Não tenhamos medo da bondade e da ternura - exorta-nos o
Papa. Ele sonha com uma “Igreja-hospital” de campanha, uma Igreja que parte ao
encontro dos que sofrem os efeitos da indigência e da enfermidade, da violência
e da injustiça. “Tocar a carne de Cristo” nos pobres é a palavra de ordem.
Por caminhos de ternura andou a Irmã Clara, como atestam os
seus contemporâneos. “ Não havia mãe mais amada nem mais respeitada”. “ Mãe
previdente e desvelada, de coração sempre vigilante”. Adornada de nobres qualidades,
sensibilidade, compreensão, generosidade, intrepidez e firmeza, aprendeu a
lição de Jesus, “o Mestre a quem
desejava imitar, seguindo os seus passos com amor e piedade”. Inspirava às
crianças “filial confiança e amor”.
Acolhida aos treze anos e, mais tarde, religiosa da
Congregação, uma delas declarava que não lhe tinha custado muito deixar a casa
paterna, porque “ a nossa Mãe Clara tinha uma ternura e tratava-nos com tanto
carinho e compreensão, que era superior à minha Mãezinha”. As Irmãs, então,
gostava de as atender pessoalmente, velava pela sua saúde, repartia a comida na
sala de jantar, à noite verificava se estavam bem agasalhadas. Para Maria
Clara, as irmãs eram “filhas”; para as Irmãs, Maria Clara era “mãe”.
Na Sociedade atual regista-se um défice de ternura. Parece
que o vírus da agressividade se instalou definitivamente. Tentados somos a
fazer o que nos apetece sem olhar minimamente aos interesses dos outros. O
egoísmo gera tensões, invejas, ódios e rivalidades daninhas, e a Irmã Clara
detestava. “Tende um coração e uma só alma”.
A verdadeira ternura não casa com atitudes e gestos de sabor
açucarado. Exprime-se em atos concretos e gratuitos de serviço e não em
palavras ocas e fugazes como bolas de sabão.
Imitar Clara é ser homens e mulheres de lava-pés como Jesus
e estar de joelhos para servir os demais. Mas atenção a um aspeto que o Papa
Francisco sublinha constantemente. Não podemos ceder à tentação de reduzir os
pobres aos desprovidos de pão e de saúde, esquecendo a maior das pobrezas, que
é o desconhecimento de Deus, a falta de sentido para a vida. A Mãe Clara
procurava satisfazer as necessidades do corpo e salvar as almas. Fornecia
comida e catequese, remédios e sacramentos. O convento das Trinas tanto era
centro de acolhimento como polo de evangelização e liturgia.
Trabalhar pela felicidade e bem estar dos pobres, dos
enfermos, dos excluídos e descartáveis, sim. Mas sem os privarmos das suas
esperanças eternas, sem deixarmos de lhes dar o melhor que possuímos: o
tesouro, Jesus Cristo. O amor ao próximo, sobretudo aos mais carenciados, é um
elemento essencial da nossa fé, enquanto verificação irrefutável do amor a
Deus. “Quem meu filho beija, minha boca adoça”- dizem com emoção as nossas
mães. Mas o cristianismo não se reduz a um projeto de ação humanitária. A vida
cristã- ensina o Papa Francisco – tem de ser “companheira de viagem da dimensão
social e caritativa”.
Clara foi um instrumento da ternura da Igreja, que é virgem
e mãe. Como mãe, exprimia a ternura de maneira sensível, papável, física; como
virgem, sabia faze-lo com elevação e elegância evangélica.
P. Abílio
Pina Ribeiro, Cmf
Colégio
Universitário de Lisboa
“Retirado do boletim trimestral
(Abril/Junho) da “A irmã dos pobres”- Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da
Imaculada Conceição”
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