quinta-feira, 11 de setembro de 2025

«Tenho sede»


Ciclo de Catequese do Papa Leão XIV – Jubileu 2025

A crucificação. “Tenho sede!” (Jo 19,28)

 "Queridos irmãos e irmãs!

No coração da narração da paixão, no momento mais luminoso e ao mesmo tempo mais tenebroso da vida de Jesus, o Evangelho de João entrega-nos duas palavras que encerram um mistério imenso: «Tenho sede» (19, 28), e logo depois: «Tudo está consumado» (19, 30). Palavras últimas, mas carregadas de uma vida inteira, que revelam o sentido de toda a existência do Filho de Deus. Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não proclama, não condena, não se defende. Pede, humildemente, aquilo que sozinho não pode de modo algum dar a si mesmo.

A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo atormentado. É também, e sobretudo, expressão de um desejo profundo: o de amor, de relação, de comunhão. É o grito silencioso de um Deus que, tendo querido partilhar tudo da nossa condição humana, se deixa atravessar também por esta sede. Um Deus que não se envergonha de mendigar um golo, porque nesse gesto nos diz que o amor, para ser verdadeiro, também deve aprender a pedir e não apenas a dar.

Tenho sede, diz Jesus, e assim manifesta a sua humanidade e também a nossa. Nenhum de nós pode bastar a si mesmo. Ninguém pode salvar-se sozinho. A vida “realiza-se” não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber. E precisamente nesse momento, depois de ter recebido de mãos estranhas uma esponja embebida em vinagre, Jesus proclama: Tudo está consumado. O amor tornou-se necessitado e, precisamente por isso, levou a cabo a sua obra.

Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal com a força, mas aceitando até ao fim a fraqueza do amor. Na cruz, Jesus ensina-nos que o homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante ao outro, mesmo quando este nos é hostil e inimigo. A salvação não está na autonomia, mas em reconhecer com humildade a própria necessidade e saber expressá-la livremente.

A realização da nossa humanidade no desígnio de Deus não é um ato de força, mas um gesto de confiança. Jesus não salva com um gesto clamoroso, mas pedindo algo que sozinho não se pode dar. E aqui se abre uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser suficiente para si mesmo, então também a nossa sede – de amor, de sentido, de justiça – não é um sinal de fracasso, mas de verdade.

Esta verdade, aparentemente tão simples, é difícil de acolher. Vivemos numa época que premeia a autossuficiência, a eficiência, a prestação. No entanto, o Evangelho mostra-nos que a medida da nossa humanidade não é dada pelo que podemos conquistar, mas pela capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, também ajudar.

Jesus salva-nos mostrando-nos que pedir não é indigno, mas libertador. É o caminho para sair do escondimento do pecado, para reentrar no espaço da comunhão. Desde o início, o pecado gerou vergonha. Mas o perdão, o verdadeiro, nasce quando podemos olhar de frente para a nossa necessidade e não temer ser rejeitados.

A sede de Jesus na cruz é, portanto, também a nossa. É o grito da humanidade ferida que ainda busca água viva. E esta sede não nos afasta de Deus, mas une-nos a Ele. Se tivermos a coragem de reconhecê-la, podemos descobrir que também a nossa fragilidade é uma ponte para o céu. É precisamente no pedir – não no possuir – que se abre um caminho de liberdade, porque deixamos de pretender ser suficientes a nós mesmos.

Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculo, esconde-se uma alegria que o mundo não conhece. Uma alegria que nos devolve à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor.

Queridos irmãos e irmãs, na sede de Cristo podemos reconhecer toda a nossa sede. E aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que saber dizer: eu preciso. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando nos parece que não o merecemos. Não nos envergonhemos de estender a mão. É precisamente aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação..

Papa Leão XIV

Audiência Geral 03.09.2025"

Texto: Retirados do Site do Vaticano - http://www.vatican.va/ em 11/09/2025; 

Imagem: Retirada da "Google imagens" em 11/09/2025;

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