O Papa João
Paulo II destacou na sua Encíclica “Dives in misericórdia” que Maria é a
“pessoa que conhece mais a fundo o mistério da misericórdia divina” (n. 9).
Maria é a
mãe que gerou a misericórdia divina na Encarnação, graça extraordinária que a
coloca numa relação intima com Deus, o “Pai das misericórdias” (2Cor 1,3). Ao
responder ao anjo “Eis-me aqui” e
“Faça-se”, a Misericórdia divina se “faz carne” e entra na nossa
história
Em qual
sentido podemos proclamar Maria como “Mãe de misericórdia”?
O título
“Mãe de misericórdia” assim se justifica: Maria é a mulher que experimentou de
modo único a Misericórdia de Deus, que a envolveu de modo particular desde a
sua Imaculada Conceição, passando pela Anunciação, vivendo como fiel discípula
e seguidora do seu Filho, até o grande momento da Sua Páscoa (paixão, morte,
ressurreição, glorificação e Pentecostes). Ela é “kecharitoméne”, “cheia de
graça”, ou seja, totalmente transformada pela benevolência divina (cf. Ef 1,6).
No seu
cântico o “Magnificat”, por duas vezes Maria, a profetisa, exalta a
misericórdia de Deus; movida pelo Espírito, ela louva o Pai misericordioso: “a
sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”;
“socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia”.
A
misericórdia que Ela proclama no Magnificat foi vivida em todos os momentos de
sua vida: desde o seu sim, até o momento em que acompanha os discípulos de seu
Filho nos inícios da Igreja. E segue fazendo até o fim dos tempos.
Uma
característica que particularmente toca o nosso interior, dada a nossa condição
humana frágil e necessitada do auxílio de Deus, é a Misericórdia, que em Maria
ecoa com muita intensidade, como a força de uma cascata, que penetra até os
corações mais duros. Maria é, como rezamos, a Mãe de misericórdia. Mas para
entendermos como toda a vida de Maria proclama a misericórdia, devemos primeiro
penetrar no coração do Pai, rico em misericórdia, pois Maria é como a lua que
reflete os raios do sol de justiça, que segundo a tradição da Sagrada Escritura
é o próprio Deus.
Maria é a
intercessora incansável do povo de Deus ; ela não deixa de apresentar as
necessidades dos fiéis ao seu Filho. As “Bodas de Caná”, por exemplo, é uma
concreta evidência de sua presença misericor-diosa. Ela se compadece da
situação dos noivos e pede ao seu Filho realizar o primeiro “sinal”.
Em Caná,
portanto, a novidade está numa nova forma de presença de Maria, que não se
encontra interessada, em princípio, por fazer coisas, por resolver problemas,
senão para traçar uma presença. Ela não está aí para “arrumar” as coisas, mas
para escutar e compartilhar um momento festivo. Ela se encontra presente, num
gesto de solidariedade que transcende e supera toda atividade.
Porque
estava presente a Deus, Maria fez-se presente nos momentos decisivos de seu
Filho, bem como fez-se presente na vida das pessoas. Uma presença que faz a
diferença: presença solidária, marcada pela atenção, prontidão e sensibilidade,
próprias de uma mãe.
Sua presença
não era presença anônima, mas comprometida; presença expansiva que mobilizou os
outros, assim como mobilizou seu Filho a antecipar sua “hora”.
Trata-se de
uma presença que é “música calada” nos lugares cotidianos e escondidos, que
sabe enternecer-se e escutar as inquietações que procedem desses lugares. Uma
presença que descobre o próximo no próximo, que sabe resgatar a solidariedade
na vida cotidiana. Uma presença que se manifesta na ausência de recompensa ou
de interesse próprio.
Em
definitiva, Maria descobre que é chamada a dar de graça o que de graça recebeu.
Sabe entrar em sintonia com os sentimentos dos outros e construir vida festiva,
e vida em abundância.
Sua presença
misericordiosa revela um gesto profético de solidariedade e de anúncio:
presença que aponta para uma outra
presença, a de seu Filho, a misericórdia visível. Sua presença dignifica e
revela um novo sentido à presença de Jesus numa festa de Casamento.
A presença
misericordiosa, silenciosa, original e mobilizadora de Maria desvela e ativa
também em nós uma presença inspiradora, ou seja, descentrar-nos para estar
sintonizados com a realidade e suas carências. Tal atitude misericordiosa nos
mobiliza a encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações; escutar
relatos que trazem luz para nossa própria vida; ver a partir de um horizonte
mais amplo, que ajuda a relativizar nossos problemas e a compreender um pouco
mais o valor daquilo que acontece ao nosso redor; escutar de tal maneira que
aquilo que ouvimos penetre na nossa própria vida; implicar-nos afetiva-mente,
relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas e títulos; acolher na própria
vida outras vidas; histórias que afetam
nossas entranhas e permanecem na memória e no coração.
Evidentemente,
nem toda presença é “saída de si”; uma pessoa pode passar pelos lugares sem que
os lugares deixem pegadas; ela pode tocar a superfície das coisas e das vidas,
mas esse contato deixa pouca memória e que logo desaparece. Com isso não há
encontro nem aprendizagem.
Quando a
pessoa se faz presença misericordiosa que desemboca no verdadeiro encontro, ela
se expõe, se faz vulnerável, se deixa afetar... Mas essa é a oportunidade para
transformar os olhares e os gestos de quem se atreve a sair dos horizontes
estreitos e conhecidos.
São muitos
os encontros que são fecundos para quem se faz presente e para quem acolhe esta
presença. São muitas as pessoas cujas vidas ganham em seriedade, em
profundidade, em compaixão e em alegria autêntica ao fazer esse caminho de
saída de si.
São muitas
as pessoas que, em contato com vidas e histórias diferentes e reais,
compreendem melhor suas próprias vidas e sua responsabilidade.
Textos bíblicos: Lc 1,46-55
Jo 2,1-12
Ó Maria, Mãe
que experimentastes e gerastes a Misericórdia, Mãe que proclamais e exerceis a
misericórdia, fazei de nós autênticos apóstolos deste mesmo mistério de amor em
nossos tempos e em nossos ambientes. Amém.
Pe. Adroaldo
Palaoro sj »
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