quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Vocação de João Baptista UMA VOCAÇÃO COM CINCO MORADAS



 

(...) “Vocação de João Baptista
UMA VOCAÇÃO COM CINCO MORADAS

João Baptista é a ponte que das margens da Primeira ou da Antiga Aliança conduz à nova terra prometida, ao templo da Nova aliança, realização das antigas promessas. Ele é «o profeta do Altíssimo… enviado adiante do Senhor a preparar os seus caminhos (Lc1,68.76.79). Ele proclama-se a «Voz»(Mt 3,2), «o Amigo do Esposo» (Jo 3,29). Jesus tece-lhe o seguinte elogio: «entre os nascidos de mulher não veio ao mundo outro maior que João Baptista»(Mt 11,11. Ver ainda (Lc. 1,5-25 e 57-80; Mt 3, 1-17).

Uma tal missão corresponde a uma vocação especialíssima. Mas também exemplar, que ilumina a nossa própria vocação. Vamos  descrevê-la em cinco etapas, tendo como referência cinco lugares a ela ligados: O Templo, a casa, o deserto, o rio Jordão e a prisão do palácio Herodes.

O TEMPLO de Deus,

Onde a vida e a vocação são concebidas

«Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe, coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume… Apareceu-lhe um anjo do Senhor em pé, à direita do altar do perfume» (Lc, 1, 5-25).

A vocação de  Baptista começa no Templo de Jerusalém, com o anúncio da boa nova do nascimento trazida por pelo anjo Gabriel ao assustado e incrédulo Zacarias: «Não temas Zacarias. Deus ouviu a tua prece. Isabel, tua mulher, vai dar-te um filho, ao qual porás  o nome de João.» João significa Deus é misericordioso. Todos os nossos nomes aludem à sua Misericórdia!...

A vida tem início no «Templo», demora primordial do Ser. Todos somos concebidos, em primeiro lugar, no Coração de Deus. De lá dimana a vida, a eleição, a consagração e a missão do vocacionado: «Antes de te formar no ventre de tua mãe, Eu te consagrei, para fazer de ti profeta das nações»(Jer. 1,5).

Uma vida que corte com este cordão umbilical que a liga à fonte do Ser está condenada a perder vitalidade e a definhar; a perder-se nos meandros de tantos atalhos tortuosos da existência; a vaguear na obscuridade das muitas noites sem estrelas. Uma vocação que não cultiva a comunhão com Deus na oração, que não frequenta o seu templo interior, depressa será sufocada por mil vozes vociferantes, por ilusões e fantasias, por espinhos e abrolhos.

Há um templo de Deus a ser reconstruído - antes de mais em nós- diz o profeta Ageu: «É então o momento de habitardes em casas confortáveis, estando esta casa em ruínas? Eis o que declara o Senhor dos exércitos: considerai o que fazeis! Semeais muito e recolheis pouco; comeis e não vos saciais; bebeis e não chegais a apagar a vossa sede; vestis, mas não vos aqueceis; e o operário guarda o seu salário em saco roto!...Porquê? Porque a minha casa está em ruínas, enquanto cada um de vós só tem cuidado com a sua»(Ageu 1).

A CASA, lugar de gestação da vida e vocação

«Decorridos os dias do seu ministério, (Zacarias) retirou-se para sua casa. Depois disso, Isabel, sua mulher, engravidou e durante cinco meses não saiu de casa»(Lc.1, 23-24).

A vida, com toda a sua extraordinária beleza, força e exuberância, capaz de maravilhar-nos a cada passo, é também extremamente frágil. Necessita de ser acolhida no seio da Terra, de encontrar uma casa onde habitar, de ser hospedada num ventre que a nutre, acarinha e protege…

A vida nascente e a vocação de profetizada de João Baptista encontraram na casa de Zacarias e no seio de Isabel um berço acolhedor.

Da mesma maneira toda a vocação requer uma «casa», um contexto favorável. Tal «casa» será a família, a comunidade cristã, um grupo de apoio…Ou seja, uma espécie de «estufa» que ofereça as condições necessárias à sua nascença e crescimento. Uma vocação especial, com efeito, é uma planta rara que requer condições ambientais particulares. Como aquelas descritas pelo salmo 128: «Bem-aventurado aquele que teme o Senhor e anda nos seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te irá bem. A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme o Senhor.»

O DESERTO, lugar de purificação

« O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel»(Lc.1,80).

Não se pode viver eternamente numa estufa. A certa altura, a planta deve interagir com o seu mundo exterior, com o ar, o vento, o sol, a chuva…para poder crescer e desenvolver-se em todas as suas potencialidades. Terá , por isso, de enfrentar as intempéries, de resistir aos rigores do Inverno, de encarar o calor do estio…

João Baptista estabeleceu-se no deserto, porque ali encontra um ambiente espiritual que o prepararia para a sua missão. No deserto faz a experiência do profeta Elias e do povo de Israel durante a caminhada dos quarenta anos do êxodo. Depende totalmente  da providência de Deus, contentando-se daquilo que oferece o deserto: gafanhotos e mel silvestre. Ali Deus lhe fala ao coração(Oseias 2,14) e o prepara a tornar-se sua Voz.

Assim acontece com todos os chamados. Sem a prova do deserto, da solidão, do silêncio, da austeridade, das dificuldades e das provas…não haverá vocação provada. À mínima dificuldade o sol definha-a, os espinhos sufocam-na.

Jesus não foi excepção. Com efeito, o evangelho de Lucas diz «Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias foi tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve fome» (Lc 4,1-2).

O RIO Jordão, lugar do apostolado e da missão

«Veio a palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias. Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o baptismo de arrependimento para remissão dos pecados, como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas»(Lc 3, 2-4).

O deserto é também uma etapa em função da missão do profeta. João Baptista deixa o deserto para ir ao encontro das pessoas e levar-lhes a mensagem de que fora incumbido. Estabelece-se agora junto do Jordão, na fronteira entre o deserto e a terra. E o seu grito chega a todo lado. As multidões acorrem ao Jordão para ali serem baptizadas. É como uma nova travessia do rio bíblico para ingressar no Reino, conduzidos pelo novo Josué que será Jesus, o Messias.

No rio Jordão, quando João Baptiza Jesus, corre já «o rio da água da vida» dos últimos tempos: «Então o anjo me mostrou o rio da água da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro, no meio da rua principal da cidade. De cada lado do rio estava a árvore da vida, que frutifica doze vezes por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações» (Ap. 22,1-2).

A PRISÃO, lugar do martírio e da fecundidade

«Naquele tempo, Herodes tinha mandado prender João e acorrentá-lo na prisão…» (Mc. 6, 17-29).

Como para João Baptista, chega para todos também a etapa da prisão e do martírio. Porque «é necessário que Ele cresça, e que eu diminua»(Jo.3,30).

É o momento supremo do testemunho do amor e da fecundidade apostólica.

Os «Herodes» podem ser muito variados: uma doença, a velhice, a perseguição, o fracasso…É importante aceitar «ser-se posto na prisão» e fazer entrar a luz do mistério pascal na nossa prisão.

Comboni dizia dos seus missionários que deveriam ser «pedras escondidas», enterradas no solo africano…É a condição indispensável para ser alicerce  da construção que se erguerá sobre nós. Será então que a nossa vida e a nossa vocação serão verdadeiramente fecundas, como diz Jesus: «Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito fruto»(Jo. 12,24)." (…)

“Retirado do Livro- “o mestre está cá e chama-te!-Vocação na Bíblia-Além Mar” do Pe. Manuel João P. Correia, mccj "

Nenhum comentário:

Postar um comentário