domingo, 14 de junho de 2015

A Revolução da ternura

O exemplo da Irmã dos Pobres convoca-nos todos para a revolução da Ternura que está em marcha desde Jesus Cristo até ao Papa Francisco. Ela, com efeito, passou a vida a honrar a Deus, invocando, acolhendo e traduzindo em gestos e palavras a Sua bondade infinita, a Sua dulcíssima ternura. Fez da Congregação Hospitaleira a Casa da Misericórdia.
Não tenhamos medo da bondade e da ternura - exorta-nos o Papa. Ele sonha com uma “Igreja-hospital” de campanha, uma Igreja que parte ao encontro dos que sofrem os efeitos da indigência e da enfermidade, da violência e da injustiça. “Tocar a carne de Cristo” nos pobres é a palavra de ordem.
Por caminhos de ternura andou a Irmã Clara, como atestam os seus contemporâneos. “ Não havia mãe mais amada nem mais respeitada”. “ Mãe previdente e desvelada, de coração sempre vigilante”. Adornada de nobres qualidades, sensibilidade, compreensão, generosidade, intrepidez e firmeza, aprendeu a lição de Jesus, “o  Mestre a quem desejava imitar, seguindo os seus passos com amor e piedade”. Inspirava às crianças “filial confiança e amor”.
Acolhida aos treze anos e, mais tarde, religiosa da Congregação, uma delas declarava que não lhe tinha custado muito deixar a casa paterna, porque “ a nossa Mãe Clara tinha uma ternura e tratava-nos com tanto carinho e compreensão, que era superior à minha Mãezinha”. As Irmãs, então, gostava de as atender pessoalmente, velava pela sua saúde, repartia a comida na sala de jantar, à noite verificava se estavam bem agasalhadas. Para Maria Clara, as irmãs eram “filhas”; para as Irmãs, Maria Clara era “mãe”.
Na Sociedade atual regista-se um défice de ternura. Parece que o vírus da agressividade se instalou definitivamente. Tentados somos a fazer o que nos apetece sem olhar minimamente aos interesses dos outros. O egoísmo gera tensões, invejas, ódios e rivalidades daninhas, e a Irmã Clara detestava. “Tende um coração e uma só alma”.
A verdadeira ternura não casa com atitudes e gestos de sabor açucarado. Exprime-se em atos concretos e gratuitos de serviço e não em palavras ocas e fugazes como bolas de sabão.
Imitar Clara é ser homens e mulheres de lava-pés como Jesus e estar de joelhos para servir os demais. Mas atenção a um aspeto que o Papa Francisco sublinha constantemente. Não podemos ceder à tentação de reduzir os pobres aos desprovidos de pão e de saúde, esquecendo a maior das pobrezas, que é o desconhecimento de Deus, a falta de sentido para a vida. A Mãe Clara procurava satisfazer as necessidades do corpo e salvar as almas. Fornecia comida e catequese, remédios e sacramentos. O convento das Trinas tanto era centro de acolhimento como polo de evangelização e liturgia.
Trabalhar pela felicidade e bem estar dos pobres, dos enfermos, dos excluídos e descartáveis, sim. Mas sem os privarmos das suas esperanças eternas, sem deixarmos de lhes dar o melhor que possuímos: o tesouro, Jesus Cristo. O amor ao próximo, sobretudo aos mais carenciados, é um elemento essencial da nossa fé, enquanto verificação irrefutável do amor a Deus. “Quem meu filho beija, minha boca adoça”- dizem com emoção as nossas mães. Mas o cristianismo não se reduz a um projeto de ação humanitária. A vida cristã- ensina o Papa Francisco – tem de ser “companheira de viagem da dimensão social e caritativa”.
Clara foi um instrumento da ternura da Igreja, que é virgem e mãe. Como mãe, exprimia a ternura de maneira sensível, papável, física; como virgem, sabia faze-lo com elevação e elegância evangélica.
P. Abílio Pina Ribeiro, Cmf
Colégio Universitário de Lisboa

“Retirado do boletim trimestral (Abril/Junho) da “A irmã dos pobres”- Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição”

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