quinta-feira, 19 de julho de 2018
sexta-feira, 13 de julho de 2018
Conhece-se o(a) seguidor(a) de Jesus pelos pés
“E Ele percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6,6)
“Adeptos(as)
do Caminho”: assim eram conhecidos os(as) primeiros seguidores(as) de Jesus (At
9,2). Assim também quer Jesus que sejamos seguidores seus, sempre em caminho,
em todos os lugares, em todas as casas de passagem, dispostos a parar e
conversar, prontos ao encontro e à solidariedade com todos os que vão e vem
pela vida.
Deveríamos
voltar a recuperar o sentido desta expressão (“adeptos do Caminho”), pois ela
nos convida a continuar percorrendo o caminho cotidiano da existência de uma
maneira cristificada; e isto é algo fundamental para o encontro profundo com o
outro, com as alegrias e os sofrimentos daqueles que se encontram às margens,
com a novidade e a surpresa da senda da vida, com o desafio de prosseguir
confiando na Boa Notícia de Jesus, que se manteve sempre em caminho pelas
estradas da Palestina, para levantar os feridos, oprimidos e excluídos do
sistema social e religioso.
Hoje
como ontem, sair, caminhar, deslocar-se, ser itinerante... tem sentido, porque
significa ir ao encontro do novo e do diferente. “Sair” é também uma
experiência constitutiva da natureza humana porque tem um ar transformador.
Cada um, ao longo do caminho, experimenta “novos modos” de habitar a
existência, de olhar-se, pensar e relacionar-se. A itinerância permite ir
mais além de si mesmo para encontrar outras maneiras de viver, para entrar em
outras terras prometidas, para aproximar-se de outras pessoas, povos, culturas,
onde encontrar o sentido de vida; sobretudo, possibilita ir ao encontro
d’Aquele que nos transcende e sempre se revelou Peregrino.
A
vida humana, neste sentido, é caminho, com um ponto de partida, uma meta, um
trajeto e um horizonte. Caminho, palavra familiar e também humilde que evoca a
existência de uma origem e um destino e, entre ambos, de uma aventura: a
aventura de nosso caminhar, feita de desafios e extravios, e também de
encontros e de momentos inesquecíveis que nos confortam ao longo do
percurso.
Todos
somos “peregrinos” neste “êxodo de nós mesmos para Deus”, no qual nos
“adentramos em terra estranha, despojados dos suportes usuais da existência,
desprovidos de todo amparo que não seja o da caridade...” (Tellechea
Idógoras).
Quem
caminha calcula seu trajeto, suas próprias forças, fadigas, planeja suas
paradas. Por outra parte, decide correr o risco de sair de sua zona de
conforto, para abrir-se à paisagem de novas relações, ao inesperado e
inexplorado, a novos encontros e sensações, a confiar e percorrer a própria
existência. O caminho é um processo de mudança pessoal, um lugar pedagógico de
cura, de aprendizagens, abertas ao assombro, a um olhar dinamizador, à
liberdade de pensamento e de ação. Ele nos move a dilatar o coração e
interessar-nos pela situação das demais pessoas, a aproximarmos dos(as)
samaritanos(as) que encontramos nas idas e vindas. Porque o caminho é a
ocasião, o Kairós, o tempo pedagógico de um movimento que vivifica, deixa
pegada e sabor de um outro sentir.
Podemos
dizer que na Igreja são imprescindíveis os itinerantes, os peregrinos do Reino
de Deus, como o próprio Jesus, que enviou discípulos e discípulas pelos
caminhos e povos, sem nenhuma estrutura de apoio a não ser um coração disposto
a não querer outra riqueza a não ser o fermento de nova humanidade. Com os
itinerantes Jesus iniciou um movimento a serviço do Reino e Ele mesmo foi um
itinerante. Não permaneceu numa casa, não se fechou em um lugar, não fundou uma
instituição vinculada a um tipo de templo, sinagoga ou santuário, mas foi
percorrendo, com um grupo de discípulos(as)/amigos(as), também itinerantes, os
povoados e aldeias da Galileia, anunciando e tornando presente o Reino. Jesus
os tirou de seus lugares estáveis, de suas simples redes da margem do mar, e os
fez itinerantes através de outros e amplos caminhos e mares, para assim
encontrar-se com os caminhantes, os perdidos e expulsos, e iniciar com eles a
grande Marcha da Vida.
