sábado, 21 de junho de 2014

A MISERICÓRDIA DE DEUS E A MISERICÓRDIA DOS HOMENS




"1. O segundo domingo da Páscoa foi consagrado pelo Papa João Paulo II à misericórdia de Deus. Foi precisamente neste domingo, a 27 de Abril, que o Papa Francisco canonizou o Papa da Misericórdia. Em Roma teve lugar um acontecimento único que não mais se vai repetir. Na Praça de S. Pedro, a Igreja Universal celebrou a vida e a obra de quatro Papas. Dois foram canonizados, passaram a ser santos da Igreja. Um participou na Eucaristia, apesar de ser Papa emérito, há um ano recolhido num mosteiro dentro do Vaticano. E o quarto Papa presente foi o Papa Francisco, que presidiu a esta maravilhosa liturgia, com a participação de quase três milhões de peregrinos.
• S. João XXIII é o Papa do Concílio Vaticano II. Quando foi eleito, em 1958, falava-se de um Papa de transição. Chegou ao pontificado com a simplicidade de um homem bom que a todos acolheu e que quis simplesmente servir. No primeiro encontro com os cardeais anunciou que iria convocar um Concílio. À surpresa sucedeu a alegria, porque toda a Igreja sentia que era necessário responder às grandes transformações do mundo. O Vaticano II constitui, ainda hoje, o desafio para que a Igreja se volte para o mundo, sendo nele instrumento de salvação.
• S. João Paulo II é o Papa que toda a gente conhece. Nos 26 anos do seu pontificado levou o Evangelho a todos os cantos do mundo. As 196 viagens apostólicas tornaram-no, para todos, construtor de reconciliação e de paz: no diálogo com o mundo não teve medo e criou laços de esperança e de unidade. A queda do muro de Berlim, os encontros com Gorbachev e Fidel de Castro, a resistência à incompreensão e aos atentados, a identificação com o mistério de Fátima e tantas outras coisas fizeram de João Paulo II um profeta da esperança. A Nova Evangelização é a sua marca, com gestos proféticos e atitudes de uma enorme coragem. É também o Papa da Família e o Papa ao serviço da vida.
• Bento XVI revelou-se o Papa da coragem. Doutrinador invulgar, com uma clareza maravilhosa, sem medo de citar autores não crentes. Falar de amor, de esperança, de caridade e, finalmente, da fé que recebe a luz do Evangelho. Já sem forças para arrastar a Igreja no que é essencial, com o testemunho de total liberdade, Bento XVI chocou o mundo inteiro ao pedir a resignação. Surpreendeu o mundo, mas revelou uma Igreja sempre conduzida pela força do Espírito Santo.
• O Papa Francisco é uma lufada de ar fresco, numa Igreja em renovação profunda. O seu amor pelos pobres, o seu estilo simples, a sua relação de proximidade, a mudança radical com os hábitos no papado, a sua força em mudar as coisas, são um desafio que levará a Igreja inteira a converter-se no fundamental e a revelar-se com nova linguagem, novas atitudes, nova esperança.
A Comunidade Paroquial do Campo Grande esteve presente na canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II. Alguns estiveram muito perto de Francisco, mas todos celebrámos, de forma apaixonada, o Domingo da Misericórdia.
2. S. João Paulo II é o Papa da Misericórdia. Conhecera na Polónia, sua terra, uma religiosa extraordinária, Faustina Kowalska, cujas experiências pessoais eram reveladoras de uma espiritualidade fortíssima. A vidente contava que pelo sofrimento na Cruz, na sua “dolorosa paixão”, Cristo se identificou com a misericórdia do Eterno Pai. O Deus da Misericórdia é um Deus que acolhe, compreende, acompanha, desafia e perdoa, um Deus que dá à humanidade o seu Filho como Redentor, não é um Deus que castiga, é um Deus que salva. No conhecimento profundo das revelações feitas a Faustina Kowalska, o que fez S. João Paulo II?
• Canonizou Santa Faustina confirmando as revelações da divina misericórdia. Fez chegar ao mundo inteiro a mensagem daquela religiosa contemplativa que, no silêncio do seu convento, foi chamada por Deus a levar o mundo e a Igreja a acreditar na ternura de Deus.
• Escreveu uma encíclica programática em que fala de um “Deus rico em misericórdia”. Se Cristo é o Redentor do mundo, se o Espírito Santo é o Senhor que dá a vida, Deus Pai é rico em misericórdia, a todos acolhendo, a todos amando e a todos mostrando o seu amor de Pai.
• Instituiu a festa da Misericórdia, a celebrar-se no II Domingo da Páscoa de cada ano. É uma festa diferente, sem procissões nem grandes encontros dos fiéis. É a festa da contemplação, do reconhecimento profundo de um Deus cheio de amor, a certeza de um Deus que salva.
• Reconheceu a beleza da novena da misericórdia, aceitando uma oração original para celebrar a misericórdia do Senhor, rezando pelos que não creem, pelos enfermos, pelos jovens, pelas famílias, por todos os que vivem sem dignidade. É uma oração sem fronteiras.
Saber que o nosso Deus é um Deus rico em misericórdia, dá ao cristão uma enorme capacidade de recomeçar. É normal tropeçar nas pedras do caminho, mas levantar-se e retomar o projecto de fidelidade só é possível porque o Senhor Deus, rico em misericórdia, nos acolhe e nos ajuda em todos os passos que somos chamados a dar.
3. O Deus da Misericórdia pede aos cristãos que sejam capazes de ter misericórdia também em todas as situações da vida. A misericórdia, como expressão máxima do amor, constitui a plataforma da relação universal a que o cristão é chamado.
• A misericórdia convida a uma relação gratuita, sem interesses pessoais, só para o bem do outro.
• A misericórdia exige a justiça que está em dar a cada um aquilo a que ele tem direito, um dar sem querer receber.
• A misericórdia chama ao perdão, de tal maneira que, com alegria, se esquecem ressentimentos e desejos de vingança.
• A misericórdia reclama a solidariedade, porque envolve a beleza de fazer seu o problema dos outros, para viver com eles, para sofrer com eles, para sentir em tudo como eles.
• A misericórdia é a prova máxima de amor porque se quer em tudo e sempre ver o outro feliz.
A verdadeira misericórdia, alicerçada na verdade, permite o exercício da caridade até à exaustão, para que o outro, todos os outros possam encontrar o sentido da vida e a felicidade que vem de um Deus justo e misericordioso.
4. Nesta Semana da Misericórdia peço a S. João Paulo II, que todos conhecemos, a graça de crescermos no amor, na liberdade, no perdão, na reconciliação e na paz.
Que bom ter no céu santos que conhecemos e de quem estivemos tão próximos!

Pe. Vítor Feytor Pinto
 Prior "
 
«Retirado do Site da Paróquia do Campo Grande-04-05-2014»

Nenhum comentário:

Postar um comentário