domingo, 13 de abril de 2014

TRANSMISSÃO DA FÉ NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA




(…)«Certos homens da Igreja, encerrados nos esquemas e não querendo ver por trás das palavras a realidade terrível, desnuda e bela, deixaram de perceber esse rumor imenso. Uma Igreja institucional encerrada nos grossos muros dos palácios episcopais e romanos deixou de ouvir a poderosa voz do mundo, a gigantesca voz de Deus».(…)
(…) “Raízes da incapacidade de renovação – Onde está a raiz de uma situação tão contrária à natureza do cristianismo?  Sem dúvida , no facto de que a Igreja não se renova. E não o faz, em primeiro lugar, porque parece faltar-lhe o Espírito, que é a fonte da sua renovação. Porque a Igreja  vive para tornar presente Jesus Cristo, que é «ontem, hoje e para sempre» (Heb 13,8). Mas a verdade é que muitas das suas estruturas, em vez de presencializar, ocultam Jesus Cristo e o seu Espírito(…) A Igreja  actual não se renova, porque está falhando nela o relevo geracional que origina a crise na transmissão da fé, e falta-lhe a renovação que procura o contacto com os outros, os diferentes, que lhe procuraria uma bem entendida evangelização(…)”
(…) “Causas das dificuldades para a transmissão no nosso próprio interior- (…) Talvez tenhamos que reconhecer que as nossas comunidades não transmitem porque não têm que transmitir, ou melhor dizendo, porque não somos de verdade cristãos, não vivemos como tal, não constituímos a semente, a  levedura, a luz, o sal que o Evangelho nos convida a ser, e que, na medida em que o são, pelo único facto de ser, germinam, fermentam, iluminam e amadurecem. Isto  é, que talvez a falta de renovação geracional que o cristianismo sofre se deva, em boa medida, à falta de renovação interior, espiritual: a renovação, procedente do Espírito de Deus, das gerações encarregadas  pela transmissão.(…)
… “Não é verdade que o nosso ideal se limitou a conservar a fé, a não a perder, sem nos  propormos - ou  pelo menos sem o conseguir - encarná-la na nossa vida, inculturá-la, como se diz agora, no momento histórico que nos tocou viver? Não é verdade que a pastoral da qual nós fomos «objecto»,  e  a que nós próprios realizámos,  foi sobretudo uma pastoral de «conservação», de «manutenção», que reproduzia a atitude do servo da parábola que recebe o denário  e o enterra debaixo das camadas pesadas da rotina, costumes, tradições, conformismo, por medo de o perder? Um cristianismo assim não pode ser transmitido, porque é uma semente caduca, que pôde ter vigência noutro tempo, mas que há muito a perdeu.(…)
(…) As comunidades cristãs, sujeito primeiro de transmissão-(..) Ora bem, as comunidades cristãs estão chamadas a ser contextos vitais nos quais as pessoas partilham essa nova forma de vida. Esta comporta dois elementos fundamentais: a conversão que origina adesão pessoal da fé e o seguimento no qual se assume a forma de vida de Jesus em quem Deus se revelou pessoalmente e a quem o próprio Deus ratificou na sua ressurreição. A comunidade é assim lugar da «verificação» e a ratificação pessoal e social do cristianismo como nova forma de vida(…).
 … Para chegar a ser  o que está chamada a ser, a comunidade não pode constituir um mundo artificial e isolado do mundo em que decorre a vida real das pessoas e a história da humanidade. «Fora do mundo não há salvação» (Schillebeeckx);” (…)
… A chave para que esta possa realizar-se  «é o testemunho das comunidades que nasce do humilde esforço de muitos por realizar, ainda  que de forma deficiente e imperfeita, uma vida  diária impregnada pelo espírito cristão…A partir deste contexto experiência, o cristianismo tem a possibilidade de interessar de novo pais e filhos, mestres e alunos».”(…)
(…) Uns poucos conselhos «em voz baixa»- (…) “  “Deus”, sem a virtude, é uma palavra vazia, disse um filósofo pagão e místico. «Deus» e todas as palavras cristãs são palavras ocas, carecem de significado, até que a prática, a vida de quem as pronuncia, começa a torná-las realidade. A primeira coisa que uma família, um centro educativo ou uma comunidade têm que fazer para transmitir a fé é viver a fé cristã.(…)
…Eu estou seguro de que todos conhecemos pessoas e grupos cristãos sem especiais atributos, inclusive sem nome, cuja maneira de viver está tornando presente Deus e o seu amor e difunde assim o bom aroma de Cristo, torna mais crível o nome cristão e, desse modo, colabora na transmissão no nosso tempo do cristianismo. Oxalá, cada um de nós seja um deles!”

-Juan Martín Velasco é Director do Instituto Superior de Pastoral da Universidade Pontífica de Salamanca em Madrid. Trabalha também com a Comunidade da Paróquia de São Paulo (Vallecas, Madrid). É ainda autor de numerosos livros e artigos com grande projecção nas comunidades eclesiais.


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