Jesus,
o Homem dos Caminhos, chama para uma Vida nova. Chama na vida e para a vida e
põe as pessoas em movimento, a caminho. A “pegada” que Ele deixa ao passar é
sua própria Vida partilhada. Ele é o inspirador de toda itinerância; com sua
peregrinação Ele abre possibilidade de outros caminhos.
Jesus,
o homem que se definiu, tem um sonho, um projeto (Reino). E surge diante dos
outros com força pessoal capaz de sacudi-los e colocá-los em movimento.
Ele “passa” e sua presença os atrai arrancando-os da acomodação. Faz-se do
chamado um caminho, quando se partilha a vida com quem chamou. Responder ao
chamado feito por Jesus significa tornar esse chamado um caminho de entrega e
de serviço.
Jesus
nos apresenta uma causa muito nobre e, com seu chamado, rompe nosso estreito
mundo e desperta em nós ricas possibilidades, reacende o que de mais nobre há
em cada um e amplia nosso horizonte de vida. Para isso é preciso sair dos
templos que pretendem fechar e aprisionar o Espírito, para dirigir-nos aos
caminhos do mundo, para entrar em sintonia com o Coração e o Manancial da Vida,
“em espírito e verdade”, tocando a carne concreta da Humanidade e da Mãe Terra.
“Chamado-resposta”
implica, pois, um encontro comprometedor. O modo de ser de Jesus, transparente
e livre, ativa nossa vida atrofiada e estreita e nos capacita a olhar amplos
horizontes: seu povo, seu mundo dividido e excluído... A ressonância de seu chamado
nos predispõe a encontrar motivações saudáveis e maduras que nos permitam
peregrinar e viver no contexto atual com amor, entusiasmo e criatividade. Jesus
envia seus discípulos com o necessário para caminhar: cajado, sandálias e uma
túnica. Não precisam de mais nada para serem testemunhas do essencial. Jesus
quer vê-los livres e sem ataduras, sempre disponíveis, sem instalar-se no
bem-estar, confiando na força do Evangelho.
“O
discípulo-missionário é um des-centrado: o centro é Jesus Cristo que convoca e
envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais. A posição do
discípulo-missionário não é a de centro, mas de periferias: vive em tensão para
as periferias” (Papa Francisco)
Quê
significa “fronteiras geográficas e existenciais”? É preciso sair dos limites
conhecidos; sair de nossas seguranças para adentrar-nos no terreno do incerto;
sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por
lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo…
É
decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e
situações, novos encontros, novas experiências... Porque sempre há algo
diferente e inesperado que pode nos enriquecer... A vida está cheia de
possibilidades e surpresas; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas
instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, encontros, aprendizagens,
motivos para celebrar, lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais
lúcidos, mais humanos e mais simples…
A
periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do
Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de
fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um
questionamento à ordem estabelecida.
Texto bíblico: Mc. 6,7-13
Na oração:
-
Nas nossas vidas acontece algo de verdadeiro e belo quando nos dispomos a
buscar dentro de nós mesmos a razão da nossa existência.
-
No “mapa espiritual” de nosso interior ainda existe uma “terra desconhecida”,
que proporciona interesse à vida, suscita curiosidade, nos põe a
caminho... Grandes surpresas interiores estão à nossa espera, e a
capacidade de continuar procurando é que dá sentido ao esforço e vigor à vida.
-
A quê você se sente chamado(a)? A quem se sente enviado(a)?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
"Retirado do site - CATEQUESE Hoje-" www.catequesehoje.org.br "-
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