corremos o risco
de sermos apenas imitadores ou repetidores, pois tememos nos perder na busca do
novo, bloqueando o desenvolvimento pessoal e comunitário.
O encontro
com Jesus nos arranca da rotina, do “sempre fizemos assim” e nos desafia a
“pescar” de maneira diferente; sua presença alarga nossa mente e nosso coração
instigando-nos a sair dos nossos estreitos mares e entrar no movimento do vasto
mar que Ele nos oferece.
Em que grau
Sua presença nos desperta para aquilo que devemos ser como seus(suas)
seguidores(as)? São grandes os riscos de vivermos em mares tão estreitos; é
cómodo perceber, delimitar, defender e fechar-nos no próprio mar. Isso fazemos
de maneira tão zelosa que nem vemos aquilo que está para além da margem onde
nos estabilizamos.
Tal
estreiteza de vida aprisiona a solidariedade e dá margem à indiferença, à
insensibilidade social, à falta de compromisso com as mudanças que se fazem
urgentes. O próprio espaço se torna uma couraça e o sentido do serviço sai do
horizonte inspirador de tudo aquilo que se faz.
Hoje, o lago
de Tiberíades se converteu numa grande rede que abarca o mundo inteiro. Mas, o
que as pessoas buscam nessa grande rede? E, sobretudo, o que estamos oferecendo
nela para evangelizar?
Com um só
click podemos chegar a milhões de pessoas, podemos fazer muito bem, mas também
podemos criar muita confusão e inclusive repulsa, podemos levar a mensagem de
Jesus ou simplesmente fazer transparecer todo o nosso ego inflado, cheio de si
mesmo. As redes sociais têm seus perigos, mas também tem suas grandes oportunidades
que não podemos desperdiçar. Vamos nos dando conta que, enquanto não
evangelizemos a partir dos meios eletrónicos modernos, não poderemos encher
nossas redes de peixes. O seguimento de Jesus implica hoje a necessidade de
evangelizadores nas redes sociais.
Tendo as
ferramentas em mãos (nossas pobres barcas e redes) e sendo portadores de uma
mensagem de vida (o evangelho) somos movidos por Jesus a “ser pescadores do
humano”. No mar das redes sociais ressoa mais uma vez o apelo de Jesus:
“fazei-vos pescadores do humano”. Frente a esta nova realidade, que tipo de
profecia responde melhor a nossa peculiar forma de cooperar na missão do
Espírito do Abbá e de Jesus.
Estamos no
mundo das telas: através delas nos interconectamos, transmitimos informações,
saberes. As diversas telas tendem à convergência: com um só dispositivo, fixo
ou móvel, podemos falar, enviar e receber fotos, música, vídeos e qualquer tipo
de arquivo; com o “boom” das redes sociais podemos fazer isso com o grupo que
elegemos em cada momento.
Se há algo
que caracteriza nosso tempo é a nova consciência de ser
rede-comunhão-interconexão-unidade. Encontramo-nos em um tempo surpreendente:
as espetaculares inovações tecnológicas nos convidam a entrar numa inimaginável
rede de informações, imagens, conexões... Nosso planeta está dotado de uma
complexíssima textura de comunicações. Com apenas alguns clics oferece-se,
diante de nós, um mundo complexo, de graça e maldade, de alianças para o bem e
para o mal, de luzes e trevas.
E aí estamos
nós, seguidores(as) de Jesus, “em-redados(as)”, nos perguntando por nossa
identidade cristã, na vivência do Evangelho e na missão de nos fazer presentes
neste “novo mundo”. Todos já sabemos que tudo está interconectado: a
globalidade é interação. Lentamente vai-se tomando consciência de que formamos
parte de um todo. A realidade vai se revelando como um manto sem costuras, sem
fraturas, onde todos estamos implicados e comprometidos.
“Rema mar
adentro!”, ressoa a voz de Jesus. A multidão permanece em terra; somente Pedro
e seus companheiros se adentram no mar profundo. Este apelo de Jesus é muito
simbólico. Em grego “bados” e em latim “altum” significam profundidade (alto
mar); só nas profundezas é que se pode extrair o mais autêntico do ser humano,
o que é mais nobre e divino.
Tudo o que,
em vão, buscamos na superfície, está dentro de nós. Mas, ir mar adentro não é
tão fácil como pode parecer. Exige ultrapassar as seguranças do “eu
superficial” e adentrar-nos nas incontroladas águas de nosso ser profundo. Confiar
naquilo que não controlamos exige uma fé-confiança autêntica. Dizia Teilhard de
Chardin: “Quando descia ao profundo de meu ser, chegou um momento em que não
‘dava mais pé’ e parecia que me deslizaba para o vazio”.
O mar era o
símbolo das forças do mal. “Pescar homens” era um dito popular que significava
tirar alguém de um perigo grave. Não quer dizer, como se entendeu com
frequência, fazer proselitismo ou converter as pessoas à força para a religião
cristã. Aqui quer dizer: ajudar as pessoas a sair de todas as opressões que lhe
impedem crescer e desenvolver suas potencialidades. Só pode ajudar o outro a
sair da influência do mal aquele que encontrou o que é mais verdadeiro e nobre
dentro de si mesmo.
Neste
contexto atual, onde corremos o risco de nos converter em pessoas “grudadas [viciadas]” a
uma tela, se faz mais necessário que nunca humanizar a rede para “pescar o
humano” que está escondido no oceano interior de cada um. Esta humanização
requer, em primeiro lugar, muita responsabilidade.
Tudo isto
nos leva a pensar que na rede há uma grande necessidade de silêncio (“silêncio
na rede”), precisamente para que possamos ouvir a verdade com amor. Há
excessivas palavras que afogam, notícias falsas, “bullings”, campanhas
desqualificadoras e comentários feitos com extrema má educação. Sobretudo nas
páginas religiosas, precisamos de um silêncio construtivo para que se escute a
verdade que liberta.
Silêncio
construtivo significa utilizar uma linguagem propositiva, compreensiva, que
estenda pontes de diálogo, que escute o outro que é diferente, que leve em
conta o que “o outro” diz, talvez um aspecto da realidade que nos tinha
escapado.
Silêncio
construtivo significa tomar partido pelos mais fracos e excluídos; significa
usar uma linguagem que sare as feridas, que reconstrua os vínculos quebrados.
Uma página (mensagem) que só busca condenar, que só revela intolerância e
preconceito, não pode ser evangélica. Literalmente, “há demasiado disparos” que
desumanizam. Precisamos do azeito [óleo] do consolo que cura as feridas, o vinho da
esperança que nos une como irmãos acima das diferenças, o pão da compaixão que
alimenta e eleva …
É preciso
fazer a “travessia” do estreito mar de nossa vida, onde nossas inúteis barcas e
redes só “pescam” futilidades e lixo, para o grande oceano que Jesus nos
oferece, carregado de vida e vida em plenitude.
Texto bíblico: Lc 5,1-11
Na oração: “Rema mar adentro e desce ao
profundo de teu ser!” É um convite dirigido a todo ser humano. Sem essa
profundidade, não é possível a plenitude humana. A contemplação é o único
caminho.
“Não é
necessário que percorras os mares buscando alimento; aprende a pescar em teu
próprio mar interior; o que com tanto afinco buscas fora de ti, já tens ao
alcance da mão, dentro de ti. Se não tens pescado nada, que poderás
oferecer aos outros? Se não tens aprendido a pescar, como poderás ensinar a
outros? Dá verdadeiro sentido à tua vida e ajudarás os outros a atingir o
mesmo”. (cf. Fray Marcos)
Pe. Adroaldo Palaoro sj
"Retirado em 09.02.2018 do site - CATEQUESE
Hoje-" www.catequesehoje.org.br "- Um
site com brasileiro com muita qualidade!"
Imagem- Retirada da "google imagens"
domingo, 3 de fevereiro de 2019
Oración de san Francisco de Asís | Oración simple | Un regalo para el Pa...
Oração de
São Francisco
Senhor, fazei de mim um instrumento
da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o
perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a
união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a
fé.
Onde houver erro, que eu leve a
verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a
esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a
alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a
luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida
eterna.
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